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sexta-feira, abril 30, 2004

grinalda de cor


um metro de vida

O metropolitano, o último daquela noite, parou inesperadamente num troço situado entre duas estações, quando transportava unicamente nove pessoas. A avaria grave, que longas horas levou a reparar não carece de maiores explicações, assim como não tem que ser justificada a não actuação dos serviços de emergência.

Porque o importante é confrontar vivências e sentires e até quereres quando sujeitos a grande pressão psicológica de nove seres tão diferentes reduzidos à igualdade de se encontrarem reféns de uma carruagem de metropolitano avariado.

Num interessante discurso na pura linha saramaguiana, sem plágios mas absorvendo um estilo de escrita que já faz escola em Portugal e no estrangeiro, Nuno Gomes dos Santos deu à estampa o seu mais recente romance, “Um Metro de Vida”, da editora Hugin..

A apresentação do livro feita pelo crítico Viriato Teles, o prefácio é da autoria de Urbano Tavares Rodrigues, foi um encontro de amigos que há alguns anos vêem acompanhando o desenvolvimento da carreira de escritor do Nuno, que teve antes um interessante percurso de 17 anos pelas redacções dos jornais lisboetas.

É um romance sério, consciente da importância da intervenção social dos escritores, mas também um espelho de um escritor que é um observador atento dos nossos tempos e das preocupações de um Povo que sofre. É um romance autenticamente português, de profundo conteúdo social mas onde o humor do Nuno Gomes dos Santos ajuda a “levar a carta a Garcia”. A mensagem chega mesmo onde pretende chegar.

No final da apresentação o Nuno Gomes dos Santos foi brindado com algumas interpretações musicais executadas por alunos da Escola de Guitarra Clássica da Costa de Caparica o que o deixou muito sensibilizado, ele também homem das músicas e do canto (livre).



quinta-feira, abril 29, 2004

uma rosa do jardim de valle do rosal


a alegria do povo húngaro

A propósito da Europa em ampliada que se avizinha, foram publicadas na revista Visão de 29 de Abril último diversas crónicas tendo-me chamado a atenção a escrita por Paulo Chitas, intitulada “O Trote da Tristeza” e que evoca o que o autor considera a secular tristeza do povo magiar.

Curiosamente, do que conheço desse povo tão especial, até mesmo na língua que fala, tenho uma opinião completamente diferente. Acho o povo magiar extrovertido e alegre, o que lhe tem permitido resistir aos sucessivos eventos históricos em que a ocupação dos seus territórios por forças exteriores está sempre presente.

Tive oportunidade de visitar pela primeira vez Budapeste em Outubro de 1990. no dia em que se realizavam eleições legislativas, que aliás tiveram que ser repetidas passados 15 dias por motivo de falta de quorum.

O movimento nas ruas e nos principais locais de concentração de gente na cidade, como seja o caso da estação central de caminho de ferro, era intenso e não encontrei essa tal “tristeza secular”.

Por circunstâncias da visita fui acolhido no aeroporto Budapest Ferlhegypor uma amiga húngara, a Hanna, portadora de um belo ramo de flores. O nosso conhecimento tinha sido resultante de contactos via rádio CB (radioamadorismo) e ela esperava-me com a alegria espelhada no rosto.

A alma magiar é melancólica por natureza. Mas não há lugar à tristeza, antes extravasam alegria especialmente quando dançam, e dançam, e dançam. Convivem nas esplanadas e nos bares, mas também jogam xadrez enquanto se banham nos tradicionais balneários públicos.

E quando lhes dizemos que somos de Portugal não se limitam a responder _Eusébio!, _Amália mas lançam o olhar para longe, para os lados do Oceano Atlântico e dizem; _Portugália, _Portugália!

quarta-feira, abril 28, 2004

tranquilidade


prova de vinhos na quinta do casal monteiro

Conduzidos pela amabilidade dos proprietário da Casa Agrícola Herdeiros de Dom Luís de Margaride, D. Hermano Cardoso de Meneses e D. Luís Manoel Cardoso de Meneses, e pelo saber do enólogo João Cruz provámos dois brancos e três tintos sobre os quais apresentaremos os nossos modestos comentários de iniciados nestas andanças.



Vinhos Brancos


D. Hermano Fernão Pires – 2003

Denominação de Origem: Ribatejo - D.O.C.

Tipo: Vinho Branco Monovarietal

Castas: Fernão Pires – 100%

Notas de prova: Cor citrina, aroma muito frutado e floral, sabor leve e seco, final prolongado

Graduação alcoólica: 12,5 %

O meu parecer: É um vinho branco despretensioso, adequado a acompanhar peixe grelhado ou marisco. O facto de ser leve e seco recomenda que seja servido a uma temperatura 17/18 graus C.


D. Hermano Arinto Chardonnay – 2003

Denominação de Origem: Ribatejo - D.O.C.

Tipo: Vinho Branco Bivarietal

Castas: Arinto – 50% e Chardonnay – 50%

Notas de prova: Cor citrina a caminhar para o dourado, aroma frutado, sabor leve e seco, um pouco de madeira, final prolongado

Graduação alcoólica: 12,5 %

O meu parecer: Trata-se de uma “obra” do enólogo João Cruz produzido pela primeira vez em 2003. Tem corpo e alguma madeira, devido ao seu estágio de 6 meses em carvalho americano, sendo recomendado para acompanhar um bom peixe e carnes leves. Muito bom para o meu gosto pessoal.

terça-feira, abril 27, 2004

imagens do sudoeste alentejano


S. Torpes

a banda do cidadão em acção

Vivências reais, contadas ao estilo de contos curtos, onde é posta a evidência a utilidade pública de um meio de comunicação rádio, muito em voga nas décadas de 80 e 90 do século passado. Chegaram a ser constituídas redes internacionais de emergência rádio com muitas acções humanitárias realizadas. Os governos dos diversos países do Mundo nunca viram com "bons olhos" este sistema, pois era um sistema de comunicações para todos, sem quaisquer tipo de fronteiras.


Com a Banda do Cidadão mais "Companhia e Segurança"

A base operacional de radiocomunicações CB que havia sido instalada para coordenar o apoio à rede rodoviária lançou o apelo em frequência: " Todos os moveis em escuta informem da situação neste QTR quanto a condicionamentos de trânsito!".

Seguiu-se um sem número de pedidos de oportunidade para entrar em comunicação com a base e consoante iam sendo concedidos as informações fervilhavam.

" Móvel 1 informa de que na auto-estrada do Sul o trânsito está altamente condicionado até à segunda ponte do Feijó"

" Móvel 9 informa de que na EN 10, conhecida pela estrada velha, circula-se em boas condições, com algum condicionamento junto às zonas de semáforos."

" Aqui da ponte das Casas Velhas o móvel 77 tem boa visibilidade para a Via Rápida da Caparica e o trânsito só começa a ter problemas junto às bombas de gasolina".

Muito mais informações foram sendo dadas e registadas na central operacional que pouco depois anunciou que ficaria em "stand by".

Felizmente no meio de tantas informações, não chegara notícia de qualquer acidente o que é sempre agradável, pois a pressão de trânsito na rede rodoviária naquele fim de tarde era imensa, e tudo se pode esperar.

Passados alguns minutos surge uma voz na frequência de escuta " Está por aí alguém?". A uma resposta positiva vem nova pergunta: " Podem informar-me como se encontra o trânsito para Lisboa, partindo aqui da margem Sul?".

É então que se verifica toda a utilidade das diversas informações que foram sendo recolhidas em momentos anteriores e posteriormente analisadas.

A resposta não tarda, sendo dado um panorama completo da circulação rodoviária naquele momento e na zona pretendida, sugeridos percursos alternativos e numa agradável conversação feita alguma companhia via rádio CB àquele automobilista que pelo facto de ter o seu veículo equipado com um rádio CB estava forçosamente menos só.

Se estivesse nevoeiro receberia, por certo, o alerta " Não esqueça de ligar os médios"; se necessitasse de uma farmácia, a informação da farmácia de serviço não tardaria. Presença permanente, sem dúvida, de uma palavra amiga.

"Companhia e Segurança", slogan perfeitamente adaptado à situação descrita e que mostra mais uma das vantagens do âmbito social que a Banda do Cidadão em si própria encerra.

segunda-feira, abril 26, 2004

perseguidos nunca mais


a merecerem as luzes da ribalta

A fotografia que ontem, 25 de Abril, publiquei subordinada ao título “Onde estavas no 25 de Abril?” encontrei-a publicada em dois livros alusivos à Revolução dos Cravos, com muito poucas referência, especialmente, quanto ao autor. Era hábito na época, saudável hábito digo eu, defender as autorias de uma forma colectiva, referindo os nomes mais sem “puxar pelos galões” do melhor, do mais bem posicionado, do mais oportuno. É interessante comparar com o que hoje se passa com uma concorrência desmesurada e desleal entre as pessoas e entre os operários do mesmo ofício.

Pois a autoria da fotografia publicada é de Alfredo Cunha ou de Fernando Baião, ambos fotógrafos excelentes e os livros em que vem publicada são:

Da Resistência à Libertação, editado pela Secretaria de Estado da Comunicação Social, em Abril de 1977. A imagem vem acompanhada por um poema de Sophia de Mello Breyner – Como a voz do mar / Interior de um povo / Como página em branco / Onde o poema emerge.

Eanes, um presidente no curso da Constituição, edição Na Revolução, com prefácio de Setembro de 1978.

Acontece que a citada fotografia também não tem qualquer referência à data ou à situação em que foi obtida, podendo-se unicamente avaliar que se trata de uma manifestação popular eivada de entusiasmo e de patriotismo como eram a maioria das manifestações realizadas à época.

Entretanto este post mereceu valiosos comentários a que desejo dar destaque, trazendo-os aqui até à ribalta da Oficina, como agradecimento pela atenção e reconhecimento pela qualidade e consequente enriquecimento do que foi publicado.

Deméter, do Segredos de Deméter
É impressão minha ou você estava com uma câmara fotográfica pendurada no pescoço registrando toda a muvuca? Menino, você deve ter muita história para nos contar, através do seu olhar de fotógrafo, do seu espírito político, das experiências de quem nunca perdeu a esperança. Um grande abraço, cheio de carinho.

LuaLil, do Entre o Sono e o Sonho
Onde estavas no 25 de abril?! Ao lado da escritora mesmo que pareça não isso... Ela não escreve ainda mas alguém escreve com sua máquina fotográfica uma história de liberdade... um dia, noutra era de liberdade, se encontrarão

António Dias
A máquina fotográfica que não adivinhava o futuro.
A fé do fotógrafo não foi suficiente.
Hoje, com outra máquina, o mestre fotógrafo lá vai, decerto, registando as consequências de um Abril mal digerido. E mal tratado.
Um abraço.


SáNunes, do Des-Encantos
...já disse aqui ao lado: estava LÁ bem longe, algures nos céus de Angola, na dita G.Colonial....
Foi ter de colonizar e depois descolonizar...Ao todo 33 meses...


João, do Bota Acima
Amigo Vicktor, desculpa a mania do rigor. Mas, para esta fotografia, a pergunta não devia ter sido antes "onde estavas no 1º de Maio de 1974"? Verdade que a diferença é de apenas uma semana, mas nessa semana o ambiente alterou-se profundamente. Estarei errado por presunção ou deste mesmo uma facadinha no rigor histórico (olha lá esse socialismo científico...)? Abraço.

As respostas aos comentários está no respectivo post, pois o enriquecimento ficou a dever-se aos comentários aqui destacados.

domingo, abril 25, 2004

30 anos passados

Passaram já trinta anos

Passaram já trinta anos, eu olho o meu País
Renegaram os sonhos, imagens da Liberdade
Refizeram os grupos, para o Homem explorar
Humilharam quem trabalha, na luta pelo viver.

À míngua os pobres definharam com a mágoa por raiz
A opulência de uns tantos não tem dó nem piedade
A corrupção, o desvario, o poder de subjugar
A tortura do sentir a impotência do querer.

Tudo tem o seu preço, o crime, as acções vis
Paga os braços do Povo dobrados com crueldade
O poder em sujas mãos destina-se a magoar
Castiga quem deseja a Liberdade de muito querer.

Que liberdade é esta de destruir quem é feliz
De matar a cultura, o saber, o raiz da Humanidade
Para florescer a humilhação e o sentir larvar
Quando o sonho é construir o íntegro e solidário ser.

um ano depois...

Primeiro Aniversário


25 de Abril de 1974.

Um ano de Liberdade passou, entretanto...

O sentimento de alegria, de felicidade... até de espanto
De ver o pequeno ser em passos hesitantes
Percorrer tortuosos caminhos de escolhos cobertos
Deu lugar a tranquilo olhar cor de esperança.

Agora mais firme e com determinação
Experiências colhidas no 28 e no 11 – datas de traição
O pequeno ser chamado Liberdade
Chega ao sentir do Povo e por ele é amado.

Na conquista do futuro
Na conquista da Paz e do Amor
Empenhado duramente em luta sem quartel
O Povo, identificado agora Liberdade
Produz, trabalha aquilo que é seu
Realização é sentimento querido e vivido.

onde estavas no 25 de abril?


sábado, abril 24, 2004

flor do jardim do pinheirinho


sentir o povo que vive

O fotógrafo e a escritora percorrem a calçada, vivem o Povo. Ele, escreve ideias e sentimentos com cada clique da sua máquina fotográfica. Ela, obtém as mais belas imagens com um simples pestanejar dos cílios e a leveza da pena na escrita.


Onde estavas no 25 de Abril?

É uma questão recorrente, somente com o significado que cada um lhe queira dar, que nasceu do poder imaginativo do escritor e jornalista Baptista Bastos: _Onde estavas no 25 de Abril?

Gente importante deste País encontra sempre forma de compor uma situação mais ou menos envolvente, mas sempre determinante para os resultados da revolução dos Cravos, muito embora pudesse estar, como aconteceu com a maioria dos portugueses, a dormir no momento crucial da avançada das tropas que vieram sitiar o poder instituído.

Mas como a questão foi apresentada de forma imaginosa e o valor de Baptista Bastos ninguém lho renega, era sobre este assunto, precisamente, que o Fotógrafo e a Escritora conversavam enquanto, calçada acima, lá iam desenhando o seu diário caminhar.

_Com treze anitos a caminho dos catorze, longe tão longe do centro dos acontecimentos o que estaria eu a fazer por essa altura? Brincava despreocupada nas ruas e nos jardins, pois tinha ainda a protecção paternal que olha por nós e nos esconde as dificuldades da vida.

_Pois eu com os cabelos brancos que já tenho, á época onde já iam os catorze anos! Tinha um sentimento de opressão, de medo talvez, mas esperava a qualquer momento que o dique que retinha a insatisfação rebentasse.

_Mas?

_Mas nunca pensei que tudo acontecesse nessa noite. Havia estado até cerca da 1 hora da madrugada no Parque Mayer a assistir a uma revista à portuguesa, tinha sido multado cerca da meia-noite e trinta por estacionamento proibido, passei por essa hora à porta do então Rádio Clube Português e depois... caminha!

_Pois... eu por essa altura tinha preocupações mais de acordo com a minha idade.

_Será verdade que sim... Mas deixe que lhe diga uma coisa: A sua maneira de ser e de estar na vida não desmerece nada em relação aos “filhos de Abril”. Tomara que todos tivessem a sua capacidade de entrega e de solidariedade.

_Fico encabulada com o que me está dizendo.

_Não querida Escritora. Com a sua forma de actuar a Esperança é sempre renovada.

E lá foram caminhando calçada acima, respirando os ares de Abril que em Portugal é Primavera e no Brasil Outono, mas que é acima de tudo Esperança, forte esperança num mundo melhor em que um homem nunca mais humilhe outro homem.

sexta-feira, abril 23, 2004

dia de sant jordi

Hoje celebra-se na Catalunya, deixem que eu escreva assim!!, o dia de Sant Jordi (São Jorge). É tradição entre os namorados realizarem neste dia a troca de presentes. Ele oferece uma rosa à namorada. Ela retribui-lhe com a oferta de um livro. Sensibilidade e cultura de mãos dadas. O afecto na sua melhor expressão.

Com o tempo a tradição estendeu-se entre as pessoas que se querem bem. A esposa , as filhas, as avós e as colegas da escola ou do emprego. As amigas de verdade.

Na Catalunya a singela oferta de uma rosa a uma mulher contém toda a amizade e afecto. Os homens hoje oferecem uma rosa como louvor às mulheres, elas também verdadeiras rosas.

Na Catalunya é hoje o verdadeiro Dia dos Namorados que nada tem a ver com o 14 de Fevereiro, importado dos Estados Unidos como grande operação de consumismo.

Aqui deixo uma rosa para a Teresa, para as minhas amigas da Catalunya Montse (Montserrat), Marisa e Cori, para TODAS as minhas amigas, para TODAS as mulheres do Mundo, especialmente para as que sofrem as agruras das “civilizações”.

Uma ROSA e um BEIJINHO.



quinta-feira, abril 22, 2004

uma flor para... o ricardo


32 anos de bom filho

prova de vinhos com nobreza

Manhã encoberta e agreste, a ameaçar chuva, sem contudo conseguir esmorecer a boa disposição do grupo que se preparava para iniciar viagem às terras do Ribatejo, com o objectivo de participar numa prova de vinhos na Casa agrícola Herdeiros de D. Luís Margaride, na região de Almeirim.



A iniciativa da Garrafeira do Jumbo Almada Fórum vem na sequência de outras já realizadas a adegas das Terras do Sado e da região de Bucelas. Para receber os convidados lá estavam o António Sousa, o Pedro Rodrigues e sua equipa do Jumbo Almada Fórum e o Paulo Pereira da distribuidora Viborel.



Já por terras do Ribatejo, o nosso destino para a prova de vinhos, “vinhos de quinta”, pois são produzidos nas vinhas da quinta e vinificados na própria adega, avistámos a Quinta do Casal Monteiro com a dimensão de 60 ha. Dos quais 54 têm vinha plantada. A vinha muito bem organizada por “folhas” de castas dão a garantia de uma óptima produtividade.



À chegada à Quinta fomos recebidos por um dos proprietários, D. Hermano Cardozo de Menezes, que além de nobre na linhagem, o é na forma de receber. Explicações vastas e uma constante aprendizagem na arte de produzir e de beber bom vinho. Explicações sobre a vinha e o vinho a todos interessaram.



A adega de dimensões adequadas à produção, que chega a atingir um milhão e quinhentos mil litros, alia o tradicional à mais avançada tecnologia. Aliás, foi nesta Quinta que pela primeira vez se utilizou em Portugal a vindima mecânica sem se deixar de garantir o trabalho permanente no decorrer de todo o ano a cerca de uma centena de trabalhadores.



Adega quer adegueiro. E na terminologia actual temos o enólogo residente que além de ser um excelente técnico e um grande artista na arquitectura dos vinhos, também o é na arte de bem musicar. Não percam Os Charruas. De João Cruz se trata e foi quem nos conduziu pelos difíceis caminhos da arte de “bem provar”.



Nos finalmentes, um bom almoço com a tradicional sopa da pedra da região de Almeirim e um bacalhau à Brás delicioso, acompanhados dos vinhos Dom Hermano Clássico, branco 2002 e tinto 2000, este último a merecer o sublinhado de excelente.



Lista dos vinhos provados, todos monocasta, salvo o Arinto Chardonais
Brancos:
Fernão Pires, seco, 2003
Arinto Chardonais, seco 2003

Tintos:
Touriga Franca, 2003
Pinot Noir, 2002
Castelão, 2001

Estes vinhos encontram-se à venda nas boas garrafeira, entre as quais, a Garrafeira Jumbo Almada Fórum. Deles voltaremos a falar.

quarta-feira, abril 21, 2004

vamos salvar a cegonha branca


Ninho de cegonhas - Torre - Estrada Troia-Melides

espaço de poetar

Lengalenga

Imaginação, angústia, esquecimento
Ausência, solidão, muito sofrer
Olhar profundo, sorriso, bem-querer
Amor eterno, alegria, sentimento.

Regresso, presença, abraço apertado
Um beijo, ternura, caminho desejado
Ilusão, alegria de viver, amor
Cruel verdade, sofrimento, dor.

Realidade, tristeza, desengano
Uma lágrima, um adeus, infinito.

terça-feira, abril 20, 2004

sudoeste alentejano



a banda do cidadão em acção

Vivências reais, contadas ao estilo de contos curtos, onde é posta a evidência a utilidade pública de um meio de comunicação rádio, muito em voga nas décadas de 80 e 90 do século passado. Chegaram a ser constituídas redes internacionais de emergência rádio com muitas acções humanitárias realizadas. Os governos dos diversos países do Mundo nunca viram com "bons olhos" este sistema, pois era um sistema de comunicações para todos, sem quaisquer tipo de fronteiras.


Grande eficácia da CB como meio supletivo de comunicações

Desde há alguns dias que corriam rumores da aproximação de um forte vendaval, quiçá furacão, da costa atlântica portuguesa, à semelhança do que estava a acontecer noutras paragens do Mundo.

As gentes alarmadas imaginavam situações catastróficas, na ignorância das medidas a tomar; as entidades oficiais bombardeavam os órgãos de informação com desmentidos, nem sempre muito convincentes.

O serviço de meteorologia mantinha, como habitualmente, uma posição cautelosa, escudando se numa linguagem hermética, em dados científicos que muito pouco diziam ao comum do cidadão.

Chegaram a estar marcados o dia e a hora em que tal se viria a verificar.

Os homens da Banda do Cidadão, mantinham se alerta, atentos, prontos a dar a sua colaboração se alguma daquelas más previsões se viesse a verificar.

Por essa altura rajadas fortes de vento assolaram o continente português, o rio Tejo apresentava se com uma agitação acentuada, mas... nada mais.

O dia passou se sem mais notícias, contudo durante a noite a intensidade do vento acentuou se e a chuva começou a cair em bátegas fortes. Os serviços da ponte sobre o Tejo cortaram o trânsito cerca da meia noite, tendo sido reaberto algumas horas depois.

Entretanto, os contactos via rádio CB entre Lisboa e a margem sul do Tejo eram intensos, especialmente porque muita gente estava preocupada com o estado dos materiais deixados nos parques de campismo.

A estação rádio CB "CRUZEIRO" por Lisboa tentava em vão o contacto com o Parque de Campismo Piedense; muito embora este parque de campismo estivesse equipado com rádio CB, a queda de um poste de iluminação pública provocara um corte de energia impedindo as comunicações rádio.

O CAPARICA CB, com grande movimentação de unidades moveis para controlo da situação fez deslocar uma delas ao referido parque de campismo, assim como aos restantes da Costa de Caparica tendo recolhido as informações desejadas que depois retransmitiu aos interessados.

Com o aumentar das informações disponíveis os ânimos foram acalmando. O rádio CB uma vez mais se mostrou de elevada eficácia quando todos os restantes meios de comunicação falharam.

Estávamos em Fevereiro de 1982.

segunda-feira, abril 19, 2004

imagens da cidade de almada


Cristo-Rei de Almada

do fundo do baú das memórias

Relembrar algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos


Uma janela virada para o Castelo

Decorria pachorrentamente u ano de 1960, com a lentidão sentida apropriadamente por quem nessa altura tinha 15 anos. Noutras circunstâncias e, especialmente, para as pessoas idosas, mesmo nessa época de um certo adormecimento social, o tempo decorreria aceleradamente. É assim a sensação do tempo que passa.

Dizia eu, que nesses tempos mais mornos do que tranquilos tinha três vezes por semana a aula de Português, na sala 20 de terceiro piso da Escola Veiga Beirão, onde partilhava uma carteira escolar bem perto da janela que dava para o Castelo de S. Jorge em todo o seu esplendor da luminosidade da Primavera.

Foi-nos um dia proposto que escrevêssemos um texto sobre a cidade de Lisboa, para responder a um desafio da Câmara Municipal feito às escolas por forma a ser constituído um acervo de textos a ser publicado no aniversário da Cidade. Deitámos, então, mãos à obra.

Recordo-me o que texto que escrevi, já perdido na voragem das diversas mudanças de residência, era um descritivo da Lisboa monumental tal como eu a podia observar a partir daquela janela da sala 20. O Castelo de S. Jorge, a Sé de Lisboa, o Elevador de Santa Justa e, ali mesmo a beira da Escola, as Ruínas do Convento do Carmo.

Ainda hoje guardo com carinho a retribuição da Câmara Municipal de Lisboa dada a esses trabalhos escolares: dois magníficos livros, “Lisboa e os seus encantos” e “Poema de Lisboa”, este último da autoria de Augusto de Santa Rita e uma carta assinada pelo director da Escola Comercial Veiga Beirão a convidar-me para a sessão onde os livros seriam entregues.

O título do pequeno texto que escrevi então tinha o título de "Uma janela aberta...".

Acontece que alguns anos mais tarde tive oportunidade de ler o celebrado Diário, de Sebastião da Gama que havia leccionado na Escola Veiga Beirão. Em determinado capítulo sou surpreendido pela descrição que faz do dia em que pediu aos alunos que fizessem uma redacção subordinada ao tema “Uma janela aberta...”. Sebastião da Gama dava as suas aulas de Português na Sala 20.

domingo, abril 18, 2004

uma flor para... a montse


Com muito carinho e afecto

Um dia luminoso

Numa manhã bela e luminosa
Quando a Primavera caminha rumo ao Sol
Uma bonita flor, vermelha rosa
Deu cor ao Mundo. Cantou o rouxinol.

Menina foi, depois bela mulher
Com doce olhar cativou os seus amigos
Segura caminha na senda do querer
Dos sentires seus seios são abrigo.

Seu falar é uma língua universal
Com estranha entoação e fantasia
Uma voz que nos leva pelo fresco roseiral
Ao encontro do sonho, da melodia.

Seu corpo talhado pela mão de um escultor
Cinzel mágico para tamanha obra-prima
Que moldou belas pernas com ardor
E talhou alvos seios sedentos de vindima.

Neste dia de glória, de caminhar a vida
Se encurtam distâncias pelo afecto
A taça se levanta, saúde! Bem nascida
E viver de felicidade e amor repleto.

sábado, abril 17, 2004

flores do jardim do pinheirinho


sentir o povo que vive

O fotógrafo e a escritora percorrem a calçada, vivem o Povo. Ele, escreve ideias e sentimentos com cada clique da sua máquina fotográfica. Ela, obtém as mais belas imagens com um simples pestanejar dos cílios e a leveza da pena na escrita.


O Sudoeste alentejano

O Fotógrafo e a Escritora encontraram-se, como muitas vezes acontece, na calçada que subindo os conduz à zona mais carenciada da cidade. Trocam algumas palavras enquanto vão calçada acima.

De súbito dão as mãos.

É sublime a amizade que sentem um pelo outro. E este “dar as mãos” é, na realidade, uma dádiva para todos os seres humanos, especialmente os mais desfavorecidos, que tanto desejam apoiar e defender.

Este gesto tão singelo teve, contudo um efeito inesperado...

A Escritora viu-se, de súbito, a percorrer terras de beleza única, na zona litoral do Sudoeste alentejano, no alto das arribas sobranceiras às praias da Vieirinha, da
Oliveirinha, da Foz, dos Canudos e do Burrinho. Ali pelas proximidades de Porto Covo e da tão cantada Ilha do Pessegueiro.

Mar azul, de diversos matizes consoante a profundidade, violento ao bater nos rochedos dispersos e de tamanha ternura quando se espraia nas doiradas areias. Mar de contrastes mas sempre de uma beleza ímpar que nos leva à contemplação por tempos infinitos.

É com todos estes contrastes e sentimentos profundos que a escritora é confrontada nesse momento inolvidável.

_Caro Fotógrafo, tão bem que eu conheço essa luminosa região do litoral português.
_ Sim... por muito que conheçamos fazemos a cada novo instante uma outra descoberta. É a flor silvestre em que nunca tínhamos reparado. É o espumar das ondas que traçam desenhos extravagantes nos rochedo com quem convivem há milhões de anos.
_Mas sabe que já me perdi de amores nestes mares sem fim?
_Acredito! Isso sempre acontece aos que se perdem na imensidão do mar, o tal mar que nos une...

O ar estava impregnado duma mistura de odores que fariam a delícias de qualquer alquimista das perfumarias parisienses. Um misto de maresia e do odor esquisito das estevas. As estevas que nesta época do ano noivam os campos do Alentejo e incentivam ao namoro, melhor à profunda amizade.

sexta-feira, abril 16, 2004

vamos salvar as cegonhas brancas


existem soluções, por certo, mais seguras

um pouco de erotismo...

Fim de tarde na beira da piscina

Deitado no tapete de relva fresca que bordeja a piscina do Zoomarine, ali para os lados da Guia, no Algarve, o Sam deixara-se invadir por um doce torpor, mesmo sonolência, quando pressentiu, quase que sub-conscientemente, algum movimento à sua volta que lhe alertou os sentidos e o fez ficar atento.

Após meia dúzia de mergulhos e algumas braçadas dadas nas águas translúcidas da piscina, retirara-se para a zona envolvente, relvada e ampla, onde o mundo, nas mais diversas posturas e actividades, usufruía dos raios solares propiciados pelas agradáveis condições climatéricas daquele fim de tarde algarvio.

Quando, pouco tempo antes, se dirigira para o local, onde havia deixada estendida a sua toalha de banho, reparou vagamente numa jovem mulher dos seus trinta anos, envergando um biquini vermelho, que cuidava ternamente da filha de tenra idade. Um biquini vermelho de corte tradicional, embora curto, uma mulher bonita cuidando da sua filha, foi o quadro que o seu subconsciente fixou.

Como habitualmente fazia para melhor usufruir dos raios solares, puxou a tanga de banho tigrada bem para o corpo, transformando-a em pouco mais do que um “cache-sex”, cobrindo o estritamente necessário, deixando as nádegas a completo descoberto, com a intenção de expor ao Sol a maior área possível de pele.

Entreabrindo, então, os olhos cerrados pela sonolência que o havia invadido, apercebeu-se que a movimentação à sua volta tinha origem, precisamente, na referida mulher que protegendo a sua filha dos raios solares que se intensificavam com o meio-dia, colocando-a na sombra dos picosporos bordejantes daquele maravilhoso espaço, deslocara a sua toalha para bem perto da sua e aí se deitara.

A jovem deitou-se, primeiro de barriga para o ar, enrolando o tecido da parte de baixo do biquini, deixando-o reduzido ao mínimo, podendo o Sam, de tão perto que se encontrava, aperceber-se de um tufo de pêlos púbicos que atrevidamente afloravam do, agora, reduzidíssimo biquini.

Sam rolou sobre si próprio, olhando, primeiro bem fundo nos olhos e depois para todo o corpo da jovem de modo que não evidenciando publicamente o que estava a ver, a própria se apercebesse de que estava a ser devidamente apreciada.

Muito embora não lhe fosse de todo possível evitar a evidência que a reacção fisiológica ao acontecimento lhe provocava por debaixo do calção de banho, procurou ser discreto, pelo que tornou a rodar sobre si mesmo ficando ligeiramente voltado para a jovem.

Esta mostrou claramente, com o olhar e o sorriso maroto, que se apercebera do efeito que provocara no Sam.

Passados alguns minutos, a jovem rolou sobre si, colocando-se de costas dando possibilidade ao Sam de apreciar as suas torneadas nádegas separadas unicamente por uma fina tira de tecido vermelho, em que transformara o calção do biquini após ter sido enrolado.

Pouco depois, esticou os braços para as costas, desfez o laço do “soutien”, rolou ligeiramente para o lado do Sam que ficou atónito ao ver os seus seios de bicos muito negros e extraordinariamente erectos, ao mesmo tempo que dirigiu uma das mãos na direcção da frente do seu biquini acariciando-se no tufo de pêlos púbicos e um pouco mais abaixo.

quinta-feira, abril 15, 2004

cores do campo e da mata


Estevas

uma semana depois...

De novo Saramago

Uma semana depois de ter estado com o escritor José Saramago, aquando da apresentação do seu último livro Ensaio sobre a Lucidez, e numa altura em que ele já terá realizado mais de uma vintena de sessões um pouco por todo o País, volto a falar no escritor português Nobel da Literatura.

Ainda sobre a questão do voto, votar para a Assembleia da República, votar para as Autarquias, votar para o Presidente da República, votar para o Parlamento europeu, que parece ser o símbolo máximo da democracia, José Saramago levanta muito conscientemente a questão: _Há algo mais em que podemos intervir e não o fazemos?

O cidadão comum não pode chegar ao poder económico, não o pode influenciar ou determinar as suas consequências. Contudo, é o poder económico que coincide com o poder financeiro e não o voto popular que está nas democracias europeias a determinar o caminho dos países e, consequentemente, dos Povos.

Quem domina o poder económico, quem domina o poder financeiro, o FMI, com cinco “cérebros” designados pela mesma potência não é eleito democraticamente, é nomeado. _Os governos não passam de comissários políticos do poder económico.

Saramago que está traduzido em 45 línguas e publicado em 58 países, diz não estar disponível para polémicas, donde considera que não existe sequer qualquer polémica à volta do seu último livro por falta de polemista. Quanto às vozes de quem se levanta contra a sua obra, alguns sem sequer a terem lido, e negando-se determinantemente a fazê-lo, afirma: _Ainda não nasceu quem me conseguirá calar!

José Saramago considera que a democracia está totalmente bloqueada pelo poder económico. Segue cegamente directrizes de quem nada tem a ver com o que se passa na vida real. Vivemos num equívoco pois a democracia é um ponto de partida e não de chegada como a classe política quer fazer ver.

quarta-feira, abril 14, 2004

uma flor para... a paulinha


Feliz Aniversário - os amigos são assim...

os amigos são assim

Os amigos são assim
Juntam letras e palavras
Formam linhas versejantes
Compõem poemas afim
Rimas difíceis que lavras
Em toadas tão vibrantes.

Os amigos são assim
Na alegria e na festa
São sempre companhia
Para pores no varandim
Oferecem uma giesta
A flor da harmonia.

Os amigos são assim
Nos maus momentos de dor
Braço firme, ombro amigo
Disponíveis alecrim
Perfumam com amor
Criam eterno abrigo.

Os amigos são assim
Percorrem longos caminhos
Do querer e do sentir
Lado a lado no jardim
Mil flores e cheirinhos
Esperança no devir.

terça-feira, abril 13, 2004

flores do jardim do pinheirinho


a banda do cidadão em acção

Vivências reais, contadas ao estilo de contos curtos, onde é posta a evidência a utilidade pública de um meio de comunicação rádio, muito em voga nas décadas de 80 e 90 do século passado. Chegaram a ser constituídas redes internacionais de emergência rádio com muitas acções humanitárias realizadas. Os governos dos diversos países do Mundo nunca viram com "bons olhos" este sistema, pois era um sistema de comunicações para todos, sem quaisquer tipo de fronteiras.


Reviver Badajoz com a Banda do Cidadão

A viagem havia sido programada há muito. Não envolvia uma grande distância, pouco mais de 200 quilómetros, mas tinha sem qualquer dúvida uma grande carga sentimental.

Rever locais, rever amigos, rever situações estava no programa daquela deslocação à cidade espanhola fronteiriça que dá pelo nome de Badajoz e pelo designativo de "tierra de Dios".

Algo havia mudado profundamente em relação a viagens anteriores, efectuadas 10, 15 anos antes o automóvel estava equipado com um emissor/receptor de rádio CB.

Viagem iniciada, estabelecidos alguns contactos com colegas cebeístas madrugadores que quiseram estar na frequência para as despedidas e para o acompanhamento durante alguns quilómetros.

Depois, durante a viagem, feita a horas demasiado matutinas somente alguns contactos com camionistas que na sua actividade profissional se deslocavam pelas grandes vias europeias.

Já mais perto de Badajoz, quando Elvas ficava para trás e a fronteira (fronteira?) à vista foi estabelecido o primeiro contacto com os cebeístas pacenses (habitantes de Badajoz) que acolheram com entusiasmo a chamada daquele português que se deslocava para a sua terra.

Primeiro foi a estação K5, operador Pedro, que se soube mais tarde estar permanentemente em escuta na estação a funcionar no seu local de trabalho, um quiosque numa movimentada rua de Badajoz; depois uma segunda estação, a seguir mais outra.

Quando demos por nós uma boa dezena de estações de rádio CB nos estavam saudando, encaminhando para um café onde habitualmente se juntavam, convidando nos para um pequeno almoço na inesperada mas muito amiga companhia de diversas estações rádio CB da cidade de Badajoz. Depois foi a algazarra do encontro, a troca de opiniões de "como vai a Banda do Cidadão" nos dois países vizinhos, dos sonhos de realização de actividades se possível em comum.

Fraterna amizade se sedimentou de uma forma algo inesperada, mas que a Banda do Cidadão é fértil em possibilitar, quando o espírito da sua utilização é precisamente o de derrubar as barreiras da incomunicação que ficticiamente a sociedade cria entre as pessoas.

A promessa de voltar foi feita. A sua concretização uma realidade.

segunda-feira, abril 12, 2004

queen mary II em lisboa


do fundo do baú das memórias

Relembrar algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos


As máquinas dos amendoins

Junto à Escola Comercial Veiga Beirão que eu frequentei entre os 12 e os 15 anos, em pleno Largo do Carmo, à beira de um tradicional quiosque, haviam instalado uma máquina que a troco de uma moeda de 5 tostões, cinquenta centavos, nos dava uma pequena dose de amendoins descascados.

Os quiosques, bonitas peças de decoração urbana, a maioria ao estilo “art-nouveux”, já desapareceram há muito dos largos e jardins da cidade, o mesmo acontecendo com as máquinas de amendoins e de pastilhas, que as actuais normas de higiene e o mercantilismo globalizado e desenfreado já baniram dos cafés, quiosques e similares. Agora é tudo embalado, de preferência com produção em Espanha ou em qualquer outro país da União Europeia, “made in EU”.

As tais moedas de 5 tostões, em alpaca e com a esfinge da República, valiam dez vezes mais do que a moeda de 5 francos franceses, da mesma dimensão mas em alumínio de péssima qualidade. Outros tempos em que o escudo era uma moeda forte, fortaleza, contudo, mantida à custa do sofrimento de um povo atrasado e reprimido.

Acontece que alguém terá descoberto que as citadas maquinas de amendoins davam exactamente a mesma resposta quer lá colocássemos uma moeda de 5 tostões, quer uma moeda de 5 francos franceses. A partir daí era um corrupio da miudagem aos cambistas da Baixa, que desejosos de se verem livres das moedas estrangeiras, eles negociavam era em notas, se prontificavam a trocar 5 tostões por dez moedas de 5 francos franceses.

Escusado será dizer que no Largo do Carmo, como com certeza em muitos largos deste País a miudagem empanturrava-se de amendoins torrados e descascados.

domingo, abril 11, 2004

caminhando se faz caminho

Alguns apontamentos sobre pequenos percursos em que os sentidos são despertos para o Património Natural e Construído através das cores e dos odores, das estórias e das tradições, dos saberes e dos sentires. Venham connosco fazer este caminho...


da vontade e do querer até à Paz

Caminhar alameda abaixo, sentirmo-nos envolvidos pela tranquilidade local, embora ali a dois passos se viva todo o bulício citadino. Lá ao fundo, obra do escultor José Aurélio, a Paz. Almada que festejou a Paz no início do Terceiro Milénio tem ali uma marca perene para as gerações vindouras.


O Monumento à Paz, dádiva da Cidade de Almada no início do novo milénio, é uma estrutura de aço que com os seus braços esguios e ondulantes simboliza o querer chegar mais longe e mais alto. Os nossos olhos perdem-se e encontram-se no que mais parece cabelos esvoaçantes.


Ali à beira do Monumento à Paz uma família de patos vive a tranquilidade de um recanto do charco, em comunhão com uma comunidade de rãs vivas e saltitantes. A ninhada de patos desenha no espelho de água linhas que na sua simplicidade parecem ter inspirado o escultor Aurélio.


Se nos aproximarmos do Monumento à paz não é difícil encontrar um enquadramento que nos mostre o casario de Almada e o monumento a Cristo-Rei, que em Almada situado está, por decisão dos arquitectos de regime de então, virado para o rio Tejo e para Lisboa.


No enleamento das curvas e contracurvas e na libertação das linhas de fuga encontramos o simbolismo da luta pela Paz, luta que tem que ser vivida permanentemente. A linha central ondulante e vertical indica o rumo certo do pensamento. A elevação do espírito e a força do querer.


Terminamos este “caminhar” junto a uma árvore jovem mas já florida nesta Primavera de renovar. Dá-nos a certeza de que a Paz é um objectivo possível, que se encontra ao alcance da nossa mão, ao alcance da mão do Povo, basta este ter, efectivamente, o Poder em suas mãos.


sábado, abril 10, 2004

cores do campo e da mata


espaço de poetar

Neste espaço de poetar cabe hoje uma referência à tertúlia realizada ontem, à volta da mesa do fundo, no simpático O Café. Durante quase sete horas muita gente se fez presente, quer apresentando poemas de sua autoria, quer comentando esses mesmos poemas.

Animado debate, onde mais de uma dezena de comentaristas deixaram a sua opinião ou acrescentaram mesmo poemas próprios àqueles que iam sendo postados. Animação não faltou o que justifica a hora tardia, já passava das 4 horas da madrugada, a que a tertúlia terminou.

Demos o arranque à tertúlia com este poeminha:

Sentado à mesa do café, a do fundo, a do costume
Deixou espraiar seu olhar ausente, mergulhado na vida já vivida
Cruzou com olhos de mar, boca de carmim, que lhe disse: _Dá-me lume?
Encontrou abrigo, afecto, na cumplicidade que julgava há muito perdida.


Participaram, ainda, postando poemas próprios: Maizum, do Maizumpromonte; Espectacológica, do EspectacologicaS; Espectacologicazinha, do EspectacologicazinhaS e Sofia, de O Blog Alternativo.
Nos comentários participaram 13 pessoas, com cerca de 65 entradas, inclusive a presença de LuaLil, blogueira da cidade do Recife, no Brasil.

A LuaLIl, do Entre o Sono e o Sonho, escreveu:

Aqui chego devagar..
sento naquela mesa que ainda há..
essa musica me anima, alguma coisa me faz lembrar..
Outro café por favor


Podem ler todos os pormenores da tertúlia em O CAFÉ.

sexta-feira, abril 09, 2004

páscoa feliz


sentir o povo que vive

O fotógrafo e a escritora percorrem a calçada, vivem o Povo. Ele, escreve ideias e sentimentos com cada clique da sua máquina fotográfica. Ela, obtém as mais belas imagens com um simples pestanejar dos cílios e a leveza da pena na escrita.


Uma merecida dedicatória

O sonho não tem dimensão, não respeita fronteiras e mede o tempo que passa com um relógio muito especial, fá-lo com a máquina de medir o tempo que funciona não com a corda, mas com os quereres e os sentires. Daí poderem verificar-se situações de difícil explicação, mas que o escrevinhador não é obrigado a explicar.

Mais de trezentas pessoas constituem a longa fila que na direcção do Nobel procuram obter uma simples assinatura do laureado escritor, aposta no seu último romance. Ele já havia pedido a compreensão daqueles que durante cerca de duas horas o ouviram atentamente falar do Ensaio sobre a Lucidez, para o facto de ir somente assinar o livro não colocando qualquer dedicatória, pois a hora já é tardia e o cansaço ronda a porta de todos os presentes.

No meio da longa fila que lentamente se desloca na direcção do Nobel, talvez um pouco mais junto ao final da mesma, um atento observador reconhecerá, por certo, o Fotógrafo e a Escritora que aguardam a sua vez para o desejado autógrafo.

_Nunca esperei viver este momento maravilhoso. Ir encontrar-me com o Nobel. Dirigir-lhe a palavra.
_Sim... e tenho a certeza que ele para ti irá abrir uma excepção. Irás ter uma dedicatória.
_Nunca pensei encontrar tanta gente ávida de o ouvir e valorizando tanto um autógrafo...
_Vá! Avancemos um pouco mais.

O ambiente era, sem dúvida, festivo. Casais houve que para não faltarem à apresentação do último livro de Saramago se fizeram acompanhar dos filhos, alguns de tenra idade. Este facto ainda veio dar mais animação ao acontecimento e veio dar-nos a certeza de que as gerações seguintes iriam continuar a interessar-se pelos aspectos culturais da sociedade.

_Somos já a seguir.
_Sim, vai ser a nossa vez.

Tal como havia acordado com os seus fieis leitores ali presente, assinou e datou o livro que o Fotógrafo lhe apresentou, a que se seguiu um aperto de mão com um sorriso de amizade. Depois, ouviu atentamente um breve descritivo do trabalho da Escritora: _Trabalha com os meninos da rua, dos bairros carenciados do Recife, desenvolvendo oficinas temáticas a respeito do conteúdo de saneamento ambiental, que depois são trazidas para a rua.

_Querida Escritora bem merece a excepção de lhe escrever aqui uma dedicatória.

Da rua entrou para o salão um forte odor dos jasmineiros.

quinta-feira, abril 08, 2004

capela da memória


Capela de Nossa Senhora do Cabo Espichel

saramago em almada

O Auditório Fernando Lopes Graça encheu por completo, como sempre acontece nos dias de esplendor cultural. E digo encher completamente, pois os lugares da ampla plateia estavam totalmente ocupados, o mesmo acontecendo com os corredores laterais e com a zona do fundo onde, literalmente, mais ninguém cabia. Uma das pessoas que tinha conseguido entrar, embora tivesse ficado de pé, comentava: _Este auditório já é pequeno! Ao que o pintor Rogério Ribeiro, que igualmente não conseguira lugar sentado, ripostava: _Tem dias, tem dias!

Este era, na verdade, um dia de enchente. José Saramago, mais do que apresentar o seu novo livro, O Ensaio sobre a Lucidez, pois esta já era a décima terceira sessão em que participava, iria falar sobre o conteúdo do mesmo e, o que muitos aguardavam, sobre a razão da temática do livro ser “o voto em branco”.

O vereador da Câmara Municipal de Almada, António Matos, com responsabilidades nas áreas da Cultura, Ensino e Acção Social teve, perante tamanha assistência, razões mas do que suficientes para dizer que estávamos em _Almada capital da Cultura! Como é igualmente uma Cidade da solidariedade e do associativismo. Se bem procurássemos na vasta assistência encontraríamos muitos representantes do movimento associativo almadense, desde sempre alforge da cultura e da luta pela Liberdade.

José Saramago, no uso da palavra, deixou perceber, logo nas primeiras intervenções, que o seu feitio tradicionalmente áspero, que muitas vezes me disse ser um pouco a defesa para a sua timidez natural, estava agora mais macio, mais afectuoso.

Uma criança de tenra idade, sim porque muitas crianças acompanharam seus progenitores para que eles não perdessem a oportunidade desta sessão, começou a chorar de rabugice. José Saramago interrompeu o seu discurso, dizendo para a criança: _Não combinámos que quando chorasses o fazias baixinho? E voltando-se para os pais: _Por favor não saiam da sala com o bebé! Nós nos havemos de fazer entender! Uma forte salva de palmas culminou estas palavras do orador.

Depois falou do livro. De como nasceu a ideia, onde e em que circunstâncias, e contou como o seu conteúdo foi desenvolvido. Saramago considera que atendendo especificamente ao tema este é o seu livro que mais implicações políticas contém, contudo não crê que a intervenção política esmague a obra literária. O livro veio incomodar toda a gente, quer se situe à esquerda, quer à direita, mas o voto em branco está consignado desde sempre como uma possibilidade, sem que ninguém lhe tivesse prestado a devida atenção.

A classe política e os partidos aceitam melhor a abstenção do que o voto em branco. Para a abstenção encontram sempre uma justificação: O tempo está mau; Chove e as pessoas evitam sair de casa; Está calor e as pessoas debandam para a praia; Há os que estão doentes ou os que têm um ente querido doente.

Para o voto em branco a explicação é mais difícil. É um voto expresso com significado político. Não estão satisfeitos e como não encontram nada que os satisfaça, votam em branco. E de quem é a responsabilidade? Das pessoas que votam em branco? Da classe política que só procura satisfazer os mandantes e os seus próprios bolsos?

Saramago afirmou no decorrer da conversa: _Não faço propaganda do voto em branco, digo só numa história que o voto em branco existe; _Se o governo procurasse saber o que se passou não haveria lugar a romance; _Como o governo optou por fazer repressão, então, houve lugar a romance.

quarta-feira, abril 07, 2004

flores do jardim do pinheirinho


quatro blogueiros solidários

Existe na blogoesfera um pequeno grupo de blogueiros unidos por uma forte amizade muito anterior a estas andanças na auto-estrada das comunicações e ao recurso das tecnologias emergentes. Amizade, companheirismo, cumplicidade e solidariedade.

Juntos na blogoesfera e em tantas coisas da vida cada um vai fazendo o seu caminho, sempre atento e interessado nas pegadas que os outros vão deixando na caminhada que igualmente vão fazendo,

O João Tunes, do Bota Acima, continua a colocar letra após letra, palavra seguida de outra palavra e com isso criando textos de antologia quer quanto à forma como as palavras se juntam às outras, como, e muito em especial na forma como elas conversam entre si.

O Pedro, o Killer Sentimental, do Sintra-Gare, vai tecendo poemas de afectos, independentemente da forma e da apresentação, que fazem vibrar os sentires dos leitores com uma harmonia tal que não podemos duvidar estar a utilizar a “paleta” completa dos sons que a Natureza nos oferece.

O João, João Carvalho Fernandes, do Fumaças, mestre da blogoesfera, não só pela qualidade dos seus trabalhos como pela capacidade de arrastar para este turbilhão de saberes amigos seus, como é o caso dos presentes aqui citados. Além do mais, prepara-se para ir dar umas boas charutadas lá pela Europa das Comunidades.

E, finalmente, este operário da Oficina que aqui procura deixar gravado o cobre, o estanho e o vidro com alguns ditos e ditados e de quem os amigos, para sua felicidade, nunca esquecem. Escreveu o João, do Bota Acima, sobre este modesto escriba “Com fotografias espantosas (do próprio) e uma descrição sensível de quem sabe sentir os corações das gentes e das gaivotas, mais os murmúrios do mar e da poesia.”

Os quatro cá continuamos a fazer caminho, caminhando...

sexta-feira encontramo-nos no café

Na próxima sexta-feira, dia 9 de Abril, a partir das 22:30 hora de Portugal, irei estar nO CAFÉ, sentado naquela mesa do fundo, a mesa do costume.

Vou levar comigo um singelo e despretensioso poema de ocasião para partilhar com todos os meus amigos que por lá queiram aparecer na expectativa de que possamos trocar opiniões e sentires sobre o gosto de poetar que cada um tem dentro de si próprio.

Como me poderão conhecer? Vou estar a degustar tranquilamente um cálice de Drambuie...

terça-feira, abril 06, 2004

cores do campo e da mata


a banda do cidadão em acção

Vivências reais, contadas ao estilo de contos curtos, onde é posta a evidência a utilidade pública de um meio de comunicação rádio, muito em voga nas décadas de 80 e 90 do século passado. Chegaram a ser constituídas redes internacionais de emergência rádio com muitas acções humanitárias realizadas. Os governos dos diversos países do Mundo nunca viram com "bons olhos" este sistema, pois era um sistema de comunicações para todos, sem quaisquer tipo de fronteiras.


Modéstia: Uma das maiores qualidades dos cebeístas

Colisão de viaturas verificada em Haine St Paul naquele fim de tarde de Abril deu origem a um imediato apelo em canal 9 da Banda do Cidadão que foi escutado pela estação de rádio CB "Cana de Pesca" que se encontrava em portátil.

A colisão havia tido lugar na estrada circular de Mons logo a seguir à "curva da morte", assim conhecida desde há muitos anos.

O operador da estação "Cana de Pesca" entrou em contacto com a sua base que via "900" (115 da Bélgica) alertou a guarda e os bombeiros, enquanto outras estações de CB se dirigiam para o local, balizando o mesmo para evitar novos acidentes e libertando a via para a chegada dos socorros.

Numa das viaturas encontrava se uma jovem gravemente ferida e encarcerada, situação que só poderia ser resolvida com a chegada dos bombeiros, o que aconteceu rapidamente.

Após denodado esforço dos bombeiros de Le Louviere conseguiram, com o auxílio de um maçarico, desencarcerar a jovem que foi transportada pelo 900 ao Hospital do Tivoli.

No local encontravam se, seguramente, uns quarenta cebeístas em "barra móvel", prontos a ajudar naquilo que fosse necessário, após a sua pronta e determinante intervenção inicial.

A acção dos utentes da Banda do Cidadão no respeitante a este acidente foi, como tantas outras vezes acontece, de extrema modéstia, fazendo aquilo que era necessário na altura, sem grandes alarmismos e com grande ponderação.

No dia seguinte os órgãos de informação locais noticiavam o acontecido, sem fazerem qualquer referência à pronta actuação dos cebeístas que com os seus meios próprios tinham tido um papel preponderante na rapidez do socorro.

Estávamos, então, no ano de 1980. Quase dez anos passaram desde a data em que este acontecimento teve lugar. O reconhecimento da importância da Banda do Cidadão quanto a radiocomunicações de emergência tem sido cada vez maior em todo o Mundo.

Tal não significa que milhares de intervenções não tenham lugar sem que o público em geral disso se aperceba. A modéstia é uma das qualidades dos utentes da Banda do Cidadão.

segunda-feira, abril 05, 2004

santo antónio de caparica com a serra de sintra ao fundo


do fundo do baú das memórias

Relembrar algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos


Os canudos de papel do caderno diário

Naquele ano parecíamos mais irreverentes do que nunca. A grande maioria saíra esse ano “de baixo das saias da mãe”, pois tinham, pela primeira vez, ido estudar para Lisboa, afastando-se, dessa forma, da sua zona de residência. Esta mudança brusca e a dinâmica de grupo criada entre os novos colegas abriu caminho a todas as “loucuras”.

No intervalo das 10 horas que durava 15 minutos, ao contrário dos restantes intervalos que só duravam 5 minutos, era seguro que um grupinho se dirigia para a passagem que ligava o Largo do Carmo à plataforma superior do Elevador se Santa Justa. Então, era ver a rapaziada a construírem expeditamente as peças do seu divertimento.

Um cartuchinho feito com uma folha de papel retirada do caderno diário, no qual eram cortadas uma espécie de asas, em forma de hélice de helicóptero. Depois, era lançá-lo no espaço que ele, lenta mas de forma certeira, lá ia descendo na direcção da Rua do Carmo. Com um pouco de sorte atingiria um passeante que, surpreendido, pensava estar o céu a cair-lhe na cabeça, qual castigo divino.

Quem não gostava da graça eram os soldados da Guarda Republicana sediados no Quartel do Carmo, que dezena e meia de anos mais tarde iria ficar célebre no historial da vida portuguesa. Procuravam, então, cercar os prevaricadores, vindo uns do Largo do Carmo e outros subindo no elevador.

Claro que os efeitos da perseguição policial eram sempre pouco consequentes, pois o “maralhal” que aquela hora pejava o Largo do Carmo logo tratava de neutralizar o trabalho dos agentes da ordem.

Também a mim me coube um dia ser feito “prisioneiro”. Quando cheguei ao Largo do Carmo levado por um braço pelo policial logo a solidariedade dos meus colegas tratou da minha libertação. Mas que apanhei um susto, lá isso apanhei. Ainda hoje não suporto a presença de um soldado da Guarda Nacional Republicana.

domingo, abril 04, 2004

caminhando se faz caminho

Alguns apontamentos sobre pequenos percursos em que os sentidos são despertos para o Património Natural e Construído através das cores e dos odores, das estórias e das tradições, dos saberes e dos sentires. Venham connosco fazer este caminho...


do areal da Fonte da Telha ao mar Atlântico... as artes da Caparica

No areal amplo e doirado onde no ar se respira tranquilidade, uma colónia de gaivotas espera, como desde os tempos imemoriais, a chegada dos barcos das artes na promessa de banquete de peixe fresco. O corvídeo macho está alerta no topo duma palhota improvisada, enquanto as fêmeas, as duas fêmeas que constituem a família, desenham obras de arte na areia com a marca de suas patas, em convívio com as gaivotas.



De súbito, vindo das lonjuras do mar, aproxima-se um barco de pesca, pesca das artes, cuja companha acabou de fazer a lançada das redes, a poucas milhas da costa. Hoje os barcos já não são as tradicionais meias-luas, originados nos barcos de Ílhavo desde a época em que os pescadores da região centro migraram para a Costa em tempo de invernia, primeiro de forma sazonal, depois fixando-se em terra acolhedora.



Após o barco ter ultrapassado com alguma dificuldade a rebentação que se mostrava forte nessa manhã, recebe a preciosa ajuda do tractor que o reboca para a zona seca da areia. Noutros tempos o barco era puxado para terra firme à custa da força braçal dos elementos da companha que ficavam em terra, tantas vezes ajudados por populares que esperavam como retribuição uma tequinha de peixe fresco.



Já em terra firme podemos verificar que o barco tem o nome de SuziJoão, inscrito na Capitania da Trafaria, daí o TR no registo. Com muita frequência são atribuídos aos barcos nomes de pessoas, filhos, netos, esposa, namorada do patrão da companha. Outras vezes recorrem a nomes mitológicos, de preferência de deuses ligados ao mar. Perde-se a tradição quando se substitui na proa o olho estilizado por outros símbolos, como é o caso.



Os covos de barro utilizados para a pesca de polvos são abandonados na praia quando, fruto de corais que se lhes agarraram, perdem a utilidade para o fim a que se destinam. Dão contudo um colorido e tipicismo muito próprio, contrastando a sua cor com o doirado do longo areal. São marca muito forte de que aqui vive comunidade piscatória.



Bandeiras e bandeirolas, de cores variadas, na maioria das vezes de tons vivos, colocadas na ponta das canas servem para assinalar no mar, quando colocadas em flutuadores, o posicionamento das redes importante para as restantes embarcações que navegam na zona. As bandeiras são sinal de luto o que é frequente na comunidade piscatória tendo em conta a dureza desta vida.



sábado, abril 03, 2004

cores da mata


sentir o povo que vive

O fotógrafo e a escritora percorrem a calçada, vivem o Povo. Ele, escreve ideias e sentimentos com cada clique da sua máquina fotográfica. Ela, obtém as mais belas imagens com um simples pestanejar dos cílios e a leveza da pena na escrita.


O Lar do Nenen

_ Se tiver algum tempo disponível, proponho que façamos uma visita ao Lar do Nenen. Que acha?
_ Concordo plenamente. Sempre se arranja um tempinho e é importante irmos conversar com a Dona Tuti.

Caminharam calçada acima na direcção do Bairro da Madalena para visitar aquela casa de bem fazer, como lhes havia recomendado uma amiga comum e a quem pretendiam dar uma pequena ajuda. Modesta no seu valor, mas de grande importância no seu objectivo.

Quando chegaram ao lar do Nenen foram recebidos pela Dona Tuti, directora voluntária da instituição, que de imediato se prontificou a mostrar as instalações. Com uma limpeza irrepreensível as instalações albergam neste momento 25 crianças, até aos dois anos de idade, podendo no seu limite acolher 40 bebés.

_ São despesas muito elevadas, agora que os subsídios tardam em chegar. Contamos muito com a ajuda dos beneméritos.
_ Mas sabe, Dona Tuti, a nossa ajuda vai ser muito modesta. Simplesmente 100 Euros!
_ Mas isso para as crianças é uma maravilha. Dá para comprarmos leite, bolachas e papa para nenens. Estou abismada como no estrangeiro se lembraram de nós.
_ Ficamos satisfeitos em saber que podemos ser úteis para os vossos objectivos.

O Lar do Nenen é uma instituição social beneficente, sem fins lucrativos, tendo como objectivo principal o acolhimento de crianças na faixa etária de 0 a 2 anos, órfãs ou não, que se encontrem em situação considerada de risco e cujos processos de medida de protecção ou destituição do pátrio poder, tramitam nos Juizados da Infância e da Juventude da capital ou do interior do estado de Pernambuco.
As crianças são encaminhadas para o Lar do Nenen através dos Conselhos Tutelares, ou através de juizes ou promotores de comarcas da capital e do interior, onde permanecem em regime de abrigo provisório até que seja definida sua situação jurídica. Ao final de cada processo, a autoridade judicial poderá ser favorável ao retorno da criança ao seio de sua família biológica ou à sua integração a uma nova família através da adopção.
Com capacidade para abrigar até 40 crianças, a Associação está instalada em sede própria.
É imprevisível o tempo de permanência de cada criança no abrigo, haja vista a natureza do trabalho que executa, a entrega para adopção ou a criação de condições para um retorno aos familiares, justificando o fluxo constante de crianças, oscilando dessa maneira o quantitativo durante o ano.
_ Estou com o coração cheio de alegria ao ver estas crianças tão bem cuidadas.
_ É verdade. Vamos poder ajudar algo de muito concreto. Mais do que as palavras é a acção que é importante e deveras emergente.
_ Viu o carinho com que tratam a criançada?
_ Além do asseio de todas as instalações foi, na realidade, o que mais me sensibilizou.

O Fotógrafo e a Escritora decidiram, assim, avançar tranquilamente com o projecto nascido da sua imaginação para ajudarem uma instituição de protecção às crianças mais desfavorecidos.

sexta-feira, abril 02, 2004

tecer um poema

A imagem Tecendo



inspirou a Cathy, do Despenseiros da Palavra, que teceu o poema


Com afeto e com efeito
Teces a teia do meu pensar;
Vejo nas linhas cruzadas o jeito
Da beleza que paira no ar...


Inspiração pura!!


prémios malucos para blogues

Iniciativa da querida amiga Jacky, do Palavras em Férias, atrinuiu à Oficina das Ideias o

PRÉMIO DO MAIS IDEOTICAMENTE PORTUGUÊS

primeiro concurso de literatura para blogs



Uma excelente iniciativa do nosso amigo Luís Ene, do Ene Coisas, teve o seu epílogo com a divulgação dos vencedores em cada uma das categorias. Assim...

Categoria Pequenas Historias
Acta da reunião do júri do concurso literário "Palavras nunca lidas"
de João Ventura

Categoria Micro Histórias
Rascunhos
de Susana Paixão
e
Sífiso
de Lutz Bruckelmann

Aos vencedores os nossos melhores parabéns.

quinta-feira, abril 01, 2004

Em Março de 2004 a Oficina das Ideias publicou:

Textos
Dia 1 – em fevereiro de 2004 a oficina das ideias publicou; os comentários de fevereiro; oito meses na blogoesfera
Dia 2 – As rolas turcas[viver em valle de rosal]
Dia 3 – piercings para o meu umbigo
Dia 4 – Embriaguez [espaço de poetar]
Dia 5 – Bolinhas cremosas de batata [sabores de valle do rosal]
Dia 6 – Terminou o tempo de folgar [sentir o povo que vive]
Dia 7 – venham ver as acácias em flor
Dia 8 – Renascer [foto-poema]; Mulher-mãe, Mulher-companheira
Dia 9 – Raio de Luz apela em canal 9 [a banda do cidadão em acção]
Dia 10 – 1º concurso de literatura para blogs; Ao Mundo que já não entende o amor [espaço de poetar]
Dia 11 – o mundo está de luto
Dia 12 – não ao terrorismo; Almôndegas com molho de cebola [sabores de valle do rosal]
Dia 13 – Foto-poema de Solidariedade [sentir o povo que vive]; roteiros da blogoesfera
Dia 14 – dos Capuchos, o Miradouro e o Convento [caminhando se faz caminho]
Dia 15 – Lisboa parecia-me ficar tão longe [do fundo do baú das memórias]
Dia 16 – A Banda do Cidadão inimiga dos furacões [a banda do cidadão em acção]
Dia 17 – A Mata dos Medos [almada, a terra e as gentes]
Dia 18 – O fumo desfez-se na imaginação [espaço de poetar]
Dia 19 – dia de todos os pais
Dia 20 – A Esperança fez-se presente [sentir o povo que vive]
Dia 21 – da Aldeia do Meco ao Cabo Espichel [caminhando se faz caminho]
Dia 22 – Turismo e tribunais [do fundo do baú das memórias]
Dia 23 – Tal como na terra o CB é útil no mar [a banda do cidadão em acção]
Dia 24 – Os 7 pecados sociais [crónicas do tempo presente]
Dia 25 – O Homem chega até onde o sonho o levar [a utilidade pública da blogoesfera]
Dia 26 – sete mágico sete
Dia 27 – Novos locais de apoio aos mais desprotegidos [sentir o povo que vive]
Dia 28 – da Descida das Vacas à Praia do Rei [caminhando se faz caminho]
Dia 29 – boas ideias; E aqui começa o sonho [a utilidade pública da blogoesfera]
Dia 30 – Recordar 27 de Março [dia mundial do teatro]; Cebeístas espanhóis atentos às emergências [a banda do cidadão em acção]
Dia 31 – venham tomar um café connosco

Uma flor para...
Dia 8 – ...a Ana Bela, felicidades para o dia de ontem
Dia 12 - ...a Jennifer, parabéns pelos teus 9 aninhos
Dia 14 - ...a Micá, com o desejo de feliz aniversário
Dia 19 - ...os pais
Dia 26 - ...o João, aniversário do Fumaças
Dia 27 - ...a Giesta, feliz aniversário
Dia 30 - ...a Suzana, feliz aniversário

Imagens
Dia 1 – Nenúfar
Dia 2 – Alpes Suíços
Dia 3 – Regresso da Faina
Dia 4 – a cor da Mata dos Medos
Dia 5 – sorrisos e olhares
Dia 6 – Arvoredo
Dia 7 – hoje a Lua brilhou em Valle do Rosal
Dia 9 – Uma gota ou uma lágrima?
Dia 10 – Cores de Valle do Rosal
Dia 11 – uma lágrima pelos madrilenos mortos
Dia 15 – flores da mata
Dia 16 – um pouco de céu
Dia 18 – cabo espichel
Dia 20 – artes da praia do sol
Dia 21 – chegou a primavera
Dia 22 – flores da mata
Dia 23 – oásis
Dia 24 – acácias em flor na caparica 2004
Dia 31 – tecendo

Em Março de 2004 excelentes comentários

O balanço de nove meses de presença na blogoesfera traduz-se em cerca de 12.250 visitantes, pese um período de paragem do contador que depende inteiramente do provedor do serviço, o que resultou numa média de 68 visitas por dia.

Continuamos a defender que mais do que a quantidade de visitas é importante a sua qualidade e a razão da vinda. Pedimos meças a qualquer outro blog quanto à qualidade dos visitantes e ao afecto com que deixam os seus comentários, para nós, os factores mais importantes para incentivarem o nosso trabalho.

Visitamos com regularidade os blogs que fazem parte da lista dos nossos indicadores de endereços, assim como, seguindo indicações amigas que uma vez ou outra nos são dadas, novos blogs que habitualmente não visitamos. Comentamos sempre que o tempo permite e quando pensamos que os nossos comentários possam acrescentar algo ao conteúdo do post comentado.

Os nossos comentaristas deixaram 140 opiniões cada uma de grande importância. A única forma de agradecermos e reconhecermos o valor dos nossos comentaristas é deixar explícita uma referência aos mesmos. Em Março comentaram no Oficina das Ideias:

QUADRO DE HONRA

Killer Sentimental, do Sintra Gare
Cathy, do Despenseiros da Palavra
LuaLil, do Entre o Sono e o Sonho
JPT, do Ma-Schamba
João Vaz, do Marítimo
António Dias
Jacky, do Linguagem das Flores
Cat S, do Dentro do Entre
Whiteball, do Mocho
João C. Fernandes, do Fumaças
Deméter, do Segredos de Deméter
Rui MCB, do Adufe
Sandra, do Sentir
Ana Bela
João, do Bota Acima
Gotinha, do BloGotinha
Elsa, do Rabiscos e Letras
Sá Nunes, do Des-Encantos
Ulisses, do Despenseiros da Palavra
Mau, do Eterno Tornar
Celine Opps, do Optei
LILA
Nuno, do Arte de Opinar
Pecola, do juSt bEiNg PeCoLa
Bichinho de Conta, do Bichinho-de-Conta
Giesta, do Flores do Campo
Orion, do Sonhos de Ícaro


A TODOS o meu Muito Obrigado

nove meses na blogoesfera

Nove meses é um tempo mágico na vida dos seres humanos. Nesse tempo se dá a gestação de um novo ser, com todas as expectativas e sonhos dos seus progenitores. Sonhos que vão acompanhar uma vida.

É um pouco com este sentimento de deslumbramento que a Oficina atinge os nove meses de presença continuada, onde as permutas de saberes e de afectos têm lugar privilegiado e onde temos recebido a maior ternura dos nossos leitores assíduos.

Três factos, que só acontecem devido à nossa presença na blogoesfera, merecem ser hoje postos em evidência:

Permuta cultural – Através dos contactos assíduos com a nossa amiga Cathy, do Despenseiros da Palavra, tem sido possível manter uma intensa permuta cultural centrada na Lírica de Camões, na lenda romântica de Inês e D. Pedro, nas diferenças de falares e escreveres entre Portugal e o Brasil e na Poesia em geral;

Globalização da Solidariedade – Com o dinamismo da LuaLil, do Entre o Sono e o Sonho, foi possível trazer até à blogoesfera a poetisa Liliana e a artista plástica Célia, com quem se está avançar um projecto de Solidariedade no qual colocamos grandes expectativas;

Convívio Blogueiro – Com um convite gentil do Maizum, do Maizumpomonte, passámos a contribuir para o blog O Café, onde a permuta de cultura e o convívio amigo vão imperar, honrando-nos muito esta participação.

Entretanto, os operários desta Oficina decidiram participar em todas as actividades da blogoesfera, dentro das suas modestas possibilidades e sempre que convidados para tal. Queremos contribuir inequivocamente para este meio de comunicação entre as pessoas, de grande potencialidade social.

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