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sexta-feira, julho 03, 2009

olaria tradicional de brotas

É Portugal rico em olaria, herança de gregos e romanos, de fenícios até, olaria de um modo geral utilitária, a não ser quando a imaginação e arte são mais fortes e a decoração começa também a ser preocupação. Por um lado olaria rústica de rara beleza, por outro a verdadeira arte de o barro moldar e decorar com desenhos e cores que, desde logo, nos dão indicação da região de origem.

O último oleiro de Brotas, no concelho de Mora, onde se discute a pertença cultural ao distrito de Portalegre ou ao de Évora, José Carlos de seu nome, da família Ramalhão reúne em si as duas vertentes da arte de ser oleiro, bem complementado com a artística veia de pintura de sua esposa Vera.

Arte à parte considerada, importante que é na memória de um Povo e na pujança do nosso património imaterial, interessa também olhar para a técnica, basicamente semelhante nas diversas regiões oleiras mas com algumas características específicas em cada uma delas.

Começa por ser importante referir que o oleiro de Brotas trabalha exclusivamente com barro da região, recolhido da terra por ele próprio e hoje transportado para olaria por meios de transporte modernos, mas que não há muitos anos o era nas cangalhas que o burro carregava.

O barro, terra da terra barrenta, é então lavado e limpo de elementos alheios por meios mecânicos mas rudimentares e escorrido e seco em dispositivo apropriado, uma prensa, ou utilizando o efeito do sol alentejano que lentamente o vai secando e dando consistência.



As placas resultantes desta operação são amassadas, com a finalidade de lhes retirar alguns arenitos “teimosos” e de lhe dar adequada consistência para pelo oleiro serem trabalhadas.



A pasta homogeneizada é assim levada para a roda do oleiro.



Moldar o barro é trabalho de criação, no que esta tem mesmo de divino. É trabalho de muito saber e sentir ficando a peça tão mais bela quanto for pelo oleiro acariciada numa verdadeira relação de sensual afecto.



O sopro que lhe dá vida era outrora conseguido através de um forno a lenha que hoje é usado somente quatro vezes por ano, atrevia-me a dizer, em tempos de solstícios e de equinócios, em um verdadeiro ritual iniciático.



Modernamente um forno eléctrico permite que o oleiro tenha capacidade de resposta a muitas solicitações que recebe.



Louça utilitária que nos encanta…

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Comments:
Que maravilha! Gostei muito deste post. Beijos.
 
Um magnífico post!

Pena é que o plástico tenha vencido e ultrapassado a peça de barro, onde a comida fica tão saborosa.
Infelizmente já o referi várias vezes, que há uns anos e fora do país, vi pratos, travessas, tabuleiros "made in Portugal" mais baratos do que cá. Como? nunca encontrei explicação.

Depois ou sou uma grande burra na compra de uma peça ou já me venderam estragada e há bem pouco tempo rachou o tabuleiro e o respectivo borrego assado, depois de ter sido usado apenas três vezes:( Mas não me calei e peguei nas duas partes e levei aonde o comprei...não ganhei nada, mas desabafei!
Irraaaaa que sorte!!!

Tenho aqui bem perto, no Sobreiro um grande mestre José Franco, que devido à sua idade já não trabalha como trabalhava ao vivo, mas as suas obras são uma arte, e quem ama a sua arte será sempre feliz!

Um abraço
 
Querida Paula

Muito grato pelas tuas palavras. Senti tudo o que escrevi.

Beijinhos.
 
Querida Fatyly
Tens muita razão nas tuas observações quanto à substituição do barro pelo plástico... plástico que será uma praga eterna como lixo.

Quanto ao mestre José Franco, de quem fui amigo muitos e muitos anos, tenho comigo algumas peças que ele teve a amizade de fazer propositadamente para mim, faleceu recentemente.

Custou-me muito receber a notícia eu que acompanhei o seu trabalho ao vivo até que foi "exilado" pela família para um lar de idosos em Mafra.

Homem excepcional, artista ímpar... uma perca irreparável, sem dúvida.

Beijinho.
 
Não sabia que já tinha falecido. Que descanse em paz!
 
apaixonante essa arte,Vicktor. Parabéns pelas boas escolhas de seus textos. Bjs
 
Querida Fatyly

É verdade... uma grande perda para o nosso património vivo...
Um beijinho.
 
Querida Lisette

Obrigado pelas tuas palavras. Por onde vou andando vou fazendo recolhas e partilhando... com aquele prazer imenso.

Beijinho.
 
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