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sexta-feira, outubro 31, 2003

elmano sadino

Anedotas de Bocage

Manuel Maria Barbosa du Bocage é conhecido pelo seu vasto anedotário. Curiosamente, a maioria das anedotas atribuídas a Bocage não são da sua autoria, recorrendo, isso sim, à sua atribulada e rocambolesca vivência para urdir os temas das anedotas.

Aliás, na minha meninice circulava aqui em Portugal um pequeno livro, “As anedotas de Bocage” que mais não era do que uma compilação de anedotas sem autor, como são a maioria, mas estas atribuídas indevidamente a Bocage.

Sonetos de Bocage

Bocage foi um poeta de excepção, destacando-se na sua obra os sonetos, com ou sem mote. Bocage deixa transparecer as suas vivências, o seu sofrer e o desprezo a que é votado pela sua eterna amada.

Com origem em famílias altamente colocadas na sociedade, optou por uma vida desregrada e boémia que acabou por o conduzir à prisão.

Em sórdida masmorra aferrolhado,
De cadeias aspérrimas cingido,
Por ferozes contrários perseguido,
Por línguas impostoras criminado;

Os membros quase nus, o aspecto honrado
Por vil boca, e vil mão roto, e cuspido,
Sem ver um só mortal compadecido
De seu funesto, rigoroso estado;

O penetrante, o bárbaro instrumento
De atroz, violenta, inevitável morte
Olhando já na mão do algoz cruento;

Inda assim não maldiz a iníqua Sorte,
Inda assim tem prazer, sossego, alento,
O sábio verdadeiro, o justo, o forte.


Erótico Bocage

O seu olhar crítico para com a sociedade de finais do século XVIII e dos primórdios do século XIX, repartida que foi a sua vida por Portugal e pelas Índias, espelha-se perfeitamente nas suas “Poesias Eróticas, Burlescas e Satíricas”.

É de um profundo erotismo a epistologia entre Olinda e Alzira, onde estas duas amigas trocam as mais íntimas confidências. Alzira a experiente mulher embalada pelas palavras inocentes (?) da Olinda.

A temerosa Olinda é quem me escreve?
É este o seu pudor, sua inocência?
Ah! Que as minhas lições tão bem aceitas,
Dão-me a ver que a discípula inexperta
Há de em breve ensinar a própria mestra.
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Interactividade

Sobre a frase que ontem escrevi sobre a passagem de Bocage pelo Rio de Janeiro:

No Rio de Janeiro não teve mãos a medir nos lundus, sambas, noitadas e amores negros.

escreveu a Doce Cathy, do Despenseiros da Palavra:

Essa visão de Rio de Janeiro está muito estrangeira. Espero um dia te mostrar um pouco do Rio do ponto de vista de uma carioca.

Além de esperar com ansiedade a minha ida ao Rio de Janeiro (conhecer bem com a Doce Cathy), ao Planalto Central (conhecer bem com a Querida Deméter) e ao Nordeste Brasileiro (a conhecer bem com a Doce Lua Lil), desejo confirmar o que a querida Deméter acrescentou, relativamente a ter sido o que Bocage na sua passagem pelo Rio usufruiu. Ele, na verdade, do Rio de Janeiro creio que só tenha conhecido a Rua das Violas, na Ilha Seca, onde se hospedou, todos os locais que hoje diríamos de "lanterna vermelha" e os faustosos salões onde espaiou as suas capacidades declamatórias.

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