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domingo, fevereiro 28, 2010

levantina princesa



Lua Plena às 16h 38m

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lua

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ao meu olhar

deste o brilho

do tempo da juventude

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sábado, fevereiro 27, 2010

marco os tempos



sino monumental da Catedral de Cáceres

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elmano sadino

A partir do último trimestre do ano de 2003, publicou a Oficina das Ideias um conjunto de textos, singela homenagem ao enorme poeta Bocage, Manuel Maria Barbosa du Bocage, o Elmano Sadino da Nova Arcádia, que tiveram um agradável acolhimento junto da comunidade universitária de S. Paulo, no Brasil, especialmente no curso de Literatura Portuguesa.

Ficou sempre no nosso espírito poder melhorar o trabalho então realizado como forma de agradecer tão interessante acolhimento. O tempo foi passando e julgamos poder agora abalançarmo-nos nessa “epopeia”.

Deixamos aqui uma breve e singela introdução ao muito que o poeta Barbosa du Bocage nos legou e a promessa de voltarmos ao tema todos os sábados.




Anedotas de Bocage

Manuel Maria Barbosa du Bocage é conhecido pelo seu vasto anedotário. Curiosamente, a maioria das anedotas atribuídas a Bocage não são da sua autoria, recorrendo, isso sim, à sua atribulada e rocambolesca vivência para urdir os temas das anedotas.

Aliás, na minha meninice circulava aqui em Portugal um pequeno livro, “As anedotas de Bocage” que mais não era do que uma compilação de anedotas sem autor, como o são a maioria, mas estas atribuídas indevidamente a Bocage.


Sonetos de Bocage

Bocage foi um poeta de excepção, destacando-se na sua obra os sonetos, com ou sem mote. Bocage deixa transparecer as suas vivências, o seu sofrer e o desprezo a que é votado pela sua eterna amada.

Com origem em famílias altamente colocadas na sociedade, optou por uma vida desregrada e boémia que acabou por o conduzir à prisão.

Em sórdida masmorra aferrolhado,
De cadeias aspérrimas cingido,
Por ferozes contrários perseguido,
Por línguas impostoras criminado;

Os membros quase nus, o aspecto honrado
Por vil boca, e vil mão roto, e cuspido,
Sem ver um só mortal compadecido
De seu funesto, rigoroso estado;

O penetrante, o bárbaro instrumento
De atroz, violenta, inevitável morte
Olhando já na mão do algoz cruento;

Inda assim não maldiz a iníqua Sorte,
Inda assim tem prazer, sossego, alento,
O sábio verdadeiro, o justo, o forte.



Erótico Bocage

O seu olhar crítico para com a sociedade de finais do século XVIII e dos primórdios do século XIX, repartida que foi a sua vida por Portugal e pelas Índias, espelha-se perfeitamente nas suas “Poesias Eróticas, Burlescas e Satíricas”.

É de um profundo erotismo a epistologia entre Olinda e Alzira, onde estas duas amigas trocam as mais íntimas confidências. Alzira a experiente mulher embalada pelas palavras inocentes (?) da Olinda.


A temerosa Olinda é quem me escreve?
É este o seu pudor, sua inocência?
Ah! Que as minhas lições tão bem aceitas,
Dão-me a ver que a discípula inexperta
Há de em breve ensinar a própria mestra.

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sexta-feira, fevereiro 26, 2010

sensível e bela



por entre os espinhos de um cacto cresce uma sensível flor

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em que pensas?

A chuva voltou a cair, primeiro, miudinha, “chuva de molha tolos”, depois em bátegas mais fortes, empurrada pelo vento que sopra de Sul, contra a vidraça num matraquear por vezes irritante de repetitivo que é.

Sempre que chove fico tristonho. Gosto de ver a chuva cair em dança ritmada ao sabor do vento. Gosto do cheiro da terra, telúrica transpiração, quando as primeiras chuvas caiem de mansinho. Mas, contudo, quando chove fico tristonho.

Lembro-me o tempo que passava quando criança a espera que o meu pai chegasse do trabalho. Parecia-me uma eternidade e ainda era mais dolorosa a espera em tempo de invernia. E eu ali de rosto esborrachado contra a vidraça da janela a esperar.

Os vultos a meios-tons delineados pela chuva que caia pareciam-me fantasmagóricos. Amedrontavam-me, ficava tristonho e o meu pai tardava em chegar.

A minha mãe sempre me perguntava: “_Porque estás triste?” e a resposta era invariavelmente “_Á pá!” (como eu pretendia que me entendessem no “estou à espera do meu pai).

Por isso sempre fico tristonho quando chove vestindo os dias de primavera de trajes pardacentos, invernosos. Não é que eu desgoste de ver chover, mas que fico tristonho, lá isso fico.

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quinta-feira, fevereiro 25, 2010

incenso que defuma



as plantas medicinais e as ervas de cheiro da tradição popular

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círio à senhora do cabo

Lenda que se perde na bruma dos tempos e da utopia
Fez em sonhos convergentes um homem e uma mulher
Caminharem rumo ao barbárico promontório por haver
Na procura da Senhora da Pedra de Mu que aí luzia.

Soube o Povo dos poderes de tanto sortilégio e querer
Que em turba agitada ao Espichel se dirigiu em correria
Dos campos, pedindo para o gado e as colheitas bonomia
Da praia, protecção aos mareantes que afoitos usam ser.

Erigiram sobre penhascos e arribas em memória a capela
Por esmola e dádiva daqueles que mais nela encontraram
No querer, no sentir de séculos numa prece que se revela

Na memória das gentes que há muito sentiam e desejaram
Verdadeiro milagre resultante do labor e da luta que eleva
O Povo que agora aqui renova as tradições que perduraram.

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quarta-feira, fevereiro 24, 2010

laboriosa colheita



obreira da polenização das flores de Valle do Rosal

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retratista

Foi sempre um pássaro
Sem gaiola,
Desde que de si próprio teve
Sentir e conhecimento.

Caminhou veredas
Sem fim
Venceu escolhos
Traições.

Foi marinheiro
Poeta
Foi caminhante
Romeiro
Quem és tu?
Foi nómada
Dos sentires
E em cada retrato
Retratou
O sorriso da Liberdade.




nota: este poema foi comentário à postagem "ai se eu pudesse…", em Carpe Diem, onde se inspirou

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terça-feira, fevereiro 23, 2010

silvestre magia




flora da Mata dos Medos: "Galactites tomentosa

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o pinhal dos receios, ou a história das luminárias dentro da mata

O povoamento da Charneca de Caparica caracterizou-se sempre pela edificação de casas térreas, usando em geral como material de construção o adobe [1], que se desenvolvia linearmente junto à estrada municipal que vinda de Cacilhas, passava pelo Monte de Caparica, Vila Nova de Caparica e Lazarim, seguindo um traçado sinuoso como era uso na época.

Eram caminhos estreito por onde transitavam burros e cavalos de carga e alguns carros puxados por essas alimárias. Eram usadas mais pelos recoveiros [2] e gentes de posses, pois a população em geral fazia estas ligações de vários quilómetros a pé, seguindo por veredas e atalhos que o uso ia marcando por entre o mato e os pinhais.

Porque esta região era de “puros ares” e as terras de forte potencial agrícola, especialmente árvores de fruto e vinha, muitos foram os nobres que por dádiva real aqui construíram as suas quintas [3], de veraneio ou mesmo de residência principal, o mesmo acontecendo com algumas ordens religiosas [4] que consideravam estas terras vocacionadas para a oração e para a meditação.

Na Charneca de Caparica, para sul do Marco Cabaço, as terras eram arenosas e praticamente intransitáveis. A cobertura botânica era constituída por mato e outras plantas arbustivas, como seja a aroeira que deu nome à zona, por pinheiros bravos e mansos e por amplas zonas de juncal. Aqui e ali despontavam medronheiros [5], cujos frutos deliciavam os passantes.

Esta zona era praticamente inabitada, sendo muito poucas as pessoas com coragem para entrar em zona tão erma, sobre a qual se contavam histórias ou lendas de maus encontros, de lobisomens que apareciam em noites de lua cheia nos cruzamentos [6] ou mesmo de foragidos da lei que aqui se acoitavam protegidos pelo denso matagal.

Contudo, quem se atrevesse a percorrer o pinhal na calada da noite, apercebia-se, aqui e ali, o tremelicar de uma luz, normalmente candeia de azeite ou de petróleo, vinda de algum barraco construído na mata e onde viviam as famílias menos abastadas, muito abaixo do limiar da pobreza. As gentes da Charneca de Caparica conheciam-nos por “toupeiras” [7] pois à aproximação de estranhos fechavam-se dentro de casa e não se deixavam ver.

A Mata dos Medos [8], também conhecida por Pinhal do Rei, o plantio de pinheiros teria sido mandado fazer pelo Rei D. João V, por forma a “segurar” as areias em movimento, era lugar de difícil acessibilidade onde se acoitavam bandidos e outros foragidos da lei. A própria Guarda tinha dificuldade em entrar nas zonas mais recônditas do pinhal.

Esta mancha verde, autêntico pulmão com que a Natureza brindara a Margem Sul do Tejo, prolongava-se para lá da Lagoa de Albufeira, na direcção de Sesimbra e do Cabo Espichel, conhecido pelos antigos como Promontório Barbárico, pelas Herdades da Aroeira e da Apostiça. Para poente chegava ao areal, à época de enorme extensão e de altaneira linha dunar.

Contam os mais antigos que depois do pôr-do-sol somente entrariam no Pinhal do Rei aqueles que, pela confiança que neles tinham os foragidos, possuíssem o chamado “salvo conduto de palavra” [9], código de “honra”, senha e contra-senha que deveria ser dita a quem interpelasse os forasteiros.

Também havia um dia determinado da semana, a terça-feira, em que era permitido ao Povo, a viver em profunda penúria, colher lenha da mata nacional, lenha seca sem magoar os pinheiros, para ser utilizada para as lareiras e para o “fogo de cozinhar”. Famílias inteiras reservavam esse dia para a recolha de lenha, pois o excedente às suas necessidades de utilização sempre representava com a sua venda uns centavos adicionais para o magro orçamento familiar.

No tempo das pinhas, aproveitava o Povo esse dia para colher pinhas que, vendidas para Almada ou para Lisboa, e mesmo nas quintas da região representavam um acréscimo aos seus parcos rendimentos. Somente estavam autorizados a recolher pinhas secas, mas de forma furtiva sempre recolhiam pinhas de pinheiro manso, pois os pinhões já eram, nessa época, pagos a bom preço.



Notas
[1] – Massa de barro, muitas vezes misturada com palha, que depois de seca ao sol, especialmente no formato dos actuais tijolos, era utilizada como material de construção.
[2] – Os recoveiros, ou almocreves, eram peças fundamentais no comércio e transporte de mercadorias, alugavam ou trabalhavam com animais de carga.
[3] – No território que constitui hoje a Charneca de Caparica e no seu termo poderemos encontrar, entre outras, Quinta e Solar de S. Macário, Quinta da Regateira, Quinta de Monserrate, Quinta de Cima, Quinta da Carcereira.
[4] – De acordo com o Dicionário Geográfico escrito pelo padre Luís Cardoso existiram três conventos no termo de Caparica: o Convento dos Religiosos de S. Paulo, e que é orago N. S. da Rosa, fundado em 1410; o Convento dos Religiosos Arrabidos, dedicado a N. S. da Piedade, fundado no ano de 1558; e o Convento dos Religiosos Agostinhos Descalços, de que é padroeira N. S. da Assunção, fundado no ano de 1677.
[5] Ainda hoje fazem parte da mancha arbustiva, sendo um aliciante para quem caminha na mata em tempo de maturação dos frutos, os medronhos.
[6] – Hábito que se não perdeu, antes intensificou com a chegada de muitos imigrantes brasileiros, a prática de macumba deixa evidências para quem percorre a mata pelas manhãs: garrafas de bebidas alcoólica, velas vermelhas e muitos outros elementos característicos da prática de tais ritos.
[7] – Contam os mais antigos da existência de um clube “Os Toupeiras” que realizavam bailes frequentados pelas gentes do lado sul da Charneca de Caparica e por quem vivia em casebres no interior da mata. Quando se chegavam rapazes vindos de Palhais ou do Botequim eram frequentes grandes cenas de pancadaria.
[8] – A designação de Mata dos Medos tem origem no facto de parte da mesma se encontrar implantada em grandes elevações de terreno arenoso junto ao litoral conhecidas por “medo” ou “médão”.
[9] – O “santo e senha” que ainda há pouco uma senhora de Sobreda me referiu que o pai havia sido detentor para poder entrar na Mata dos Medos.

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segunda-feira, fevereiro 22, 2010

novas texturas




os efeitos cromáticos das gotas de chuva numa vidraça
transformam uma imagem real numa pintura

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venham ver as acácias em flor na caparica

A partir dos princípios de Fevereiro, quando as condições climatéricas são precocemente primaveris, ou no decorrer do mês de Março, quando estas são mais adversas e teimam em prolongar a invernia, toda a zona compreendida entre as designadas "terras da Costa" e o Mar Atlântico cobre-se profusamente de um manto amarelo dourado, com o florescer do acacial.

Esta zona de vegetação, ímpar no nosso País, além da função primordial de fixação do longo areal que vai da Trafaria à Fonte da Telha, protege as fecundas "terras da Costa" da brisa do mar e serve de tampão aos fogos florestais, tendo em conta a sua fraca capacidade combustível.

Designada "Mata das Dunas da Trafaria e da Costa de Caparica", integrada na Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa de Caparica, foi instalada entre os finais do século XIX e os anos 60 do século passado, com a finalidade de fixar as areias de dunas móveis, estendendo-se pela zona fronteira à arriba, sendo constituída essencialmente por várias espécies de acácias (Acácia sp.), predominando a Acácia cianophyla.




Se a instalação cuidada e sistemática do acacial data de anos recentes, com existência entre os trinta e os cem anos, a sua florescência espontânea perde-se na bruma dos tempos imemoriais, encontrando-se referências lendárias dispersas, sem marco nem era determinados.

Na época da floração do acacial, quem percorre a Descida das Vacas, vindo da Charneca de Caparica na direcção da entrada para a Praia do Rei, ao virar na curva sobranceira ao mar, é agradavelmente surpreendido por uma paisagem sem igual, onde um vasto manto verde se apresenta profusamente salpicado de vários cambiantes de amarelo, dependendo do estado de maturação das suas flores.




O amarelo, contrastando com o azul do mar e do céu, com o verde da vegetação, reflectindo a luminosidade ímpar do Sol da Caparica, emana fulgores dourados que estão, por certo, ligados ao imaginário popular do ouro amoedado que enriquecia a capa da velha, uma "Capa-Rica", segundo a lenda, na origem do topónimo de “Caparica”.

Não é difícil de crer que a velha mulher que a lenda refere, descesse do interior onde vivia num pobre casebre até à borda-d’água, até ao acacial onde colhia muitas flores douradas que transportava no interior da sua capa. Os vizinhos e outras pessoas com quem se cruzava vislumbravam laivos dourados consoante a misteriosa mulher se deslocava, imaginando que transportava consigo ouro amoedado de não menos misteriosa origem. Daí à lenda foi um passo, não muito longo, por certo.




O Gabinete da Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa de Caparica tem instalado nesta zona, à beira da Praia da Rainha, um Centro de Informações que proporciona aos visitantes passeios guiados por esta maravilhosa zona, percorrendo trilhos e caminhos onde a observação do acacial é mais interessante.

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domingo, fevereiro 21, 2010

coragem e valentia




enfrentar diariamente o "mar macho"
no ganha-pão da subsistência

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vida plena de luar

Acordei estremunhado

No segredar duma voz.

Sonoridades adivinhadas,

Na doçura das palavras,

Num olhar que foi furtado.


Estou a aprender a ver-me,

Em vez de me olhar,

Simplesmente!

Grande sabedoria

A que tu me ensinas…


Olhos marejados

De lágrimas que são correntes,

Um fugaz pensamento,

Lábios que estão carentes

Duma palavra que beija.


Na suave ondulação

Do arfar de seus seios,

Caminhar na vida plena,

Soletrar a prata da lua

Sentir o que tu sentes.

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sábado, fevereiro 20, 2010

mil olhos




"mas aprendi muito mais com a maré das vidas,
com a ternura vista em milhares de olhos que me viam ao mesmo tempo"
Neruda

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memorial a pablo neruda

Falar do poeta chileno Pablo Neruda na Oficina das Ideias é quase um imperativo inspirador de todo um trabalho que desejamos realizar mas que fica sempre aquém da dimensão imensa de um poeta que une terras e mares, povos e sentires.

Na linha nascente/poente do magnífico jardim do Convento dos Capuchos foi erigido um memorial ao poeta da luta e do amor. “Mil Olhos” foi designado. Aqui registo e partilho a respectiva memória descritiva.

O memorial é constituído por dois elementos verticais, paralelos e separados, simbolizando um livro aberto, através do qual se pode admirar o mar, esse elemento que tanto inspirou o poeta e que aqui se apresenta em tons de azul únicos.

Suspensos entre as duas folhas do livro estão centenas de olhos, “mil olhos”, que fitam o observador, numa clara alusão à importância que as gentes têm na obra de Pablo Neruda. Dalguns dos “olhos” escorrem lágrimas, representadas escultoricamente por correntes.




O escultor José Aurélio. Autor desta obra comenta: “A inspiração do mar, que se avista entre as colunas da escultura, a ternura dos olhos que fitam o observador, a permanência das lágrimas que caiem destes e de outros olhos, porque alguns dos problemas contra os quais lutou Neruda ainda persistem, são muitas as mensagens que nos ligam ao poeta chileno”.

Do lado esquerdo do monumento destaca-se uma peça de cobre com a cara do Nobel da Literatura de 1971. No lado direito do memorial lê-se uma frase construída a partir de enxertos de Pablo Neruda: “Quem fui? O que somos? Não há respostas. Passámos, não fomos. Éramos. Outros pés, outras mãos, outros olhos. Mas aprendi muito mais com a maré das vidas, com a ternura vista em milhares de olhos que me viam ao mesmo tempo”.

Mil olhos!

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sexta-feira, fevereiro 19, 2010

mundo colorido




o mundo colorido é de eterna Primavera

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dádivas

De tamanho reduzido
De poucos milímetros até
São raiadas em linhas
Arqueadas
Em diversas tonalidades
De castanho e ocre que convergem
Para o ponto de união
Das duas conchas
Que constituem o bivalve.

Mas são também
De madrepérola banhadas
Que fulgem
Ouro do astro rei
E lilás
De imemoriais eras
Tempos de ninfas e sereias
De encantarem pescadores
Cantos suaves
Melodia.

São em si mesmas
Obras de arte,
Com o traço único
Da Natureza,
Encerram em si mistério
E beleza
Num testemunho fantástico
Duma caminhada
De encantamento
Pelas doiradas areias,
Acompanhada do lado do Nascente

Por uma bela arriba
Que o passar do tempo
E o recuo definitivo
Do mar
Fossilizou
E do lado do Poente
Esse mar imenso,
Pintado em laivos
De azul
De verde,
De lilás
Prateado
No constante espraiar
Da ondulação.



nota: este poema foi comentário à postagem "a prenda que o mar me trouxe" em Perfume de Jacarandá, onde se inspirou

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quinta-feira, fevereiro 18, 2010

sentir de artista




azulejos
Igreja de São Roque - Lisboa

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novos indicadores de leitura

De acordo com os critérios editoriais da Oficina das Ideias criamos, frequentemente, novos apontadores de leitura. Três razões fundamentais nos levam a essa decisão:

1 – Pela qualidade extraordinária que encontramos em determinado blogue, de acordo com a nossa avaliação pessoal;
2 – Como reconhecimento aos comentários que são deixados nos posts da Oficina das Ideias;
3 – Em resultado da permuta de indicadores de leitura.

Esta permuta desinteressada de indicadores de leitura é uma das características mais positivas da blogoesfera e de quem a utiliza com espírito construtivo e solidário que coloca acima dos seus pessoais interesses a satisfação dos leitores.

Damos conta, de seguida, de alguns dos mais recentes, solicitando a todos os companheiros da blogoesfera que estando abrangidos pelos critérios referidos não tenham o respectivo indicador de leitura na Oficina das Ideias que nos façam chegar essa informação.


Novos indicadores:

Sem Margens, de A. Tapadinha (Portugal) – “Pintar a palavra; Escrever a pintura

Tout sur Nathalie, de Natália Augusto (Portugal) – “Sou a eterna criança que mora em Fantasia

A Casa da Micas, de Micas (Alemanha) – “Citações, Música, Fotografia, Desabafos, Notícias & Opiniões de uma Lusitana em terras da Germânia

Beijinhos Embrulhados, de Maria Teresa (Portugal) – “Sou avó e tenho muito orgulho. Toda a minha vida adulta lidei com muito jovens e menos jovens por motivos profissionais e adorei

Lua de Lobos, de Maria de São Pedro (Portugal) – “Aprender tudo quanto o meu último neurónio aguentar

Caminho para Ítaca, de Rita (Portugal) –

Escritos., de Joana Fernandes (Portugal) –

Foi desse jeito que eu ouvi, de Silvana Nunes (Brasil) – “Não permita que as nossas histórias se percam no tempo

Planeta M… Meu Planeta, de Marlene (Portugal) – “Planeta M: Local onde exponho os meus anseios, devaneios e esperanças… O que imagino, penso e construo… O que mais gosto

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quarta-feira, fevereiro 17, 2010

memória e sentir




as núvens reflectem-se mo mar
o mar reflecte o que nos vai na alma

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mar da caparica



Mar de equinócio
Chega forte
Às praias da Caparica
Em explosões de prata,
Fantásticos sonhos,
Magia
Azul profundo
Fulge de luar
E de esperança matizado
Molda em submersos continentes,
Palácios
E castelos.

À sétima onda
O mar ganha novas energias
E saberes
Pulveriza o ar
Com milhões de salgadas gotícolas
De cristal
Por instantes,
A calmaria de afectos seculares
Forjada
O espraiar das ondas
No doirado areal
Que aguarda tal ternura.

No embalar das águas
Em ondulação suave
E sincopada
As gaivotas
Há pouco chegadas
À beira-mar se deliciam
Baloiçam quais folhas
De nenúfar
Em lago plantadas
Despertam,
Saltitam,
Esvoaçam ao sobressalto da rebentação.

Este namoro antigo
Do mar com a doirada areia
Da Caparica
É cumplicidade
Alimentada pelo desejo
Do muito querer vivido
Em que o mar
Oferece conchas
E milhões de grãos de areia
Recebe o afago
De quem sempre
Prazenteiramente o acolhe.

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terça-feira, fevereiro 16, 2010

máscara enganadora




em tempos de carnaval
é a ocasião ideal para deixar cair a máscara

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o carnaval na charneca

Era de uma forma popular e tradicional, que nos meios rurais do concelho de Almada, como era o caso da Charneca, se festejavam os tempos de Carnaval. Grupos de homens mascaravam-se de forma trapalhona para assim se divertirem como era característico desta época festiva. (até ao século XVIII).

Até à Implantação da República, a época do Entrudo, em particular nos meios rurais, era tenebrosa com brincadeiras perigosas, chegando mesmo a ser aproveitada, a coberto das máscaras, para se porem em prática vinganças, guerrilhas e armadilhas. (séculos XIX e XX)

Organizavam-se cegadas, na rua ou nas agremiações recreativas, desde o início do século XX. Os ensaios tinham lugar nas adegas e nos retiros, à mistura com muito vinho e fortes bebedeiras, como acontecia na adega do Mário Casimiro, na Charneca. Os cegantes percorriam os principais arruamentos da povoação, metendo-se com toda a gente, especialmente, com as raparigas solteiras.



Para saber mais:
Carnaval em Almada
Alexandre M. Flores
Edição Associação “Amigos da Cidade de Almada”
Fevereiro de 1998

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segunda-feira, fevereiro 15, 2010

vida de remedeio




a pastorícia ainda hoje é praticada
nos baixios verdejantes da Charneca

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este tempo

Suaves caminhos Este tempo percorre sem cessar
Na procura no sentir despudorado de teu corpo encontrar
Carícias ao compasso do relógio no seu ir e logo retornar
Por teu belo corpo caminha, pára minha boca ofegante
Quanto mais ela caminha em sentir delirante
Milhares de vezes pára em preito de amante
A simples expressão paracaminha de dúbio entendimento
Anima o romeiro que caminha no rumo do sentimento
Fica extasiado com o que vê... pára... para seus sentidos alimento



Este tempo
despudorado
do relógio
caminha, pára
caminha
pára
paracaminha
caminha
pára...

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domingo, fevereiro 14, 2010

dádiva de vida




sem a energia solar não seria possível
a vida humana na superfície terrestre

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um selinho de amizade

O blogue A Casa da Mariquinhas, da minha querida amiga Mariazita, comemora hoje o segundo aniversário de presença e intervenção na blogosfera. A Oficina das Ideias que sempre encontrou neste espaço o encantamento de que sabe partilhas estórias de vida associa-se com muito prazer a estas comemorações, enviando à Mariazita um beijinho grande de parabéns.

E porque a Oficina das Ideias tem a honra de ser considerada entre os amigos de A Casa da Mariquinhas recebemos e aqui publicamos com muito afecto o “selinho” comemorativo.


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Bem Hajas querida amiga.

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ano lunar do tigre

De acordo com o calendário chinês, um dos mais antigos do mundo, inicia-se hoje [14 de Fevereiro de 2010, às 2.51 horas (tempo de Lisboa)] o Ano do Tigre, “Xin Nien Kuaiu Le” – Feliz Ano Novo, que terá a duração de 354 dias, sendo um ano não bissexto (ano Gengyin), isto é, a terminar em 2 de Fevereiro de 2011.

O Tigre é o terceiro signo dos 12 signos chineses e representa, fundamentalmente, a coragem. Segundo a tradição chinesa o destemido tigre protege a nossa casa dos três maiores perigos pelos orientais considerados: o fogo, os ladrões e os fantasmas.




Segundo uma antiga lenda chinesa, Buda convidou todos os animais da criação para uma festa de Ano Novo, prometendo uma surpresa a cada um dos presentes. Apenas doze animais compareceram e ganharam um ano de acordo com a ordem de chegada: o Rato ; o Boi ou Búfalo (Vaca, na Tailândia); o Tigre (Pantera, na Mongólia); o Coelho (Gato, na Tailândia); o Dragão (Crocodilo, na Pérsia); a Cobra ou Serpente (Pequeno Dragão, na Tailândia); o Cavalo; a Cabra, bode ou Carneiro; o Galo ou Galinha; o Macaco; o Cão; o Porco ou Javali.

A passagem do Ano Lunar, que tem lugar na Lua Nova, este ano a 14 de Fevereiro, à 2.51 horas (tempo de Lisboa), é o mais significativo, em alguns casos o único, feriado oficial da China, embora se prolongue por sete dias e é um misto dos festejos ocidentais do Natal e do Carnaval, aliás, oriundos da mesma génese pagã. Daí que se celebre nesta época a Festa da Primavera, do renascer, das sementeiras, da fertilidade.

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sábado, fevereiro 13, 2010

azular a seda




no dizer dos pescadores do Grande Areal este é o "mar de seda" ou o "mar de senhoras"

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andorinhas de valle do rosal

Acompanhado do meu amigo/irmão/gémeo “Olho de Lince” deslocamo-nos, pouco passaria das 14 horas até uma planura coberta de flores amarelas para enriquecermos o espólio da Oficina das Ideias com mais algumas imagens quando…

O azul do céu foi cortado por um voo diferente dos habituais nesta altura do ano. Uma andorinha executava um voo rectilíneo, voo de chegada pois os voos de estada são circulares e planando nas isobáricas.

Ainda estão longe os odores das rosas mas os jasmineiros já mostram pequenos botões no fundo verde de folhas, com uma ou outra florinha branca a despontar, que normalmente festejam a chegada das primeiras andorinhas a Valle do Rosal.

Esta primeira andorinha a chegar, sem dúvida uma atleta de fundo, é a indicação que as suas companheiras de viagem não tardarão. Daqui a pouco regressarão todas as que já cá estiveram e que resistiram à longa caminhada. Algumas terão perecido perante os escolhos de uma longa viagem, as intempéries, os predadores, a malvadez do ser humano. Contudo, a maioria regressará ao seu local de nascimento ou aos ninhos em que foram progenitores no ano anterior.

É temporã esta chegada, resultado sem dúvida do sol que tardou em chegar mas que já brilha nestas terras de camponeses e pescadores, mas são assim desígnios da mãe Natureza que hoje me deu esta imensa alegria. A partir de agora será a animação dos seus voos e a musicalidade dos seus piares, a labuta para a recuperação dos ninhos e para a construção de novos que irão albergar a família aumentada.

Recordamos aqui o registo da Oficina das Ideias no que se refere à chegada da primeira andorinha do ano a terras de Valle do Rosal:

Em 2004, a 16 de Fevereiro
Em 2005, a 10 de Março
Em 2006, a 12 de Fevereiro
Em 2007, a 13 de Fevereiro
Em 2008, a 13 de Janeiro
Em 2009, a 25 de Fevereiro

Salvo o ano de 2005 em que a sua chegada tardia muitas preocupações trouxe às pessoas que tanto gostam de apreciar a beleza dos seus voos e o empenho do seu labor na reconstrução dos ninhos, e em 2007 que foi temporã essa chegada, o primeiro avistamento tem tido lugar por volta da segunda semana de Fevereiro.

Bem vindas a Valle do Rosal belas andorinhas!

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sexta-feira, fevereiro 12, 2010

mensageiras de elmano




as gaivotas do Grande Areal

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lengalenga

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*

Imaginação

Angústia

Esquecimento,

Ausência

Solidão

Muito sofrer,

Olhar profundo

Sorriso

Bem-querer,

Amor eterno

Alegria

Sentimento.



Regresso

Presença

Abraço apertado,

Ilusão

Alegria de viver

Amor,

Cruel verdade

Sofrimento

Dor,

Um beijo

Ternura

Caminho desejado.



Realidade

Tristeza

Desengano

Uma lágrima

Um adeus

Infinito.

*

*

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quinta-feira, fevereiro 11, 2010

doce presença




os jasmineiros já começaram a florir
em Valle do Rosal, Charneca de Caparica

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o mel da arriba fóssil

É gostoso e vitaminoso. O mel saboreia-se todo o ano, embora muitos, só dele se lembrem nas noites frias de Inverno.

Na região da Costa de Caparica proliferam colmeais, localizados, curiosamente, nos extremos Norte e Sul da Área Protegida da Arriba Fóssil da Costa de Caparica. E, pela riqueza da flora, de influências atlântica, mediterrânea e continental, produzem mel de extraordinária qualidade.




João Santos, jovem apicultor que lado a lado com o oficial do mesmo ofício João Ferreira Marques explora dois parques com cerca de 30 colmeias, explica: "Com forte incidência de tomilho e rosmaninho, as abelhas das colmeias da Fonte da Telha, instaladas na falésia junto à torre de vigia do Cabo da Malha, produzem um mel mais escuro, de tonalidade âmbar." Por outro lado "o colmeal situado na Raposeira, sobre as Arribas da Trafaria, baseia a sua alimentação na multiflora onde aparecem espécies botânicas variadas como o funcho, o trevo, a acácia, o eucalipto e o cardo, pelo que o mel é de uma tonalidade dourada muito claro.".

Estes colmeais tiveram a sua origem no trabalho desenvolvido pelo velho Gouveia que cuidava do apiário dos Serviços Florestais das Matas Nacionais.

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quarta-feira, fevereiro 10, 2010

vigias de labuta




são tradicionais os moinhos de vento de Castro Verde
como é tradicional e cantada a "feira de Castro"
uma visita recomendada ao sul alentejano

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o pescador e o "papagaio"

Figura vertical, sóbria, em contraste cromático com azul do céu, sábio de alva cabeleira perscruta os insondáveis segredos do firmamento e das correntes dos ventos predominantes. Lança um papagaio” por si construído de forma hexagonal e testa a segurança do comprimento da cauda do mesmo.




Dá “guita” e o “papagaio” sobe cada vez mais. Subirá sempre até que o homem idoso que o lança o queira. Sem limites pois o seu saber é imenso.

Aproximo-me, com curiosidade. O velho pescador aproxima-se de mim fazendo o caminho ao contrário. Cada passo que eu dou ele dá outro também. O tempo de aproximação entre nós reduz-se, assim, a metade.

Boa tarde!
Boa tarde. Se eu lhe disser o que estou a fazer, você não acredita” – antecipou adivinhando a minha curiosidade.
Então… o que está a fazer?
“Estou a preparar um “papagaio” para ir com ele pescar”
Sorri. Incrédulo, na incerteza se o velho homem estava ou não a brincar comigo.
Verdade?
Claro que é verdade. Mas eu já havia dito que você não iria acreditar
Acredito, pois. Então como vai pescar com esse “papagaio”?
Estive a aumentar o tamanho da cauda para aguentar melhor o vento que hoje está… Mais logo, pela noite, se o mar o permitir vou com ele à pesca”.

E lá me explicou tratar-se de uma “arte” proibida mas que as condições actuais da pesca, o muito mar desta época, e a “crise” assim o obrigavam. O “papagaio” é levado pelo vento e nele suspenso segue um aparelho de anzóis que depois mergulham na água devidamente engodados. Quando o peixe “picar” é só puxar.

Ainda há quinze dias pesquei 40 quilos de robalo com este aparelho!” – concluiu a jeito de justificação e com orgulho pelo sistema que aperfeiçoou e utiliza".

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terça-feira, fevereiro 09, 2010

naufrágio




o mar ceifou vidas de pescadores na Costa de Caparica...
mas o mar não é traiçoeiro...
sempre avisa...
os seres humanos têm que saber "ler" seus sinais

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a taberna do faustino 2

Quando caminhamos para sul no Grande Areal deixando para as costas a actual cidade de Costa de Caparica, pelos antigos designada “costa do mar” ou “costa do pescado”, passada toda a zona balnear que tem acessos por estrada, umas duas léguas caminhadas, chegamos a uma povoação implantada à beira-mar, um desordenado de casas e estradas de macadame – chegamos à Fonte da Telha.

Outrora terra de pescadores, a pesca é ainda hoje a base do rendimento dos seus habitantes, transformada num aglomerado de casas de veraneio e restaurantes de gosto duvidoso, por aqui se instalaram diversas companhas das artes piscatórias, num mar que pelo seu desenho costeiro é mais afável mesmo durante a invernia.

Há notícia de que nos anos 40 do século passado era ainda constituída por cabanas de colmo dispersas na faixa dunar, onde os pescadores viviam e iam à faina, primeiro de forma sazonal pegando-lhes fogo e abandonando-as em tempo de invernia e, depois, de um modo regular, estabelecendo-se aí pequenos núcleos familiares.

O pouco comércio existente à época resumia-se às tabernas do Camões e do Faustino, onde de tudo se vendia, normalmente para “pôr na conta” pois somente quando o tempo bom permitia a ida ao mar das companhas se obtinham parcos rendimentos para pagar o que estava em dívida.

No pós-guerra, em meados dos anos 40 de século passado as carências de bens essenciais eram tamanhas que o estado novo implantou o regime de racionamento, senhas pala os bens alimentares e outros de primeira necessidade, sendo rigorosamente punidos todos aqueles que transaccionassem esses bens de forma clandestina. Fora implantado um regime de terror, de delação, os “bufos” multiplicavam-se e a troco de alguns centavos acusavam os próprios amigos e familiares que a tal eram induzidos e incentivados.

As tabernas do Camões e do Faustino ainda hoje existem na Fonte da Telha, com o aspecto modernizado que os tempos são outros, mas situam-se nos lugares de outrora. A Tasca do Faustino mais a sul mesmo junto à colónia piscatória. Pela manhã ainda por lá se “mata o bicho” com um copo de aguardente que a friagem é muita. E no regresso da faina ali se conversa acerca do mar.

O actual restaurante O Camões mais recuado em relação à linha do mar, mais próximo da falésia. Ficava no caminho por onde desciam os recoveiros da Charneca que vinham comprar o pescado que depois transportavam em cabazes feitos de cana para venderem em Almada e até em Lisboa.



Notas:
(1) Alexandre Cabral, considerado o maior estudioso da vida e da obra de Camilo Castelo Branco, no seu romance “Fonte da Telha” descreve de forma soberba a vivência dos pescadores na primeira metade do século passado (edição: Lisboa, 1949)

(2) A minha amiga .Lis do blogue Flor de Lis num seu comentário incentivou-me a que descrevesse um pouco mais o que sei sobre a Tasca do Faustino, cujos familiares vivos me dão a honra de serem meus amigos.

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segunda-feira, fevereiro 08, 2010

arriba fóssil

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arriba fóssil da costa de caparica

A Arriba Fóssil, sobranceira às chamadas Terras da Costa é o mais característico elemento natural da região da Caparica. Trata-se de uma formação geológica invulgar, constituída por rochas sedimentares, possuindo as mais antigas cerca de 15 milhões de anos, com belas formas provocadas pela erosão, variegadas tonalidades ocre e as ravinas abundantes - boqueirões - coroadas de vegetação luxuriante.

É o testemunho presente de uma época em que a linha da costa se situava muito mais para o interior. Actualmente e devido à acumulação de grandes quantidades de areia junto à Arriba, o mar já não a atinge, sendo por isso designada por Fóssil. Para defesa deste património natural único foi legalmente constituída em 1984 a designada Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa de Caparica.




A importância geológica da Arriba Fóssil é justificada pelo facto de ser constituída por uma sucessão de estratos de rochas sedimentares, das mais importantes da Europa Ocidental, caracterizados por um imenso conteúdo fossilífero.

Para além das características geológicas, muitos outros factores contribuem para que seja considerada um dos principais pólos de interesse natural da região. Possui locais muito favoráveis para a alimentação, reprodução e repouso de aves de rapina, de entre as quais se destacam a águia-de-asa-redonda, o peneireiro-comum, o mocho-galego e a coruja-do-mato. A variedade da fauna é completada com outros animais, desde o rato do campo ao coelho, da perdiz ao pintassilgo.

As matas da Arriba são um local privilegiado de passagem para as aves migratórias, sendo ainda de assinalar a presença de uma importante colónia de corvídeos, com relevo para as famílias de corvos comuns, caracteristicamente constituídas por três elementos. Pode-se igualmente observar e admirar na zona envolvente a Reserva Botânica da Mata Nacional dos Medos, também conhecida por Pinhal do Rei, o qual foi mandado semear pelo rei D. João V, com o objectivo de impedir a progressão das areias dunares para o interior.

No perímetro da Arriba Fóssil são visíveis os marcos com o símbolo da Casa de Palmela, ao longo da antiga estrada que o monarca utilizava nas suas deslocações de Lisboa para o Castelo de Palmela.




Neste importante espaço natural podemos encontrar, ainda, a Mata das Dunas da Costa de Caparica e Trafaria, na base da arriba, perfazendo com a Mata dos Medos, cerca de 600 ha. de área florestal que proporcionam bons momentos de repouso em contacto directo com a Natureza.


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domingo, fevereiro 07, 2010

contemplação

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a taberna do faustino



Seu Faustino abriu a porta da taberna. A mulher estava também já levantada, preocupada com a caiação dos quartos, que o filho casava para Outubro.
- Chama o rapaz, anda.
- Coitado, deitou-se ontem tarde. Bem sabes que foi à Charneca falar à namorada. E trouxe o assucar e o azeite.

O homem parou no meio do cimentado, a mão gorda suspensa no acto de abotoar a camisa.
- Cuidado com essas coisas… fora do racionamento…


do romance “Fonte da Telha”, de Alexandre Cabral, Lisboa 1949

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sábado, fevereiro 06, 2010

tempos idos

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nos caminhos das “fontes da charneca”

Tal como tinha sido anunciado na página da Oficina das Ideias do Facebook realizou-se uma visita guiada às designadas “Fontes da Charneca” tendo os participantes demonstrado interesse em voltar, indo ser oportunamente colocado um “cache” cuja divulgação virá a ser feita através do Grounspeack, de que daremos notícia quando julgado conveniente.

Numa caminhada de cerca de duas horas foram visitados:



Antigo depósito de água e Chafariz do Botequim


Poço de água (mineral cloretada sulfatada)


Fonte dos Casais da Charneca (antigo enchimento das Águas de S. Vicente)



Fonte ou mina de Nª Sª da Rosa (o povo diz se a Fonte de Santa Luzia)


Fonte do Convento dos Paulista (o povo diz ser a Fonte de Nª Sª da Rosa)



No decorrer desta visita foi possível obter algumas imagens que ainda não constavam do arquivo da Oficina das Ideias e que se supõe dizerem respeito a pedras do antigo eremitério existente na zona – Convento da Cela Nova, depois designado Convento de Nª Sª da Rosa.


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sexta-feira, fevereiro 05, 2010

sonhar é construir

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percorro insanos caminhos – oitavas

Completada que foi a oitava oitava imperioso se tornou a sua total publicação...



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Percorro insanos caminhos que eu traço

Nos grãos de areia que uma mão enchem,

Deixo divagações profundas que enlaço

No sentir de solidões que me preenchem;

E no suave cântico das Tágides me embaço

Na busca das inspirações no peito crescem.

No firmamento está Nour em doce enleio

Acolhendo meus pensares em seu seio

*

Percorro insanos caminhos que desfaço

Os nós apertados duma vida de alguém

No caminhar de gigante que é o meu passo

Desenho liras de amor de que sou refém

Para atingir planuras de tão amplo espaço

Onde corro nómada do ir ainda mais além.

E no doirado areal que o mar acaricia e beija

Olha minha sombra meu reflexo que me reveja.

*

Percorro insanos caminhos em que me enlaço

Com o pensamento posto em quem mais sofre

Neste mundo que com meu olhar trespasso

Palpitante coração sofrido guardo em meu cofre

No desejo imenso de perceber o que eu faço

Para melhorar na tranquilidade e não de chofre

Quando uma palavra tem mais valor que a riqueza

Desenhamos veredas de luz, de cor e de beleza

*

Percorro insanos caminhos em que devasso,

Segredos guardados pelas pedras milenares.

São estreitas veredas, não o tempo a compasso,

Pois neste a viagem assenta nos mil pilares,

Que na vida eu construo e nunca mais desfaço,

Como a trama e a malha razão de ser dos teares.

Os mistérios milenares são riqueza e saber

Herança dos tempos que quero fazer crescer.

*

Percorro insanos caminhos mar de sargaço

Navego aguadas gigantescas e tenebrosas

Ergo-me erecto e vertical qual valentaço

Nas ondas cavadas profundas, tumultuosas

Evoco as ninfas e os deuses do parnasso

Que por mim entoem poesias espantosas.

Depois de tanto navegar mares e marés

Arrojo-me reconhecido a seus pés.

*

Percorro insanos caminhos sem cansaço

Subo montanhas e desço desfiladeiros

Quando necessário estugo meu passo

Teus olhos guias do firmamento luzeiros

Prometem o enleio o afecto de teu abraço

Nómadas dos sentires somos parceiros.

E no final dos tempos que começam

Terminam as promessas que professam.

*

Percorro insanos caminhos tempo escasso

Na procura de uma imagem por mim sentida

Envolvo-me em górdios nós e em um baraço

De uma memória noutras eras construída

Em vivências pulverizadas em mil estilhaços

Pela vereda de existir já há muito percorrida.

Na certeza incorruptível do tempo que passa

Encontraremos um futuro de energia e graça.

*

Percorro insanos caminhos do meu fracasso

Na procura da luz da esperança desenhada

Na pele de vincados sulcos na lama do cansaço

Que nos tormentos da vida sinto desesperada

Vocifero mas é no silêncio infinito que ameaço

Abandonar a senda desta luta definhada.

Mas no compasso do som dum violino virtuoso

Retomei o caminho desmedidamente luminoso.

*

*

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quinta-feira, fevereiro 04, 2010

música presente




INTEMPUS no Santiago Alquimista

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a dívida e o deficit

Tal como há cem anos…


Os governos são despesistas e corruptos… os banqueiros são corruptos e alarves!!!!
Quem é o culpado? O Povo, claro está…





Nota: esta imagem foi retirada de um cartoon da autoria de Manuel Gustavo Bordalo Pinheiro, alusivo ao Conde de Barcelos (nome secreto pelo qual era conhecido o rei D. Carlos e publicado originalmente no semanário satírico A Paródia. Republicado na Visão História nº 7, de Fevereiro de 2010.

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quarta-feira, fevereiro 03, 2010

escada infinita

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Sonhei que era poeta

Sonhei que era poeta, que acertava palavras umas depois das outras formando frases de sentir profundo, criando imagens de uma realidade sonhada e desejada.

As palavras saltitavam na minha mente procurando o lugar próprio na frase a que davam sentido, mas sentido poético.

E sonhei que da arrumação das frases surgiram poemas autêntica homenagem ao corpo de mulher, ao corpo de uma bela mulher.

E para que tudo resultasse perfeito constituíram o número mágico de SETE, de sete poemas. Os olhos, o cabelo, os lábios e os seios. Depois o umbigo, as nádegas e as coxas. Sete poemas de muito encantar, aquém da beleza da mulher sonhada, num sonho as mais das vezes impossível de dominar.

Voar com o sonho e tentar recordar para que o registo tenha lugar e sentido, mantendo perene o que tão fugaz nasceu.

Guardar na memória o percurso infindável por terras e mares, por sentires e quereres, sem idioma nem bandeira.



Os Seios

Cachos de uva branca, doirada, de tão grande doçura,
Que nascem em teus ombros tão suaves e macios,
São frutos maduros que uma paixão sincera e pura
Deseja colher apreciar amar em lascivos desvarios.

A magia da Natureza esculpiu tamanha obra de arte,
Que representa as mais belas colinas do Universo,
Nelas se espraia a luminosidade do sol de Gaudi que parte
Com destino à sensualidade da mulher que eu verso.

Se flores houvesse que tanta beleza nos oferecessem,
Rosas negras, mamilos de tons que na paleta estão perdidos,
Que o desejo e o muito querer animam e florescem
Para delírio de nossos olhos e de todos os sentidos.

Na praia seriam doiradas dunas, sensuais no sentir,
Onde o mar se espraia e vem beijar com ternura sem fim,
Excitando os amantes que encontram aí o devir
Mesmo quando o pensar diz não, o coração diz sim..

Seios, belos seios de mulher apontam o infinito,
Magníficos de desejo, sensualidade e delicioso sabor,
Que de tão perfeitos, esculpidos por artista que é um mito
Criado pela alegria de viver que nos enchem de amor.

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terça-feira, fevereiro 02, 2010

tulipa de paixão

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pôr-do-sol na arriba fóssil

Quem, ao entardecer, se debruçar num dos diversos miradouros que existem na Arriba Fóssil da Costa de Caparica ou se abeira da arriba que mergulha nas doiradas areias que constituem o grande areal da margem Sul, pode ter a felicidade de observar um inesquecível pôr-do-sol.

Quando o Sol, no seu diário movimento, mergulha com doçura no Oceano, lá bem longe na linha do horizonte, vai criando uma mudança ímpar na paleta das cores da Natureza. Do azul, como só existe no céu da Caparica, passando por vermelhos que são tonalidades diversas do fogo, escurecendo até quase ao negro para depois, numa reviravolta na paleta das cores, fulgir em doirados únicos e maravilhosos.




Os pescadores usam dizer que “os caranguejos puxam o Sol para o mar”.

Sugiro uma ida até à arriba sobranceira à Fonte da Telha, ali para os lados onde se diz terem existido minas do áureo metal, para admirarem a mais bela imagem do pôr-do-sol esplendoroso com os pinheiros mansos em contraluz.

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segunda-feira, fevereiro 01, 2010

flores singelas

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os nomes que lhes dão

Quando, em meados dos anos 60 do século passado, nos deslocávamos para sul da praia da Costa de Caparica, que à época muita gente designava por Praia do Sol, designação que tem vindo a ser esquecida pelos milhares de pessoas que anualmente a utilizam como zona de veraneio, alguns quilómetros andados por piso asfaltado e de súbito, cerca da cortada para a Praia do Rei, aí tínhamos estrada de terra batida, estrada de macadame.

Subida íngreme que vinha cruzar com a então designada “estrada militar” e a que os populares chamavam “descida das vacas” designação que ganhou raízes, foi oficializada, fazendo hoje parte das designações encontradas na cartografia mais pormenorizada. Mas também muito perto está uma vereda a que chamam o “caminho das figueiras” e mais além o local conhecido por “mina”, de uma mina de oiro, “Adiça” já referenciada no tempo do Império Romano.

É curioso de analisar o facto de que as gentes davam nomes a sítios e coisas de uma forma sentida e forte, telúrica mesmo, coisas que a terra continha, que nasciam da terra, que viviam da terra, enriquecendo-a. Quantos milhares de vacas não terão descido (e mais difícil, subido) por aquela íngreme ladeira até delas recolher o nome? Era pura transumância de gado e gentes na procura de alimento e de algum rendimento.

Uma ligação estreita entre as gentes que trabalhavam os campos, agricultores, pastores, proprietários, rendeiros e aqueles que diariamente se afoitavam mar adentro nas artes piscatórias que haviam para aqui trazido de regiões do norte, como Ílhavo, por exemplo, ou do sul, das costas algarvias e do sudoeste alentejano.

Estes caminhos foram estradas romanas, quando os imperiais invasores se deslocavam para a pesca e para a exploração das minas auríferas; Foram caminhos reais, D. João V mandou plantar pinheiros mansos na zona dos medos de forma a segurar as areias e D. João VI percorreu estes caminhos nas suas caçadas e para degustar uma saborosa caldeirada; Foram caminhos de peregrinos que anualmente os percorriam integrados nos Círios a Nossa Senhora do Cabo Espichel, que se realizavam no promontório barbárico.

São caminhos da tradição, são rotas do nosso imaginário cultural.

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