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sábado, abril 30, 2005

mil olhos

Já dediquei uma entrada na Oficina ao memorial erigido junto ao Convento dos Capuchos, em Almada, em honra do poeta chileno Pablo Neruda. Na altura escrevi sobre o sentir que esse monumento colocado na linha nascente/poente e sobranceiro ao mar em mim provoca. Faltava-me a respectiva memória descritiva que agora aqui recupero.

O memorial é constituído por dois elementos verticais, paralelos e separados, simbolizando um livro aberto, através do qual se pode admirar o mar, esse elemento que tanto inspirou o poeta e que aqui se apresenta em tons de azul únicos.



Suspensos entre as duas folhas do livro estão centenas de olhos, “mil olhos”, que fitam o observador, numa clara alusão à importância que as gentes tem na obra de Pablo Neruda. Dalguns dos “olhos” escorrem lágrimas, representadas escultoricamente por correntes.

O escultor José Aurélio, autor desta obra comenta: “A inspiração do mar, que se avista entre as colunas da escultura, a ternura dos olhos que fitam o observador, a permanência das lágrimas que caiem destes e de outros olhos, porque alguns dos problemas contra os quais lutou Neruda ainda persistem, são muitas as mensagens que nos ligam ao poeta chileno”.

Do lado esquerdo do monumento destaca-se uma peça de cobre com a cara do Nobel da Literatura de 1971. No lado direito do memorial lê-se uma frase construída a partir de enxertos de Pablo Neruda: “Quem fui? O que somos? Não há respostas. Passámos, não fomos. Éramos. Outros pés, outras mãos, outros olhos. Mas aprendi muito mais com a maré das vidas, com a ternura vista em milhares de olhos que me viam ao mesmo tempo”.



Mil olhos!

sexta-feira, abril 29, 2005

amor e paixão


oficina das ideias em 1882

Quando o carteiro chegou a Vale do Rosal trazendo consigo uma encomenda vinda do Brasil, trouxe também uma fantástica luminosidade. A minha querida amiga Cathy, do Bailar das Letras, havia-me enviado poucos dias antes uma maravilhosa prenda. Os serviços de correio foram expeditos. Comigo o livro “Melhores Contos”, de Machado de Assis.

Da dedicatória que não transcrevo na íntegra, por pessoal que é, mas destaco uma passagem relevante para o conteúdo deste texto: “...este presente que se faz especial pela referência ao seu Oficina das Ideias... “. Fui ler algo que a Cathy já me havia referido... e que agora transcrevo:

“...O passeio nas ruas, mormente nas de recreio e parada é utilíssimo, com a condição de não andares desacompanhado, porque a solidão é oficina de ideias, e o espírito deixado a si mesmo, embora no meio da multidão, pode adquirir uma tal ou qual actividade...”

Que inspiração, que “pai de santo” desceu sobre mim para, desconhecendo até há pouco este texto embora publicado em 1882, nele encontrei apadrinhamento para o nome deste blogue de todos nós. O texto referenciado faz parte do conto Teoria do Medalhão, publicado em 1882 na compilação feita pela Editora Lombaerts & Cia., do Rio de Janeiro e designada Papeis Avulsos.

Obrigado querida Cathy por esta partilha de cultura em prol de um maior estreitamento entre os sentires do Brasil e de Portugal.

MC Melhores Contos, de Machado de Assis, selecção de Domício Proença Filho, 300 pgs
Editora: Global Editora e Distribuidora, São Paulo – SP, 15ª edição, 2004
CDD-869-9308, Colectâneas, Contos, Literatura Brasileira

quinta-feira, abril 28, 2005

esplendor


cuidado com o seu bolso

A “coisa” passou-se de forma tão sub-reptícia que nem eu próprio me apercebi do acontecido na altura. Os órgãos da comunicação social sempre tão atentos a movimentos suspeitos de gente suspeita nada registaram. Mas não há qualquer dúvida de que o funesto acontecimento teve lugar.

Um número ainda hoje por determinar de perigosos ladrões evadiu-se de um estabelecimento prisional de alta segurança sem deixar rasto. Na calada da noite ou em plena luz do Sol, quem sabe?, puseram-se a monte acoitados por protecção do exterior.

Transformaram o seu visual e modificaram a forma de falar, que de gutural e bruta passou a ser suave e melodiosa. Ganharam maneiras e passaram a ser citados nas revistas cor-de-rosa. Aprenderam a linguagem do Povo e com este se misturaram nas praças e nos mercados.

Ganharam a confiança do Povo português e ganharam muito mais coisas. Mantiveram-se tranquilamente nos postos e posições onde foram sendo colocados e onde, eles próprios, se colocaram. Colocaram muitos amigos em posições importantes e o tempo foi passando.

Um dia o Povo, absorto em tantos acontecimentos estranhos que aconteciam à sua volta, privatizações, desemprego, falências, pedofilia, apercebeu-se que haviam desaparecido dois ou três euros que tinha no fundo do bolso. Havia sido roubado.

Daí para a frente os euros do Povo desapareciam mal ele se distraía. Os ladrões andavam à solta de novo, bem vestidos e bem falantes, mas ladrões. Roubaram o emprego ao Povo. Roubaram a saúde ao Povo. Roubaram a escola ao Povo. Segurança quanto menos melhor para que os ladrões actuassem sem entraves. É fartar a vilanagem...

Tempos passados... a situação ter-se-á modificado?

quarta-feira, abril 27, 2005

rosa vermelha paixão


tatiana

Sabem que a vodka ucraniana feita de grãos de trigo é muito boa?, Charlotte a Bomba Inteligente deu o mote...

A Tatiana veio para Portugal há já alguns anos, casou e já teve um rebento em terras lusas. Veio das terras da Ucrânia, assim como o seu marido. estão perfeitamente integrados, falam correctamente o português, têm o seu emprego.

Sentem-se felizes em Portugal, embora tenham muitas saudades dos entes queridos que deixaram nas terras do longe, pais, irmãos...

Nascidos na então União Soviética, no país da Ucrânia, não resisti um dia em fazer-lhe uma pergunta que há muito trazia no meu espirito: "Na tua terra são mais felizes agora ou nos tempos da União Soviética?" "Aqui somos muito felizes mas na nossa terra éramos muito mais felizes, vivíamos melhor no tempo da União Soviética"

"Havia trabalho, as gentes eram naturalmente alegres, o ordenado de minha mãe era suficiente para a família, pais e três irmãos, viverem bem. O ordenado do meu pai era para amealhar". "A minha irmã é contabilista num banco, tem um bom emprego, ganha o equivalente a 50 euros".

A Tatiana está em Portugal empregada numa pastelaria. É empregada de balcão. É feliz. Conclui... "Eu também tenho estudos..."

terça-feira, abril 26, 2005

amores perfeitos amizade eterna


uma "kodak" muito especial

Em cima da minha mesa de trabalho tenho o “Magazine Bertrand, leitura para todos”, referente ao primeiro semestre do ano de 1930, uma “relíquia” encadernada que mão amiga me ofereceu, e que vou desfolhando com o prazer de rever a cultura de 75 anos atrás.

Na página 3 do exemplar de Junho de 1930 um anúncio publicitário chamou a minha atenção...

“Para vossa comodidade...
Para vossa comodidade, é fabricado o “Kodak” Vest Pocket, cuja popularidade abrange todo o mundo, preferido por aqueles que desejam um aparelho simples, leve sólido e de reduzidas dimensões, mas cujos resultados igualam os dos outros modelos de maior formato”

A “Kodak” tinha tamanha preponderância nesta época no mercado fotográfico que o próprio equipamento, a partir de certa altura, independentemente da marca, passou a ser designado por “kodak”. De substantivo próprio pela generalização e popularidade da utilização passou a substantivo comum.

O citado anúncio publicitário, com muito mais pormenores técnicos e de apelo à compra, como era apanágio nos anos 30 do século passado era também acompanhado por uma apelativa imagem.

Curiosamente no meu espólio de “velharias” encontra-se um desses aparelhos fotográficos. Aqui se publica a imagem que documenta esta curiosidade.


segunda-feira, abril 25, 2005

25 de abril, sempre!


abril solidário

Como uma amiga minha muito bem observou “por dever do cargo” mas, igualmente, por sentir e desejar viva a chama que tem mantido a esperança todos estes anos, estive presente logo pela manhã, como tem acontecido em anos anteriores, nas cerimónias oficiais das comemorações locais do 25 de Abril.

O programa é o do costume. Desfile das colectividades e outros tipos de associações, das bandas filarmónicas e dos ranchos folclóricos, dos bombeiros voluntários e outras “forças vivas” da cidade. Solta de pombos correios e de coloridos balões.

E a população. Os mais velhos, a juventude mas, da mesma forma, a criançada se fazem presentes nesta festa que é do Povo e que festeja a força que o Povo teve para tomar em suas mãos a dádiva de Liberdade dos militares de Abril.

Depois os discursos. Do representante dos autarcas. Um membro da associação 25 de Abril. A Presidente da Câmara Municipal. São discursos sentidos, mas previsíveis no seu conteúdo. Alteram-se, de ano para ano, somente fruto da situação social, económica e política do momento.

Contudo, cada ano que passa existem realmente diferenças, mais ou menos visíveis, mas de relevância para a vida da Cidade. Olhemos, então, atentamente para as pessoas que connosco partilham este espaço de convívio. Olhemos atentamente os mais pequenos, de tenra idade, que acompanham os pais nesta festa e celebração.

Crianças de várias tonalidades de pele, outros de aparência eslava, muitos com a alegria dos trópicos, alguns de olhitos em bico. É a multiracialidade que se expande na cidade e seus arrabaldes. Todos filhos de Almada. Estamos sem dúvida mais ricos neste Abril dos 31 anos da Liberdade.

domingo, abril 24, 2005

lua de abril


recordando

Como uma revista muda de nome ou a multa perdoada

Tínhamos nessa noite decidido ir ao teatro. A escolha recaiu na revista “Ver, ouvir e calar” em cena num dos teatros do Parque Mayer. Como habitualmente comprámos bilhetes para a segunda sessão que teria lugar lá pelas 23:30. Fomos jantar antes de nos dirigirmos para o teatro, mesmo assim, pouco passava das 22 horas quando chegámos às imediações do Parque Mayer.

Os lugares de estacionamento estavam completamente ocupados, pois as primeiras sessões dos teatros ainda não haviam terminado. Assim, decidimos parquear o carro em cima do passeio separador entre a faixa central e a lateral descendente da Avenida da Liberdade. Para “fazer horas” fomos caminhar Avenida abaixo, Avenida acima.

Nas semanas anteriores, muitos rumores circulavam em determinados meios acerca do facto de que algo se estaria a preparar em termos político/militar no sentido de se modificar algo na situação política vigente. Sempre que ao fim da tarde passava pela Livraria Opinião, para dois dedos de cavaqueira, esse tema era recorrente.

Nada fazia supor, contudo, que algo estivesse eminente. A noite mostrava-se calma, até em termos climatéricos, pelo que fomos tranquilamente assistir ao espectáculo que muito nos divertiu. O divertimento não foi o mesmo à saída, pois no vidro do carro encontrava-se um papelinho, multa por estacionamento proibido. Fora colocado já depois da meia-noite pelo que estava datado de 25 de Abril de 1974.

Depois da saída do teatro cerca das 2 horas da madrugada ainda fomos “beber um copo” ao Convés, hoje substituído por um restaurante brasileiro e onde após os espectáculos os artistas e alguns espectadores mais noctívagos conviviam um pouco. Depois, o regresso a “penates”.

No regresso, porque calhava em caminho, passámos à porta do antigo Rádio Clube Português.

Poucas horas depois sou despertado pelo tocar do telefone. Em marcha estava o que viria a ser o glorioso 25 de Abril. A revista que fôramos ver mudou de nome. Passou, a partir desse dia a chamar-se “Ver, ouvir e falar”. Da multa por estacionamento proibido não mais ouvi falar.

sábado, abril 23, 2005

estames de amarelo em vermelho


uma rosa e um livro

Nas Ramblas de Barcelona perco meus passos e esqueço o tempo que passa num caminhar sem pressas, respirando odores esquisitos de Primavera, observando as +pessoas com quem cruzo e aquelas, que sentadas nas cadeiras que o ayuntamiento aí colocou para o efeito e se deixam calmamente “estar” apreciando o movimento intenso dos passantes.

Hoje é, contudo, um dia muito especial. Celebra-se o dia de Sant Jordi, o nosso São Jorge do castelo e dos dragões, que na Catalunya é tradicionalmente o dia em que os homens oferecem à sua mulher amada uma rosa. Tradição entre os namorados, o tempo tornou-a extensiva às filhas. às avós e às colegas. E, muito em especial, às amigas de verdade.

As mulheres, contempladas com tão bela e ternurenta oferta, elas próprias maravilhosas rosas de um jardim imaginário, retribuem e rosa recebida com a oferta de um livro. Sensibilidade e cultura de mãos dadas. O afecto na sua melhor expressão.

Hoje é o verdadeiro Dia dos Namorados, no seu mais amplo significado de “todos que se querem bem”, que nada tem a ver com o 14 de Fevereiro, importado dos Estados Unidos como grande operação de consumismo.

Aqui deixo uma rosa muito especial. Uma ROSA e um BEIJINHO.


sexta-feira, abril 22, 2005

uma flor para o... ricardo


ter felicidade é ver o filho feliz

espaço de poetar

Não sou poeta inspirado nem sequer sei construir rimas de maravilhar. Juntando algumas palavras, dando-lhe algum sentido procuro nelas o encantamento. Perdoem a ousadia, mas cá vou eu poetar.


Deixar fluir o pensamento

Numa alva folha de papel descrevi o meu sentir
Como quem traça uma linha de imaginação desenhada
Na leitura do passado, do presente, do devir
Depois dos medos, mostrar a tranquilidade encontrada.

Neste profundo sentir que vai muito além do horizonte
Procurar a luz que se opõe a tenebroso pensamento
É ânimo tão fecundo como a cristalina água de uma fonte
Em que mergulham raízes de esperança e de alento.

A força do nosso querer tem por limite o infinito
Na procura da verdade, do que neste mundo determina
O caminho a seguir sem tibiezas tal como está escrito
No rumo certo dos afectos que o espírito nos ilumina.

Quando ao virar da curva do caminho ensombrado
Deparamos com a luminosa imagem de encantamento
Atingimos o êxtase, o oásis há muito procurado
Tranquilos deixamos fluir o nosso doce pensamento.

quinta-feira, abril 21, 2005

ano do galo, trará esperança?


que a China subscreva o Protocolo de Quioto para bem do Universo

estamos com o isidoro de manchede

No dia 19 de Dezembro do ano passado escrevia eu aqui na Oficina:

“Lá nos fomos animando com as entradas onde não faltaram a manteiga de vaca, o azeite aromático, a cabeça de xara de porco, tapas de toucinho com alho, farinheira frita... Recomendado o Monte do Pintor 2001, tinto alentejano, foi aprovado e servido profusamente. A cor de rubi – Ao olfacto respondeu com frutos vermelhos e um pouco de madeira – Ao paladar disse presente com a madeira apropriada, cheio de boca e a permanência adequada. Boa escolha, para vinho recomendado pela “casa”. Quanto aos pratos principais caracterizaram-se, não só pela qualidade da cuidadosa confecção como, especialmente, por apresentar traços de tradição que nem mesmo os restaurantes ditos “alentejanos” respeitam. Aqui podem ser degustados pratos que em nenhum outro restaurante se encontram.”

Claro que me estava a referir ao almoço/convívio, melhor dizendo, ao convívio/almoço com que dias antes nos tínhamos maravilhado no Sulitânia, uma taberna a preceito mantida pelo taberneiro Isidoro, no Vimieiro, nas terras da Infanta Planura.

Agora chega a notícia, o desabafo, a preocupação do querido amigo Isidoro, que no Alentejanando nos habituou a excelentes leituras:

“É verdade, mesmo verdade verdadinha que a verve para a tecla se desvaneceu enfraquecida pela crueza do deve ser superior ao haver, dia após dia, na contabilidade taberneira. Coisas que só acontecem aos taberneiros que às leis do mercado e das suas cíclicas e anunciadas crises preferem a poesia do tinto e dos rabinhos de porco com grão. Coisas de taberneiro naif. Coisas que só acontecem aos taberneiros que teimam que o Alentejo não deixa de ser Alentejo, nem o é menos – antes pelo contrário – se trajar a modernidade a que também tem direito.”

O pessoal da Oficina está de “alma e coração” com o Amigo Isidoro, de Machede para ser mais preciso:

“_Querido Amigo. Foi como um murro no estômago recebido cá pelo pessoal da Oficina. Tem que haver ainda espaço para o sonho e a Sulitânia ficou gravada para sempre no imaginário de todos nós. Em que é que este pessoal aqui da Oficina habituado a "vergar a mola" poderá ser útil? Força querido amigo, estamos em época de continuar a sonhar e a esperança é imperioso que se mantenha. Um abraço amigo.”

E prontos para a acção!!!


quarta-feira, abril 20, 2005

corrente de literatura

Já há tempos que anda a circular na blogoesfera, mas ainda não havia chegado à Oficina. Chegou pela mão amiga do meu Compadre Fernando, que emana toneladas de Fraternidade. Teve a gentileza de escrever ao escolher a Oficina das Ideias: “Ao Victor da Oficina das Ideias, meu estimado Amigo e Compadre. Mestre, entre outras coisas, na Arte das imagens”.

Em tempo... Também a minha doce amiga Lualil, do Traduzir-se..., de tantos voos e tantos sonhos, de afectos e cumplicidades sem fim, tinha a intenção de me enviar este mesmo convite. Assumo como tal, e aceito com prazer.

Eu que não sou assíduo subscritor de “correntes” abri a excepção que o respeito e o carinho que tenho pelo Fernando me merecem e, pelas mesmas razões relativamente à Lualil. Aqui ficam as minhas modestas respostas.

Não podendo sair do Fahrenheit 451, que livro quererias ser?
Julgo que esta questão tenha perdido o seu sentido original, dificultando uma resposta objectiva. Tentando entrar, e adivinhar esse original sentido, responderia que gostaria de ser Os Relógios de Einstein e os Mapas de Poincaré, de Peter Galison. Talvez porque “o tempo que passa” é algo que sempre me encanta e tem sido motivo inspirador de muitos dos meus escritos.

Já alguma vez ficaste apanhadinha(o) por um personagem de ficção?
Tal nunca me aconteceu. O contrário é uma realidade quando o personagem “Fotógrafo” apanhou uma fatia da minha personalidade, sem contudo envolver qualquer aspecto autobiográfico.

Qual foi o último livro que compraste?
O Farol do Fim do Mundo, texto inédito de Julio Verne, edição de Notícias Editorial – Trata-se da edição de um texto inédito, pois quando em 1905 este livro foi editado pela primeira vez e postumamente ao falecimento do autor, sofre grandes modificações introduzidas pelo filho do autor.

Qual o último livro que leste?
Anjos e Demónios, de Dan Brown, edição da Bertrand Editora – Leitura realmente actual pois coincidiu com a morte de um Papa e a eleição do seu sucessor. Este livro, que no tempo da Inquisição teria lugar garantido no Index, foi severamente criticado pelo Vaticano pouco antes da morte do Papa, e traça “os quês e os porquês” da escolha de um Papa.

Que livros estás a ler?
Convoquem a Alma, de Fernando Carvalho Rodrigues, edição de Publicações Europa-América – De uma forma simples (?), partindo de conceitos muito triviais “do Nada”, “do Ter”, “a Tempo”, passando pela “janela da prima Sara” (todos temos uma prima...) o autor leva-nos às mais profundas definições da física, da astrofísica, da física quântica e da engenharia.

Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
Sete Palmos de Terra e um Caixão, de Josué de Castro, edição Seara Nova – Um ensaio sobre o nordeste do Brasil, uma área explosiva. O autor debruça-se sobre os problemas sociais e políticos de uma zona onde a fome impera. Muito antes dos recursos turísticos passarem a ser explorados o dia-a-dia do nordestino era partilhado com a seca e os problemas alimentares.

A Caverna, de José Saramago, edição Caminho – Além de ser saramaguiano convicto, destaco esta obra pelo trama criado, o final algo inesperado e, além do mais, pela génese ou chispa inspiradora que esteve na sua origem, a falta de humanidade existentes nos grandes espaços comerciais. Quem sabe se a caverna não será o Centro Comercial Colombo? Ou o local em que cada um de nós se encontra encerrado e onde é violentado.

Os Subterrâneos da Liberdade, de Jorge Amado, Edição Martins – Trilogia constituída por “Os Ásperos Tempos”, “Agonia da Noite” e “A Luz no Túnel” em que o autor procura traçar o panorama da vida política brasileira nos anos do Estado Novo. A mão na consciência de um Povo que tem escrito ainda virá a ser o farol do Mundo.

O Prémio, de Irving Wallace, edição Clássica Editora – O autor põe a descoberto os interesses e pressões políticas que levam à atribuição anual dos Prémio Nobel. Simultaneamente ficciona a vida desregrada, mesmo amoral, de muitos dos contemplados que apresentam uma imagem pública impecável. Contudo, estão sujeitos a chantagens que podem por em causa a própria atribuição do “Prémio”.

A Donzela do Nevoeiro, de Walter Scot, edição Romano Torres – Talvez o primeiro livro “sem bonecos” que eu li e que me entusiasmou na leitura. Histórias misteriosas passadas nas terras da Escócia, nos castelos encantados envolvidos em brumas e segredos. É uma edição de 1960.

A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?
Ao meu querido amigo Pedro, do Sintra-Gare, responsável primeiro pela existência da Oficina das Ideias, ainda na forma de “cadernos pretos” da Âmbar. Amigo do coração, homem justo, marido e pai extremoso. Um Homem completo, que além do mais é apreciador de “um com gelo” no British Bar.

Á doce Cathy, do Bailar das Letras, amiga do coração, cúmplice nos bailados das letras, das palavras e das frases e, muito em especial, dos conceitos. Companheira na luta sem quartel na defesa da língua portuguesa e da criação “daquela” ponte entre o Brasil e Portugal, onde transitem livremente a cultura e os afectos.

terça-feira, abril 19, 2005

cinco pétalas de perfeição


einstein

_Olha o Einstein! Olha o Einstein!
Assim se pronunciava a miudagem da Escola Secundária quando eu chegava no meu carro para ir buscar a netinha. Não seria certamente um preito à minha inteligência, antes a ironia irreverente relativamente aos meus cabelos brancos, compridos, eriçados e desgrenhados.

Curiosamente, Einstein foi desde sempre um a das minhas referências, eu que tão arredio sou das coisas da Física, mas foi meu farol da capacidade de inovação, da produção de ideias, do avançar do saber. Além do mais, Albert Einstein notabilizou-se como homem de partilha. Seria um “operário” com lugar cativo na Oficina das Ideias.

Há pouco mais de um mês, cem anos atrás, Einstein com 26 anos de idade iniciava a publicação de trabalhos que em catadupa, qual ano mirabilis como foi designado, conduziriam a tão celebrada Teoria da Relatividade.

Homem de saber, inteligência privilegiada, consubstanciou um enorme número de descobertas científicas revolucionárias que puseram em causa todas as bases da física clássica, que vinham sendo sedimentadas há mais de duzentos anos a partir das teorias newtonianas.

Se o ano de 1905 foi considerado com toda a propriedade o “ano milagroso da física”, não é menos significativa a homenagem feita a Einstein pela UNESCO ao considerar 2005, Ano Internacional da Física, quando se comemora o centenário dos primeiros trabalhos de Einstein sobre a Teoria da Relatividade e o cinquentenário da morte deste extraordinário cientista.

segunda-feira, abril 18, 2005

uma flor para a... montse


Parabéns minha querida "Sol de Gaudi"

cabo espichel, o meu sítio

O promontório do Espichel, áspero e com arribas a caírem abruptamente para o mar, recebe-nos com convite para práticas esotéricas. O ambiente é misterioso e fantástico. O mar um dos mais perigosos da costa portuguesa onde a navegação é muito difícil. O Santuário de Nossa Senhora da Pedra Mua, a Casa dos Círios e o Cruzeiro acolhem-nos na sua grandiosidade.

Desde há anos na espera da merecida recuperação arquitectónica, este conjunto monumental tem vindo a degradar-se com o passar do tempo. O facto desta zona ser gerida por diversas entidades públicas e religiosas que não têm encontrado uma forma de entendimento tem obstado à sua recuperação.

Fazendo parte integrante deste conjunto arquitectónico, que já foi sítio de peregrinação e de culto, encontramos a Nascente a Casa da Agua, edificação de forma hexagonal, e o aqueduto que transportava água para o local desde Azóia, a uma distância de dois quilómetros.

Nos campos da Azoia pratica-se, ainda nos dias correntes, a pastorícia de gado ovino. Como complemento a esta actividade são produzidos nas terras da Azoia deliciosos queijos de ovelha, frescos, de cura e de meia cura. Estes últimos adequados a serem comidos à colher acompanhados de um vinho tinto Pasmados, de José Maria da Fonseca.

Junto à arriba, na vertical da Praia do Cavalo, encontramos a Ermida da Memória mandada erigir para celebrar o aparecimento em 1410 de Nossa Senhora do Cabo a um homem de Alcabideche e a uma mulher da Caparica chamados ao local por sonhos coincidentes.

O velho de Alcabideche
E a velha da Caparica
Foram à Rocha do Cabo
Acharam prenda tão rica.


O Dia Internacional dos Monumentos e Sítios foi criado em 18 de Abril de 1982 pelo Conselho Internacional dos Monumentos e Sítios e aprovado pela UNESCO.

domingo, abril 17, 2005

flor do paraíso


conhecimento é poder, informação não

O Conhecimento é Poder, a Informação não. É como o cascalho que um garimpeiro precisa de crivar para descobrir as pepitas de oiro. O “síndroma da fadiga informativa” (David Lewis) conjuga os sintomas de fadiga por saturação informativa (fadiga, dores de estômago, perda de visão).

Nos últimos trinta anos produziu-se mais informação nova do que nos cinco mil anos anteriores. Contudo, o crescimento do Conhecimento não tem sido proporcional e muito menos a capacidade de gerar novas ideias.

Inclusive, existe Conhecimento que se tem perdido na voracidade dos tempos e na incapacidade do ser humano de fazer a correspondente retenção e partilha.

As aves cantam mais alto e melhore melodias incomparáveis, as flores mostram toda uma paleta de cores e a pujança da renovação, as andorinhas já há muito chegaram e constróem seus ninhos. O ser humano mantém-se no Inverno do seu sentir.

sábado, abril 16, 2005

catavento tradicional de galo


a margem sul do tejo

Porque o Tejo também é nosso, O Tejo tem duas margens, Quis o destino e os homens que a nossa margem esquerda do Tejo não fosse industrializada, Amplas charnecas, montados de sobreiros, frondosos e verdejante pinhal e uma orla marítima infinita de limpidez e cor sem igual, A margem esquerda do Tejo é um longo percurso para descobrir, Surpreendente a cada passo a cada virar de folha a cada subida a um morro a cada olhar na profundidade de um declive, A Mata dos Medos e o Pinhal d’El Rei, O doirado acacial e o manto muito azul deste mar tão belo, As terras e as gentes os usos e os costumes.

Almada beija ternamente o Tejo com quem desde há milhões de anos mantém uma doce cumplicidade, Aqui o contacto é mais íntimo, Almada permite que as águas se espraiem nas suas entranhas, Ali Almada torna-se altaneira mira o Tejo de cima mas vai-lhe piscando o olho numa sinalética que somente aos dois diz respeito, Que somente os dois a entendem, A aproximação a Almada vindos de Lisboa num cacilheiro que acaricia as águas do Tejo é um momento inolvidável, Calma tranquilidade transparência apetece respirar fundo encher o peito de um ar puro que Almada oferece a quem a visita, Cacilhas Ginjal Boca do Vento O Passeio Ribeirinho Elevador Panorâmico e muito em especial gente afável e hospitaleira que de forma incomparável souberam acolher reis e princesas em momentos em que Lisboa lhes foi agreste.

sexta-feira, abril 15, 2005

campainhas doiradas


espaço de poetar

Não sou poeta inspirado nem sequer sei construir rimas de maravilhar. Juntando algumas palavras, dando-lhe algum sentido procuro nelas o encantamento. Perdoem a ousadia, mas cá vou eu poetar.


Embriaguez

Já há muito os vapores do álcool
Invadiram minha mente.

O corpo pende sobre a mesa.

Os olhos fixam o infinito
Procuram lá longe onde o pensamento alcança
Aquela réstia cor de esperança
Aquele ser sem igual
Aquela sonhada menina
Corpo de mulher.

Mulher de gestos meigos
De falar onde a ternura comunica o íntimo sentir.

O sol radiosa luz de cor sem par
Desliza docemente por meu rosto
Marcado do sofrer
Do muito querer
Da vaga ilusão do amor.

Na luta contra si próprio
Contra o mundo
Que é preconceito
O amor é vencido
Vencido temporariamente
Porque no tempo, no provir
O muito querer que é por vezes solidão
Fortalece o íntimo do meu ser
Sentimentos, querer de total entrega.

Sonho...
... a doce menina
Que em meus braços sente terno enleio
Bater compassado de corações
Que o mesmo dizem
Que tudo transmitem
Do muito sentir
Será um dia... (quando?)
Quando for!
A meiga companheira.

quinta-feira, abril 14, 2005

uma flor para a... paulinha


parabéns minha querida amiga, muitas felicidades

abril é o mês do sonho

Abril pode ser considerado, sem favor, o mês do sonho. É o mês de Sebastião da Gama, poeta da Arrábida, nascido em 10 de Abril de 1924 em Vila Nogueira de Azeitão. Poesia foi toda a sua vida de professor honesto e com elevado sentido de justiça. Era humilde quando reconhecia seus erros, tinha um enorme sentido pedagógico.

O seu livro O Diário é um autêntico breviário do ensino que deveria servir de elemento obrigatório da formação de todo aquele que pretendesse abraçar a carreira de professor. A sua morte prematura deixou-nos com uma obra plena de promessas que infelizmente não conseguiu cumprir.

Pelo sonho é que vamos...”, um verso retirado do poema O Sonho de sua autoria é perfeitamente adequado aos tempos que passam. O sonho contraria o estado actual das coisas em que o mais importante para a maioria das pessoas é o individualismo, é a progressão pessoal à custa seja do que for, a troco de uma mão cheia de nada. A globalização dos sentimentos é já hoje uma realidade e alinha-se pelo nível mais baixo do sentir. O sonho de Sebastião da Gama faz muita falta.

Não fui aluno de Sebastião da Gama. Cheguei à escola onde ele leccionou, com os meus doze anos de idade, alguns anos após o seu falecimento. Contudo, tive aulas de português na sala onde ele tantas vezes partilhou o seu saber e o seu sentir. Na sala 20 respirava-se ainda toda a poesia que o professor sempre colocava em todas as suas lições.

quarta-feira, abril 13, 2005

sofisticada amiga


da sabedoria oriental

Mão amiga fez-me chegar esta história da tradicional sabedoria chinesa. Estou em crer que, andando por aí a circular na Internet, já será do conhecimento de muitos dos meus leitores. Contudo, porque encerra um profundo ensinamento tão necessário à nossa vivência colectiva, aqui fica transcrita.

“Um sujeito estava colocando flores no túmulo de um parente, quando vê um chinês colocando um prato de arroz na lápide ao lado. Ele vira-se para o chinês e pergunta:
_Desculpe, mas o senhor acha mesmo que o defunto virá comer o arroz?
E o chinês responde:
_Sim, quando o seu vier cheirar as flores!!!”

No respeito das opções alheias nunca deveríamos julgar os outros somente porque agem ou pensam de forma diferente da nossa.

Na vida de todos os dias deparamo-nos cada vez mais com falta de compreensão, onde nem sequer é feito um esforço para que essa compreensão ilumine o nosso caminhar. A compreensão, no entanto, é a fonte da tranquilidade e do afecto entre as pessoas.

terça-feira, abril 12, 2005

harmonia e tranquilidade


torre sineira de guadalupe

Singela no seu traço, algo abandonada no seu embelezamento, continua altiva em terras de Guadalupe, zona de forte esoterismo e onde bem perto se situam o menhir e o cromelec de Almendres. A igreja a que pertence esta torre sineira serve uma população de 500 habitantes na sua maioria sem fortes ligações religiosas mas muito sedentos de algum desenvolvimento, especialmente turístico, que a existência de importantes peças pré-históricas bem justifica.

As torres sineiras são testemunho e participantes activas nos mais importantes acontecimentos do lugar. Tocam a rebate para sublinhar eventos relevantes, festivos e da tradição. Tocam também para alertar o povo para situações nefastas, ameaças próximas ou, mesmo, quando um dos seus vai a sepultar.

Erguidas em direcção aos céus, disputam ao espírito alentejano a verticalidade do estar e do produzir. São marcos de uma história vivida, tal como a vida das gentes do Alentejo.


segunda-feira, abril 11, 2005

de rosa me vesti


um pouco de erotismo

Vestido bonito azul cor do mar, curto e ondulante, atrevido e sensual. De verdade, a sensualidade está no corpo de mulher que envolve, rosto e corpo angelicais, mas que resplandecem de beleza. Corpo que é doirada areia que deseja ser ternamente beijado pelo rolar do mar profundo, ali tão perto.

A cálida brisa mediterrânea, o lento espraiar do mar salgado exacerbam os sentidos e aumentam o erotismo. Meus olhos deliciam-se com umas belas pernas de mulher, imagem fugaz mas inesquecível.

Num requebro atrevido das ancas e num puxar da saia bem para cima, vi a maravilhosa curvatura de suas nádegas. Um afastar e aproximar constante, em passos reservados aos mais conceituados modelos, num tapa e destapa provocador, seu belo corpo desperta a minha imaginação para paraísos que pensava não existirem.

Pequena praia recanto do paraíso, mar muito azul e doiradas areias onde aquele belo corpo de mulher coberto somente por um vestido azul executa passos de dança carregadas de sensualidade e erotismo. Desejo tocar-lhe, desejo aproximar-me, desejo falar-lhe mas estou completamente paralisado com tamanho encantamento.

Ela muito excitada por se saber vista e apreciada não resiste. Sentou-se num tronco de árvore na praia abandonado, puxou o vestido azul bem para cima onde as belas coxas terminam e num cruzar e descruzar das pernas bem torneadas deixou antever o tosão doirado da sua bonita intimidade.

domingo, abril 10, 2005

esperança e paixão


chaminés alentejanas

Monsaraz vila sobranceira aos vastos campos do Alentejo premeia os seus visitantes com maravilhosas chaminés que aprendi a ver através dos trabalhos que "O Maltês", fotógrafo e amigo, connosco partilha. Chaminés que são autênticas vigilantes na escuta dos sons maravilhosos da planura sem fim e de onde emanam odores ímpares da cozinha alentejana na promessa de não menos agradáveis sabores.

Conjugam-se harmoniosamente materiais de origem e tempo tão diversos criando um ambiente único de beleza arquitectónica. Um cruzamento de épocas e de saberes que se concretiza numa chaminé simultaneamente simples e altaneira, autêntico mirante e vigia dos eternos e amplos campos alentejanos.

São a réplica do Povo às imponentes torres dos castelos obras de arquitectura militar aqui numa réplica tão popular. Delas saiem fumos e odores que dão à vastidão dos campos do Alentejo um delicioso bem estar. Odores de pão cozido que quando quente faz as delícias da pequenada e guardado nas arcas o amanho de quem cuida do lar e da família.


sábado, abril 09, 2005

os icons do convento dos capuchos

Dos jardins do Convento dos Capuchos a nossa vista deleita-se com o maravilhoso Atlântico de vastidão impressionante em todos os cambiantes do azul colorido. Do lado direito todo o romantismo da Serra de Sintra, onde se destingue com toda a nitidez o que já foi chamado “Palácio da Lua”. Do lado esquerdo, o atrevido promontório que culmina no farol do Cabo Espichel. Dentro dos jardins a imagem em relevo de Nossa Senhora da Boa Viagem.



O lago interior, espelho do azul celeste, abriga patos e gansos que com o seu grasnar animam aquele recanto do jardim. Um pórtico de azulejos tradicionais de azul cobalto representa uma outra imagem que encanta os visitantes. Uma frase lança o mistério mais condizente com este local de encantamento “Agora retiro de cuidados”. Dá vontade de por ali permanecer longos tempos.



A parte superior dos jardins é constituída por diversos espaços onde a arte de jardinagem desenhou belos canteiros que na Primavera se animam de formas e cores de belas flores. Por aqui e por ali, uma pequena estatueta, quiçá de um querubim, dá uma nota arquitectónica a este espaço de lazer que, dessa forma, se torna mais acolhedor.



Recentemente instalado, o Memorial a Pablo Neruda, poeta chileno da resistência, é já hoje um lugar de visita obrigatória por quem procura nos jardins do Convento dos Capuchos um espaço de cultura. Sobranceiro ao mar, esse mar que liga Almada a todo o Mundo, nos sentires e nos afectos, o Memorial é obra do escultor José Aurélio e expressa a forte ligação de Almada ao Chile da resistência.


sexta-feira, abril 08, 2005

gratos a todos que nos têm acompanhado


vinte um meses na blogoesfera

O mesmo é dizer, um ano e nove meses de presença continuada na blogoesfera, postando diariamente com a preocupação maior da partilha de afectos e de saberes. “Compartilha” como dizem os meus amigos Alfonsina e Ricardo, da Venezuela. Como compartilha que é, muitos afectos têm recebidos os operários desta Oficina. Nos momentos despreocupados mas, igualmente, nos tempos difíceis que sempre acontecem neste caminhar ao ritmo do tempo que passa.

Com quase 750 textos publicados e outras tantas fotografias originais, a Oficina das Ideias mantém desde a primeira hora o seu alojamento no servidor “Blogspot” com o recurso às ferramentas do “Blogger”. Tem sido uma parceria sem atribulações de maior, donde nos apraz registar um agradecimentos aos respectivos “webmasters”.

O contador de visitas está neste momento em 38.130 visitas o que não sendo nada de extraordinário para quase dois anos de permanência na blogoesfera, significa uma certa fidelização de visitantes. Os comentários têm vindo a reduzir-se significativamente (45 no último mês), o que nos leva a meditar sobre o real sentido que fazem esses comentários, ou melhor, a ausência deles. Não poderemos deixar de sublinhar o nosso reconhecimento a quem gasta um pouco do seu tempo comentando o conteúdo dos nossos posts e criando uma importante dimensão de interactividade.

Neste mês que passa na actividade da Oficina das Ideias não queremos deixar passar em claro o “fracasso” de uma iniciativa que apresentámos aos nossos leitores e amigos. Propusemos que “vivessem um pouco o encantamento das acácias em flor na Caparica” e que traduzissem essa vivência em textos e imagens com as quais pretendíamos levar a iniciativa mais além. A realidade dos factos é que nem sequer um comentário essa iniciativa mereceu.

Mas de êxitos e fracassos a vida é constituída pelo que seguiremos em frente...


QUADRO DE HONRA

Finuras, do Blogue do Cagalhoum
LuaLil, do Traduzir-se...
António Dias, do EmDirectoEACores
Gotinha, do BloGotinha
João, do Água Lisa
Francisco Nunes, do Planície Heróica
São, do EspectacologicaS
Cathy (Bailarina das Letras), do Bailar das Letras
MFC, do Pé de Meia...
Paulinha
Ivone

Dora, do Atrás da Porta
Moriana, do Moriana
Caterina, do Pelos Olhos de Caterina
Jacky, do Amorizade
Fernando, do Fraternidade
Eduardo, do Bloguices

A TODOS o muito obrigado do pessoal da Oficina das Ideias.

quinta-feira, abril 07, 2005

suavidade e delicadeza


brasil do meu contentamento

Os analistas políticos e económicos continuam a procurar, sabe-se lá com que desígnios, denegrir as decisões tomadas pelo governo brasileiro de Lula da Silva. Contudo, quando se procura concretizar as opiniões que esses analistas formulam, surgem as incoerências de discurso mal preparado.

Recentemente, o governo de Lula da Silva, através da intervenção do Ministro da Fazenda, António Palocci, não renovou o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI), mantendo até 2007 relacionamento institucional, visto ser nesta data que se concretiza o pagamento total da dívida do Brasil.

Mantendo-se o aperto fiscal e as metas da inflação, os analistas económicos questionaram maliciosamente “_Então o que mudou pelo facto de se livrar do FMI?”. Contudo, neste momento a dívida sobrante do Brasil ao FMI já está totalmente coberta pelas reservas do Banco Central em dólares, após a operação de compra em leilão por parte deste de cerca de 13 biliões de dólares.

O que é inegável e todos os analistas o reconhecem é que nos últimos dois anos a economia brasileira tornou-se muito menos vulnerável à conjuntura externa. Todos os indicadores apontam para um gigantesco superavit nas contas públicas brasileiras.

Como sabemos o Fundo Monetário Internacional, mais do que um instrumento de apoio aos países em dificuldade de desenvolvimento é uma importante ferramenta de estratégia do controlo político e económico por parte dos Estados Unidos ao seu modelo estrutural, sendo pesada para esses objectivos a saída do Brasil, hoje considerado um país incontornável relativamente ao desenvolvimento da América do Sul e do Mundo.

Numa altura em que no seio das Nações Unidas se coloca a hipótese de o Brasil passar a fazer parte do Conselho de Segurança como membro permanente, o Brasil é, como escreve António Mega Ferreira, “...um dos poucos países que pode falar de igual para igual com a administração norte americana... e essa é uma boa notícia pata o Mundo”.

quarta-feira, abril 06, 2005

leituras e audições

Procuraremos neste espaço dar nota semanalmente de um livro e de um CD que de alguma forma nos tenha sensibilizado. Poderá não ser uma novidade editorial, mas será com certeza ao nosso gosto.


Livro
O Farol do Fim do Mundo
Júlio Verne
Notícias, Março de 2005

Para lá da ponta da Terra do Fogo, “no fim do mundo”, onde cruzam as águas de dois oceanos, o Atlântico e o Pacífico, existe uma ilha onde um farol impede que os navios se despedacem nos recifes. Nessa região desabitada sobrevive um ando de piratas, ladrões de salvados, provocadores de naufrágios, assassinos sem contemplações, que assaltam as embarcações inóspitas daquelas ilhas, assim consta na banda da capa deste inédito de Júlio Verne, agora publicado em Portugal e que dá bem conta do contexto em que o trama se desenvolve.

Trata-se de uma obra póstuma de Júlio Verne que quando foi publicada em 1905, nove meses depois de ter falecido, foi segundo uma versão modificada pelo seu próprio filho. Agora recuperada a publicação da versão original, diga-se bem melhor do que a modificada, é publicada em Portugal em edição comemorativa do centenário da morte do autor.


CD
A Ópera Mágica do Cantor Maldito
Fausto
Editora: Columbia/Sony

Datado de 2003 reúne um conjunto de peças ímpares deste cantor do nosso imaginário da resistência e que agora nos brinda com palavras certas para belas melodias. Belos poemas ficcionam a vida de todos nós, muitas vezes com dificuldade para parar e meditar.

Meditações da vida, da vida de um cantor maldito.


terça-feira, abril 05, 2005

acacial de oiro


um café sem açúcar

O jantar estava aprazado para um restaurante campestre nos arredores de Ascot e a marcação havia sido feita com uma antecedência significativa, pois garantiram-nos ser muito difícil conseguir lugar se assim não fosse.

Ascot fazia parte do meu imaginário da vida da faustosa da sociedade tradicional britânica, com as célebres corridas de cavalos, senhoras de vestidos farfalhudos e amplos chapéus de abas e os cavalheiros vestidos com o rigor dos pares do Reino. Nunca me havia passado pela cabeça que o nosso amigo de Londres aí nos levasse a jantar.

O nosso grupo era constituído por quatro pessoas. Eu e um colega de emprego, convidados para esta viagem de trabalho a uma empresa dos arredores de Londres ligada às tecnologias emergentes. Um delegado dessa empresa em Portugal. E o nosso anfitrião, português, funcionário da referida empresa na sua sede dos arredores de Londres.

Sentimo-nos pequeninos quando uma enorme limousine nos veio buscar ao hotel e nos conduziu ao restaurante campestre nos arredores de Ascot. Quando chegámos ficámos mais tranquilos, ou talvez não. A nossa limousine seria a mais pequena de entre as que se encontravam estacionadas no parque do restaurante.

O restaurante era dirigido por uma esbelta filha de Albion, muito loira, com um corpo magnífico. O pessoal de serviço às mesas era totalmente feminino. A confirmação da marcação foi feita num enorme livro, forrado a coiro lavrado, onde lá estava registada a reserva para quatro pessoas. Qual não foi o meu espanto, ao levantar os olhos do livro, deparei na parede em frente com uma série de fotografias da proprietária do restaurante em trajes de caça e equitação. Mas com uma particularidade: estava completamente despida da cintura para cima evidenciando uns esplêndidos seios.

O jantar foi magnífico. As conversas em português animados, mais ainda sempre que a referida senhora se aproximava da nossa mesa muito bem vestida, mas fazendo trabalhar a nossa imaginação. Muito boa disposição foi a tónica do jantar.

A hora dos cafés foram pedidos quatro mais os respectivos digestivos. Os cafés foram servidos sem açúcar. Fizemos a natural reclamação e obtivemos uma resposta adequada, no mais correcto inglês. “Os portugueses têm fama de serem tão docinhos e querem açúcar para os cafés?”

segunda-feira, abril 04, 2005

sensualidade e candura


variação sobre a beleza

A minha querida amiga Cathy, do Bailar das Letras, escreveu um magnífico "Bailar em blue..." que aqui reproduzo em "negrito". Não resisti a uma modesta variação. Este foi o resultado:

Bailar em blue...
(o azul profundo do mar da Caparica)

A floresta encontrou o mar e o sol brilhou.
(Como brilham teus olhos no encantamento do sentir)
Não toque. É assustador.
(O troar do mar escutado cá em cima na arriba)
Sei esse medo como se sabe de existir.
(Nas profundezas dos oceanos monstros e sereias.)

Tua mão cabe na palma da minha,
(Num aconchego de ternura mas também de segurança)
mas tua dor não cabe no meu corpo inteiro.
(Mas meu olhar, é olhar de querer e esperança)

domingo, abril 03, 2005

sinfonia de cor e luz


corvídeos do pinhal

Dois vultos negros contrastam com o azul celeste da aurora, num voo suave ritmado com destino certo. Asas longas bem desenhadas com recortes característicos nas extremidades, contrapõe-se aos corpos esguios elegantes.

Vindos das matas do Pinhal do Rei e da Mata dos Medos, têm como destino uma zona de denso arvoredo, logo ali à beira dos areeiros do Cruzeiro.

Hoje são um par, um casal de família constituída. Amanhã voarão em trio, como acontece as mais das vezes, cujo sentido encontrei numa deliciosa crónica da autoria de Affonso Romano de Sant’Anna, no seu livro A Mulher Madura.

Entre os corvos que acontece uma relação triangular, pois quando se verifica a carência de macho, as fêmeas ritualizam entre si o acto do amor, cortejando-se e seduzindo-se mutuamente até que uma das fêmeas passa a exercer o papel masculino. Fruto desse amor a outra fêmea choca os ovos, que por serem estéreis não resultam. Mas o romance não termina aí. Quando surge o macho, mesmo que atrasado, e começa a namorar uma das fêmeas já em estado de acasalamento “homossexual”, não conseguirá desligar as duas amadas. Terá que compor com elas um menage à trois, tendo que cuidar das duas ninhadas.

O macho voou agora até ao ponto mais alto de Valle de Rosal, o telhado de uma casa construída num outeiro. Voo sem hesitação e ao pousar lançou um primeiro som forte, estridente, metálico. Este som, um chamamento matinal, serve para dar indicação à fêmea de onde se encontra. A sua posição sobranceira ao vale garante-lhe uma visão ampla e plena para toda a região.

Lá mais para a Primavera e mesmo em pleno Verão o trio formará a constituição do voo. Não resisto a uma saudação de amizade a estes amigos de longa data. Voltem sempre que adoro observar o vosso voo.

Nota: pela mão gentil da minha amiga Cathy, do Bailar das Letras, o livro de Affonso Sant’Anna veio enriquecer a minha biblioteca.

sábado, abril 02, 2005

pelo caminho das figueiras até à praia

Agora que os dias se apresentam luminosos e que, após as chuvadas de Março, a flora responde ao apelo da Natureza em todo o seu esplendor, venham caminhar comigo pelo Acacial da Caparica. Hoje, escolhemos o Caminho das Figueiras. Seguimos pela Descida das Vacas, mas em lugar de directamente caminharmos na direcção do mar, vamos cortar por uma vereda que à esquerda segue paralela à orla marítima.



Surpreendam-se com a variedade das espécies arbóreas que coabitam neste espaço tão amplo que se situa entre a Arriba Fóssil e o bonito mar da Caparica. Pinheiros, bravos e mansos, oliveiras, acácias e figueiras. Estas últimas que dão o nome ao caminho que vai até à praia e por onde seguimos. O manto doirado do acacial, esse prolonga-se até à orla marítima como querendo mergulhar no azul do mar.



O acacial está agora a ficar completamente florido. As condições climatéricas, especialmente, o tempo seco e frio de Fevereiro levou a que a cobertura doirada só esteja a atingir a sua plenitude em finais de Março, princípio de Abril. A beleza das flores leva-nos a trazer à memória a lenda da Capa-Rica, em que uma velha andrajosa havia guardado em sua capa muitas moedas de oiro, ou flores das acácias?



O percurso que estamos a fazer convosco segue pelo chamado Caminho das Figueiras pois é uma vereda bordejada por muitas figueiras que na época da frutificação fazem as delícias dos caminhantes. Não se sabe bem a origem da existência de tantas figueiras embora estes terrenos, agora sob a custódia da entidade marítima, já tenham feito parte de quintas reais, como provam alguns marcos ainda existentes.



Este caminho é protegido a nascente pelas monumentais arribas fósseis, testemunho de caminhos que o mar tomou há muitos milhares de anos, em diversos tons de ocre que completam magnífica paisagem natural de grande encantamento. Por aqui nidificam os pombos das rochas e, muito em especial, os corvídeos do Pinhal do Rei. Cujos voos e guinchos cortam a profunda tranquilidade local.


sexta-feira, abril 01, 2005

delicadeza e sensibilidade


em março de 2005 a oficina das ideias publicou:

Textos
Dia 1 – Em Fevereiro de 2005 a Oficina das Ideias publicou
Dia 2 – [leituras e audições]
Dia 3 – As Mulheres de Barcelona
Dia 4 – No café; Um miminho da Querida Jacky
Dia 5 – O chamamento das Runas
Dia 6 – Sete, um número mágico
Dia 7 – Fim de tarde à beira da piscina [um pouco de erotismo]
Dia 8 – Mulher-mãe, mulher-companheira; Ainda e sempre... o Sete
Dia 9 – Vinte meses na Blogoesfera
Dia 10 – Chegaram as andorinhas a Valle do Rosal
Dia 11 – Olhos Castanhos [espaço de poetar]
Dia 12 – Comentários respondidos
Dia 13 – Venham ver as acácias em flor
Dia 14 – A “papoila” que não é papoila
Dia 15 – Estamos em época de “pedir desculpas” [a minha opinião]
Dia 16 – Um pedaço de papel
Dia 17 – [leituras e audições]
Dia 18 – Um belo sonho [espaço de poetar]
Dia 19 – Neruda, Praia do Sol, Recife
Dia 20 – Hoje a noite e o dia são iguais
Dia 21 – Poesia da Vida
Dia 22 – Água, esse bem precioso
Dia 23 – Viagem do Açúcar [notas de coleccionismo]
Dia 24 – Júlio Verne; Uma noite de malandros
Dia 25 - Encantamento [espaço de poetar]
Dia 26 – Memorial a Pablo Neruda
Dia 27 – Novos apontadores de leitura
Dia 28 – Nocturnos sentires
Dia 29 – Signos e sinais
Dia 30 - [leituras e audições]
Doa 31 – Coisas de amor

Uma flor para...
Dia 4 - ... a Yonara, muitos parabéns querida amiga Yo
Dia 7 – ... a Ana Bela, muitos parabéns minha querida amiga
Dia 8 - ... a Caterina, especialmente para os olhos de Caterina
Dia 12 - ... a Jenny, para a netinha parabéns e desejo de muitas felicidades
Dia 14- ... a Micá, mil felicidades para a minha comadrinha
Dia 19 - ... o Pai Manel, onde quer que ele se encontre
Dia 27 - ... a Deméter, parabéns minha querida amiga
Dia 30 - ... a Suzana, parabéns minha querida amiga

ImagensDia 1 – Ah! Mar, belo mar
Dia 3 – Barcelona
Dia 9 – Voar certeiro
Dia 10 – Papoilas do Pinheirinho
Dia 11 – Canope
Dia 13 – Acacial da Caparica
Dia 15 – Despontar de florinha sobre vermelho
Dia 16 – Sol com novas tonalidades
Dia 17 – Candura de um momento
Dia 18 – Magnólia
Dia 20 – Primavera
Dia 21 – Do Jardim do Pinheirinho
Dia 22 – Cravo Vermelho
Dia 23 – Em terras de Salatia
Dia 25 – Lua de Março
Dia 22 – Flor cor-de-rosa
Dia 24 – Lua de Fevereiro
Dia 28 – Ninhos de andorinha
Dia 29 – Flor do Jardim do Pinheirinho
Dia 31 – Flor do Amor

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