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sexta-feira, julho 25, 2003

sabores caparicanos

No povoamento de grande parte do nosso litoral, arenoso, de acesso fácil e de mar amigo tiveram papel fundamental os habitantes de Ílhavo e seus descendentes que, numa primeira fase, para aí se deslocavam de forma sazonal para, posteriormente e com o decorrer do tempo, se irem fixando definitivamente. O litoral da Caparica foi zona incluída nessas migrações sazonais, que tinham lugar nos meses chamados da "safra", isto é Outubro, Novembro e Dezembro, onde além dos povos de Ílhavo também para aí se deslocavam outras gentes vindas do sul, especialmente, do Algarve.

Estas migrações deram origem à constituição de pequenos aglomerados populacionais, construídos inicialmente de forma precária e utilizando materiais existentes no local. Daí terem surgidos no litoral da Caparica, especialmente nas zonas hoje conhecidas por Costa de Caparica, Fonte da Telha e Trafaria construções precárias feitas com junco e colmo pelos próprios pescadores e a que largavam fogo quando, terminada a época da campanha, se retiravam para as suas terras.

Só a partir de 1770 há notícia de fixarem domicílio, com moradas de um pouco melhor qualidade, os mestres e suas companhas: José Gonçalves Bexiga, algarvio; Joaquim Pedro, de Ílhavo; Romualdo dos Santos, algarvio e José Rapaz, de Ílhavo. Anos mais tarde, fixaram-se, igualmente, os mestres José dos Santos, Jerónimo Dias, João Lopes e Manuel Toucinho.

Com o decorrer dos anos, em consequência do povoamento híbrido de gentes vindas de Ílhavo e do Algarve, foi-se criando uma cultura própria e, de igual forma, nasceu uma culinária genuína, especialmente baseada nas dádivas do mar e nos mimos das hortas da Costa e com o recurso a ingredientes simples e fáceis de conseguir, visto a população em causa ser, na generalidade, de parcos recursos financeiros.

A Caldeirada Caparicana

A Costa de Caparica é uma terra de caldeiradas. Embora as que ficaram famosas, para o grande público, tenham sido as do Ginjal, na ribeirinha Cacilhas, não há como uma boa caldeirada feita em casa de pescador. Falar de caldeirada é falar de vários peixes. Mas há muitas e boas confeccionadas de um só. As de xaputa são muito apreciadas pelos autóctones. Outros preferem as de lulas e os mais antigos as de carapau. Uma delícia é a de tramelga, peixe fino como não há outro e, por isso, conhecido pelos pescadores caparicanos como "galinha do mar".

A receita que aqui fica registada homenageia um homem, caparicano de gema, que foi pescador, banheiro e o último dos sobreviventes do naufrágio do "Pensativo", barco meia-lua, dos grandes, de 18 metros, que naufragou quando aproava a terra com nevoeiro cerrado, na crista de um vagalhão, era Dezembro de 1929, tendo feito 11 vítimas. Referimo-nos a Francisco Pinto, também conhecido por "Chico Bóia".

Caldeirada Chico Bóia, para 4 pessoas

Ingredientes
1,2 Kg. de tamboril, safio e tramelga; 8 batatas médias; 4 cebolas grandes; 4 tomates grandes; 1 pimento; i ramo de salsa; 1,5 dl. de azeite; 1 copo de vinho branco; sal e piri-piri.

Preparação
Corte o peixe em pedaços grandes e lave-os. Descasque as cebolas e as batatas. Unte o fundo de um tacho com azeite. Por cima disponha as cebolas em rodelas. Cubra com uma camada de batatas e, a seguir, com uma de tomate, ambas às rodelas. Se necessário forme várias camadas. Disponha o peixe e cubra-o com rodelas de tomate e pimento às tiras. Tempere com sal. Regue com o restante azeite, o vinho branco e junte o piri-piri. Leve a lume forte para levantar fervura. Com o lume brando, deixe cozer, com o tacho tapado. Vá sacudindo o tacho para não pegar. Logo que o pimento esteja macio, junte a salsa picada, retire do lume e sirva.

Esta caldeirada era, normalmente, servida numa malga grande, em barro, no fundo da qual se punham fatias de pão, ás quais se chamava "bóia". (uma achega do The Old Man).

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