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domingo, fevereiro 29, 2004

imagens de viagem



o meu caderno de viagens

Pequenos apontamentos rabiscados num caderno de viagem e agora partilhados com os leitores. Os sítios, as gentes, os costumes e as curiosidades observados por quem gosta mais de viajar do que de fazer turismo


Chaminés e Torres Sineiras Alentejanas

Monsaraz vila sobranceira aos vastos campos do Alentejo premeia os seus visitantes com maravilhosas chaminés que aprendi a ver através dos trabalhos que "O Maltês", fotógrafo alentejano de eleição, connosco partilha. Chaminés que são autênticas vigilantes na escuta dos sons maravilhosos da planura sem fim e de onde emanam odores ímpares da cozinha alentejana na promessa de não menos agradáveis sabores.

Conjugam-se harmoniosamente materiais de origem e tempo tão diversos criando um ambiente único de beleza arquitectónica. Um cruzamento de épocas e de saberes que se concretiza numa chaminé simultaneamente simples e altaneira, autêntico mirante e vigia dos eternos e amplos campos alentejanos.

São a réplica do Povo às altaneiras torres dos castelos obras de arquitectura militar aqui numa réplica tão popular. Delas saiem fumos e odores que dão aos amplos campos do Alentejo um delicioso bem estar. Odores de pão cozido que quando quente faz as delícias da pequenada e guardado nas arcas o amanho de quem cuida do lar e da família.



Singela no seu traço, algo abandonada no seu embelezamento, continua altiva em terras de Guadalupe, zona de forte esoterismo e onde bem perto se situam o menhir e o cromelec de Almendres. A igreja a que pertence esta torre sineira serve uma população de 500 habitantes na sua maioria sem fortes ligações religiosas mas muito sedentos de algum desenvolvimento, especialmente turístico, que a existência de importantes peças pré-históricas bem justifica.

Medieva e altaneira, com marcas do tempo bem evidentes esta torre sineira tem testemunhado, no decorrer das eras, as mais diversas vicissitudes porque passaram as terras do Alentejo, com avanço e recuos da moirama já nos tempos do reino de Portugal, porque antes, já teria testemunhado a passagem de outros povos e de outras gentes.

De uma alvura sem mácula esta torre sineira pertence à igreja matriz de terra, onde no largo fronteiro a população local ainda tem por hábito deixar passar o tempo em amena cavaqueira, discutindo as últimas novidades do Mundo, as pequenas querelas locais e, muito em especial, vendo os muitos turistas passarem pela ruela fronteira.



sábado, fevereiro 28, 2004

as artes da caparica



sentir o povo que vive

O fotógrafo e a escritora percorrem a calçada, vivem o Povo. Ele, escreve ideias e sentimentos com cada clique da sua máquina fotográfica. Ela, obtém as mais belas imagens com um simples pestanejar dos cílios e a leveza da pena na escrita.


Fotografia que é Poesia ou um Poema de Imagens

Naquele fim de tarde soalheiro e tranquilo, sentados num banco do jardim fronteiro ao mar, o Fotógrafo e a Escritora comentavam a iniciativa do Luís Ene de lançar um Concurso Literário para Blogs.

Um concurso sem vencedores nem vencidos, mas participado e sentido por todos os intervenientes. Daí que não exista a expectativa de prémios, mas antes de uma permuta de obras literárias de acordo com a contribuição que cada um entender dar.

Da conversa longa e amiga entre o Fotógrafo e a Escritora conseguimos aperceber-nos do diálogo seguinte:

_ Uma iniciativa interessante, de facto. Assim tenha muita participação e vença o desinteresse pelas iniciativas alheias que parece grassar na blogoesfera...
_ Conheço o Luís, da apresentação do livro que escreveu com o Paulo Querido e que se realizou na Ribeira, lá por Lisboa. Tem dinamismo suficiente para conseguir uma ampla participação.
_ Bem me lembro desse evento, em Outubro do ano passado.
_ Foi o lançamento do primeiro livro em português sobre blogs.
_ Sim... Tenho um exemplar que eles autografaram para mim e que me foi oferecido por um blogueiro português.
_ Que sorte, hem!


A conversa continuou sem se afastarem do tema. Como sempre acontece quando se encontram, o tempo passa rápido mas com sentires. Nunca dirão: _ Não demos pelo tempo passar!

Agora que esse tempo é pleno, é completo, ninguém tenha dúvidas. Em conclusão de conversa:
_ Vamos participar, claro!, afirmaram em uníssono, numa sintonia que já não os surpreendia.

E assim foi. Ali à beira daquele lado do Atlântico, que importância tem o local em que se encontram? deram asas à sua imaginação e ao sonho.

O Fotógrafo elaborou um belo texto com o recurso à sua máquina fotográfica, escrevendo imagens de sensibilidade única.

A Escritora registou as fotografias em sua alma criando a cada pestanejar dos ternos olhos versos de um poema sublime.

sexta-feira, fevereiro 27, 2004

as cores de valle do rosal


o caminho da vida

[continuação]


XVII
Homem só
Cansado das desilusões da vida
Olhar triste. Ausente
Distante
Cabeça pousada entre as mãos
Momento de solidão
Pensamento em busca do ente querido
Que não volta.

XVIII
Recordo...
Já não sinto o calor do teu corpo
Junto ao meu. Abraço
Ternura
Já não beijo teus lábios de mel
Como antigamente
Esquecido de tudo e de todos
Feliz.

XIX
O teu cabelo
Cauda de cometa, sol dos sois
Fulgurante estrela. Carícia
Afago
Cascata de brilho em minhas mãos
Fugaz entre os dedos
Carícias mil vezes repetida
Sentimento.

XX
Corpo esbelto
Adorei cada pormenor, encantamento
Cada momento. Lábios
Mãos
Percorrem-no sem descanso
Sem cansaço
Revivendo a cada carícia
O amor.

XXI
Os tormentos da vida
Os viventes na busca da libertação
Olhos cor de esperança. Deuses
Pedintes
Enfraquecidos de lutas tidas por ideais
De bem querer
Rastejando por migalhas de existir
Do nada ter.

XXII
O vazio.

quinta-feira, fevereiro 26, 2004

a minha "mascarada" preferida


trabalhos oficinais

A partir do próximo dia 1 de Março. a Oficina das Ideias, vai renovar os temas que pretende partilhar com todos os seus dedicados leitores. Porque os objectivos são a presença e a partilha é-nos muito grato conecer a opinião dos nossos amigos.

Fazemos as nossas novas propostas. Desejamos receber as vossas sugestões.

Temas a desenvolver
# Espaço de versejar e de poetar
# Sabores de Valle de Rosal
# O Meu Caderno de Viagens
# Do fundo do Baú das Memórias
# Viver o Povo que Sente
# Almada, a Terra e as Gentes
# Crónicas do Tempo Presente

Imagens
# Sorrisos e Olhares
# Imagens de Viagem
# Sítios e Rostos
# Flores de Valle de Rosal
# Viajar Portugal
# Uma Flor para...
# Cores da Mata dos Medos

quarta-feira, fevereiro 25, 2004

lanternas chinesas



a banda do cidadão em acção

Reviver Badajoz com a Banda do Cidadão

A viagem havia sido programada há muito. Não envolvia uma grande distância, pouco mais de 200 quilómetros, mas tinha sem qualquer dúvida uma grande carga sentimental.

Rever locais, rever amigos, rever situações estava no programa daquela deslocação à cidade espanhola fronteiriça que dá pelo nome de Badajoz e pelo designativo de "tierra de Dios".

Algo havia mudado profundamente em relação a viagens anteriores, efectuadas 10, 15 anos antes: o automóvel estava equipado com um emissor/receptor de rádio CB.

Viagem iniciada, estabelecidos alguns contactos com colegas cebeístas madrugadores que quiseram estar na frequência para as despedidas e para o acompanhamento durante alguns quilómetros.

Depois, durante a viagem, feita a horas demasiado matutinas somente alguns contactos com camionistas que na sua actividade profissional se deslocavam pelas grandes vias europeias.

Já mais perto de Badajoz, quando Elvas ficava para trás e a fronteira (fronteira?) à vista foi estabelecido o primeiro contacto com os cebeístas pacenses (habitantes de Badajoz) que acolheram com entusiasmo a chamada daquele português que se deslocava para a sua terra.

Primeiro foi a estação K5, operador Pedro, que se soube mais tarde estar permanentemente em escuta na estação a funcionar no seu local de trabalho, um quiosque numa movimentada rua de Badajoz; depois uma segunda estação, a seguir mais outra.

Quando demos por nós uma boa dezena de estações de rádio CB nos estavam saudando, encaminhando para um café onde habitualmente se juntavam, convidando-nos para um pequeno almoço na inesperada mas muito amiga companhia de diversas estações rádio CB da cidade de Badajoz. Depois foi a algazarra do encontro, a troca de opiniões de "como vai a Banda do Cidadão" nos dois países vizinhos, dos sonhos de realização de actividades se possível em comum.

Fraterna amizade se sedimentou de uma forma algo inesperada, mas que a Banda do Cidadão é fértil em possibilitar, quando o espírito da sua utilização é precisamente o de derrubar as barreiras da incomunicação que ficticiamente a sociedade cria entre as pessoas.

A promessa de voltar foi feita. A sua concretização uma realidade.

terça-feira, fevereiro 24, 2004

pelos campos de portugal



a blogoesfera no ano de 2005

Paulo Gorjão, do Bloguitica, lançou um desafio no seu post 326 no sentido de que outros blogueiros expressassem a opinião de como será a Blogoesfera no ano de 2005.

Para isso deveriam elaborar um texto, entre 50 e 125 palavras, a ser publicado no Bloguitica, confrontando assim diversas opiniões. Iniciativa interessante que infelizmente não teve a resposta merecida em termos de participação.

Tal como acordado, em 12 de Fevereiro último, Paulo Gorjão publucou as 27 participações recebidas.

Publicamos hoje a modesta contribuição aqui da Oficina:

[24]
A blogoesfera é, actualmente, o meio tecnológico mais potente de partilhar saber, independente da área do conhecimento considerada. Resulta do apuramento das tecnologias emergentes na vertente da comunicação interpessoal, com possibilidade de exposição universal.

A blogoesfera portuguesa, por muitos considerada de elevada qualidade, sofreu um importante desenvolvimento no último semestre de 2003, estando ainda em pleno crescimento. Acresce o facto da língua portuguesa ser falada em muitas regiões do Mundo, o que leva a que a blogoesfera portuguesa esteja incluída num amplo espaço de diálogo.

Atendendo não ser previsível alterações tecnológicas a curto prazo neste campo é de esperar que em 2005 esteja ainda mais divulgada, especialmente a nível da permuta cultural e na formação no apoio à aprendizagem à distância.
Victor Reis, Oficina das Ideias


segunda-feira, fevereiro 23, 2004

concurso de literatura pala blogs

Em mais uma das suas excelentes iniciativas, Luís Ene acaba de lançar a realização do 1º Concurso de Literatura para Blogs.

Não deixem de participar. Visitem o Ene Coisas.



Clique na imagem para ler o Regulamento


do fundo do baú das memórias

Relembrar algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos


Casa de Pasto O Coelho

Nesta minha viagem às recordações da minha meninice não consegui, ainda, passar do período de vida que se prolonga até aos doze anos de idade. A fase despreocupada das brincadeiras até à ida para a, então, designada instrução primária, entre os sete e os dez anos, e mais dois anos no Ciclo Preparatório para a Escola Comercial, até aos doze anos de idade.

Coincide este período, igualmente, com o viver na casa onde nasci, na Avenida da República, na Amadora e ao estatuto de empregado de comércio do meu pai. Os doze anos da minha vida representou um marco familiar importante, e consequentemente para mim próprio.

Nessa altura mudámos de casa, passámos a residir na Avenida Gago Coutinho, passei a frequentar a escola comercial em Lisboa, a Escola Veiga Beirão e o meu pai estabeleceu-se por conta própria com uma loja de drogarias. Mudança profunda, de facto.

Antes de mudar de registo, recordo ainda a Tasca O Coelho, na Cruz da Pedra, junto ao Jardim Zoológico de Lisboa, onde muitas vezes ia almoçar pela quantia de cinco escudos, estávamos em 1954 ou 1955.

Um dos pratos servidos com maior frequência na tasca O Coelho era o bacalhau com batatas, não podemos esquecer que o bacalhau era na época conhecido por “fiel amigo”, atendendo ao seu baixo custo entrando nas casas com mais dificuldades financeiras. Entretanto, numa sala diferente, penso que para os comensais, o senhor Coelho servia bacalhau com grão. Eu que adorava grão tive que pedir a interferência de meu pai, que numa conversa de “pé de orelha” com o dono da casa lá conseguiu que um dia me fosse servido o celebrado bacalhau com grão.

A Casa de Pasto O Coelho fazia parte, já deixou de existir há muito na voragem do negócio imobiliário, da rota das tascas que desde Lisboa se prolongava até às Portas de Benfica e, mais além, até à zona da Porcalhota, núcleo onde se iniciou a existência da hoje Cidade de Amadora.

domingo, fevereiro 22, 2004

imagens de viagem


Margens do rio Linat - Zurique - Suíça


o meu caderno de viagens

Pequenos apontamentos rabiscados num caderno de viagem e agora partilhados com os leitores. Os sítios, as gentes, os costumes e as curiosidades observados por quem gosta mais de viajar do que de fazer turismo


Flores dos Alpes

As flores são um dos mais conseguidos cartões de visita da Áustria. As gentes de Salzburgo vivem intensamente cada cor como se de uma nota musical de Mozart se tratasse. Na verdade com uma só cor conseguem escrever uma autêntica e maravilhosa sinfonia. Os nossos sentidos ficam extasiados, a cor e o odor das miríades de flores e a eterna música que pairam no ar.

Os habitantes de St. Wolfgang, pequena aldeia situada nas margens do lago glaciar do mesmo nome, são bonitas e afáveis. Demonstram todo o carinho e hospitalidade pelos forasteiros, não só através da transparência das suas belas janelas, como dos maravilhosos e coloridos arranjos florais com que ornamentam as suas casas.

O povo de St. Gilgen tem uma inegável paixão pelas flores. Jardins, janelas floridas, pequenos pormenores de flores espalhados um pouco por toda a aldeia fazem parte desta gente laboriosa, agradável do tratamento, bonitos no parecer. Gente bonita por dentro e por fora fazem das flores o seu bilhete de identidade.

Num singelo pé de uma flor alpina, cujo nome não me foi possível conhecer, amanhã o botão formará uma companheira para esta solidão passageira. Solidão aparente, pois encontra-se integrada num dos belos jardins de St. Gilgen ali à beirinha do bonito Lago de St. Wolfgang, com origem nos glaciares permanentes dos Alpes. A água cristalina reflecte-se nas brilhantes e exóticas cores das miríades de flores.

À Suíça falta a afabilidade dos austríacos, mas a mãe Natureza alheia a tais nuanças da história e das gentes constrói beleza, com expressão na cor, nos cheiros, nos sons... Aqui foi de uma criatividade ímpar oferecendo-nos maravilhosas flores, de ímpares odores, ao som do chilrear de exóticas aves em plena liberdade.

O amor tem destas coisas, mesmo não sendo perfeito reflecte-se intensamente no nome popular desta flor. A região alpina é prenhe de histórias que ligam as flores ao ardente amor existente entre os jovens (e entre os menos jovens, claro) e esta, na multiplicidade das suas tonalidades, não foge à regra.




sábado, fevereiro 21, 2004

uma flor para... a elisa


Desejo de toda a Felicidade do Mundo

sentir o povo que vive

O fotógrafo e a escritora percorrem a calçada, vivem o Povo. Ele, escreve ideias e sentimentos com cada clique da sua máquina fotográfica. Ela, obtém as mais belas imagens com um simples pestanejar dos cílios e a leveza da pena na escrita.


A Felicidade conquista-se dia-a-dia

O Fotógrafo acordou cedo. Pode mesmo dizer-se que madrugou. A noite fora atravessada por muitos sonhos, sempre com o mesmo tema. O Fotógrafo voou, planou montanhas e mares, evitou obstáculos somente com um ligeiro impulso do seu corpo que se confundia com o voo das gaivotas, dos corvos do Pinhal dos Medos, das rolas imigradas da Turquia.

Acordou cedo e cedo se fez à calçada. Não seriam necessárias palavras nem combinações prévias. O Fotógrafo sempre encontrava a Escritora e sempre deambulavam parceiramente pela calçada. O Sol já levantara da linha do horizonte e já aquecia os corpos.

O Fotógrafo estranhou. Não encontrou a Escritora como era habitual. Rumou seus passos na direcção do mar. Caminhou para a zona portuária. A azáfama matinal distraiu seus pensamentos. Movimento intenso das cargas e descargas de abastecimentos para esta urbe imensa. O movimento portuário sempre o encantara.

As horas foram passando com uma lentidão nunca sentida quando a Escritora estava presente. É estranha a forma de sentir o tempo que passa, assunto que muito ocupou as conversas entre o Fotógrafo e a Escritora e que aquele agora bem sente no espírito e no corpo.

A temperatura elevada não travou os passos do Fotógrafo que num caminhar lento se foi aproximando na zona antiga da cidade. A quantidade de pessoas na rua aumentava a olhos vistos e o Fotógrafo sempre imaginava ver a silhueta inconfundível da Escritora no meio da populaça. Sempre concluía tratar-se de uma ilusão.

O Fotógrafo foi confrontado com a efervescência de uma grande massa popular movimentando-se num vai-e-vém contínuo e em diversas direcções [frevo]; uma autêntica confusão, movimento desordenado e desarrumado [maracatu] mas com grande animação que contagiou um pouco o Fotógrafo que procurava um rosto amigo no meio de tanta gente.

Passaram grupos de homens e mulheres, trajando vistosos cocares de penas de avestruz e pavão, com saia também de penas, trazendo adereços nos braços e tornozelos. Que desfile animado e que evoluções tão ricas executadas ao som dos estalidos secos das preacas. [caboclinhos]

O Fotógrafo estava deliciado com tamanha demonstração de vitalidade e de cultura popular. Por isso mesmo se sentia mais só. As explicações, o saber e o afecto da Escritora seriam fundamentais num momento como este.

De repente, o Fotógrafo temeu estar a ter uma nova miragem, era a Escritora que vinha alegremente integrada naquela alegoria carnavalesca. Agora sim, não havia dúvida. O Fotógrafo acenou-lhe alegremente. Trocaram um sorriso.

O Fotógrafo, pouco depois, regressou ao seu quarto do hotel. Feliz por ter sentido a Escritora plena de Felicidade.

[para saber mais sobre o maravilhoso carnaval do Recife não perder os espectaculares artigos que a minha doce amiga LuaLil partilhou connosco no Entre o Sono e o Sonho]


sexta-feira, fevereiro 20, 2004

as cores do meu jardim



o caminho da vida

[continuação]


XIII
A tua ausência
Provoca-me longas noites de vigília
Recordando o passado; próximo
E tão distante
Em que construímos o mundo
Castelo de areia
De felicidade, de ternura, de amor
Agora recordação.

XIV
Voltaste um dia
Mulher feita de menina que foste
Consciente e segura. Bela.
Encantamento
Abracei-te longamente
Sorri-te
Depois foi a tristeza do sonho destruído
Desilusão

XV
Quis-te minha
Fugiste às palavras e aos sentidos
Distante me sorriste. Sorriso.
Doçura
Recusa de reviver o passado
Por tal ser
Ilusão construída pelo querer
Nada mais.

XVI
Flui o tempo
Marcado pelo relógio do pensamento fugaz
Não da vida. Lento.
Rápido
Consoante o sentir do momento
É espaço
De vida vivida por viver
Angústia.


[continua]

quinta-feira, fevereiro 19, 2004

uma flor para... o manuel


Parabéns pelo dia de ontem


elmano sadino

Apontamentos dos quereres e sentires do poeta de Setúbal, Manuel Maria de Barbosa du Bocage, na procura de uma verdade impossível de encontrar, o rumo da sua vida. Transcrição de sonetos e de poesias eróticas, burlescas e satíricas


Bocage já não chegou ao Natal

Tanta vida vivida, tantos amores e desamores, tantos ódios e tanta fama e só passaram quarenta anos de vida e mais de vinte de vadiagem, de noitadas e de genebra. Passou vida no Bairro Alto, na Lisboa boémia e no Rio de janeiro, na Rua das Violas; viajou por Surrate e pelos pangaios de Cantão, lá no oriente longínquo e regressou mais pobre do que nunca à poncheira do Botequim das Parras.

Muito fumo, muitas correrias, subidas e descidas pelas calçadas de Lisboa, Bocage está um farrapo, com um aneurisma declarado que o atira para uma cama. Visitado e valido pelos amigos e animado pela irmã, ninguém mais lhe resta, enquanto a doença o consome tornando mais transparentes os seus olhos muito azuis.

Bocage verseja como nunca. Um fogo, intenso fogo, o desgasta internamente mas lhe dá inspiração e forças para improvisar como nunca. Bocage já lhe custa endireitar-se na cama, mas a par com a visita dos amigos, também o visitam aqueles com quem se digladiou tempos sem fim. O respeitam e prevêem o breve desenlace.

Por lá aparecem o Policarpo, da Rua Nova da Rainha e até o Curvo Semedo e o Visconde de Laborim. Até o próprio Padre José Agostinho de Macedo não faltou. No meio de toda esta emoção e comoção se arrastou Bocage nos últimos meses de vida.

Numa dessas visitas o pintor Henrique José da Silva, de vontade própria ou por encomenda, fez-lhe o retrato. Olhos cavados e ardentes, uma mecha de cabelo a cair-lhe para a testa, magro como um cavaco.



Bocage sentia-se finar...

Meu ser evaporei na lida insana...
Já Bocage não sou...
À cova escura meu estro vai parar, desfeito em vento...


Bocage não chegou ao Natal. Expirou em 21 de Dezembro de 1805 e foi sepultado na Igreja das Mercês, mesmo junto à sua porta.


Soneto 80

Meu ser evaporei na lida insana
Do tropel das paixões que me arrastava,
Ah! Cego eu cria, ah! Mísero eu sonhava
Em mim, quase imortal, a essência humana!

De que inúmeros sóis a mente ufana
A existência falaz me não doirava!
Mas eis sucumbe a Natureza escrava
Ao mal, que a vida em sua origem dana.

Prazeres, sócios meus e meus tiranos,
Esta alma, que sedenta em si não coube,
No abismo vos sumiu dos desenganos.

Deus... ó Deus! Quando a morte à luz me roube,
Ganhe um momento o que perderam anos,
Saiba morrer o que viver não soube!



Bibliografia consultada
Bocage, Sonetos – Livraria Clássica Editora – Lisboa, 1961
Bocage, Poesias Eróticas, Burlescas e Satíricas – Editora Escriba – S. Paulo, 1969

quarta-feira, fevereiro 18, 2004

arriba fóssil da costa de caparica


sabores de valle de rosal

Dos sabores caparicanos, a terra e a mar. A gastronomia, os vinhos e outros paladares e odores que encantam os sentidos e aprofundam as amizades. A arte da gastronomia, com recurso a receitas tradicionais, de preferência da região da Costa de Caparica, com o toque pessoal da Maria Teresa. Bom apetite!


Carapaus de Bigode fritos à moda de Valle do Rosal

Carapaus de Bigode uma forma popular, conversa de tasca, como carinhosamente os apreciadores tratam os camarões, aludindo ao seu aspecto, que não ao paladar.

Ingredientes
8 dentes de alho, cortados em fatias
1 dl. de óleo
1 c.s. de margarina de cozinha
1 kg. de camarão tamanho 20/30
2 malaguetas
1 ramo de salsa, cortada em pedaços
1 cerveja branca



Confecção
Numa frigideira grande, tipo paelleira, aloirar os dentes de alho fatiados, no óleo e margarina.

De seguida, juntar os camarões, juntos com duas malaguetas abertas e sem sementes e a salsa cortada em pedaços. Deixar fritar em lume forte durante cinco minutos.

Juntar o conteúdo de uma cerveja branca de 33cl. e continuar a cozinhar em lume forte até evaporar o líquido, sobrando um molho grosso.




terça-feira, fevereiro 17, 2004

imagens de viagem


Munique - Carrilhão


almada, a terra e as gentes

Uma visão, se possível ilustrada, das gentes e do património natural e construído do Concelho de Almada e do seu Termo


Corvídeos do Pinhal (uma versão actualizada)

Dois vultos negros contrastam com o azul celeste da aurora, num voo suave ritmado com destino certo. Asas longas bem desenhadas com recortes característicos nas extremidades, contrapõe-se aos corpos esguios elegantes.

Vindos das matas do Pinhal do Rei e da Mata dos Medos, têm como destino uma zona de denso arvoredo, logo ali à beira dos areeiros do Cruzeiro.

Hoje são um par, um casal de família constituída. Amanhã voarão em trio, como acontece as mais das vezes, cujo sentido encontrei numa deliciosa crónica da autoria de Affonso Romano de Sant’Anna, no seu livro A Mulher Madura.

Entre os corvos acontece uma relação triangular, pois quando se verifica a carência de macho, as fêmeas ritualizam entre si o acto do amor, cortejando-se e seduzindo-se mutuamente até que uma das fêmeas passa a exercer o papel masculino. Fruto desse amor a outra fêmea choca os ovos, que por serem estéreis não resultam. Mas o romance não termina aí. Quando surge o macho, mesmo que atrasado, e começa a namorar uma das fêmeas já em estado de acasalamento “homossexual”, não conseguirá desligar as duas amadas. Terá que compor com elas um menage à trois, tendo que cuidar das duas ninhadas.

O macho voou agora até ao ponto mais alto de Valle de Rosal, o telhado de uma casa construída num outeiro. Voo sem hesitação e ao pousar lançou um primeiro som forte, estridente, metálico. Este som, um chamamento matinal, serve para dar indicação à fêmea de onde se encontra. A sua posição sobranceira ao vale garante-lhe uma visão ampla e plena para toda a região.

Lá mais para a Primavera e mesmo em pleno Verão o trio formará a constituição do voo. Não resisto a uma saudação de amizade a estes amigos de longa data. Voltem sempre que adoro observar o vosso voo.

Nota: pela mão gentil da minha amiga Cathy, do Despenseiros da Palavra, o livro de Affonso Sant’Anna veio enriquecer a minha biblioteca.

segunda-feira, fevereiro 16, 2004

interpretar textos poéticos

A minha amiga Cathy, do Despenseiros da Palavra, dá uma nova orientação a este maravilhoso blogue, publicando semanalmente um texto poético de um autor convidado, com o objectivo de ser interpretado pelos leitores.

O próprio autor é convidado a dar a sua contribuição para se conseguir um melhor conhecimento de si próprio e da sua obra.

Estão criadas, pois, as condições para uma ampla interactividade, com o objectivo do enriquecimento mútuo dos autores e dos leitores, numa forma deveras original de partilha.

Parabéns Cathy por esta original iniciativa!

Na Oficina ficámos muito sensibilizados pelo facto da nossa querida amiga Cathy nos ter escolhido para o “arranque” desta iniciativa. Assim, acompanhado de uma deliciosa imagem, podem ler, interpretar e comentar a partir de hoje, e durante uma semana, o poema

Quadras de Amor Sentido. Vivido? Sonhado?


Participem em Despenseiros da Palavra

flores do meu jardim



viver em valle do rosal

Chegaram as andorinhas a Valle do Rosal

Os dias bonitos de Fevereiro que já desejam anunciar a Primavera dão as boas vindas às primeiras que este ano chegaram a Valle de Rosal. Hoje foi um dia de alegria pois chegaram as andorinhas aos ninhos da vizinhança, milhares de quilómetros percorridos e pouco mais de quatro meses depois de terem iniciado a viagem de ida.

Uma delas já pousou no local habitual situado no fio telefónico fronteiro à minha casa. Negra, elegante no voar, bico avermelhado foi a primeira a ser vista. Já cá esteve o ano passado e agora voltou ao ninho que abandonou com a família quando chegou a invernia.

Daqui a pouco regressarão todas as que já cá estiveram e que resistiram à longa caminhada. Algumas terão perecido perante os escolhos de uma longa viagem, as intempéries, os predadores, a malvadez do ser humano. Contudo, a maioria regressará ao seu local de nascimento ou aos ninhos em que foram progenitores.

Na sua resposta aos desígnios da mãe Natureza nem sequer sabem a alegria que me dão em vê-las de novo no seu característico voo e labor para uma nova estadia por estas bandas. A partir de agora será a alegria, a animação dos seus voos e a musicalidade dos seus piares, a labuta para a recuperação dos ninhos e para a construção de novos que irão albergar a família aumentada.

Vamos conviver com elas durante alguns meses, especialmente com as que vivem nos ninhos da vizinhança.

domingo, fevereiro 15, 2004

imagens de viagem


Groselheira - Alpes Suíços

o meu caderno de viagens

Pequenos apontamentos rabiscados num caderno de viagem e agora partilhados com os leitores. Os sítios, as gentes, os costumes e as curiosidades observados por quem gosta mais de viajar do que de fazer turismo


Lagos Glaciares

Os lagos glaciares, como este aqui apresentado que é o Lago Thun na Suíça, são resultantes do degelo dos glaciares permanentes dos Alpes. Como tal a sua água é originalmente muito azul e transparente. Devido à importante evaporação que provocam, o céu encontra-se muitos dias do ano coberto de nuvens e a humidade relativa é bastante elevada. Tal facto dá o ar acinzentado às águas que, contudo, são de uma pureza ímpar.

Na tranquilidade das águas do Lago de Thun o nosso espírito vagueia calmamente direcção ao infinito, muito para lá da cordilheira alpina, qual águia real no seu dilecto habitat. Mas ali tão perto, na beira deste maravilhoso lago, a vida fervilha numa pequena aldeia alpina onde as suas gentes são tão alegres e solidárias.

Tranquilamente sentados numa das margens do Lago glaciar de Thun deixámos espraiar o olhar para lá das águas até aos Alpes sempre presentes em todas as vistas tomadas a partir das margens do Lago de Thun. Ali mesmo nas nossas costas subia-se até ao infinito numa outra montanha dos Alpes.

As aldeias subjacentes às magníficas montanhas que constituem os Alpes parecem esmagadas pela grandiosidade da paisagem envolvente. Tal facto em lugar de criar na população uma noção de pequenez torna-a mais activa, alegre e, muito em especial, solidária. Camponeses, agricultores, pastores, lenhadores encontram nos cantares do Tirol a forma mais maravilhosa de comunicarem entre si.

Quando o declive da montanha se torna mais ameno o Lago de Thun ainda lá continua na sua placidez incomparável a dar-nos o tempo de pensamento necessário às decisões mais ousadas. É nessa calma e tranquilidade que as mulheres e os homens dos Alpes desenvolvem as suas actividades assim como os seus antepassados já o faziam.

O Lago de Thun na Suíça é um dos diversos lagos glaciares com origem nas águas que descem permanentemente dos Alpes, quer em pleno Inverno quer nos quentes dias de Verão. A sua origem são os glaciares permanentes da Cordilheira dos Alpes o que garante a pureza e a baixa temperatura das águas.


Lago Glaciar de Thun - Suíça


sábado, fevereiro 14, 2004

uma flor para... a bel


com o desejo de um dia muito feliz



sentir o povo que vive

O fotógrafo e a escritora percorrem a calçada, vivem o Povo. Ele, escreve ideias e sentimentos com cada clique da sua máquina fotográfica. Ela, obtém as mais belas imagens com um simples pestanejar dos cílios e a leveza da pena na escrita.


Um dia muito especial

Com o passar dos dias, com o aproximar-se do Carnaval a calçada vai ganhando maior animação. As pessoas já começaram a “deitar para trás das costas” os problemas e dificuldades do dia-a-dia e vivem agora as emoções da festa, a agitação das ruas.

A Escritora e o Fotógrafo não fogem à regra, nem desejam que tal aconteça. Querem viver intensamente o sentimento popular, do Povo a que pertencem, na calçada que lhes dá a inspiração e o trabalho.

_ Temos aí os folguedos do Carnaval não tarda..., disse pensativa a Escritora.

_ Sim, a alegria vem para as ruas, mesmo deixando tristeza e preocupações em casa.

_ É verdade! É a época dos mascarados. Dos blocos, frevos, maracatus, caboclinhos, muita originalidade e criatividade...

_ É mesmo, querida amiga. Vou citar Oscar Wilde: Um homem só se revela verdadeiramente quando usa uma máscara.

Há longo tempo que vêm percorrendo a calçada lentamente. Os cheiros dos jasmins e da deliciosa comida que está a ser confeccionada nos diversos bares situados ao longo da calçada são um autêntico desafio aos sentires.

_ Se que você adora ostras... eu também. Vamos comer umas ostras e beber uma cervejinha?, sugeriu o Fotógrafo não resistindo ao apelo da tentação das tasquinhas, dos botecos.

_ Vamos sim! Mas vou sugerir-lhe um tempero delicioso para as ostras a que você não está habituado lá para os lados onde o Sol nasce.

_ Diga qual. Confio totalmente no seu bom gosto.

_ Limão, azeite, pimenta e sal!

_ E uma cervejinha Skol, não?

_ Porque não? Boa sugestão!

Deliciaram-se com as ostras fresquíssimas, com um tempero que o Fotógrafo nunca antes tinha experimentado, acompanhadas de “algumas” cervejinhas bem geladas. A missão do dia terminara da melhor forma, depois de uma longa caminhada calçada acima e de alguma conversa sobre o Carnaval já tão próximo.

De novo na calçada pararam frente a frente, enquanto o Fotógrafo agarrava com afecto os braços da Escritora.

_ Minha querida amiga, não posso despedir-me sem lhe dar muitos parabéns!

_ ???

_ Faz hoje nove anos você pela segunda vez se sentia a mulher mais feliz do Mundo! Essa é uma das âncoras mais firmes de sua vida. Muitos parabéns.

As lágrimas rolaram a fio pelo rosto da Escritora. Lágrimas de muita alegria e felicidade. Não é que o fotógrafo havia feito ternamente “clique”, não na câmara fotográfica, mas em sua alma?

sexta-feira, fevereiro 13, 2004

as cores do meu jardim



o caminho da vida

[continuação]


IX
Percorrendo a cidade
Pelas arejadas avenidas, o Sol refulge
O arco-íris é cor
Mãos dadas, alegria
Os dedos tocam levemente
Comunicam
Ternos pensamentos
Que futuro?

X
Conhecemos a cidade
Bairros de lata tristes, soturnos
A sombra esconde pobreza
Olhar trocado, tristeza
Pelos que sofrem
Solidariedade
Entendimento espiritual
Que presente!

XI
Mas um dia
Cavalgando sonhos, imaginação
Vejo-te partir, fico só
Solidão
Não me deixes tão sozinho!
Grito desesperado
... Mas a estrela cor de esperança, ou cor de sangue
Leva-te.

XII
Lá longe
Nas terras donde chega raro caminhante
Pouco sei de ti, desesperado
Delirante
Procuro tua imagem a todo o instante
Busca infrutífera
Imagino teu perfil de menina
Sempre minha.

[continua]

quinta-feira, fevereiro 12, 2004

grafitti



elmano sadino

Apontamentos dos quereres e sentires do poeta de Setúbal, Manuel Maria de Barbosa du Bocage, na procura de uma verdade impossível de encontrar, o rumo da sua vida. Transcrição de sonetos e de poesias eróticas, burlescas e satíricas


Amores reais (?) de Bocage

Com a publicação das Rimas, Bocage tornou-se famoso, ao ponte de se relacionar com os filhos de Manuel Constâncio, cirurgião no Real Hospital de S. José, casa de quem passou a ser frequente visitante. Todos gostavam de poesia e Bocage, umas vezes triste e brusco, outras transbordando alegria era insinuante e fazia graça. Tudo correu bem até ao momento em que Bocage se adiantou com a Margaridinha, filha do cirurgião, o que levou este com o apoio do confessor a tratarem de afastar Bocage.

Bocage desabafa com Marília nas célebres Verdades Duras, o princípio para de novo cair na alçada da Intendência e da Inquisição. Os amores e desamores de Bocage sempre conduzem a grandes tragédias.

Outra paixão de Bocage, que também se consegue ligar a uma identidade, sobrando sempre a dúvida entre o real e os desvarios do poeta é a Márcia dos Poemas. Terá sido Maria, filha mais velha do árcade António Bersane Leite que em tempos maus de dinheiros e saúde recolheu em sua casa o poeta. Contudo, onde houvesse mulheres havia por certo sarilho com o poeta, mau partido e valdevinos.

Lá mais para o fim da sua vida, passou na vida de Bocage uma tal Amália enigmática, eventualmente uma outra filha de Bersane Leite, a Ana Perpétua.

Todas estas situações amorosas estão envolvidas em denso nevoeiro do conhecimento, pela falta de documentação e pelo desvario com que Bocage misturava a realidade com o sonho e os seus fantasmas. As dúvidas são tanto maiores quanto uma simetria nítida existe entre dois dos seus amores. À rivalidade dos manos Bocage com Gertrudes corresponderia a das manas Bersane com Bocage. Esta simetria era na verdade muito ao gosto literário da época.

A vida de Bocage é então atravessada por uma série de mortes de amigos e de conhecidos, duma pequena sobrinha e de outros familiares. A fatalidade volta aos versos de Bocage e este aproxima-se do “nada”. Tudo é pobre à sua volta, livros e restos de comida vivem em comunhão. Ah Bocage, Bocage...


Soneto 53

Tenta em vão temerária conjectura
Sondar o abismo do invisível Fado,
Que, de umbrosos mistérios enlutado,
Some aos olhos mortais a luz futura.

Presumia (ai de mim!) vendo a ternura
Daquela, que me trouxe enfeitiçado,
Presumia que Amor tinha guardado
Nos braços do meu Bem minha ventura.

Ó Terra! Ó Céu! Mentiram-me os brilhantes
Olhos seus, onde achei suave abrigo:
Quão fáceis de enganar são os Amantes!

Humanos, que seguis as leis, que sigo,
Vós, corações, que ao meu sois semelhantes,
Ah! Comigo aprendei, chorai comigo.


quarta-feira, fevereiro 11, 2004

a lua sempre brilha em valle do rosal



almada, a terra e as gentes

Uma visão, se possível ilustrada, das gentes e do património natural e construído do Concelho de Almada e do seu Termo

O desbafo de um Caparicano

A Costa de Caparica é lugar conhecido de há muitos anos, especialmente, pelas gentes que habitam na área da Grande Lisboa, como zona de veraneio, que recebe anualmente mais de 10 milhões de pessoas. Este facto, pouco tem contado para o seu desenvolvimento social e económico, pois este enorme caudal de gente limita-se, na maioria das situações, a chegar pela manhã, destino à praia com seus farnéis e regressar no final do dia, para no dia seguinte efectuar a mesma viagem.

Daí o pouco desenvolvimento hoteleiro, embora os restaurantes na época de Verão tenham bastante movimento e, de igual forma, o pouco ganho obtido pelo comércio local.
Num balanço anual que se possa fazer desta autêntica migração sazonal para os vinte quilómetros de longo areal tem resultados negativos. Os veraneantes ajudam a destruir a duna primária, fazem autênticas agressões ambientais e, em contra partida, não ajudam ou ajudam pouco ao desenvolvimento caparicano.

Algo há a fazer para inverter os resultados desta situação. Contudo, as entidades governamentais, desde sempre olharam a Costa de Caparica como enteado, protegendo, isso sim, a Costa do Estoril. É assim que se entende a agressão lesa Natureza que representam os silos de cereais da Trafaria, as instalações militares da NATO sediadas na margem sul do Tejo, a vinda de toneladas e toneladas de lixos da Grande Lisboa para os aterros sanitários de Almada e do Seixal, de exploração mista (privada e estatal) e a exploração de areias da praia para serem colocadas do lado norte do Tejo o que já provocou catástrofes ambientais na margem sul.

Mas a Costa de Caparica a tudo resiste na defesa da sua beleza natural, da sua história e da sua tradição.

Um pouco de história...

D. João VI (contrariamente ao que muitos afirmam) nunca esteve hospedado na "Casa da Coroa", apenas limitou-se a lá comer uma caldeirada, feita por Maria do Rosário ou "Maria do Adrião" para a "companha" que regressava da pesca, como nos diz um escrito que nos mostraram, e deve datar possivelmente de 1827 e nos fala da caldeirada comida por D. João VI em 18 de Julho de 1825.

Diz o referido escrito: "O grupo dos tais senhores que pareciam ter vindo de Lisboa, começaram a caminhar atrás dos pescadores e quando nos viram cortar fatias de pão e d'elas nos servir de prato, começaram a rir e pediram autorização para provarem a caldeirada e ver se sabiam comer como os pescadores."

"Como gostassem, continuaram a comer e a beber, sentados na areia sem a gente saber quem eles eram. Por isso é de calcular o espanto que tivemos quando um dos senhores nos disse que estava ali D. João VI - Rei de Portugal."

terça-feira, fevereiro 10, 2004

uma flor para... a quinita


Feliz Aniversário

phantom vision

Phantom Vision em video-clip

A banda portuguesa Phantom Vision gravou no passado fim-de-semana o seu primeiro video-clip, em resultado de uma parceria com estudantes finalistas do curso de Audiovisuais e Multimédia da Faculdade Lusófona de Lisboa.

As filmagens decorreram nos próprios estúdios da Faculdade Lusófona e, os exteriores, num edifício industrial há muito desactivado, situado na zona do Ginjal, em Cacilhas.


a banda Phantom Vision


Participaram nos trabalhos Ana e Miguel, na realização e filmagem do video-clip, a banda Phantom Vision na sua actual constituição e a participação especial de Sara, como actriz convidada.


A equipa de produção


O tema escolhido foi Strange Attraction que pertence ao novo registo de originais da banda, a ser editado entre Abril e Maio de 2004, pela editora norte-americana COP International.


Sara - Strange Attraction


Os Phantom Vision são uma banda portuguesa cujo início da actividade remonta a Maio de 2000. Formada actualmente por Pedro Santos (Morcego) - Voz e Programações (ex-Coyotes /ex-Art of Dark) de Lisboa, David Reis - Guitarra (ex-Trauma) de Almada e André Joaquim - Baixo (ex-Capitão Fantasma e actual Texabilly Rockers e Doctor Frankenstein) de Lisboa.

Têm actuado um pouco por todo o País, com destaque para os espectáculos do Porto, Coimbra, Montijo e Almada, e têm apresentado diversos show case nos palcos da FNAC (Fórum Almada, Colombo, Chiado). Contudo, o grande êxito desta banda portuguesa situa-se nos países anglo-saxónicos e nos países do Leste da Europa.

A sonoridade dos Phantom Vision levita algures por entre as magias obscuras do Goth/Underground de raízes tradicionais e os raios loucos e irreverentes da electrónica mística de componentes, ora clássicos, ora vanguardistas. Críticos existem que lhes atribuem laivos sensíveis de música sinfónica.

segunda-feira, fevereiro 09, 2004

uma flor para... a zulmira


Feliz Aniversário

do fundo do baú das memórias

Relembrar algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos


Os pregões na minha terra natal

A rua onde nasci e onde vivi até aos 12 anos na vila de Amadora, hoje uma das maiores e mais populosas cidades de Portugal, era na época uma rua muito movimentada. Era a única avenida da vila, com dois sentidos de trânsito separados por uma placa central, ficava situada bem junto ao jardim, o único jardim então existente e ficava no caminho para a estação de caminhos de ferro, o transporte privilegiado de quem trabalhava em Lisboa.

Era pois um local de passagem e de passeio onde o observador atento poderia sentir o pulsar da povoação, nos seus usos e costumes e onde, com o decorrer dos anos, se foi reflectindo o desenvolvimento local.

Da janela, situada ao nível do solo, vivendo a minha família no que então se designava por cave, tudo observava e muito mantive no fundo da minha memória. Por ali vi passar tropas em manobras quando se deslocavam dos quartéis de Queluz, Mafra e Serra da Carregueira em direcção a Lisboa. Na época do Carnaval eram inúmeras as “cegadas” que constituídas por grupos de mascarado, mascarados trapalhões, vinham dos diversos bairros e quintas na direcção do centro da vila, junto à estação dos caminhos de ferro.

Mas o que mais guardo na minha memória são os vendedores ambulantes que passavam gritando os seus pregões. A mulher da fava rica, transportando os panelões fumegantes, “_ Olh’á Fava Riiiiiica!”; o homem das castanhas assadas no forno e transportadas em sacas de serapilheira, “_ Queeeentes e Booooas!”; a Ti Maria dos gelados, “_ Esquimó fresquiiiiinho!”; o galego amolador de facas e tesouras, empurrando o seu zangarelho e tocando gaita de beiços a quem nós miúdos gritávamos “_ Vai dar água ao burro!”; ou então o chinês vendedor de gravatas a quem a um gesto nosso de dois dedos a esfregar as narinas nos respondia com um chorrilho de impropérios... em chinês.

Era, realmente, uma animação naquela rua, avenida?, que eu observava da janela de minha casa ou enquanto jogava ao bilas na placa central da rua.

domingo, fevereiro 08, 2004

imagens de viagem


Jardins do Palácio de Mirabell - Salzburgo - Áustria

o meu caderno de viagens

Pequenos apontamentos rabiscados num caderno de viagem e agora partilhados com os leitores. Os sítios, as gentes, os costumes e as curiosidades observados por quem gosta mais de viajar do que de fazer turismo


As Mulheres de Barcelona

As mulheres de Barcelona, as Barcelonesas, são bonitas, interessantes e interessadas, vivas, inteligentes, vistosas, vibrantes, atrevidas até.

Os olhos, castanhos, verdes, azuis, mesmo cinzentos, são amplos, transparentes e profundos.

Têm um olhar ímpar, somente comparável ao das mulheres das vastas estepes da Hungria, ganhando-lhes naquilo que muitos designam por “salero”, misto de nostalgia, ingenuidade, ironia e muito querer.

Olham profundamente nos olhos de quem as aprecia, reconhecendo dessa forma o louvor que é feito à sua beleza.

O olhar de um fugaz cruzar na rua, na “carrera”, leva-nos a mundos insuspeitos de uma beleza e cor indiscritíveis. Vogamos nesse olhar tempos infinitos, muito próximos da eternidade, em sensações orgásticas, vibrantes, totais.

O corpo esguio, mas bem torneado das Barcelonesas, conduzem-nos por caminhos e veredas de sonho, elevam-nos ao mais alto píncaro da “Sagrada Família”, inspiraram Gaudí, não temos quaisquer dúvidas, nos seus desvarios arquitectónicos para os quais não se encontra outra explicação que não seja o turbilhão de sonho e sentimentos que as Barcelonesas lhe provocaram.

O espírito e a sensibilidade das Barcelonesas acompanharão para a Eternidade aqueles que tiveram o privilégio, a ventura, a felicidade de algum dia com elas se cruzarem, nem que tenha sido num fugaz cruzar de olhares.

sábado, fevereiro 07, 2004

rumo a valle do rosal



sentir o povo que vive

O fotógrafo e a escritora percorrem a calçada, vivem o Povo. Ele, escreve ideias e sentimentos com cada clique da sua máquina fotográfica. Ela, obtém as mais belas imagens com um simples pestanejar dos cílios e a leveza da pena na escrita.


Uma refrescante Skol

O dia que começara chuvoso e a ameaçar uma daquelas tempestades com que o Verão tantas vezes nos surpreende, foi amenizando com o passar das horas e, agora, que as primeiras luzes dos candeeiros de dupla lanterna, tão característicos da zona antiga da cidade, se começam a iluminar, há um convite no ar ao passeio.

A Escritora e o Fotógrafo caminham, lado a lado, calçada fora, inebriados com o odor emanado pelas árvores neste final de tarde, ao som de aves tão exóticas como belas e tendo como música de fundo acordes de música carnavalesca cuja origem é difícil de determinar.

Param, olham-se e encantam-se com este ambiente de sonho. Depois continuam a caminhada pela calçada da zona antiga da cidade, ladeada de edifícios de três ou quatro andares, pintados em cores diversas, mas todas elas com uma patine única e extravagante. As varandas dos edifícios são um convite permanente aos seus habitantes para se debruçarem sobre o Largo que já se mostra animado pelos muitos transeuntes.

_ Neste edifício se situa a primeira sinagoga que existiu no Brasil, comentou na passagem a Escritora.
_ Que curioso...

_ Esta zona antiga da cidade faz-me lembrar a zona portuária de Lisboa, onde comecei a minha vida de trabalho nos anos 60 do século passado.

_ Sim... aqui o mar também está perto. Porta de entrada e de saída da grande movimentação de mercadorias da cidade.

_ A zona onde comecei a trabalhar em Lisboa era uma zona de bares e de companhias de navegação, de marinheiros e de prostitutas.

_ Sim... como o são quase todas a zonas portuárias...

Um pouco mais à frente uma esplanada de cadeiras brancas viradas para a calçada era um convite à paragem. E que bem que soube aquela cerveja bem gelada. A primeira Skol partilhada, as seguintes uma para cada. E mais duas.

_ Por agora chega. Há que fazer caminho!

A cada momento, rua abaixo, uma agremiação carnavalesca. Logo depois.... um bloco, um maracatu, caboclinhos. É bem bonito mesmo.

_ Não há isso em lugar algum, Não há!!

Lá ao fundo da rua, um palco mandado instalar pela Prefeitura está disponível para as diversas apresentações que se irão realizar até culminar na terça-feira de Carnaval. O Povo está na rua animado como nunca. É época de paragem para um novo ciclo de vida que por aqui se inicia.

O Fotógrafo reparou, então, que não havia tirado uma única fotografia, embora todo o ambiente fosse adequado para tal. Concluiu que haveria muito tempo para isso. Muito melhor foi a forma como o tempo passou e em que os seus pensares e sentires se foram cruzando com os da Escritora.

visitante # 10.000

A minha amiga Cathy, do Despenseiros da Palavra estabeleceu o contacto #10000 com a Oficina, o que nos trouxe grande satisfação.

Na verdade a querida Cathy muito tem ajudado ao progresso da Oficina das Ideias, quer através das visitas que nos faz com muita assiduidade, como também pelos afectuosos e inteligentes comentários e, especialmente, pela qualidade dos posts que coloca no seu próprio blogue.

Não posso deixar de referir a existência de uma grande cumplicidade espiritual donde tem resultado verdadeiras pérolas da blogoesfera, como sejam as situações

Inês de Castro na Vida de D. Pedro
Os Corvídeos do Pinhal


A leitura destes assuntos quer aqui na Oficina, quer no Despenseiros da Palavra pode demonstrar a verdadeira amplitude e interesse que tem a blogoesfera na partilha da cultura e na melhoria do relacionamento entre as Gentes e os Povos.

A Oficina das Ideias no reconhecimento deste contacto #10000, ao fim e ao cabo, reconhecimento à permuta de 10 milhões de afectos, decidiu conceder à Cathy, para quando vier a Portugal...

Estadia completa de 15 dias em Valle do Rosal, incluindo visitas à região e encontro com os blogueiros da margem Sul do Tejo.

Uma surpresa que seguirá via correio para o lado de lá do Atlântico


sexta-feira, fevereiro 06, 2004

este mar tão belo que nos une



o caminho da vida

[continuação]

V
Ameaças, receio
A sociedade não entende o amor
O querer é atraiçoado, vileza
Indiferença
Seres que são vermes, espreitam
Atenta e traiçoeiramente
No escuro da noite escondidos
Sociedade

VI
Lábios tão vermelhos
No querer são beijados meigamente
Néctar sem igual, doce enleio
Corpo dado
Necessidade mais do que humana
Que une dois entes
No caminho de errantes peregrinos
Carmim.

VII
Seios de menina
Carícia desejada alegremente partilhada
No murmurar das ondas
Do teu corpo; do teu ser
No leve arquear de mulher
Em mar chão
Navegar embalado em teus braços
Eternamente.

VIII
Doirado sol
Festa dos sentidos, do sentir, viver
Esvoaçando ilusões da verdade
De recordações
Deslizam meus lábios em carícias
Sem fim
Por repetidas no gosto dos amantes
Sentidas.

[continua]


quinta-feira, fevereiro 05, 2004

imagens da nossa costa



elmano sadino

Apontamentos dos quereres e sentires do poeta de Setúbal, Manuel Maria de Barbosa du Bocage, na procura de uma verdade impossível de encontrar, o rumo da sua vida. Transcrição de sonetos e de poesias eróticas, burlescas e satíricas


Na glória da controvérsia

É nesta época complicada da vida de Bocage que este entra em disputas com o poeta padre José Agostinho, a quem tarda dar opinião sobre traduções efectuadas, usando da sua posição na Casa Literária. Por outro lado, colocava Ovídio, o poeta dos amantes, acima do grande Virgílio, deixando José Agostinho apopléctico.

Aqui começam novas disputas e controvérsias, alcunhando-o José Agostinho de “palhaço” “vadio” “magro” e “feio”. Bocage não lhe poupou represálias, retirando-o da lista dos “génios” poéticos.

Bocage nunca perdoou a José Agostinho que este lhe tenha chamado “doente imaginário”, quando realmente a melhor poesia de Bocage não era mais do que imaginação exacerbada, amor da morte, doença. Isso Bocage não admitia.

Conta-se que estando um dia o Morgado de Assentis sentado a uma mesa do Botequim das Parras, bebendo e fumando tranquilamente entra Bocage e diz “_ Escreva! Pena de Talião!”.

É a vingança do poeta. Daquele que ganha o pão de cada dia com o suor do rosto, escrita suada de facto, contra um padre, José Agostinho que flana no Rossio à porta do Daniel chapeleiro.

E a disputa entre os dois não se ficou por aqui. Bocage em tempos de glória sobrepunha-se a todos esses ataques, muitos dos quais já na fronteira da má língua.

Com o que Bocage nunca soube lidar correctamente foi com as mulheres, com os amores e desamores, com os amores perdidos e os ciúmes queimados. A lista de mulheres que aparecem nos sonetos de Bocage é infindável. Contudo, são sempre mulheres fingidas, sombras e cujos nomes têm por finalidade primeira garantir a métrica e a rima.

Perto da realidade somente aquela infeliz paixão com a sua menina de Setúbal, a doce Gertrudes, mas tal como toda a vida de Bocage, assuntos desgraçados.

48.

Enquanto muda jaz, e jaz vencida
Do sono, que a restaura, a Natureza,
Aumento os meus males e graveza
Eu, desgraçado, que aborreço a vida.

Velando está minha alma escurecida,
Envolta dos horrores da tristeza,
Qual tocha que entre túmulos acesa
Espalha feia luz amortecida;

Velando está minha alma, estão com ela
Velando Amor, velando a Desventura,
Algozes, com que a Sorte me flagela;

Preside ao acto acerbo a Formosura,
Marília desleal, Marília, aquela
Que tão branda me foi, que me é tão dura.


visitante dez mil

Aproxima-se o momento em que a um leitor da Oficina o Sitemeter, colocado na coluna à direita, vai atribuir o #10000 (dez mil).

Muito agradaria aos operários desta Oficina ter conhecimento de a quem tal numeral for atribuído.

O nosso Muito Obrigado!

quarta-feira, fevereiro 04, 2004

uma resposta sem saber a pergunta

A minha amiga Cathy, do Despenseiros da Palavra, colocou o seguinte comentário ao meu post do passado dia 3 de Fevereiro, com o título Os Corvídeos do Pinhal:

Inacreditável!!! Quem diria que ao escrever esse texto alguém estaria mandando a resposta sem nem saber a pergunta... Isso é maravilhoso!!!

Qual a razão deste comentário?

O post referido foi resultante da rescrita de um texto com alguns anos, que contém uma dúvida que me tem acompanhado fruto da observação da vivência dessas aves, que sempre as observo a voarem em trio, e foi colocado na Oficina das Ideias cerca das 13:01, hora de Lisboa.

Passados menos de 15 minutos, chega o carteiro e me entrega a volumosa correspondência como todos os dias acontece. Entre as diversas cartas uma “carta mundial”, vinda do Brasil, contando uma gentil oferta da minha amiga Cathy: o livro de crónicas A Mulher Madura, da autoria de Affonso Romano de Sant’Anna.

Fiquei, obviamente, satisfeito. Li a afectuosa dedicatória e guardei para mais tarde a leitura do livro. Isso aconteceu cerca das 16 horas. Logo na segunda crónica, intitulada Como namoram os animais, li:

............
Mas é entre os corvos que acontece uma relação triangular cheia de dramas metafísicos e existencialistas. Porque se há carência de macho, as fêmeas ritualizam entre si o seu incontido amor. E se cortejam e se seduzem até que uma das fêmeas passa a exercer o papel masculino. E tanto é o amor, que a outra choca e bota ovos, que por serem estéreis não resultam. Mas não termina aí o romance. Se surge atrasadamente o macho e começa a namorar uma fêmea já em estado de acasalamento “homossexual”, não conseguirá desligar as duas amadas. Terá que compor com elas um menage à trois, tendo que cuidar das duas ninhadas.
............


Tem toda a razão, a minha amiga Cathy, no comentário que fez.

sabores de valle de rosal

Dos sabores caparicanos, a terra e a mar. A gastronomia, os vinhos e outros paladares e odores que encantam os sentidos e aprofundam as amizades. A arte da gastronomia, com recurso a receitas tradicionais, de preferência da região da Costa de Caparica, com a consultoria e o toque pessoal da Maria Teresa. Bom apetite!


Comer uma caldeirada na Costa

O poeta Bulhão Pato, que chegou a residir num palacete no Monte de Caparica, escreveu num dos poemas que dedicou à Praia do Sol:

Com a sardinha empilhada,
Inda saltando vivaz,
Vem de cestinha avergada;
E lá de baixo, da praia,
E sobe a pino o almaraz;
Mas nem por sombras cansada!


A receita tradicional da caldeirada da Costa de Caparica não é confeccionada com sardinha, embora, pessoalmente muito aprecio uma caldeirada de sardinhas. Na caldeirada tradicional da Praia do Sol, os peixes utilizados são o tamboril, o safio e a tramelga, esta última conhecida pelos pescadores como galinha do mar, atendendo a sua deliciosa maciez.

Vem esta conversa a propósito de uma boa caldeirada comida recentemente no restaurante Carolina do Aires, tradicional local de comeres mesmo à beira do mar. Esta degustação integra-se na II Mostra de Caldeiradas que está a decorrer na vila piscatória de Costa de Caparica.



Esta II Mostra de Caldeiradas decorre de 17 de Janeiro a 15 de Fevereiro, integrada nas Festas Anuais da Vila e nela participam 32 restaurantes situados não só na Vila como também ao correr da orla marítima de mais de 20 quilómetros.

E terminamos como começámos com um extracto de um poema de Bulhão Pato:

Magrinha – mas que vigor
No seu passo de balança!...
E, para apressar os passos,
São duas azas os braços!
A venda deve ser boa,
Que há muito que o mar não dá,
Com que alvoroço apregoa:
_ Sardinha fresca... Fres-quiá!
_ Sardinha fresca... da Costa!
_ Viva da Costa... Fres-quiá!


terça-feira, fevereiro 03, 2004

acacial da quinta


almada, a terra e as gentes

Uma visão, se possível ilustrada, das gentes e do património natural e construído do Concelho de Almada e do seu Termo


Corvídeos do Pinhal

Dois vultos negros contrastam com o azul celeste da aurora, num voo suave ritmado com destino certo. Asas longas bem desenhadas com recortes característicos nas extremidades, contrapõe-se aos corpos esguios elegantes.

Vindos das matas do Pinhal do Rei e da Mata dos Medos, têm como destino uma zona de denso arvoredo, logo ali à beira dos areeiros do Cruzeiro.

Hoje são um par, um casal de família constituída. Amanhã voarão em trio, como acontece as mais das vezes, cujo sentido ainda não consegui descortinar nem vi documentado nenhures.

Será o rebento do casal que os acompanhará ou uma forma específica de acasalarem. Duas fêmeas e um macho? Dois machos e uma fêmea?

O macho voou até ao ponto mais alto de Valle de Rosal, o telhado de uma casa construída num outeiro. Voo sem hesitação e ao pousar lançou um primeiro som forte, estridente, metálico. Este som, um chamamento matinal, serve para dar indicação à fêmea de onde se encontra. A sua posição sobranceira ao vale garante-lhe uma visão ampla e plena para toda a região.

Lá mais para a Primavera e mesmo em pleno Verão o trio formará a constituição do voo. Não resisto a uma saudação de amizade a estes amigos de longa data. Voltem sempre que adoro observar o vosso voo.

segunda-feira, fevereiro 02, 2004

uma flor para... a escritora, parceira do fotógrafo



o meu caderno de viagens

Pequenos apontamentos rabiscados num caderno de viagem e agora partilhados com os leitores. Os sítios, as gentes, os costumes e as curiosidades observados por quem gosta mais de viajar do que de fazer turismo


Terminamos hoje a publicação destas "flores" da terra que é das flores e também... dos amores. Algumas já estão desactualizadas como é o caso do restaurante A Varanda, aqui citado, e que foi "sacrificado" para a ampliação do aeroporto de Santa Cruz.

A Elsa, do Rabiscos e Letras, teve a gentileza de me comunicar tal situação. Estas "flores" foram colhidas há mais de 20 anos, em 1982, já no século passado.


X
Um restaurante típico construído em madeira e implantado no meio da serra é paragem obrigatória. O ambiente é agradável, ali se cruzam raças, nacionalidades diversas, num cacharolete de idiomas, de costumes, de formas de estar. Estamos no antigo quartel-general da Flama, hoje restaurante, onde a par com a bandeira inglesa ainda se vê hasteada a bandeira daquele movimento separatista já caído em desuso.

Petiscar na serra é maravilhosamente agradável. Pedaços de queijo e de presunto, azeitona saborosa, poncha fresca preparada na altura, mais dois dedos de conversa e aí está um bocado bem passado na agradável companhia de alguns amigos.


XI
Aguardar serenamente o fim de tarde na “Varanda”, ali bem juntinho ao Aeroporto Internacional, deixando a vista repousar no azul oceano interrompido pelos agradáveis contornos das ilhas desertas. Movimento intenso e habitual no aeroporto, um vai-e-vém constante de aviões das mais diferentes nacionalidades. É a calma, a tranquilidade, após um dia cheio de surpresas e alegrias.

Conclui-se, ali, das razões da calma e pachorra dos madeirenses. Percorridos os escassos quilómetros que constituem a Ilha da Madeira, segue-se o mar, amplo e profundo, inacessível à maioria dos habitantes da ilha. Porquê, então, viver com maior velocidade?


XII
Manhã cedo, o sol brilhante desperta-nos duma noite bem dormida nas cómodos instalações que o sistema hoteleiro madeirense põe à disposição dos visitantes. O chamamento da Natureza faz-se sentir numa autêntica sinfonia de luz e cor. Garajau, lugar pitoresco ali a poucos quilómetros de Santa Cruz e já a caminho do Funchal é digno de visita atenta e interessada.

A Praia do Garajau, situada numa pequena enseada à beira do grande maciço rochoso onde se ergue o Cristo-Rei, é zona de veraneio, um autêntico paraíso. É constituída por uma larga faixa de calhau rolado junto à qual foram construídas cerca de meia centena de casas de praia. A pureza do ar que lá se respira aliada à tranquilidade, só interrompida pelo rebentar das ondas, são atractivo para quem procurar um pouco de mais contacto com a natureza.

o que se vai fazendo na oficina

Os leitores do Oficina das Ideias merecem sempre mais.

Nesse sentido os operários cá da casa conseguiram obter um servidor próprio no qual podem alojar mais imagens, sem as restrições habituais de espaço, e onde irão desenvolver e reactivar outros sítios e outras possibilidades de partilha que são agora postos à vossa disposição.

A partir de OS SÍTIOS DO ARCO DA VELHA podem aceder aos diversos conteúdos, ou fazê-lo directamente em

MAGIA DO ARCO IRIS, onde encontrarão as sete actividades que mais me atraem na vida de todos os dias, tantas como as notas musicais, tantas como as cores resultantes da refracção do Sol.

SABORES CAPARICANOS, A MAR E A MATA, onde encontrarão receitas da culinária característica da maravilhosa zona do nosso País que é a Costa de Caparica, noutros tempos conhecida por Praia do Sol e, ainda, muitas outras receitas confeccionadas com as dádivas do mar e da mata.

ALMADA, A TERRA E AS GENTES, onde encontrarão informações, de cariz cultural e regional, sobre esta terra e estas gentes que no lado certo da Vida e na margem esquerda do Tejo lutam por um Mundo melhor e mais Solidário.

Blogue OFICINA DAS IDEIAS, onde encontrarão o meu sentir diário, como lá escrevo, "As ideias brotam livres na nossa mente. Temos que evitar que a folha de papel as aprisione".

FotoLog OLHO DE LINCE, onde ao ritmo permitido pelo sistema será criada uma Galeria para partilha convosco de imagens que vou recolhendo com o desejo de partilha.

nota: atendendo aos trabalhos de restruturação alguns links internos poderão não estar ainda operacionais.

domingo, fevereiro 01, 2004

aguardando a primavera



sete meses na blogoesfera

Dos sete meses de presença na blogoesfera, o último, agora em análise pode ser considerado o mais gratificante, muito embora os anteriores tenham, eles também, constituído um manancial de permuta de afectos e de saberes altamente enriquecedor.

No nosso objectivo de promover a lusofonia, não pela infrutífera via política, mas pela via dos afectos tivemos o privilégio de encontrar três pessoas de grande inspiração com quem temos mantido estreito relacionamento, permanente partilha e grande ajuda mútua.

LuaLil, do Entre O Sono e o Sonho
Cathy, do Despenseiros da Palavra
Deméter, do Segredos de Deméter

É indiscritível e inquantificável os valores humanos, de solidariedade e culturais que têm sido partilhados, em comentários, em mensagens de correio electrónico com estas três Mulheres de Eleição, em quem o futuro de um País, um País de Futuro, muito tem a esperar.

Devem calcular, os meus leitores amigos, a Felicidade que sinto em poder contar com tamanha Fraternidade.

Os finais de Dezembro do ano passado e o mês de Janeiro de 2004, constituem um período único da minha valorização na blogoesfera.

Assim tivesse eu capacidade para potenciar tamanha dádiva, o que nem sempre aconteceu.

Assim tenha eu o privilégio de poder continuar a contar com esta maravilhosa companhia.

Por outro lado, o

João, do Bota Acima

considerou o Oficina das Ideias o melhor blogue nacional do ano. Sei que o fez com a objectividade possível. Sei que o fez com a seriedade que pauta toda a sua Vida. Não posso esconder a minha surpresa de simples operário desta Oficina.

Aos meus amigos de sempre, aos meus leitores assíduos e interessados, a quem tudo o que aqui acontece é dedicado o meu MUITO OBRIGADO!

em janeiro de 2004 uma centena de comentários

No final de sete meses de presença diária na blogoesfera o número de visitas atingiu as 9.698, a uma média diária de 57 visitas, o que sendo números modestos representa, contudo, a criação de um círculo de amizades extremamente importante.

Também os comentários não são em número elevado, uma centena no mês de Janeiro, fasquia atingida por alguns blogues num só dia. Mas a centena de comentários recebidos a juntar a outra centena que deixámos junto dos blogues que lemos representam, por certo, não uma feira de vaidades, mas uma onda de afecto, de criatividade, de enriquecimento mútuo.

Os meus comentaristas merecem sempre um destaque especial neste balanço mensal, assim como verão incluído no Oficina um link de reconhecimento e de amizade. Em Janeiro comentaram no Oficina:

LuaLil, do Entre o Sono e o Sonho; Sue, do Asa de Borboleta; João Vaz, do Marítimo; Cathy, do Despenseiros da Palavra; Bel, do Casa de Boneca; Deméter, do Segredos de Deméter; João, do Bota Acima; Gotinha, do BloGotinha; Mi, do Oh Vida!!; Orion, do Sonhos de Ícaro; António Dias, que um dia escreverá num blogue; CatS, do Dentro do Entre; SaNunes, do Des-Encantos; Jacky, do Linguagem das Flores; Boss Vasques, do Segundo Impacto; Bichinho-de-Conta, do Bichinho de Conta; Amandinha, do Foi Engano; Alexandre Monteiro, do No Arame; Ulisses, do Despenseiros da Palavra; Elsa, do Rabiscos e Letras; Célia, uma Artista ainda sem blogue; e Vaca, do A Vaca Louca e o seu Badalo.

A TODOS o meu Muito Obrigado!

em janeiro de 2004 a oficina das ideias publicou

Textos
01 de Janeiro – Seis meses na blogoesfera
02 de Janeiro – Corpo Angelical [poema]; Amizade muito boa
03 de Janeiro – Madrugar [poema]
04 de Janeiro – Vamos cantar as Janeiras
05 de Janeiro – Educadoras pela Arte [bem hajam...]
06 de Janeiro – A blogoesfera é assim; Dia dos Reis Magos
07 de Janeiro – Bolo Rei [sabores de valle do rosal]; Referências merecidas
08 de Janeiro – Bocage no degredo [elmano sodino]; Homenagem merecida
09 de Janeiro – Tomei o café da manhã servido por uma pianista; Do Valle do Rosal para o Brasil [fragmentos para a história da minha terra]
10 de Janeiro – Solidão sua eterna companheira [poema]
11 de Janeiro – Flores da Madeira (I a III) [o meu caderno de viagens]
12 de Janeiro – Receio com fundamento [do fundo do baú das memórias]
13 de Janeiro – Costa de Caparica – festas da Vila [almada, a terra e as gentes]
14 de Janeiro – Polvo cozido com grelos [sabores de valle do rosal]
15 de Janeiro – Caminho para a libertação [elmano sadino]
16 de Janeiro – O comandante americano [brasil do meu encantamento]; Mais mimos para a Oficina
17 de Janeiro – Caminhando calçada acima [sentir o povo que vive]
18 de Janeiro – Flores da Madeira (IV a VI) [o meu caderno de viagens]
19 de Janeiro – Passarinhos, passarinhos [do fundo do baú das memórias]
20 de Janeiro – Venham ver as Acácias em Flor na Caparica [almada, a terra e as gentes]
21 de Janeiro – Redondo, no Alentejo profundo
22 de Janeiro – Enfim, livre! [elmano sadino]
23 de Janeiro – Os frutos do Alentejo [poema]
24 de Janeiro – Trabalhar uma nova Comunidade [sentir o povo que vive]
25 de Janeiro – Flores da Madeira (VII a IX) [o meu caderno de viagens]
26 de Janeiro – Pensar “a Pá” [do fundo do baú das memórias]
27 de Janeiro – Morango do Nordeste; A Rota do Andarilho [poema]
28 de Janeiro – Moscatel de Setúbal e Queijo de Azeitão [sabores de valle do rosal]
29 de Janeiro – Esta liberdade não desejava Bocage [elmano sadino]
30 de Janeiro – O Caminho da Vida (I a IV) [poema]
31 de Janeiro – Um sorvete de cajá [sentir o povo que vive]

Flores para...
05 de Janeiro – Gracinha... uma querida amiga aniversariante
11 de Janeiro – Sónia... amiga de peito e aniversariante
18 de Janeiro – Célia... uma artista plástica que ousou retratar este operário da Oficina
26 de Janeiro – Miclos Féhér... paz à sua alma

Imagens
01 de Janeiro – A trilogia do fogo – 3
02 de Janeiro – Máscara
03 de Janeiro – Arriba fóssil
07 de Janeiro – Inverno florido
08 de Janeiro – Es mar tão belo que nos une
09 de Janeiro – Costa de Caparica
10 de Janeiro – Gaivotas
12 de Janeiro – Campo de flores amarelas
13 de Janeiro – Capela de São José
14 de Janeiro – Capela de São José (pormenor)
15 de Janeiro – A noite em que a Lua teve mais brilho
16 de Janeiro – Campaniça
17 de Janeiro – Capela de Nossa Senhora da Conceição
18 de Janeiro – Candeeiro
20 de Janeiro – Monsarraz
21 de janeiro – Praia do Sol – artes
22 de Janeiro – Tormenta
23 de Janeiro – Este mar que nos une
24 de Janeiro – Ainda o amarelo
25 de Janeiro – Ermida do Bom Jesus
27 de Janeiro – Aqui... onde o Tejo beija o Mar
28 de Janeiro – Quinta do Alemão
29 de Janeiro – Barcos na Trafaria
30 de Janeiro – Este mar que nos une
31 de Janeiro – Bem me quer

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