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sexta-feira, outubro 31, 2003

noite das bruxas - adenda

Quando os irlandeses emigraram em massa para os "states" levando consigo as suas tradições depararam-se com a existênvia de coloridas abóboras que foram adaptando à tradição, em substituição dos nabos.

Os norte americanos, povo culto e de profundas tradições, logo trataram de exportar esta festividade para a Europa, como sempre entrando pelo norte, p.e. Suécia, estando agora em moda em Portugal. Negócio é negócio!

As nossas crianças, os meus netos, nunca conheceram a magia do "pão por Deus" que fazia andar bandos de crianças no dia 1 de Novembro, dia de Todos os Santos, de porta em porta, de vizinho em vizinho, pedindo figos, nozes e outras guloseimas. Nossa culpa!

noite das bruxas

Há muitos anos atrás, nas terras verdejantes e húmidas da Irlanda, vivia um camponês, que ganhava a sua vida com um próspero negócio de nabos, de que possuía uma vasta plantação.

O Diabo, sempre atento a quem tinha êxito na vida, perseguia-o com tentações a que o camponês ia resistindo. Usando das suas artimanhas o camponês conseguiu que o Diabo subisse para o alto de uma árvore. De pronto, empunhando um machado esculpiu na árvore um enorme crucifixo aprisionando o Satanás.

Este, velho e sabido, propôs um pacto ao camponês. O camponês limpava o crucifixo da árvore, libertando-o, que este nunca mais o perseguiria com tentações. O camponês aceitou e o pacto se cumpriu.

Um dia o camponês morreu. Como pecados não tinha dirigiu-se ao Céu. Mas aí não foi aceite pois tinha em vida feito um pacto com o Diabo. Sem alternativa, dirigiu-se ao Inferno onde foi, igualmente, rejeitado, pois em vida nunca tinha sido pecador.

Condenado a vaguear eternamente entre os vivos regressou à Terra cheio de vergonha tentando esconder-se à curiosidade e desdém dos que por cá tinham ficado. Condenado a ser visível de 31 de Outubro para 1 de Novembro encontrou como solução disfarçar-se cobrindo a cabeça com um enorme nabo oco e onde abriu uns olhos e uma boca.

E, assim, dessa forma, os irlandeses comemoram a noite de “halloweene” desde os tempos imemoriais.

elmano sadino

Anedotas de Bocage

Manuel Maria Barbosa du Bocage é conhecido pelo seu vasto anedotário. Curiosamente, a maioria das anedotas atribuídas a Bocage não são da sua autoria, recorrendo, isso sim, à sua atribulada e rocambolesca vivência para urdir os temas das anedotas.

Aliás, na minha meninice circulava aqui em Portugal um pequeno livro, “As anedotas de Bocage” que mais não era do que uma compilação de anedotas sem autor, como são a maioria, mas estas atribuídas indevidamente a Bocage.

Sonetos de Bocage

Bocage foi um poeta de excepção, destacando-se na sua obra os sonetos, com ou sem mote. Bocage deixa transparecer as suas vivências, o seu sofrer e o desprezo a que é votado pela sua eterna amada.

Com origem em famílias altamente colocadas na sociedade, optou por uma vida desregrada e boémia que acabou por o conduzir à prisão.

Em sórdida masmorra aferrolhado,
De cadeias aspérrimas cingido,
Por ferozes contrários perseguido,
Por línguas impostoras criminado;

Os membros quase nus, o aspecto honrado
Por vil boca, e vil mão roto, e cuspido,
Sem ver um só mortal compadecido
De seu funesto, rigoroso estado;

O penetrante, o bárbaro instrumento
De atroz, violenta, inevitável morte
Olhando já na mão do algoz cruento;

Inda assim não maldiz a iníqua Sorte,
Inda assim tem prazer, sossego, alento,
O sábio verdadeiro, o justo, o forte.


Erótico Bocage

O seu olhar crítico para com a sociedade de finais do século XVIII e dos primórdios do século XIX, repartida que foi a sua vida por Portugal e pelas Índias, espelha-se perfeitamente nas suas “Poesias Eróticas, Burlescas e Satíricas”.

É de um profundo erotismo a epistologia entre Olinda e Alzira, onde estas duas amigas trocam as mais íntimas confidências. Alzira a experiente mulher embalada pelas palavras inocentes (?) da Olinda.

A temerosa Olinda é quem me escreve?
É este o seu pudor, sua inocência?
Ah! Que as minhas lições tão bem aceitas,
Dão-me a ver que a discípula inexperta
Há de em breve ensinar a própria mestra.
................................................................


Interactividade

Sobre a frase que ontem escrevi sobre a passagem de Bocage pelo Rio de Janeiro:

No Rio de Janeiro não teve mãos a medir nos lundus, sambas, noitadas e amores negros.

escreveu a Doce Cathy, do Despenseiros da Palavra:

Essa visão de Rio de Janeiro está muito estrangeira. Espero um dia te mostrar um pouco do Rio do ponto de vista de uma carioca.

Além de esperar com ansiedade a minha ida ao Rio de Janeiro (conhecer bem com a Doce Cathy), ao Planalto Central (conhecer bem com a Querida Deméter) e ao Nordeste Brasileiro (a conhecer bem com a Doce Lua Lil), desejo confirmar o que a querida Deméter acrescentou, relativamente a ter sido o que Bocage na sua passagem pelo Rio usufruiu. Ele, na verdade, do Rio de Janeiro creio que só tenha conhecido a Rua das Violas, na Ilha Seca, onde se hospedou, todos os locais que hoje diríamos de "lanterna vermelha" e os faustosos salões onde espaiou as suas capacidades declamatórias.

quinta-feira, outubro 30, 2003

elmano sadino

Do anedotário popular

Ali pelos lados do Rossio, em Lisboa, pela calada da noite, nos idos anos do final do século XVIII, um vulto deslocava-se furtivamente quando foi abordado por dois guardas do reino.

- Quem és? Donde vens? Para onde vais?
- Sou Bocage, venho do Nicola, e vou para o outro mundo se disparares a pistola...



Bocage



Café Nicola, Rossio-Lisboa


A querida Deméter, do Segredos de Deméter, num post magnífico em que colocou lado a lado Bocage e Olavo Bilac, deu uma ideia magnífica que, aliás, se propõe prosseguir. A doce Calíope, do Mistérios de Calíope, mostrou seu grande interesse na temática bocagiana.

Considerei que eu próprio, amante das “coisas” de Setúbal e da Costa Azul em geral, deveria dar a minha contribuição, modesta que seja, nesta temática tão querida no espaço da lusofonia.

Por isso aqui estou a escrever sobre a vida de Bocage, o Elmano Sadino na Arcádia do Padre Caldas, sem mais pretensões do que uma modesta contribuição para uma ideia da Deméter, que cá na Oficina foi considerado uma pérola.

Nada mais a propósito...

Fez ontem, 29 de Outubro, anos que Bocage chegou à Índia, ido de Lisboa, com passagem e paragem no Rio de Janeiro e em Moçambique. Seis meses de mar a bordo da Senhora da Vida, onde embarcara como guarda-marinha.

No Rio de Janeiro não teve mãos a medir nos lundus, sambas, noitadas e amores negros.

inspiração

Da inspirada e doce Elsa, do Rabiscos e Letras, recebemos este brinde

Fumaças de afectividade que, com amizade, o Bota Acima partilha na Sintra Gare um Sonho que se aprende na Oficina das Ideias...

O "quarteto" agradece o miminho.

o sol de todos nós

Uma actividade solar extrema atingiu o seu apogeu ontem, dia 29 de Outubro, com a verificação das mais violentas explosões solares dos últimos anos. Este fenómeno de verificação cíclica tem importantes influências na actividade humana, atendendo a forte ionização que provoca nas camadas superiores da atmosfera.

O ciclo da actividade solar é de cerca de 11 anos, tendo tido maior intensidade nos anos de 1982 e 1993 confirmado, aliás, pelas excelente comunicações de longa distância conseguidas com a utilização de emissores receptores de ondas curtas. Com uma maior ionização das camadas superiores da atmosfera o “salto” da onda reflectida tem uma maior amplitude conseguindo-se estabelecer contactos rádio de outra forma impossíveis.

Estes acontecimentos influenciam especialmente os sistemas que recorram no seu funcionamento às ondas electromagnéticas, como sejam a navegação aérea, as comunicações satélite, os sistemas de transporte de electricidade e outros.

Afecta, ou pode afectar, o estado de espírito do ser humano, quer pela maior carga energética disponível na Natureza, quer pela própria ionização. De qualquer forma o número de manchas solares tem vindo a aumentar gradualmente, desde o último ponto de baixa actividade há cerca de 5 a 6 anos atrás.

Para os amantes de contactos de longa distância via rádio é sempre um momento esperado com ansiedade. Novos contactos, novas amizades, um derrubar cada vez maior das barreiras políticas, religiosas e culturais da incomunicação.

Pela defesa da comunicação livre entre as pessoas.


fonte: nasa


PARA SABER MAIS

Clima Espacial - http://www.sunspotcycle.com/

Imagens Solares Actualizadas - http://umbra.nascom.nasa.gov/images/latest.html

quarta-feira, outubro 29, 2003

o guarani

Saído da escola, onde ainda tentava acabar o curso de Economia, comecei a trabalhar por decisão própria e contrariando a vontade de meus pais que desejavam ver o seu filho de “canudo” em 1968, nos escritórios de numa grande empresa industrial, ali para os lados do Cais de Sodré, em Lisboa.

Iniciei a minha vida activa como aspirante, o lugar mais modesto da carreira de escriturário, de uma secção da área financeira da referida empresa. Cada sala uma secção. Numa sala contígua ficava a secção de tesouraria.

Tinha por hábito chegar cedo. Mas alguém chegava sempre antes de mim. Mais do que ver esse meu colega eu ouvia-o. Com os serviços ainda encerrados ouvia nos corredores o troar de uma voz forte treinando a garganta com fortes vocálicos. Até às 9 horas de todas as manhãs era assim: vocálicos, gargarejos, “dós de peito”.

Chegada a hora de abertura do expediente toda esta azáfama se silenciava. Aquele que tão exuberantemente emitia sons altaneiros dignos de qualquer ópera, transformava-se no chefe de secção, no tesoureiro, no burocrata. E assim passa as longas horas de serviço.

Fui conhecendo aos poucos a figura ímpar do chefe de secção Carlos Jorge, do tenor Carlos Jorge. Carlos Jorge senhor de uma voz colocadíssima foi discípulo do incomparável Tomaz Alcaide e cantou do Teatro de S. Carlos.

Tive a honra e o prazer de o ver representar a figura de Pery da ópera Guarani, da autoria do compositor brasileiro Carlos Gomes.

Ainda não há muito tempo participei num jantar de amigos, de antigos colegas de empresa, onde Carlos Jorge esteve presente. Bem disposto e optimista como sempre o conheci. Amigo!

Carlos Jorge faleceu!

Que a sua voz de tenor emérito continue a ecoar no espaço universal; Que o seu espírito dê mais força aos índios guarani.

um quarteto de peso

Costuma dizer-se, com ou sem conotações brejeiras, que “três foi a conta que Deus fez”. Não admira, pois, que em todos os tempos tenham subido à ribalta do conhecimento público conjuntos de três pessoas com objectivos comuns.

Vem-me, assim, à ideia de forma repentina, Os Três Mosqueteiros, O Trio Odemira, Cocó, Ranheta e Facada ...

Mas aqui vou tratar de um QUARTETO...

Leque vasto de idades, locais de nascimento bem diferentes, gostos pessoais diversos, fumam cigarros, charutos ou não fumam, politicamente situam-se em todos os quadrantes e quando não existe um que sirva criam um novo.

Tão diferentes e formam um quarteto?

Sim! Porque os une a Amizade a Solidariedade a capacidade de Partilhar o desejo de Aprender... em resumo une-os o Sonho.

João Carvalho Fernandes, do Fumaças – Meu mestre nas artes da blogoesfera e um grande amigo. Homem atento ao mundo e ao seu País. Não deixa transparecer no seu blog a quantidade de afectividade que reside no seu coração.

Pedro Oliveira Gomes, do Sintra Gare – Amigo nos bons e maus momentos da vida. Homem de afectos e da família que adora. Ideias determinadas na senda da defesa dos mais carenciados. Nunca atraiçoa um amigo.

João Tunes, do Bota Acima – O nome do seu blogue define-o. Construir, construir sempre um mundo melhor. Acutilante e atento, utiliza as palavras em prosa como quem escreve poesia. As suas memórias consubstanciam-se em pessoas.

Vicktor Reis, do Oficina das Ideias – 59 anos a gostar das pessoas. Gosto também de Fotografia, Caparica, Costa Azul, Factos Estranhos, Naturismo, Radiocomunicações e Coleccionismo.

Que quarteto, hem!

terça-feira, outubro 28, 2003

labuta diária



do fundo do baú da memória

Vou procurar e passar a escrito algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos. O pouco interesse que possam ter para os leitores dedicados pode bem ser compensado pelo afecto que pretendo colocar nesta partilha.


Cai neve na minha terra

Passaram muitos anos, talvez 52.

Por esta altura do ano, com o Verão de S. Martinho à porta, aconteceu algo com a circulação atmosférica de uma raridade muito grande. Uma massa de ar trazida das zonas polares em conjugação com uma grande instabilidade atmosférica provocou a queda de um imenso nevão.

Não foi na Serra da Estrela. Foi na Amadora, às portas de Lisboa, onde não havia notícia da neve ter alguma vez caído.

Nunca ninguém vira nada assim. O Jardim Delfim Guimarães, único à época existente naquela localidade, estava coberto por um alvo manto. Recordo-me da camada de neve que se acumulou no largo muro, mais parecia uma muralha, que o circundava.

Foi uma brincadeira pegada. Bonecos de neve, neve arremessada às mãos cheias entre a miudagem da rua, os oficiais de barbeiro a virem para a rua confundindo as suas batas brancas com a brancura das terras.

Naquele dia não fui à escola. Andava, então, na primeira classe e a directora, a Dona Carolina Simões, dispensou-nos dos deveres.

Curiosamente, só me recordo de ter caído neve à volta de minha casa e no jardim fronteiro, logo ao atravessar da rua. Julgo que o “meu” mundo estaria à época reduzido a esse espaço.

A descoberta ainda não começara.

doces palavras

A Liliana, do Entre o Sono e o Sonho, enviou-me um correio electrónico recheado de doces palavras que o meu pudor e a minha modéstia não me permitem reproduzir.

Não resisto, contudo, a partilhar com todos os meus amigos um poeminha que tão docemente me dedicou:

Não me olhaste simplesmente
Não me mostraste, como sempre, uma fonte infindável por descobrir...
Teus olhos agora me falam mais e mais profudamente,
Teus olhos calados falam-me palavras, frases, sensações inteiras, completas. Sentidas.
Tuas lágrimas fizeram-te dentro e diante de mim...


Que belas palavras... obrigado Doce Liliana.

segunda-feira, outubro 27, 2003

joão, amigo de verdade

O meu amigo João Tunes, com uma qualidade de escrita excelente espelhada do Bota Acima, brindou-me recentemente com dois dos seus posts. Melhor ele brinda-me a mim e a todos que têm a felicidade de o ler com TODOS os seus posts, mas estes dois tocam-me mais perto pois são uma ajuda grande para a singela história da minha vida.

São olhos de amigo, são palavras de amizade que passam por tais textos: “O meu amigo Vicktor” e “Perplexidades de um Antenofóbico”. Textos deliciosos que mostram como somos vistos pelos olhos de um amigo. Isso enriquece-nos. Ajuda-nos na nossa busca eterna: o modo correcto de estarmos na vida.

Há dois aspectos que vou aqui salientar...

Quando o João diz: “Andámos anos a encontrarmo-nos, quando calhava, pelos corredores, cada um na sua missão profissional. Havia empatia e consideração mútua, mas nunca deu para mais. Nunca foi preciso mais.”

Eu acrescento, o que ele nunca podia saber porque na altura nunca lhe disse: Eu tinha, como ainda mantenho, um profundo respeito e reconhecimento pelo empenhado trabalho que o João desenvolvia na defesa dos anseios dos trabalhadores, das gentes desfavorecidas, dos humilhados. O João Tunes representava para mim O EXEMPLO.

Quando o João escreve: “Afinal, ele usava a antena para estar no mundo e com o mundo, ser solidário com ele, atravessando continentes e oceanos....”

Eu acrescento: Foi um período riquíssimo da minha vida, esse que me fazia andar com uma antena gigante no tejadilho do carro, com muitas alegrias e algumas desilusões, com tantas histórias de encantar... as radiocomunicações estavam ali e sempre ao serviço das populações carenciadas... mas isso são outras histórias.

Os amigos são assim... O João com as suas recordações e memórias consegue abrir novos alçapões do meu baú de memórias.

Bem hajas João! Que a nossa Amizade seja eterna.

pedro, amigo de verdade

O Pedro, aqui na blogoesfera com o Sintra Gare, é um amigo certo, das boas e más ocasiões, com quem se partilham sentires na certeza de encontrarmos terra fértil para germinar a AMIZADE.

O Pedro colocou, ontem, no Sintra Gare, uma declaração em quatro pontos, dando conta dessa grande caminhada na vida que fizemos e continuaremos a fazer juntos, caminhada solidária e construtiva.

1 – British Bar “Um com gelo” somente tem sentido bebido na companhia do Pedro, pois à volta daquela bebida vem a conversa a partilha as confidências as cumplicidades.

2 – Costa de Caparica Terra de eleição para estar e para viver que tão maltratada tem sido pelo poder central desde sempre, na defesa da costa do outro lado, mas que continua a ser terra de fazer amizades.

3 – O Tempo O tempo que passa continua a ser, para mim, um dos maiores mistérios do existir. O Pedro brindou-me com uma autêntica pérola luso-brasileira.

4 – Amizade A nossa é realmente eterna porque está sedimentada no bem querer.

Claro que sim, o tratamento por TU é o único que entre nós terá lugar.

Bem hajas Pedro pela tua Amizade. Também gosto muito de Ti.

Nota de rodapé: O Pedro foi meu colega de emprego durante alguns anos, tendo acompanhado os meus últimos tempos como trabalhador activo, antes de passar à situação de aposentado. Viveu o meu sofrer quando no espaço de um mês perdi pai e mãe. Viveu também as minhas alegrias e as minhas “loucuras”. Entusiasmou-me a escrever um diário, antepassado da minha presença na blogoesfera. Homem íntegro, homem de afectos, homem livre e lutador pela Solidariedade, foi um companheiro ÚNICO. Continuaremos até à Eternidade a manter estes fortes laços de Amizade.

para os meus amigos

Com o desejo de muita luz



hoje é dia de...

O número 27 é o meu número preferido. Obviamente, para isso, conta longas histórias de quereres e de sentires que seria fastidioso estar aqui a descrever. Mas definitivamente...

O MEU NÚMERO É O 27!

Então reservei o dia de hoje para dedicar os meus posts aos AMIGOS. Assim o engenho e a arte, assim a inspiração e a imaginação, assim a sensibilidade e os afectos me permitam escrever o que eles verdadeiramente merecem...

Um dia é curto para tantas Amizades, com A muito grande, muiiiitos não vão ser referidos, não por menos consideração, mas porque as minhas forças têm limites. Todos os que não forem abrangidos pelos meus posts abraço e beijo com ternura e carinho. Estão no meu coração.

SEMPRE!

domingo, outubro 26, 2003

contadores de tempo protestam

Os contadores de tempo de Valle do Rosal reuniram-se numa manisfestação de protesto exigindo o abandono da HORA LEGAL e a sua substituição pela HORA DO SOL.

Este protesto foi promovido por um vetusto relógio de sol esculpido em calcário, tendo contado com a participação de relógios de corda e de quartzo, ampulhetas e até de um metrónomo. Ver imagem. Também participaram, sem se deixarem fotografar, um relógio de sala estilo inglês, diversos relógios de parede e muitos swatch.



Viva a Hora Solar!

porque não participaei na concentração de ontem

Recebi um convite para participar numa concentração realizada ontem, 25 de Outubro, no Largo do Camões, em Lisboa:

contra a ocupação do Iraque
pelo cancelamento do envio do contigente da GNR
pela devolução da soberania do povo iraquiano

Aliás, recebi o convite enviado por diversas organizações, não pela importância da minha participação pessoal, mas por estar inscrito em diversas mailling list através das quais recebo relevante informação sobre o que se passa em tão longínquas paragens.

Estando totalmente de acordo com os objectivos enunciados pelos promotores da concentração resolvi não participar. Qual a razão desta minha incoerente decisão, pelo menos na sua aparência?

O contingente da GNR é constituído por profissionais, homens adultos, com capacidade própria de decisão. São mercenários na mira de grados proventos, que não merecem o mínimo de solidariedade de quem vê a Paz num prisma da comunicação e do entendimento.

A verticalidade de um homem expressa-se em saber dizer não, quando é o não que pretende.

Não me manifesto na defesa de mercenários.

Contem comigo para:
dizer não à ocupação do Iraque
dizer não à participação de Portugal na guerra contra o povo iraquiano
demonstrar a minha solidariedade com o povo palestiniano
dar força à luta pela paz, cooperação e solidariedade

que dúvida... hem?

Estamos aqui no British Bar com uma dúvida:

Vamos atrasar este relógio 60 minutos adiantando-o?



sábado, outubro 25, 2003

portugal mais próximo do brasil

Às duas da manhã, que se aproximam rapidamente, vamos aqui em Portugal, para cumprir as directrizes da Comissão da Hora, atrasar os relógios SESSENTA MINUTOS. Mantemo-nos, assim, com a hora legal alinhada com a hora do Reino Unido e da Irlanda e atrasada uma hora em relação aos restantes países da Europa.

É curioso como estas andanças do “atrasa e adianta” os relógios, esquecida que está a HORA DO SOL, que tanto ouvi falar aos camponeses da terra de minha Mãe, fazem com que Portugal fique “mais perto” do Brasil.

Senão vejamos...

Quando daqui de Vale do Rosal conversávamos com o Planalto Central, no Brasil (por exemplo) a diferença horária era de 4 horas a mais em Portugal, no respeito pelos fusos horários e pelo andamento aparente do Sol. No fim-de-semana passado quando o Brasil entrou no chamado “horário de Verão” essa diferença reduziu-se para 3 horas. Este fim de semana com a entrada de Portugal no “horário de Inverno” essa diferença volta a reduzir-se, passando agora para 2 horas.

Então... o Brasil está já AQUI! Quando o nosso amigo Luís Ene viajar em Dezembro para o Brasil vai lá chegar antes de partir.

Boa Viagem Luís, até ao Planalto Central.

Já agora... Não esqueçam às 2 horas de atrasarem os ponteiros do relógio para a 1 hora.

Os ponteiros do relógio, porque o tempo que passa esse não se atrasa.

mês do idoso

Hoje tive o privilégio de almoçar com 250 idosos da minha Freguesia, da minha área de residência.

Pessoas de diversos extractos sociais, desde as zonas de pobreza, conhecida ou encoberta, até gente cuja vida se processa com algum desafogo. Unidos, isso, sim pelo prazer da partilha da refeição e, igualmente, do convívio. Muitas dessas pessoas amigas ou conhecidas há muitos anos é nestes acontecimentos que se encontram.

Muitos já deixaram há muito a vida activa, outros ainda continuam a sua labuta, pois continuam a necessitar de obter proventos de trabalho para a sua subsistência. Todos já deram, outros continuam a dar a sua importante contribuição para o desenvolvimento do País. A maioria já foi posta de parte pela sociedade que somente conhece o imediato, a exploração do ser humano.

Neste almoço, encontrei, fundamentalmente, saberes. Encontrei vinhateiros e lavradores; Pescadores, lenhadores e carvoeiros; Costureiras; Recoveiros e artesãos de vime, aqui conhecidos por cesteiros. Ouvi histórias de todos estes labores que há muito foram deixados para trás pelo avanço do betão, pela expansão (e especulação) urbanística.

Quanto saber ali disperso em duzentas e cinquenta pessoas. Quantas vidas vividas. Quantas expectativas frustadas e quanta realização.

Foi uma festa linda. Dançou-se como acontecia nas grandes festas que se realizavam nas colectividades locais, especialmente, para festejar a adiafa (*).


(*) Na hoje tão urbana Charneca de Caparica, concelho de Almada, já se produziu um dos melhores e mais apreciados vinhos do distrito de Setúbal.

comentários que são poemas

Alguns comentários feitos aos meus posts são autênticos poemas. Não resisto a reproduzir estas SETE linhas escritas pela querida amiga Assunção Medeiros, do Asa de Borboleta:


Esse teu olhar...
Olhar líquido de taça de lágrimas,
Olhar fugidio de corça,
Olhar doce de cocker spaniel,
Olhar longínquo de navegador,
Olhar próximo de amante,
Olhar...


sexta-feira, outubro 24, 2003

um homem não chora

Há uns largos anos li um livro de Luís Sttau Monteiro intitulado “Um homem não chora”. O título nunca me convenceu.

Os anos foram passando, os cabelos foram branqueando, como diz o poeta, e eu cá continuei as minhas leituras. Depois comecei a produzir escritos despretensiosos e simples. O gosto pela fotografia já vem dos doze anos de idade, com uma pequenina câmara de plástico que minha mãe me ofereceu.

Um dia, há poucos meses, comecei a partilhar esses textos e as fotografias com os amigos que visitam a Oficina das Ideias. Tudo muito simples com o desejo de sedimentar amizades antigas e de fomentar novos quereres.

Mas de tudo o mais gratificante é poder ler (e aprender) com tantos e tantos escritos que se publicam na blogoesfera diariamente. Tenho a minha lista de imperdíveis que é cada vez maior. Desta lista fazem parte três blogues, por razões afectivas e de camaradagem, colegas da mesma empresa, companheiros dos mesmos sentires: Fumaças (o meu padrinho da blogoesfera); Sintra Gare e Bota Acima. Neste último deparei hoje com um post intitulado “O Meu Amigo Viktor”.

Li atentamente. Não tenho palavras para comentar.

As lágrimas rolaram copiosamente pelo meu rosto.

um dia, uma ideia

Psicólogos para o Iraque

Os órgãos de informação ocidentais, ainda que controlados, na sua generalidade, pelos grandes grupos económicos europeus e americanos, não conseguem resistir à força da verdade e publicam notícias que dão conta do caos em que o Iraque está transformado, não só em termos materiais como, igualmente, nos aspectos social e moral.

Até as próprias tropas ocupantes atravessam momentos difíceis, atingindo já algumas centenas as vitimas das retaliações iraquianas à ocupação ilícita que está a ser feita desde que terminou a nojenta guerra, ainda mais por não terem conseguido apresentar uma única prova das razões evocadas para a iniciarem.

Cerca de cinco meses após a guerra ter sido dada como terminada pelos americanos começam a verificar-se os primeiros casos de um tipo de “síndroma do Vietname”, agora transposto para a vivência no Iraque: são já quatro as situações de suicídio verificado entre os soldados das forças ocupantes dos EEUU no Iraque. E muitos mais se irão seguir...

Passada a euforia da vitória, conseguida em grande escala à custa da indução provocada por drogas administradas aos jovens, muito jovens, americanos enviados como “carne para canhão” para o Iraque, surgem agora sentimentos genuínos de qualquer jovem: saudades da família e dos amigos, sentimento de tempo perdido e, fundamentalmente, complexo de culpa pela dor provocada a povos indefesos.

O governo americano decidiu enviar para o Iraque equipas de psicólogos com o objectivo de minorar os efeitos nefastos que o isolamento (e a falta de drogas) está a provocar nos americanos estacionados em tão longínquas paragens.

quinta-feira, outubro 23, 2003

pssst...

...estou aqui deste lado!



a propósito de saberes

Joe Berardo é uma figura incontornável, como agora se usa dizer, do mundo empresarial português. Não anda nas primeiras páginas dos órgãos de comunicação social pois nega-se juntar negócios, ideias e investimentos com política, melhor com politiquices.

Um dia perguntaram a Joe Berardo quem eram os seus consultores dos negócios, atendendo ao êxito que ele sempre conseguia, embora afirmasse publicamente que era mais um homem de ideias ganhadoras do que um especialista em qualquer dos ramos em que se movimenta.

Respondeu, que sempre recorria a consultores que as empresas tinham desprezado, dando-lhes a reforma. Realmente utilizava o Saber acumulado por esses homens durante dezenas de anos e que chegada a hora da reforma era simplesmente olvidado.

um dia, uma ideia

Mais um “último lugar” para Portugal

De acordo com um relatório da Comissão Europeia, Portugal encontra-se no último lugar de uma tabela de 25 países europeus, que considera já as adesões do próximo ano, no que diz respeito a qualificação profissional e salários.

Do referido relatório destaca-se que, em idade de trabalhar, somente 8 por cento dos portugueses possuem nível elevado de qualificações, enquanto que 14,1 se ficam pelo nível médio de qualificações. Em conclusão, 77,9 possuem baixa qualificação profissional.

Também no que diz respeito aos salários, Portugal com um salário bruto mensal médio para a indústria e serviços de 950 euros fica muito aquém de países do norte da Europa, mantendo-se no último lugar da Europa comunitária.

Em termos de formação profissional, Portugal tem desperdiçado de forma irracional importante capital do Saber, colocando em situação de desemprego ou de sub-aproveitamento milhares de quadros qualificados com capacidade de partilhar o Saber acumulado em muitos anos de dedicado labor.

A ânsia desmedida de reduzir custos com base na redução que quadros técnicos ou não, tem levado a tal desperdício, assistindo-se a uma total inépcia dos actuais quadros dirigentes, provavelmente com altas classificações universitárias e muitos “MBA’s”, mas sem qualquer entendimento da realidade das empresas.

Contudo, uma questão sempre se põe no meu espírito: Será que neste mundo de canibalismo empresarial e de globalização selvagem haverá interesse em manter economicamente saudáveis e com índices de rentabilidade interessantes as empresas portuguesas ou sediadas em Portugal?

quarta-feira, outubro 22, 2003

viver os areais da caparica

Apanha da Conquilha

São amplos os areais da Caparica, que espraiam as suas tonalidades de doirado por mais de 20 quilómetros. O mar é fértil nas suas dádivas, não raro se encontram pessoas curvadas sobre as areias na recolha de diversificadas conchas de maravilhosos formatos e cores.



Lá bem longe, com a maré preferencialmente em vazante, os apanhadores de conquilha puxam afanosamente os seus arrastos manuais, mantendo um equilíbrio fundamental entre a quantidade de ondulação necessária à maciez da areia e a água que não ponha em causa a sua segurança.



A maior parte do arrasto é constituído por pedras e conchas partidas, aproveitando somente uma pequena porção de conquilhas vivas. São necessários diversos arrastos para conseguirem alguns quilos de conquilha que virão mais tarde a vender directamente aos restaurantes da vila.



Os restaurantes da Caparica confeccionam maravilhosos petiscos tendo como base as conquilhas. Um dos pratos mais conhecidos é "Conquilhas à Bulhão Pato". Bulhão Pato, poeta, que viveu longos anos num palacete de Monte de Caparica.



terça-feira, outubro 21, 2003

do fundo do baú da memória

Vou procurar e passar a escrito algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos. O pouco interesse que possam ter para os leitores dedicados pode bem ser compensado pelo afecto que pretendo colocar nesta partilha.

Eu sou mais hóquei do que futebol

Portugal foi campeão do Mundo de hóquei em patins, na conclusão de longos dias de competição, pela segunda vez, num campeonato disputado em Montreux, na Suíça. Eu teria na época 4 anos de idade.

Foi uma euforia nacional. No ano anterior o campeonato do Mundo disputara-se em Lisboa e Portugal sagrara-se vencedor. No ano de 1948 o campeonato realizara-se em Montreux e contra os espanhóis os italianos e os suíços que jogavam em casa Portugal voltara a vencer. Era o segundo campeonato que se realizara depois do final da Guerra e Portugal voltou a vencer.

Recordo-me duma multidão imensa no aeroporto de Lisboa na espera dos jogadores e de eu estar às cavalitas do Saraiva, colega de emprego do meu pai, para melhor ver os que já, então, eram meus ídolos. Emídio Pinto, Raio, Edgar, Jesus Correia e Correia dos Santos.

Estes dois últimos, conhecidos pelos primos Correias, serviram de inspiração para a constituição de um duo, os primos Ferreiras, eu e o meu primo, que jogávamos hóquei na rua, sem patins, com uma bola arredondada a partir de um cubo de madeira e com sticks improvisados pela habilidade de carpinteiro do meu pai.

A imagem dos primos Correia, era para mim a imagem recorrente de um duo de heróis que tão alto haviam colocado a bandeira portuguesa por esse Mundo fora. Gigantes, mesmo, na minha imaginação de criança. Imagem que me acompanhou longos anos da minha vida.

Um dia mais tarde, vinte anos passados, conheci pessoalmente Correia dos Santos. Colega de empresa. Enquanto eu já avançava pelos caminhos da informática, ele era um modesto cobrador, que percorria a cidade a pé ou em transportes públicos, de cliente em cliente, efectuando as cobranças mensais.

Fiquei tremendamente chocado. Aquele que para mim e para o País tinha atingido o mais elevado nível na competição desportiva apresentava-se uma fraca figura, envelhecido, pouco considerado, ignorado na sua grandeza pela maioria das pessoas.

Só haviam passado vinte anos. Mais trinta e cinco anos passaram entretanto. Correia dos Santos já não está entre nós. Mas ainda me recordo do garbo com que em 1948 chegou ao Aeroporto de Lisboa, vindo de Montreux, campeão do Mundo de Hóquei em Patins.

as cores do vale do rosal



a minha crítica

Uma semana quase passada, algum tempo a aboberar as ideias e a decisão: comentar o livro Blogs, de Paulo Querido e Luís Ene, editado pela CentroAtlântico.pt e apresentado publicamente no passado dia 15 de Outubro, na Ribeira, em Lisboa.

Trata-se de uma obra, de salientar a primeira lançada em Portugal, bem equilibrada nas suas componentes técnica e prática, sem nunca cair na tentação fácil quando estamos presentes a tecnologias emergentes, de recorrer a uma linguagem hermética, só entendível pelos iniciados.

Na verdade, percorre em linguagem comum, os aspectos históricos, mais recuados e recentes, não deixando de procurar e evidenciar razões objectivas que levaram a uma grande explosão na utilização dos blogues como meio de comunicação.

Dedicam, igualmente, todo um capítulo aos curiosos que pretendam iniciar-se neste mundo de surpresas ou para aqueles, que já por cá andam mas que pretendem aprofundar os seus conhecimentos teóricos.

Uma iniciativa de grande inovação nesta coisa dos escritos foi o facto de terem dado a palavra a alguns dos futuros leitores. Uma "ideotice”, diríamos aqui na Oficina. São estes rasgos do pensar, de pensar diferente, que marcam realmente as obras de excepção.

A visão do bloggers, “livros sem páginas e páginas sem livros” e um conjunto de micro-entrevistas sobre o tema “Blogues literários em português”, constituíram esse capítulo de excepção. É quase como a história de ler hoje o jornal do dia seguinte. Brilhantes as questões levantadas, brilhantes (quase) todas as respostas dadas.

Finalmente um “guia dos blogues portugueses” incompleta como sempre tem que acontecer nestas coisas, mas com o critério de dar exemplos de quase todos os temas e os géneros abrangidos pelos blogues portugueses.

Para “epilogar” esta obra de referência na blogoesfera de língua portuguesa, o humor. É o início do muito que a veia humorística dos portugueses vai contar nas mesas de café, nas tertúlias, no correio electrónico.,

Concluindo: Recomendo vivamente este livrinho de 152 páginas de fácil, mas útil, leitura.



Ficha Técnica
BLOGS
Autores: Paulo Querido e Luís Ene
Editor: Centro Atlântico
1ª Edição, Outubro de 2003
152 páginas
ISBN: 972-8426-75-5

segunda-feira, outubro 20, 2003

do fundo do baú da memória

Vou procurar e passar a escrito algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos. O pouco interesse que possam ter para os leitores dedicados pode bem ser compensado pelo afecto que pretendo colocar nesta partilha.

Um contador de histórias muito especial

O meu pai, o Manel da drogaria, era formado na universidade da vida. Tinha a quarta classe e fruto da sua actividade profissional era um especialista em cálculo mental, mas era, acima de tudo, um extraordinário contador de histórias.

O repertório poderia não ser muito vasto, mas havia algumas histórias que eu ouvia deliciado dezenas de vezes. Sempre que havia uma oportunidade lá estava eu: “Paizinho conta aquela história do...”. Ele sempre tratava de alterar um ou outro pormenor por forma a parecer uma nova história.

Estas histórias tinham como personagens pessoas conhecidas, vizinhos, colegas de trabalho, familiares, pelo que me sobrava sempre a dúvida se as histórias eram reais ou se seriam inventadas. Ainda hoje quando as relembro tenho a mesma dúvida.

Contava ele...

O teu avô, mestre Humberto sapateiro, quando tinha um novo aprendiz logo tratava de lhe encomendar um recado. “Olha vai ali ao mestre João (mestre do mesmo ofício) e diz-lhe que o mestre Humberto lhe pede emprestada a pedra de afiar as cerdas...” Lá seguia o aprendiz, expedito no seu caminhar na direcção da oficina do mestre João. O pior era quando regressava ajoujado com um enorme pedregulho que o mestre João sabedor do recado lhe enviava para o mestre Humberto.

Ou então...

O Negos, alcunha do marçano de tez bem queimada, lá juntara dinheiro da sua magra jorna para comprar umas botas para mandar para a terra, lá para os lados de Trás-os-Montes. Botas compradas havia que fazer o envio. “Ó Sô Manel agora como vou enviar as botas?” “Olha Negos! Sobes àquele poste telefónico, penduras as botas e dizes o endereço... Se os fios servem para fazer chegar a tua voz a Trás-os-Montes também farão chegar as botas”. E o pobre Negos lá subiu ao alto do poste telefónico, ainda mais, carregado com as botas.

Finalmente...

O abastado comerciante de loja de porta aberta quando o filho lhe pedia dinheiro, cinco tostões, para ir à festa de Caneças sempre lhe dizia “Toma lá os cinco tostões porque não quero que um filho meu faça más figuras junto dos amigos indo à festa sem dinheiro. Mas quando voltares quero cá de novo os cinco tostões...”

Temos que concordar que a vida era mais tranquila nesses tempos de antanho.

brincos de princesa



o retorno

Escutem! Escutem!
Oiçam o murmurar das ondas
O chamamento da origem
A vida que é a morte
O retorno à perfeição
Ao infinito.

Escutem! Escutem!
Oiçam agora a revolta do mar
O troar e ribombar do seu ventre
A origem exige
O retorno ao infinito
À perfeição.

Escutem! Escutem!
Oiçam a musa, melhor, a inspiração
Que dita o pensamento
E a acção
Que transforma o sonho em vil realidade
Que conduz o Homem à finalidade
O retorno à perfeição
Ao infinito.

domingo, outubro 19, 2003

do fundo do baú da memória

Vou procurar e passar a escrito algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos. O pouco interesse que possam ter para os leitores dedicados pode bem ser compensado pelo afecto que pretendo colocar nesta partilha.

A cicatriz

A terra onde nasci era farta em ruas com designações relacionadas com a Implantação da República, eventualmente, em resultado dos seus habitantes terem participado activamente no apoio popular ao derrube da Monarquia em Portugal. Da mesma forma, participaram nos diversos actos revolucionários que se verificaram durante a I República, especialmente, integrando as tropas revoltosas que vindas de Mafra em direcção a Lisboa.

Por outro lado, pelo facto de lá se situar uma importante estação de Caminho de Ferro, teve sempre a tradição revolucionária dos grandes aglomerados de ferroviários. Fruto de tal situação era, igualmente, terra de pides e bufos, que se mantinham sempre em escuta e prontos a serem delatores de uma situação menos de acordo com os objectivos do regime.

O meu pai sempre me prevenia, era eu ainda bem pequenino, nada de conversas ao pé “daquele ali” é da Pide e pode levar-nos preso. A verdade é que na vida corrente do dia-a-dia de trabalho nunca me apercebi que o meu pai fosse mais do que isso mesmo, um trabalhador de comércio esforçado para levar os meios de subsistência para nossa casa.

Somente, alguns anos mais tarde me apercebi de algum brilho no olhar por razões políticas, aquando da campanha a favor da candidatura de Humberto Delgado. Propaganda, panfletos trazidos para casa em segredo, votos.

Também nasci e morei alguns anos na chamada Avenida da República. Avenida porque era uma rua, a única da Amadora à época, constituída por duas faixas de rodagem e um amplo passeio central. Ligava a rua principal, eixo dorsal da povoação, à estação de Caminhos de Ferro.

Nesse passeio central brinquei a minha meninice, conheci os meus primeiros amigos, queimei o primeiro fogo nos festejos de Santo António, esfarrapei o meu rosto contra uma árvores numa correria desenfreada. Curioso... ainda hoje tenho uma pequena marca no rosto, cinquenta anos passados.

Esta pequena cicatriz não ficou guardada no baú mas a sua origem sim. Essa memória foi hoje libertada.

imagens

Esta barreira esconde um vinho delicioso:


nas Caves Velhas

entardecer mágico

Foi um dia de chover “cães e gatos”, quando caía uma bátega de água mais pareciam “picaretas”, contudo, aqui no Vale do Rosal surgiam de vez em quando amplos espaços de céu azul com o sol luminoso do costume.

Com o entardecer, o sol a pôr-se lá para os lados da costa Atlântica, para lá da Arriba Fóssil, o ar tornou-se cálido, de uma calmaria excepcional, mesmo um outonal entardecer, com o céu a tomar uma coloração vermelho forte, depois tonalidades de doirado.

Fim de dia mágico, pensei enquanto inspirava fundo toda a força telúrica que emanava do solo e que enriquecia todos os seres vivos que se animaram com esta incomparável força da Natureza.

De cada sebe de jardim, dos pinheiros mansos baixos e de copas redondas, dos bravos da mesma família que se elevam nas alturas, do topo dos telhados e das chaminés iniciou-se uma autêntica sinfonia, onde a melodia não seria a melhor mas a força do som era espantosa.

Dezenas, centenas até, de melros de bico amarelo encetaram estridentes cânticos do entardecer. É a ordem de recolher transmitida por vezes para dezenas de quilómetros de distância. É uma verdadeira euforia de vida impossível de reproduzir por palavras.

Vale do Rosal foi tocado pela magia do entardecer. Pouco depois, o silêncio. O cântico do entardecer terminara. Mas em fundo, a sonoridade única do enrolar do mar, lá para os lados do poente.

sábado, outubro 18, 2003

ironia pura

A formiga fez um buraco criando um pequeno monte de terra à volta.

A formiga pariu uma montanha!

cores de vale do rosal


comentários relevantes

A propósito da minha memória sobre o rádio Raymond que fui buscar ao fundo do baú, escreveu o meu amigo João, do Bota Acima : "Também em casa dos meus tios havia um rádio desse tipo e que cumpria as mesmas finalidades. E lembro-me que a técnica usada para evitar a "detecção" pelos pides era pôr-lhe um copo de àgua em cima. Ainda hoje penso que aquilo era mais psicológico que outra coisa."

Aquando da minha passagem e longa permanência, digo eu, em actividades relacionadas com as radiocomunicações de emergência e de lazer, pude experimentar algumas curiosidades ligadas à radiofrequência emitida pelos equipamentos, quer em recepção e, especialmente, em emissão. Realmente, a radiofrequência na recepção é mínima mas que um copo de água causa alí uma dificuldade à propagação isso causa. É o efeito contrário ao de um amplo espelho de água utilizado na emissão para reforçar o alcance por reflexão sucessiva da onda.

Contudo, não há dúvida de que o perigo maior vinha dos pides, na sua actuação de bufos, que se suspeitavam da mínima acção "subversiva" faziam tudo para que um indivíduo fosse levado à António Maria Cardoso. Daí para a frente tudo podia acontecer. De mal, claro!

Sobre o meu post designado Liberdade o meu amigo Pedro, do Sintra Gare não resistiu a desabafar: "E democracia também. Merda de País este."

Eu que até ando para aí a defender o que de bom o nosso País tem, não posso tomar outro caminho a não ser, concordando, acrescentar PIOR DO QUE O PAÍS SÃO OS GOVERNANTES CARREIRISTAS E CORRUPTOS.

sexta-feira, outubro 17, 2003

do fundo do baú da memória

Vou procurar e passar a escrito algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos. O pouco interesse que possam ter para os leitores dedicados pode bem ser compensado pelo afecto que pretendo colocar nesta partilha.

Jogar ao bilas

Mais ou menos nesta época do ano, quando começavam as aulas e o Outono já aí estava, a miudagem parecia tocada por uma varinha que lhes indicava que havia chegado a época do berlinde.

Era ver a rapaziada a abrir as covas, pequenas covas num piso térreo mais ou menos plano, e “jogar ao bilas”. Nessa época jogava-se unicamente pelo prazer do jogo e não ao “ganhas” como hoje se vê amiúde, pois perder o berlinde significava não voltar a jogar nas semanas mais próximas.

Os mais afortunados lá conseguiam um berlinde retirado com “arte e manha” de uma garrafa de pirolito. Um bilas maior que os mais vulgares em vidro branco baço e que era uma maravilha para jogar.

O desafio nascia de um “marralhões” dito imperativamente e que não significava mais do que a vantagem que quem o dizia tinha de ser o último a começar o jogo. Tirava a vantagem posicional pois quem lançasse o berlinde para mais próximo da cova mais distante seria o primeiro a iniciar o jogo, propriamente dito.

E era então o início da destruição das calças com joelheiras ou dos joelhos quando os calções por curtos não os protegiam. Com a lama do terreno de jogo nos joelhos ou nas calças era “missa cantada” garantida no regresso a casa.

Lembro-me que tinha um abafador para surripiar os bilas aos adversários, mas estes tinham sempre um contra-abafador que funcionava como vacina.

Apliquei aqui uma série de palavras: berlinde, bilas, abafador, contra-abafador, marralhóes (e também marralhos) ahh! E mais pilada de que não falei, um vocabulário específico e sazonal utilizado pelo clã ma “época do berlinde”.

dia cinzento para o mundo



liberdade

LIBERDADE É UMA PALAVRA VÃ QUANDO UM EM CADA CINCO PORTUGUESES É POBRE

o flagelo da fome

No ano lectivo de 1965/66 um grupo de estudantes universitários constituiu um grupo de trabalho e reflexão designado “Comissão Fome no Mundo” com os objectivos de pensar sobre o grave problema da Fome e, posteriormente, passar à acção em Portugal realizando acções com o objectivo de minorar tal flagelo no nosso País.

Em pleno governo marcelista as dificuldades foram muitas, conseguindo-se, no entanto, a participação de especialistas na realização de diversos colóquios. O que nunca se conseguiu foi dinamizar o consumo de leite junto das escolas primárias, pois embora se contasse com o apoio de uma importante empresa de lacticínios, o ministério nunca o permitiu. Era uma tarefa para a “obra das mães”.

Recordo o que na época escrevemos sobre a Fome:

1. Alimentar-se é o primeiro dos direitos naturais do Homem;
2. A fome vista, quer sob o aspecto da nutrição, quer do da miséria, é moral e socialmente incompatível com a dignidade humana e com a igualdade de condições;
3. A fome constitui um perigo para a Paz mundial.

O resultado de um estudo recentemente realizado que veio hoje a público, hoje que se celebra o Dia Internacional para a Erradicação da Pobreza, refere que 21 por cento da população portuguesa é pobre, tendo esta taxa estacionado no decorrer do último período considerado no estudo, 1998 a 2000.

Situação dramática num País onde é frequente assistirmos à ostentação depravada de riqueza, a negociatas de milhões, onde o que é extremamente caro se vende, onde o negócio dos Maseratti e dos Ferrari representam um autêntico maná.

Mais de trinta e cinco anos passados sobre o diagnóstico feito pela comissão de estudantes universitários, um regime democrático de quase trinta anos e a situação de pobreza mantém-se neste País, onde as previsões para o próximo ano são de aumento do desemprego.

Josué de Castro afirmou “a fome é um flagelo criado pelo homem”, mas basta dizer “a fome é um flagelo consentido pelo homem” para nos dar a obrigação de lutarmos uma vez por todas pela resolução do problema da Fome.

quinta-feira, outubro 16, 2003

meu nome é gal


Gal Costa - Lisboa, 2003

do fundo do baú da memória

Vou procurar e passar a escrito algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos. O pouco interesse que possam ter para os leitores dedicados pode bem ser compensado pelo afecto que pretendo colocar nesta partilha.

O rádio da marca Raymond

Ao fundo do corredor que durante algum tempo serviu de pista ao meu carrinho branco movido a corda de elástico havia uma porta, à esquerda, que dava para a casa de jantar, onde igualmente existia um recanto que poderíamos chamar “sala de estar” e uma janela para a rua mesmo ao nível do passeio, pois a nossa casa era o que então se chamava cave, hoje banida dos projectos de construção que reservam essa zona para garagens subterrâneas.

Nesse recanto da casa de jantar existia uma telefonia, entretenimento familiar, numa época em que a magia(?) da televisão ainda não tinha chegado a Portugal.

A telefonia, da marca Raymond, possuía uma enorme panóplia de comprimentos de onda, desde a onda longa à onda curta, passando pela onda média, somente em amplitude modulada e numa outra forma de recepção que se não conseguia perceber e, que á época, ninguém tinha explicação para tal.

Curiosamente, essa telefonia, com mais de cinquenta anos de existência, ainda funciona perfeitamente.



Em determinados dias da semana e sempre à mesma hora a família, bom... meu pai, minha mãe e minha avó e eu também porque fazia parte da família mas não percebia o ritual, juntava-se à volta da telefonia com um ouvido bem junto do altifalante para ouvir um homem falar. A voz do homem nem sempre era a mesma e tinha um sotaque diferente do nosso.

O silêncio era imperioso e sempre que alguém tentava dizer algo, era sempre eu, meu pai emitia um imperioso “ssshhheee olhem as escutas!”

Poucos anos mais tarde vim a perceber todo aquele ritual. Meu pai que eu vira sempre a trabalhar trabalhar trabalhar na sua profissão de empregado de balcão ou a servir à mesa ao Domingo num restaurante para ganhar mais uns escudos, nunca ligado a preocupações políticas, não perdia ouvir as emissões em português na onda curta da BBC e da Rádio Moscovo.

Estávamos em plena época da ditadura salazarista, defendida por uma repressão feroz e embora a família não resistisse a ouvir emissões de rádio contra o regime, temiam ser detectados por um pide à época muito activos ou por um carro de escutas rádio que se dizia detectarem qunado alguém estava a ouvir emissões consideradas pelo regime clandestinas.

Ainda hoje consigo sintonizar no complicado mostrador a frequência da BBC. A da Rádio Moscovo está calada há muitos anos. O rádio Raymond ainda cumpre a sua função de telefonia.

quarta-feira, outubro 15, 2003

convívio e simpatia

Tal como estava previsto, decorreu hoje ao fim da tarde, na Ribeira em Lisboa, a apresentação pública do livro BLOGS, da autoria de Paulo Querido e Luís Ene. A apresentação desta obra pioneira em Portugal sobre blogs este a cargo de Libório Silva, da Centro Atlântico, editora do livro.



Com a presença de largas dezenas de pessoas, a maioria por certo blogueiros, os autores teceram comentários sobre a blogosesfera e a motivação que os levou a meter ombros à elaboração desta obra. Seguiu-se a convencional e sempre desejada sessão de autógrafos.



Depois da intervenção de alguns presentes e de um agradável refresco, encetou-se um espaço de conversa informal em que muitos se foram conhecendo pessoalmente.

Simpatia, simpatia foi a da Catarina, do 100Nada que a todos procurou conhecer pelos nomes e dar dois dedos de conversa.

Jornada muito agradável neste final de dia, dia memorável para a blogoesfera portuguesa.

cores do vale de rosal


do fundo do baú da memória

Vou procurar e passar a escrito algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos. O pouco interesse que possam ter para os leitores dedicados pode bem ser compensado pelo afecto que pretendo colocar nesta partilha.

Aquele corredor tão escuro

Durante os 11 primeiros anos da minha vida morámos na casa onde nasci, às mãos de uma parteira que ajudou minha mãe naquele momento para ela tão belo. Era uma cave, paredes meias com o quarto de porteira onde vivia minha avó, num prédio de três andares situado na Avenida da República, na Amadora, na altura vila dos arrabaldes de Lisboa.

Uma das imagens mais marcante que guardo dessa casa é um longo e escuro corredor, logo que se entrava pela porta que dava para a escada. Longo me parecia por tão pequenino que eu era, escuro pois tinha somente uma lâmpada que pendia de um fio colocado a meio percurso.

Quantas imagens de terror eu imaginei no breu do corredor. Do meio do corredor para a frente caminhava-se para a escuridão e eu tinha medo do “papão”.

Retenho igualmente uma imagem luminosa do referido corredor. Servia de pista para um pequeno carro de plástico branco, qual ratinho, que se movia com uma corda de elástico. Foi o meu brinquedo anual, recebido no Natal anterior e que durante um ano seria “o meu brinquedo”. Foi uma prenda de encantar.

O encantamento não durou muito. Um primo meu, hoje figura grada numa das maiores empresas portuguesas, não gostou da alegria que eu senti com aquele brinquedo. Coisas de miúdos! Um dia pisou o meu carrinho e destruiu-o.

Tive que esperar pelo Natal seguinte para ter um novo brinquedo de encantar. Nunca mais um carrinho branco que parecia um ratinho e trabalhava com uma corda de elástico.

terça-feira, outubro 14, 2003

à beira rio



sequência de ideias na oficina

As associações de ideias são assim mesmo. Começa-se a pensar em algo e passado pouco tempo as nossas ideias e sentires já vão tão distantes que muitas vezes já nem sabemos por onde tudo começou.

O mesmo se passou comigo quando iniciei os pensares que aqui vou expressar.

Amanhã vou estar presente na Ribeira para o lançamento do Livro sobre Blogs, de Luís Ene e Paulo Querido. Para saberem mais...

Logo, ali tão perto, irei ao British Bar deliciar-me com o excelente ambiente e tomar um Ginger Beer, ou então “um com gelo”. Só tenho pena de o Pedro não poder estar presente.

Vou rever, sempre o faço com prazer, o relógio que um embarcado dinamarquês um dia ofereceu aos proprietários do BB, numa retorna viagem. O tal relógio que a uma pergunta de um cliente o Silva respondeu “O relógio não anda ao contrário, o Mundo é que anda...

Onde este relógio andaria realmente no “sentido do Sol” seria no planeta Vénus que tendo o seu movimento de rotação ao contrário dos restantes planetas do sistema solar, apresenta a curiosidade do eixo de rotação ter uma inclinação de quase 180 graus.

De qualquer forma o relógio não teria aí qualquer utilidade, pois o dia venusiano é o equivalente a cerca de 243 dias terrestres. Ainda para mais, o dia é maior do que o ano, que equivale somente a 224 dias terrestres.

coragem Sue


segunda-feira, outubro 13, 2003

do fundo do baú da memória

Vou procurar e passar a escrito algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos. O pouco interesse que possam ter para os leitores dedicados pode bem ser compensado pelo afecto que pretendo colocar nesta partilha.


Depois dos avós os Pais

Meu pai, o Manel da drogaria, mais conhecido pelo “pau preto”, magrinho e muito escuro, cedo começou a contribuir para o rendimento da casa paterna, primeiro como marçano de drogaria, depois como empregado de balcão. Trabalhador e poupado chegou a ter negócio seu. A sua vida bem justificou o dito e lugar comum “por detrás de um homem realizado ha sempre uma mulher esforçada”.

Minha mãe, a São, moçoila saudável e bonita, vinda lá dos saloios de Torres Vedras, Veio com a mãe servir para casa de patroa nos arrabaldes de Lisboa, na então Porcalhota. Somente deixou a casa da patroa para casar, tendo sido acompanhada por minha avó que com ela foi viver. Justiça seja feita que minha avó foi mais do que minha mãe, pois ajudou na minha criação enquanto minha mãe acompanhava meu pai no trabalho.

Tinham um sonho grande, que pais o não têm?, que eu tirasse um curso superior. A Informática não permitiu que tal acontecesse. Foram casados por mais de cinquenta anos, faleceram com um mês exacto de diferença.

um outro olhar

Uma nova parceria

A idéia não é nova e é bem simples. Nasceu em Portugal, mais especificamente na Oficina das Idéias. É mais uma parceria entre Brasil e Portugal. A partir de hoje, todas as segundas-feiras, Vicktor e Deméter vão apresentar um texto escrito a quatro mãos sobre temas variados. Não existe uma regra específica, um acordo de escrita, serão apenas os nossos olhares lançados sobre um mesmo tema e que pode ter continuidade ou não. O texto será publicado simultaneamente nos dois blogues. Bom, não temos muito a explicar, queremos lançar a semente e ver como germina.

leia antes


Olhar perdido para lá do infinito de um planalto florido, das cores e dos odores tão esquisitos, que o alquimista dos sentires e dos quereres utiliza magistralmente para construir o amor.

Passados terras e mares, onde o olhar já não alcança, mas onde o pensamento e a imaginação do artista navega o sonho de tonalidades sépia com pinceladas de um verde esperança, voltamos à terra onde as “outonalidades” significam música, música intimista e tranquila.

No palácio, antes casa senhorial, e nos seus primórdios pavilhão de caça, os sons ecoam nos salões, sons de uma musicalidade ímpar, saídos de mãos sensíveis, esguias, ágeis que dedilham suavemente as teclas de um maravilhoso piano de cauda.

O artista queda-se tranquilo agora embalado por suaves sonoridades. E sonha... o seu sonho recorrente. Leve como uma ave, voa voa voa, sem limite e sem cansaço. Passa montes e vales por espaços amplos muito belos. O Mundo um dia será todo assim: doce, tranquilo, solidário.

Lá bem no alto, onde o firmamento é mais azul, o artista ficou na dúvida. Será Outono ou Primavera? Tonalidades de castanho com pinceladas de verde esperança, frutos secos e jeropiga em perfeita harmonia com esvoaçantes beija-flor de flor em flor, doirado sol e jarros de suco de manga, abacaxi e doce de goiaba.

É nesse espaço imaginário que os olhares perdidos se encontram, que as almas se entrelaçam num profundo e esplendoroso abraço. A fascinação deste encontro é como um poema, é luz, é sedução. Apenas olhares e o som universal do piano.

Pouco importa se é Primavera ou Outono. Somente ali, naquele ponto perdido em algum lugar do espaço as diferenças não existem. Não existe velho, nem novo. Não existe feio ou bonito, não existe perto nem longe. Apenas o mar de sentimentos tão intensos e imenso quanto o oceano que os separa.

Naquele instante mágico são apenas dois amantes apaixonados alimentando o espírito. Fundem-se, construindo o Amor além das muralhas de um castelo, além dos limites humanos. O artista, que embalado pela música voa, pode encontrar a sua musa, que esquece o olhar em um ícone qualquer deixando seu pensamento expandir em espirais de luz. Um encontro sem toques. Como em um templo. O amor existe além dos dois.



bloco notas com curiosidades

Chegam-me diariamente algumas dezenas de correios electrónicos com sugestões ou mesmo com textos e imagens para publicação no Oficina das Ideias. Embora me sinta honrado com tal correspondência existe alguma dificuldade em atender às sugestões tendo em conta o caminho que pretendo seguir nesta publicação que realizo nos amplos espaços da comunicação virtual.

Um amigo e correspondente assíduo, Vítor Pessanha, fez-me chegar esta


Curiosidade

Formação da palavra NOITE em diversos idiomas

Letra N + Número 8
A letra N é o símbolo matemático de união e o número 8 deitado simboliza o infinito (∞)
Em todos os idiomas considerados NOITE significa, então, união do infinito

Em português
Noite = N + oito

Em inglês
Night = N + eight

Em alemão
Nacht = N + acht

Em francês
Nuit = N + huit

Em italiano
Notte = N + otto


domingo, outubro 12, 2003

frutos de alentejo

Soprava o vento Suão
Dos confins do Alentejo
Com ele aumenta o pão
E exarceba o desejo.

Nas planuras sem fim
Onde o olhar não alcança
Em estranho passo de dança
Julguei ver-te junto a mim.

Teus cabelos esvoaçavam
Mais pareciam espigas raras
Eram espigas que deixavam
Doce aroma nas searas.

Teus olhos da cor do mar
Cintilavam vida e querer
Na luta de ver crescer
Os frutos do muito amar.

A tua boca brejeira
Sorria. Da alma espelho
Na planície bandeira
Bandeira de tom vermelho.

Os teus seios baloiçavam
Danças da fecundação
Docemente aparentavam
As espigas prenhes de pão.

O teu corpo, Liberdade
Nos campos do Alentejo
Trabalho, frutos, verdade
Vitória que em ti revejo.

vermelho e doirado



do fundo do baú da memória

Vou procurar e passar a escrito algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos. O pouco interesse que possam ter para os leitores dedicados pode bem ser compensado pelo afecto que pretendo colocar nesta partilha.

Os meus avós

Meu avô paterno, foi mestre sapateiro, mestre Humberto, oriundo de Campolide, penso que com antepassados da etnia cigana, sentava à mesa na refeição do almoço mais de trinta pessoas, entre a prol familiar e os artesãos e aprendizes. Era austero, com pendor republicano, patriarca e amigo do seu amigo.

Minha avó paterna, a Ti Joana, peixeira de profissão viera viver para as terras da Venteira vinda da zona de Viana do Castelo e perdera-se de amores pelo mestre sapateiro. Em casa o menu principal era sempre baseado no peixe fresco que ficava por vender no mercado da Amadora.

Meu avô materno, Manuel, trabalhador rural e pedreiro quando os trabalhos do campo eram escassos para alimentar a família, morreu cedo vítima da "pneumónica" ou de uma tuberculose traiçoeira. Minha mãe contava-me que muitos muitos anos depois de ter perdido o pai ainda lhe parecia ouvir o seu tossir quando subia a calçada na direcção de casa.

Minha avó materna, Isménia, veio para a capital muito cedo acompanhada de uma filha, bela e rosada moçoila que mais tarde seria minha mãe. Veio servir, como então se dizia, para fazer frente à vida quando enviuvou. Mais tarde melhorou a vida arranjando um lugar de porteira quando a Amadora começou acrescer em altura, lá pelos anos 40 do século passado.

Antepassados pobres, sofridos mas lutadores, ao que sempre ouvi dizer sérios e dignos, que constituíram famílias grandes, nem sempre tão unidas como seria desejável, como eles sempre idealizaram pudesse acontecer.

sábado, outubro 11, 2003

imagens da nossa costa


sudoeste alentejano

demência

Cabelos esbranquiçados em desalinho
De noites mal dormidas
De vida mal vivida

Cruel foi a vivência que de tal forma lhe afectou o pensamento.

E o sentir?

Gestos largos poéticos... patéticos
Mitológicos até
Gestos bruscos com um não sei quê de simiescos

Atenciosos e deferente para os outros entes
Que lhe são superiores?

Ameaçador, tenebroso, horrível...

Desalento, submissão, indiferença
Brusquidão, ameaçadora brusquidão.

livro sobre blogues

CONVITE

Luís Ene, do Ene Coisas e Paulo Querido, os autores do Livro sobre Blogues convidam todos os interessados para

Lançamento: Mercado da Ribeira, Lisboa
15 de Outubro, pelas 19horas


clique para mais informações


sexta-feira, outubro 10, 2003

o romeiro

O romeiro amparado no bordão
Cansado dos rumos do sem fim percorridos
Fita com olhar vago o infinito e a solidão
Onde arde a chama que não vê mas sabe existri.

No sentir do amor passado mas sempre vivo
Encetou o romeiro a longa caminhada
Por tortuosos desfiladeiros e atalhos
Na busca da imagem querida, adorada.

No rosto marcado pelo suor e pelas lágrimas
Surge, por vezes, uma réstea cor de esperança
Aquela que sempre o acompanhou
E o doirado sol das planuras imensas que nunca alcançou.

danubio


Painel de Azulejos - Palácio da Bacalhoa - Azeitão

shirin ebadi prémio nobel da paz 2003


Foi atribuído à advogada iraniana Shirin Ebadi o Prémio Nobel da Paz 2003.

Esta advogada iraniana tem-se distinguido pela defesa dos direitos humanos e pela democracia no Irão e no Mundo. Aliás, por estas mesmas razões já lhe havia sido atribuído em 2001 o Prémio Rafto pelo reconhecimento duma luta sustentada no correr de diversos anos.

Shirin Ebadi tornou-se célebre por ter sido a primeira mulher juiz no Irão. Abdicou deste estatuto após a revolução de 1979 quando o controlo da sociedade iraniana foi tomado pelos religiosos conservadores islâmicos, que introduziram fortes restrições à actuação das mulheres no país.

Nos anos de 1998 e 1999 levou a cabo uma profunda investigação sobre o assassinato de intelectuais e escritores que no seu país escreviam e lutavam pela defesa da democracia.

Figuras tão importantes no Mundo actual como o Papa João Paulo II e o presidente brasileiro Lula da Silva faziam parte do imenso rol de candidatos.

quinta-feira, outubro 09, 2003

os fogos de verão combatem-se no inverno

Com a chegada do Outono, temperaturas mais baixas e humidade relativa mais elevada, passaram os tempos dramáticos dos fogos florestais que, um ano mais, deixaram as nossas matas e florestas devastadas. Como já vai sendo habitual neste País, não foram extraídas responsabilidades e muito menos ensinamentos para os anos futuros.

Este País é mesmo assim. Vive os problemas ao ritmo que a comunicação social impõe, sem que as pessoas tenham maior capacidade de indignação do que aquela a que leva à criação de mais uma mão cheia de anedotas circunstanciais.

A seguir a um escândalo, outro vem. Depois de uma notícia sobre corrupção ao mais alto nível, em uma outra colocar a luz dos projectores num assunto totalmente diverso. E assim neste País, onde já alguém afirmou, com um Povo facilmente governável, se vai deixando para traz a responsabilidade dos prevaricadores.

O que os órgãos de comunicação social não destacam são as coisas positivas que fazem contraponto a tanto desleixo, incúria, incompetência. Os portugueses também não gostam, por natureza, de tecer elogios a terceiros, portanto, tudo fica bem.

Vem isto a propósito da situação verificada neste Verão e em anos anteriores na zona arborizada da Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa de Caparica, que engloba a centenária Mata dos Medos, no Pinhal do Rei.

Este ano na área geográfica do Concelho de Almada arderam somente 6 hectares, dos quais 4% foram na área florestal. A Área Protegida da Arriba Fóssil da Costa de Caparica não foi afectada por nenhum incêndio.

É paradigmático o que se passou no Concelho de Almada, onde foi lançada muito antes do Verão a operação “Floresta Segura Floresta Verde” baseada numa intensa prevenção e vigilância, que envolveu o Serviço Municipal de Protecção Civil e as três corporações de bombeiros do Concelho, Almada, Cacilhas e Trafaria.

E porque a prevenção dos fogos de Verão se realiza no Inverno os serviços adequados do Município já encetaram os trabalhos nesse sentido.



quarta-feira, outubro 08, 2003

o fumo desfez-se na imaginação

Tirou mais uma fumaça
Do cigarro que já lhe amargava a boca

Na ténue núvem de cinza
Moldou-se, imaginação...
Corpo querido, de muito amado
Que nas mãos quis recolher
Em doce carícia

Olhou então as mãos
Marcadas pelo viver

Crispadas com raiva

O fumo desfez-se
Na imaginação.

rostos


Pedro, Morcego, dos Phantom Vision, meu amigo


Jenny, vinda da Suecia, minha neta


Nazarena, mulher de pescador, um cartaz

che guevara morreu há 36 anos

Disse Che: “A força do pensamento revolucionário não deve opor-se ao desenvolvimento natural da ternura pelos seres humanos”.

A globalização social, a globalização da solidariedade representam, no meu ponto de vista, o acto mais revolucionário que o ser humano pode realizar por forma a alterar o rumo actual da sociedade que conduzirá inexoravelmente para a destruição e o caos.

O desemprego aumenta em todo o mundo conduzindo o Homem para o limite da sua resistência moral, a um passo de pisar campos da criminalidade e da violência. Em termos globais surgem actos terroristas totalmente irracionais, cegos que indiscriminadamente espalham ainda uma maior violência.

Os povos mais sacrificados por este turbilhão de ganância, de ânsia desmedida de poder, de vontade de humilhar, esses há muito que perderam a capacidade de se indignarem, por maioria de razão, de se revoltarem.

A solidariedade e o bem querer que ainda existem nos seres humanos devem ser urgentemente utilizados para derrotar definitivamente os loucos do poder.

terça-feira, outubro 07, 2003

castelo de almourol - 3

O Rio Tejo embala o castelo









quanta hipocrisia...

Não fica claro para o leigo nestas coisas do tabaco qual o suporte legal para as frases que começaram a aparecer impressas nos maços de tabaco, visto a ele não haver qualquer referência. Imposição de uma norma europeia transporta para a legislação portuguesa? Legislação genuinamente nacional?

Independentemente da sua génese, o que não deixa de ser verdade é uma tremenda falta de gosto e de senso comum que transparece em frases bombásticas, de grande dramatismo, mas ao que me conste ainda não fez com que alguém tivesse deixado de fumar.



De qualquer forma, algumas das frases tem por objectivo atingir “o ponto fraco” dos homens como se fossem estes o âmago da questão FUMAR.


imagem deliberadamente deitada para mais difícil leitura


Mas a imaginação do ser humano não passa. Eventualmente, com a modesta contribuição da Oficina das Ideias eis que surgem no mercado, a preço módico, umas pequenas caixas de grande beleza decorativa que irão funcionar como pequenos contentores para os, agora, horríveis maços de tabaco.

Mas o melhor de todos os negócios fruto desta iniciativa governamental diz respeito à venda de cigarreiras, que tanto se usaram nos anos sessenta e setenta do século passado e que se tornaram na prenda preferida que as esposas oferecem aos maridos que não querem ver apontados como passíveis de perderem a potência.

Deixo três questões com o risco de serem incómodas:

1. Quem é o membro do governo da Nação que tem um familiar fabricante de cigarreiras (de prata, claro)?
2. Como é que a senhora ministra IVA Ferreira Leite iria passar sem as verbas resultantes da venda de tabaco se esta decrescesse drasticamente?
3. Como é que a Tabaqueira contribuiria com as importantes verbas anuais que entrega ao Instituto do Cancro?

segunda-feira, outubro 06, 2003

castelo de almourol - 2

Da Torre de Menagem o Castelo apresenta estas perspectivas:










quem vai esclarecer o povo?

Começou a ser debatida na Cimeira Intergovernamental da União Europeia a mal designada Constituição Europeia, quando não passa de um tratado, embora de características muito especiais. Independentemente da designação e, quiçá, do seu conteúdo, os seus objectivos são extremamente preocupantes.

O governo pelas palavras do primeiro-ministro pronunciadas em Roma afirmou que "muito provavelmente" os eleitores portugueses serão chamados às urnas para ratificar o tratado constitucional. Põe-se a questão de a sua aprovação por parte de Portugal poder vir a ser referendada, o que aconteceria pela primeira vez no que diz respeito a tratados europeus

O Presidente da República tem vindo a insistir na necessidade de que um eventual referendo sobre a futura Constituição Europeia seja antecedido de um debate para esclarecer "todas as preocupações". Aliás, o PR afirmou mais “uma percepção clara da diversidade das questões que estão em jogo permitirá uma participação informada e uma decisão consequente”.

Existem, como transparece destas posições defensivas, muitas preocupações em efectuar um referendo, sempre com a justificação de que o Povo não é participativo e de que o Povo não se encontra suficientemente esclarecido. Isto são palavras vãs... Um político da nossa praça já deixou cair a verdadeira razão dos temores quando afirmou: “No referendo há o perigo de ganhar o NÃO...".

Aliás, vozes conceituadas já se pronunciaram em relação a todo este imbróglio, pois é mais um tiro no escuro... que ninguém pode garantir onde nos conduzirá...

Alguns dos mais conceituados constitucionalistas têm-se pronunciado no sentido de que o tratado constitucional será superior às legislações nacionais, mas não às leis fundamentais de cada país. Contudo, isso não se deduz do texto do tratado.

As dúvidas continuam a ser muitas aos diversos níveis institucionais. Então, quem irá esclarecer o Povo?

um outro olhar

Uma nova parceria

A idéia não é nova e é bem simples. Nasceu em Portugal, mais especificamente na Oficina das Idéias. É mais uma parceria entre Brasil e Portugal. A partir de hoje, todas as segundas-feiras, Vicktor e Deméter vão apresentar um texto escrito a quatro mãos sobre temas variados. Não existe uma regra específica, um acordo de escrita, serão apenas os nossos olhares lançados sobre um mesmo tema e que pode ter continuidade ou não. O texto será publicado simultaneamente nos dois blogues. Bom, não temos muito a explicar, queremos lançar a semente e ver como germina.



Cai a primeira chuva de Outono em Vale do Rosal. Chuva miudinha, persistente, a chamada “chuva de molha tolos”. O céu toda a manhã encoberto mas com muito de azul à mistura, torna-se cinzento, uniformemente cinzento, dando a sensação que nunca mais deixará de ser assim.

Do solo emana um forte odor a terra, odor que invade os pulmões e, curiosamente, chega ao coração, ou será ao cérebro?, onde vai despertar uma série de sentimentos de bem-estar e de força, força telúrica e criadora.

As aves mais jovens, muitas delas nunca viveram antes esta época do ano, ensaiam voos mais baixos na procura dos insectos que se encontram mais junto ao solo. Apresentam sinais de alguma desorientação, mas muito em breve se adaptarão às novas condições climatéricas e voltarão a dominar o espaço como antes.

Os dias também já são mais curtos. O Sol tem um pouco mais de preguiça em se levantar no horizonte nascente, mas os melros não alteram o seu relógio biológico. Noite escura já lançam os seus piares estridentes, comunicando com os seus semelhantes a hora da alvorada.

Do outro lado do Oceano, um olhar perdido, procura encontrar na primavera que inicia, indícios de fertilidade. A natureza parece estar em festa. O canto das cigarras se mistura ao ruído dos carros na rua. Não é uma disputa, mas elas conseguem cantar mais alto anunciando que é tempo de flores, de borboletas, de revoadas de periquitos.

Nesta época as chuvas não são constantes e, por mais incrível que possa parecer, na primavera faz mais calor que no verão. Também esta estação afasta os pássaros que buscam alimento no meio urbano durante o inverno. Alguns voltam para as matas próximas. Outros, aguardam a independência dos seus filhotes. Fizeram ninhos na cidade.

No ar o cheiro de flores toma conta do ambiente. A cidade se veste inteira de flamboyants e bougainvilles de coloridos vivos. Os canteiros das avenidas readquirem seu verde intenso e se enfeitam de sempre-vivas, margaridas, azaléias, campânulas, petúnias e flores típicas do cerrado. Um brinde aos olhos do caminhante desatento. Não é possível ignorar tanta beleza.

As manhãs são sempre barulhentas. Gorgeios de pássaros e cigarras começam muito cedo e, do outro lado da rua, um papagaio imita todos os sons que ouve. Enfim uma verdadeira alvorada festiva celebrando a vida, o renascimento, o Sol se levanta mais cedo para participar da alegria e sente uma dificuldade enorme de ir embora. O por do sol é uma explosão de cores colhidas durante o dia. Em cada praça, em meio a edifícios, há sempre um artista com pincéis ou câmeras querendo eternizar aquele momento.

Mas aquele olhar perdido...



domingo, outubro 05, 2003

castelo de almourol

O castelo de Almourol foi construído cerca do século II A.C. numa pequena ilhota rochosa do Tejo, entre Vila Nova da Barquinha e Praia do Ribatejo. Supõe-se que o castelo tenha sido construído no local de um primitivo castro lusitano conquistado pelos romanos durante a ocupação da Península Ibérica. Tem cerca de 310 metros de comprimento, 75 de largura e 18 de altura acima das rochas escarpadas.



Posteriormente, foi ocupado pelos Alanos, Visigodos e Mouros. A fortaleza de "Almorolan" (do árabe pedra alta) foi conquistada aos mouros no reinado de D. Afonso Henriques (1129) que a doou a Gualdim Pais, mestre da Ordem dos Templários, encarregue pelo povoamento e defesa de terras entre o Mondego e o Tejo.



Entre 1160 e 1171, o Castelo de Almourol foi reedificado e terá sido várias vezes restaurado nos reinados seguintes. Esteve na posse dos Templários até à sua extinção, apresentando portanto características arquitectónicas predominantemente militares: dois recintos comunicantes rodeados por muralhas com dez torres cilíndricas e bastões que assentam irregularmente devido ao relevo da ilha. No segundo recinto ergue-se altiva a Torre de Menagem. Durante o Séc. XIX foram executadas várias obras de restauro que alteraram a sua fisionomia original.



um dia, uma ideia

A CIA já não é o que era dantes

David Key especialista conceituados da CIA voltou do Iraque de mãos a abanar. Ele dirigiu uma equipa que permaneceu no Iraque durante algum tempo com o objectivo de encontrar provas da existência das supostas armas de destruição total que serviram a Bush como justificação para a “precisa, rápida e violenta” guerra, fruto da qual o Iraque e o seu Povo foram deixados na maior penúria material e social.

Esta equipa da CIA foi obrigada a declarar publicamente no seu regresso aos “states” que nada havia encontrado, aliás, correspondendo à posição de fontes iraquianas ligadas à problemática do armamento que afirmaram não ter esta equipa de elite nada encontrado porque “nada havia para encontrar”.

Bush está no seu melhor. Autêntico palhaço, sem ofensa para estas dignas figuras do nosso imaginário infantil, está coberto de ridículo como se verifica pela forma fria como a sua intervenção na ONU foi aplaudida. O seu homónimo inglês que o apoiou e que igualmente mentiu ao Povo está em queda de reconhecimento político.

O Primeiro Ministro português continua como se nada tivesse acontecido, escudado num autismo natural, num estado de irresponsabilidade total, como acontece em tudo que se passa neste País. Aqui, a hierarquia do dedo apontado para baixo, foi ele! , continua a funcionar.

Voltando ao tema central deste apontamento, gostaria de comentar que o que agora está a acontecer nunca se teria passado vinte anos antes. A CIA antes de ir procurar encontrar as armas de destruição total e na perspectiva de que não existissem, tratava de previamente as colocar no local.

Na realidade a CIA já não é o que era dantes.

sábado, outubro 04, 2003

moda antiga


boas ideias

Sob a designação Boas Ideias coloquei na coluna da direita deste blog uma série de ligações referenciadas a outros blogs que pela sua qualidade ou outras razões relevantes pretendo indicar o caminho a quem me dá a honra de visitar e, especialmente, ler o Oficina das Ideias.

Julgo ser da máxima importância realizar uma actualização regular, acrescentando ou retirando, a tais encaminhamento para manter a coerência com que esta lista foi criada.

Nesse sentido retirarei os indicadores dos blogs cujos autores há muito deixaram de os actualizar, por falta de tempo ou interesse, mas que dessa forma retiram a actualidade desejável para este tipo de comunicação que se pretende interactiva.

Por outro lado procurarei referenciar todos os blogs cujos autores e responsáveis tenham tido a gentileza de efectuar comentários aos meus posts. Julgo que lhes é devida essa atenção pelo seu interesse em interagir.

À qualidade não serei indiferente e sempre, seja qual for a forma porque tenha lá chegado, que encontre um blog cuja qualidade me sensibilize, pois, tratarei de partilhar esse facto com os meus visitantes.

Hoje mesmo, novos blogs irão fazer parte da minha listagem de encaminhamentos. Recomendo vivamente que sejam assíduos frequentadores das Boas Ideias. Já aqui ao lado...

um dia, uma ideia

Quem tem medo de Rui Teixeira?

Existe uma vontade deliberada da defesa do arguidos no processo de pedofilia, conhecido popularmente por “processo da Casa Pia”, em protelar pelo mais tempo possível o início do julgamento. Enquanto vão fazendo afirmações públicas de que é inconcebível um período tão prolongado de prisão preventiva.

Esta situação, que tão pouco tem sido explorada pelos órgãos de informação, é evidente pela análise dos sucessivos requerimentos tendentes a parar a evolução do processo, a retirar do processo o juiz Rui Teixeira, a por em dúvida a qualidade da justiça que se pratica em Portugal.

Todas as atitudes são tomadas com um objectivo, afirmando-se sempre o contrário desse desiderato.

No que se refere à utilização da videoconferência na inquirição para memória futura das 32 testemunhas, o juiz Rui Teixeira justificou-a “para não ferir a autenticidade dos testemunhos”. A defesa veio imediatamente a terreiro afirmando que o juiz não estava a ser coerente com afirmações anteriores e pondo em causa, uma vez mais, a sua imparcialidade.

O juiz Rui Teixeira uma vez mais esclareceu os seus objectivos que, inclusive, poderiam beneficiar a defesa com um maior esclarecimento das posições das testemunhas e conseguir assim a estabilização da prova.

A questão que eu ponho a mim próprio é de saber se, efectivamente, a defesa estará interessada mais na estabilização da prova ou em manter este ambiente de permanente suspeição, com mais um requerimento, com mais uma impugnação atrasando, cada vez mais, a data do julgamento.

Rui Teixeira, popularmente eleito como um juiz incorruptível está a ser incómodo para quem? Para os arguidos? Par os queixosos? Para os culpados? Para os inocentes?

sexta-feira, outubro 03, 2003

comentar é preciso

O meu amigo João Tunes por decisão própria que muito respeito decidiu não abrir espaço a comentários no seu blog Bota Acima. Aliás refere num dos seus posts:

"CORREIO
Por falta de saber e de tempo, ainda não meti o mecanismo dos comentários aos posts. Nem para envio de mails e linkar outros blogs. Lá irei a seu tempo. Entretanto, para os que estão esganados para me enviarem mensagens, envio endereço para onde podem enviar-me mails: joao.tunes@netcabo.pt. Saudações"

Acontece que tendo eu a facilidade de utilizar o Oficina das Ideias para comentar, não resisto a deixar aqui dois ou três apontamentos que julgo oportunos:

1 - Com data de hoje, colocou um post intitulado AO CORRER DE UMA MEMÓRIA, um texto de grande qualidade em que tece uma deliciosa recordação familiar de uma sensibilidade e calor humano únicos.

2 - Ontem escreveu sobre o "camarada Ivo" e com cada palavra, com cada frase, que eu ia lendo ia compondo uma figura humana que de há muitos anos alguns de nós conhecemos. Com outro nome é certo. Mas com o mesmo conteúdo de entrega total a uma causa.

3 - Num período difícil da sua vida contou com o apoio da Regina e da João. Contou-nos o que se passou num autêntico hino à Amizade.

Por estes três maravilhoso textos, OBRIGADO, João.

lanterna chinesa


um dia, uma ideia

Corrupção, compadrio, troca de influências...

Cada dia que passa, neste País conturbado, conturbado por desgovernado que está, uma nova notícia surge ao saber do público sobre a incompetência, a corrupção, o compadrio e o favoritismo que existe no aparelho do estado, ao mais alto nível.

Neste últimos dias foi a notícia de que a filha de um ministro teria ingressado ilegalmente na Universidade mediante um despacho especial de um outro ministro. Em causa estaria a filha do ministro do Negócios Estrangeiros a beneficiar de uma excepção ilegal aberta pelo ministro do Ensino Superior e da Ciência.

Uma vez mais a notícia surge fruto da investigação de um órgão de informação televisiva o que só vem dar razão ao que escrevi no post A Força da Informação do passado dia 28 de Setembro. Caso essa investigação não viesse a público o assunto passava longe do conhecimento público e dos deputados à Assembleia da República e a ilegalidade tinha os efeitos pretendidos: beneficiar alguém em prejuízo de terceiros, fruto de compadrio e de troca de favores.

Tudo o que se diga, se justifique, se realize depois disso cheira a falso...

Passadas mais de dezassete horas depois da notícia vir a público, e já muito depois dos partidos da oposição se terem pronunciado, toma a palavra o ministro cuja filha foi beneficiada, dizendo que não pediu nenhum favor, que inscreveu a filha na Universidade depois de os seus advogados terem analisado que nenhuma ilegalidade existia... Mas para evitar mais ditos e polémicas a sua filha não iria ocupar o lugar que tinha conseguido na Universidade e iria continuar os seus estudos no estrangeiro.

Quanta arrogância... Quanta vontade de humilhar quem lhe “descobriu a careca”... Quanto desprezo pelo colega ministro a quem apontou o dedo despudoradamente...

Mais valia ter dito: Povo, populaça, vão cagar, não me chateiem, que tenho dinheiro para passar por cima de tudo isto...

São estes os governantes que temos. Mas o Primeiro Ministro insiste em mantê-lo no lugar.

Quanto ao ministro que terá concedido o favor ao colega, melhor à filha do colega, esse usou da palavra quatro ou cinco horas mais tarde para dizer que tinha apresentado a sua demissão ao Primeiro Ministro, pese o importante trabalho de restruturação do ensino que estava a realizar, aliás muito contestado no campus universitário.

Com isso tenta silenciar um assunto que será por certo a ponta de um icebergue que é a corrupção existente no seio do governo. Sacrificaram um cordeiro para que os lobos, figura de estilo pois os lobos são maravilhosos, continuem a encher os amplos bandulhos.

quinta-feira, outubro 02, 2003

prémio nobel da literatura 2003

A temática social, a defesa dos oprimidos pelos grandes potentados económicos, a análise da integração do Homem na actual sociedade que o ignora dando o primado ao lucro desmedido, tem sido o estilo ultimamente valorizado pelo júri do Prémio Nobel da Literatura. José Saramago, Gunter Grass e agora em 2003, o escritor sul-africano John Coetzee.

John Coetzee tem 63 anos de idade, nasceu na Cidade do Cabo no dia 9 de Fevereiro de 1940, tendo ido viver para Inglaterra, no início dos anos 60 do século passado, trabalhar como programador de computadores. Em 1983, já a viver nos Estados Unidos, tornou-se professor de literatura, campo do saber por onde tinha, entretanto, enveredado. Que estranha ligação haverá entre os computadores e a literatura?

Em 1984 regressa à África do Sul, onde lecciona Literatura Inglesa na Universidade da Cidade do Cabo, tendo o ano passado fixado residência na Austrália onde se encontra ligado à Universidade de Adelaide.

O seu primeiro romance, "Dusklands” foi publicado em 1974 e estabelece o parelelismo entre os americanos que combateram no Vietnam e os primeiros holandeses que se estabeleceram na África do Sul.

Coetzee é duas vezes premiado pelo Booker Prize, em 1983 e em 1999, respectivamente com a publicação de “Waiting for the Barbarians” e de Disgrace (Desgraça).

O último trabalho de John Coetzee publicado no corrente ano com o título “Elizabeth Costello: Eight Lessons” aguarda publicação no nosso País.

Ao saber-se em Portugal, cerca das 12 horas de hoje, da atribuição do Prémio Nobel da Literatura 2003 a John M. Coetzee houve uma autêntica corrida às livrarias, tendo muitas delas visto o seu stock das quatro obras deste autor publicadas em Portugal, completamente esgotados.

O Pedro O. Gomes, do Sintra Gare, forneceu-me elementos preciosos para este post

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