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segunda-feira, novembro 30, 2009

princesa dos mares

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vinte e sete vezes quatro mais vinte e sete

Alvorecer
Melancólico alvorecer
De outonal sentir
Dos doirados e castanhos
Das azeitonas negras
Das vinhas vindimadas
Parras encarquilhadas
Veredas
Da vida percorrida
Passado o tempo
Que não perdido
Na vida com sentido
Ontem
Sol poente tingido
De vermelho
Hoje é a romã que pinta
Dependurada
Na árvore do sonho
Sonho alado
Por montes e vales
E pelo oceano
Percurso repetido
Na lareira perdido
No aroma da erva-doce
Na saborosa jeropiga
Que amacia a voz
Para mais uma canção... de AMOR



De Amor?
De amor se tinge o coração
De vermelho
De paixão
Que é renascer
Ao som metálico do banjo
Tocado em contraponto
Porque a guitarra maviosa
Ecoa nos campos
Nos olivais
Nos vinhedos
Mais além os castanheiros
Verde feito castanho
Desejo tamanho
Caminho sentido
No sonho ganho
Logo perdido
Escolho vencido
Raio de sol
Coado pela amarelada folhagem
Na curva da vereda
Sentido do poente
Hoje diferente
Depois renovado
Como é dos tempos
Passados vividos
De boa memória.



De invernia tempo
Foi de viagem
Para as terras do sul
Tempo de esperança
Chegou
Para viver o momento
De coragem sentimento
Abóbada de azul
Sinal de temperança
Como muito nos apraz
No sentir no renovar
Em permanente mudança
No arco-íris furtado
Daquela gota tão límpida
Uma flor de lilás
Que ilumina veredas
Do pensamento
Da vida
Que desta forma sentida
Qual estrela fulgente
Nos encaminha no sonho
Das montanhas
Dos mares
Para lá do horizonte
No brilho de um tesouro
Teu coração de ouro
De afectos é a fonte.



Sementeiras
Tempos de renovar
Da invernia esquecidos
São sentires
De que maneira
As sementes vão à terra
Terra castanha
Fica prenhe
De esperança bafejada
Pelos ventos
Da mudança
Os campos floridos
Amarelos azuis
Salpicados de lilás
São flores do meu jardim
São rosas
E o jasmim
Cravos vermelhos
Sentidos
Olhos brilhantes
Amantes
Palavras ditas
Na brancura das flores
Margaridas
Pétalas esvoaçantes
Pólen
Favos de mel.

Mudança
Do azul para o cinzento
É salto de passarinho
Que o tempo
É mesmo assim
Deixa-se percorrer
Devagarinho
Mas ganha novo alento
Por muito sentir e querer
É disso o merecimento
De quem o percorrer
Agora fulgente
Depois a negridão
Ameaça tempestade
Para o bem da gente
Que gotas de água são
Sol
Energia
Felicidade
Neste ciclo plenitude
Prenhe da esperança
Maternidade
De saber e temperança
Uma nova atitude
Perante a luz que nos guia
Longo caminho
O farol.

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domingo, novembro 29, 2009

uma flor para... a lisete




a Lisete é a minha querida Amiga Lis, do blogue Flor de Lis, defensora activa da lusofonia e a quem hoje desejamos muitas felicidades... tchim! tchim!

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à saúde de s. saturnino

Quando falamos do vinho “Vinha de Saturno” e, em especial, quando o provamos a nossa reacção imediata é de que se trata de “um néctar divinal”. Deveríamos, contudo, ser mais precisos. Será porventura um “néctar telúrico”, talvez mesmo um “néctar místico”…

Conheçamos este vinho, topo de gama da Herdade do Monte da Cal, de produção restrita a cerca de 3.600 garrafas ano, algo como cerca de 2.800 litros, e que tem as características seguintes:
Castas: Trincadeira, Alicante Boushet, Aragonez e um pouco de Baga
Teor alcoólico: 14,5% do vol.
Estágio: em madeira de carvalho cerca de 6 meses

Mas, o porquê de “néctar telúrico”?
“A qualidade do vinho vem do campo, vem da terra onde as uvas são produzidas”, afirmação peremptória que reserva para o enólogo a arte de harmonizar os aromas e os sabores, numa carícia, verdadeiro acto de amor até chegarmos ao produto final.

E a razão de “néctar místico”?
As uvas de onde este vinho é obtido são produzidas na freguesia de São Saturnino (no nordeste alentejano), santo da devoção visigótica e de culto muito raro em Portugal. Produzido nas terras de Saturno, deus da mitologia romana, deus da agricultura e das colheitas. Saturno é o nome de sábado (“dies Saturni”) e foi também a um sábado que a Herdade do Monte da Cal foi inaugurada.




A garrafa deste néctar, de vidro mais grosso que o habitua o que lhe dá um volume e robustez superior, tem um interessante rótulo onde podemos ler:
“O Saturno é o sexto planeta do Sistema Solar e antes da invenção do telescópio era o mais distante dos planetas conhecidos. A olho nu não parecia ser luminoso. O primeiro a observar os seus anéis foi Galileu em 1610; porém a baixa resolução do seu telescópio fizeram-no pensar que se tratava de grandes luas.”


Hoje é dia de São Saturnino

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sábado, novembro 28, 2009

olhares de ternura





cudelaria da casa cadaval

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pedras parideiras

o mistério e a fantasia
Mitos e lendas, ou simplesmente uma curiosidade, a que o Povo dá dimensão de universal sentir e a Ciência procura a explicação que nem sempre é conseguida



A magia, o mistério, a lenda vagueiam no planalto da Serra da Freita, para as bandas da povoação de Albergaria da Serra perto do ponto mais alto do maciço serrano. Por aqui passava em tempos idos a rota dos almocreves e recoveiros que atravessavam estes campos ermos com as suas caravanas de mulas ou cavalos. Nesta região faziam paragem para recuperar forças, das gentes e dos animais, encontrando abrigo numa estalagem de montanha no caminho de longas e perigosas viagens.

Nas proximidades da aldeia uma das mais vertiginosas quedas de água da península, a chamada Frecha da Mizarela, oferece-nos uma imagem de beleza única, inesquecível. Nos meses de invernia, quando o seu caudal é mais volumoso, o rio Caima, ainda próximo da nascente, precipita-se por abismo rochoso produzindo uma cascata de grande beleza.

Perto da povoação de Castanheira, do outro lado do rio Caima encontramos um dos mais raros fenómenos geológicos do Mundo. São as chamadas pedras parideiras, afloramentos graníticos que têm incrustados nódulos de biotite. Este mineral vai-se soltando da rocha-mãe por acção da erosão, libertando umas pequenas esferas escuras que parecem nascer da própria pedra.

A miudagem e o Povo em geral chamam “ovelhas” a estas pedras que a tradição designa por “jogas” e os cientistas por “encraves”.

O poeta Fernando Ramos cantou as “pedras parideiras” num interessante e bem ritmado poema que pode ser lido na íntegra em "Meus Livros" e que aqui, com a devida vénia, transcrevemos uma passagem...

“Na serra da Freita, vive a pedra mãe,
que anda a parir pedras como filhos
Elas são de granito e redondinhas,
que se apanham nos seus trilhos”

Fenómeno de granitização único no país e raríssimo no mundo inteiro. Situa-se em plena serra da Freita, no lugar da Castanheira, próxima da famosa Frecha da Mijarela ou Mizarela. Ao que se sabe, idêntico fenómeno só será conhecido numa região da Ucrânia.

As pedras parideiras são rochas graníticas com numerosos nódulos de coloração dourada que, em determinadas circunstâncias de temperatura, se destacam da rocha-mãe, jazendo então no solo às centenas.

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sexta-feira, novembro 27, 2009

matinal despertar

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de doirado me vesti

A minha querida Amiga Maria Teresa, do blogue Beijinhos Embrulhados, teve a gentileza e o afecto de oferecer à Oficina das Ideias o selo “Blog Dorado” que muito agradecemos.

Dedicado às “ideias” e à “criatividade” significa nas suas tonalidades de azul “a paz, a imensidão e a profundidade” e o dourado “a sabedoria, a riqueza e a claridade das ideias”. Não merecemos tanto destaque mas na nossa modéstia de “não sermos pobres e mal agradecidos” agradecemos o reconhecimento.




No cumprimento do “regulamento” deste méme publicamos o respectivo selo e distinguimos 15 blogues amigos com o mesmo, sem qualquer desprimor para os restantes.

A Aldraba
As Minhas Romãs, de Paula Raposo
A Casa da Mariquinhas, de Mariazita
Bailar das Letras, de Cathy
Carpe Diem, de Sara Louro
Cata-Vento, de Isamar
Flor de Lis, de Lis
Instantes da Vida, de Amigona
Maçã de Junho, de Margarida
MareTerra, de Gaivota
Perfume de Jacarandá, de Lilá(s)
Sexta-Feira, de Elvira Carvalho
Traduzir-se…, de Lualil
Trivialidade e Croquetes, de MagyMay
Uma Nova Cubata, de Fatyly

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quinta-feira, novembro 26, 2009

telúrica força

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as palavras que não são ditas

As palavras que se dizem, aquelas que não são ditas
Os silêncios que se calam, que são gritos de revolta
A esperança que se realiza, no sonho de que se solta
Um futuro construído, nas palavras que são escritas.

As palavras que se escrevem mais aquelas que são ditas
Formam frases de sentires, em sentimentos de revolta
Na luta pela igualdade que da solidariedade se solta
No rumo certo das verdades que no pensar ficam escritas.

A força do nosso âmago que se exterioriza em revolta
É solidariedade sentida nas palavras que são escritas
É a força de um sonho que a esperança liberta e solta

É o querer que vem da alma nas palavras que são ditas
É o cavalo alazão liberto, que em forte galopar se solta
Rumo à justiça e à verdade que nas palavras estão escritas.

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quarta-feira, novembro 25, 2009

vigilante solidário

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água santa da fonte

As referências às águas minero-medicinais da Charneca de Caparica são muito antigas podendo ler-se menções à Fonte de Nª Sª da Rosa na “Corografia” (1706) e no “Aquilégio” (1726) como pertencente à cerca do convento do mesmo nome, da Ordem dos Religiosos de S. Paulo, que não estando determinada a data da sua construção, sabe-se ser já habitado por eremitas no ano de 1413.

Refere-se a “Corografia” nestes termos “Na cerca tem uma fonte com o nome de Nª Senhora da Rosa, cuja água é milagrosa e tem a virtude de curar a lepra”. A gente mais antiga ainda hoje lhe chama a “Fonte Santa”. A Fonte de Nª Sª da Rosa foi, igualmente, conhecida como Fonte do Esteiro ou Mina de Santa Luzia.




Há notícias de já no século XV, cerca do ano de 1413, aqui haver um convento com capacidade para 30 pessoas e habitado por eremitas.

A “Corografia” (1706 :318) refere: “Não consta do ano em que se fundou este convento, mas só sabemos que no ano de 1413, já era habitado por eremitas”. E a citada “Corografia” informa ainda: “foi tanta a devoção e amor, que tinham a este convento, que as mais qualificadas de sangue o elegeram para sua sepultura. A Capela-Mor que é de bastante arquitectura, é de D. Ana de Ataíde, que a mandou fazer para seu enterro, e de seu marido D. Jorge de Abranches, aonde os sepultaram no ano de 1575”.

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terça-feira, novembro 24, 2009

milenares paixões




romã - fruto da romanzeira (Punica granatum)

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a morte da magia

De súbito tomou o céu a cor de fogo
Voaram baixo as aves assustadas
Prenúncio de eminente tempestade
Que varre os campos, a mata, o areal.

Do Verão os sonhos se esvaíram
Como as ondas varrem os castelos
De areia construídos e tão frágeis
Como os desejos e quereres sentidos.

Na angústia da incerteza pelo devir
O olhar procura a luz no horizonte
Mas somente encontra total negrura

Perde-se a magia na voracidade do tempo
É o Outono do calendário e da vida
Frutos maduros e folhas secas e mortas

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segunda-feira, novembro 23, 2009

tempos cinzentos

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o "raio de luz"

Na noite fora os barcos de pesca, os "barras náuticos" ou "pés de sal" deslocam se mar dentro numa labuta diária, tantas vezes enfrentando um mar perigoso e violento.

Ao largo da costa portuguesa surgem então pequenas luzes assinalando as suas presenças, dando a imagem de um céu muito estrelado, maravilhoso.

O "Raio de Luz" saíra do porto de abrigo ao cair da tarde, tinha navegado muitas milhas no oceano na procura do reflexo prateado dos cardumes.

Já havia mesmo tirado para bordo quantidade significativa de peixe que na manhã seguinte seria transaccionada na lota de Setúbal.

A navegação continuava; a noite calma e o mar chão eram um aliciante, era o chamamento da própria natureza.

Os "mestres das pescarias" utilizando a rádio CB trocavam entre si informações não só sobre a navegação como também sobre a posição dos cardumes naquele mar sem fim.

O tempo, assim, passava mais depressa e sentiam se mais seguros.

Foi então que se deu o acidente.

Num balançar inesperado, o desequilíbrio e um dos homens da companha em queda ficou gravemente ferido.

Os primeiros socorros são desde logo ministrados pelos colegas a quem a dureza do trabalho muito ensinou em matéria de sobrevivência.

O "mestre" recorrendo, então, à rádio CB põe em funcionamento o sistema de "ajuda rádio" apelando em canal 9 para a situação de emergência.

Tendo dificuldade em entrar em contacto directo com os Bombeiros Voluntárias recebe de imediato ajuda de uma outra estação de CB em terra que escutara o apelo e que consegue estabelecer o contacto com a entidade de socorro.

É acordada a forma de se efectuar o socorro, estabelecido o local onde o barco acostará para que quando tal se verificar já lá se encontre uma ambulância para que com a mínima perda de tempo seja realizado o transporte para a unidade hospitalar.

Todas as comunicações estabelecidas, a traineira pôde avançar afoitamente para o porto de abrigo na certeza de que os meios de socorro aguardarão a sua chegada com a ajuda necessária.

Durante o tempo de regresso o "mestre das pescarias" manteve contacto via rádio CB com terra, facto que lhe deu tranquilidade de espírito necessária a que tudo corresse bem daí para a frente.

A rádio CB acabava de prestar, uma vez mais, um bom serviço, mostrando a amplitude da sua utilidade.

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domingo, novembro 22, 2009

amizade

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foi pelo outono

Foi pelo Outono que comecei a arder
Nas tardes do teu corpo

[João Rui de Sousa, Obra Poética]


As folhas avermelharam com laivos de castanho e de doirado, caíram no chão formando um tapete fofo que pareceu cobrir todos os cantos do planeta. Os cheiros da terra húmida tornaram-se mais intensos, sentimos a acalmia do prometido tempo de recolhimento e meditação.

Mas pouco depois, sob o manto espesso da folhanga um fogo lento mas persistente despertou em mim sentimentos nunca antes navegantes do meu íntimo que anunciavam mudanças profundas próprias dos tempos de renascer.

Pouco a pouco o fogo foi ganhando ânimo e aflorou à superfície do manto de folhas caídas num crepitar intenso quão intensa é a vibração do teu corpo nos fim-de-tarde à beira-mar do nosso poema.

As tardes do teu corpo são sublimes no caminhar as pequenas elevações de terreno suave e doirado, nos profundos vales onde corre um cristalino riacho de prazer, na frondosa mata onde as abelhas colhem o néctar vital pata a felicidade.

O fogo do meu ser é prenhe do fertilizante de um recomeçar do eterno ciclo dos tempos e da vida ao compasso do esvoaçar de uma andorinha nas suas longas migrações sem origem e sem fim.

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sábado, novembro 21, 2009

circo do sol




Cirque du Soleil, em Lisboa

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relógio do passar das gentes

imagem que vale oitocentas palavras
É frequente ouvir dizer-se que uma imagem vale mais do que mil palavras. As imagens do “Olho de Lince” valem somente oitocentas pelo que há que as fazer acompanhar por um texto de duzentas



O tempo, o tempo que passa, é sempre tema recorrente nas conversas que se debruçam sobre a idade física das gentes e das coisas, inexorável no seu caminhar, na sua crescente contagem, ressalvem-se algumas honrosas excepções, como o mítico relógio do British Bar, no Cais do Sodré, em Lisboa.

Mas…
“…as pessoas passam pelo tempo ou o tempo passa pelas pessoas?”
Eterna questão que muito tem a ver com “o tempo que passa” no sentir dos seres humanos e que de forma magnífica Einstein respondeu… ou não?

Saber se respondeu ou não é relativo, claro está.

Desencantei esta imagem no “baú das memórias”, obtida no decorrer do “Festival do Oceano” de 2001 e imaginei nela um contador de tempo (?) em que não é o tempo que passa pelas pessoas, mas pelo contrário, são estas que por essa ampla alameda temporal vão caminhando.




O ponteiro do relógio passa a ter a dimensão que cada um sente, vivência mais dura ou tranquila, maior ou menor ansiedade em que o futuro seja presente e que este passado seja… e as marcações horárias? Deixam de estar alinhadas dispostas em perfeita circunferência, antes se dispersam no espaço em que cada um vivencia seus sentires.

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sexta-feira, novembro 20, 2009

debruçada sobre o mar




Pinhal do Rei

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globalização... solidária

O culto da personalidade, levado aos mais elevados níveis de paranóia, diria mesmo, de uma forma doentiamente exacerbada, tem caracterizado a nossa sociedade nas últimas décadas, situação que se tem vindo a agravar nos últimos anos.

A tão propagada e elogiada globalização económica e financeira, que não é nem social nem solidária, tem criado um fosso ainda mais profundo entre as pessoas, pois exige cada vez mais competitividade individual, muitas das vezes cega aos interesses colectivos, com efeitos, obviamente, perversos.

É nesta realidade, indiscutível à luz duma observação concreta, que os estudiosos da evolução e desenvolvimento mundial põem a sílaba tónica na importância das pessoas, no valor do trabalho de equipa, no interesse da partilha do saber. São temas da moda e como tal os governantes, os gestores das empresas e outros mandantes deste mundo afirmam-se, publicamente, seguidores destas novas (?) teorias de gestão.

A realidade, para o observador atento, quão longe está das palavras que são ditas e escritas todos os dias…

Continuo, evidentemente, a defender que o mais importante das instituições, públicas ou privadas, são as pessoas, pese o facto de ser algo incómodo para quem o defende mas não pratica, tal como continua a acontecer na sociedade do século XXI.

Para que isso aconteça julgo, na minha modesta opinião, de que o Homem Novo deverá ser mais compreensivo e solidário, com capacidade de trabalho colectivo mais do que procurar o individualismo e que o Mundo deverá ser devolvido ao seu verdadeiro dono: o Povo Universal.

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quinta-feira, novembro 19, 2009

mistérios sonhados




Pôr-do-Sol no Pinhal do Rei

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o outono

Outono do amor outono das aves
E de vozes caladas e de folhas
Molhadas de temor e surdo pranto

[Gastão Cruz, Poemas Reunidos]



O Outono bateu à nossa porta envergonhado por vir ensombrar o Verão que estava na hora de partir. É sempre assim todos os anos, mantém-se hesitante pelo menos até aos festejos de São Martinho. Depois desse tempo “de ir à adega e provar o vinho”, isso sim, começa afoitamente a preparar o caminho e, especialmente, o sentir das gentes para os tempos de invernia.

O Outono é do agrado dos amantes, pela suavidade que consigo traz, o convite ao recolhimento às carícias aos afagos. São tempos de maturação, depois de terminadas as colheitas. É tempo do mosto fervilhar e das grandes transformações, feitas com a tranquilidade do saber.

As avezitas voam mais baixo, sentem a força e atracção telúrica. Mas são voos de desassossego, de azáfama na procura de espaço de protecção e de abrigo. Outras tomam rumos do longe seguindo registos do seu código genético que as leva ao encontro de condições climatéricas adequadas à sua condição.

Daqui a pouco, as vozes alegres e expansivas que vibraram nos tempos de estio vão dar lugar aos murmúrios à volta da lareira, no recolhimento dos sentimentos, na preparação para o Inverno com os receios que desde eras imemoriais foram passando de geração em geração. As noites longas e escuras como breu sonham mundos fantásticos que o madrugar virá desvanecer nas mentes das pessoas.

Outono dos “amarelos e castanhos e dos vermelhões” como uma querida amiga tão bem o coloriu é tempo de afectos...

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quarta-feira, novembro 18, 2009

pastoreio no cabo




pastoreio em terras da Azóia, Cabo Espichel

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o velho pescador

Dedicado à minha Querida Amiga "Gaivota", do blogue MareTerra




O olhar já não tem o brilho de outros tempos, mas o seu semblante, o rosto marcado pelo tempo e pelas agruras da vida, expressa sabedoria. Conhece o mar como ninguém, os seus humores e os seus sinais. Sabe que o mar não é traiçoeiro, avisa sempre que a ira e a força vêm ao de cima.

O velho pescador ensina todos esses sinais aos mais novos, àqueles que agora começam nas companhas e que vão buscar o seu sustento ao mar que por vezes é doce e chão e outras é tão violento e irado. As marcas do luto, contam bem que seus filhos queridos não lhe seguiram os conselhos.

Desde esses tempos dolorosos que o olhar deste velho pescador perdeu o brilho mas não o querer que um dia, quando a sua altura chegar, possa vir a encontrar todos aqueles que o mar tragou e que ele tem a certeza “viverem” na mais bela ilha submersa.




Local: Nazaré
Data: Anos 60 do século passado

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terça-feira, novembro 17, 2009

uma flor para... a magymay




[a MagyMay é uma querida amiga que tem o blogue Trivialidades e Croquetes, e amiga amiga de primeira água]

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janela aberta para o oceano

imagem que vale oitocentas palavras
É frequente ouvir dizer-se que uma imagem vale mais do que mil palavras. As imagens do “Olho de Lince” valem somente oitocentas pelo que há que as fazer acompanhar por um texto de duzentas




Por esta ampla janela aberta para poente entra uma lufada de cultura e de saber, como o sentiram os frades franciscanos que aqui levaram uma vida sem ostentação mas que grandes acometimentos culturais realizaram.

Daqui desfrutaram uma das mais belas panorâmicas da chamada “boca do rio Tejo” e deixaram espraiar o pensamento desde o Monte da Lua, na Serra de Sintra até ao Barbárico Promontório, o Cabo Espichel.



Mas também neste local de respira poesia. Um monumento designado “Emissor Receptor de Ondas Poéticas” configura uma estrela de cinco pontas, símbolo com conotações libertárias, dá-nos a imagem da liberdade em que as linhas de fuga se dirigem ao céu azul, sem perder o seu apego telúrico e com o mar, que se vê até à linha do horizonte, a completar a trilogia de elementos: ar, terra e mar.

O simbolismo da estrela de cinco pontas é inquestionável, encontrando-se também na bandeira da República Democrática do Chile e na boina de Che Guevara.

Em conjunto com um memorial designado “Mil Olhos” homenageia o grande poeta chileno Pablo Neruda que morou os últimos anos da sua vida à beira do Oceano Pacífico, outros mares mas a mesma água que a vista daqui alcança.

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segunda-feira, novembro 16, 2009

livro de honra

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os segredos que o mar guarda

É nesta época de invernia, quando as equipas de limpeza das praias do Grande Areal ainda não entraram em acção que nos apercebemos da imensidade de objectos feitos lixo que o mar vem depositar nas doiradas areias.

Vêm de longe, por certo, esta “gandaia” que a areia vai cobrindo e que tempos depois a maquinaria de “arrasto” para a limpeza das praias põe de novo à vista e recolhe para depositar em aterros sanitários. Mas quanta desta “gandaia” não é trazida pelo mar para os areais e continua a sua negativa missão de poluição dos mares e oceanos, até à eternidade.

Estaremos nós isentos de responsabilidade quanto a estas situações?

Quando chega o Verão os seres humanos sentem-se atraídos pelo mar. Multidões concentram-se nas praias na procura das ondas do mar que lhes dão prazer e tranquilidade. O ser humano é naturalmente ingrato e em paga de tamanho bem estar deixa nas areias doiradas milhões de sacos de plástico e outros artefacto do mesmo material que o vento e as marés se encarregam de levar para o mar.

Um saco de plástico pode navegar dezenas de anos sem se degradar. As tartarugas do mar confundem-nos com as medusas e tentam comê-los, afogando-se no acto de os tragar. O mesmo acontece com milhares de golfinhos que não têm capacidade de distinguir o que são desperdícios humanos e tentam comer tudo o que flutua.

Uma rolha de plástico, mais dura do que um saco do mesmo material, pode permanecer inalterada no mar mais de um século. O Dr. James Ludwing, que estudava o albatroz na Ilha de Midway, no Pacífico, muito longe dos centros populacionais fez uma descoberta fantástica: Quando recolheu o conteúdo dos buchos de oito filhotes da albatroz que encontrou mortos deparou-se com 42 tampas de plástico, 18 isqueiros e restos flutuantes na maioria pequenos pedaços de plástico. Estes filhotes haviam sido alimentados pelos seus progenitores que no momento de os alimentar não tinham tido capacidade de reconhecer os desperdícios.

Da próxima vez que visitares a tua praia preferida é possível que encontres algum lixo que não deitaste na areia. Outra pessoa o fez. Mas não encolhas os ombros. O lixo não é teu, mas...

É a TUA PRAIA, é o TEU MAR, é o TEU MUNDO

Muitos pais brincam com seus filhos ao jogo de... ver quem consegue juntar maior quantidade de plásticos, uma verdadeira lição de ecologia.

Outros, em silêncio, apanham um saco de plástico e levam para suas casas longe do mar. Vão com um sorriso nos lábios, pois sabem que acabaram de salvar um golfinho.

As praias da Costa de Caparica, a Praia do Sol, com uma extensão superior a 15 quilómetros dispõem de receptores de lixo de vinte em vinte metros ao longo de toda a orla marítima.

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domingo, novembro 15, 2009

magia do fogo

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vento forte

espaço de poetar
Não sou poeta inspirado nem sequer sei construir rimas de espantar. Juntando algumas palavras, dando-lhe sentido e afecto, procuro nelas encontrar o encantamento das coisas simples e das vivências de um ancião



Vento forte sobre o mar
Vindo da terra mourama
Na calidez do rumar
No sufoco do amar
Levantinas ondas brama

Espraia xailes de prata
Na força do seu soprar
São sons de uma sonata
Murmúrios de serenata
Cumplicidades sem par

Desenha imenso colar
Com gotículas de cristal
Vão o azul adoçar
Dar brilho e muito lunar
Num rito ancestral

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sábado, novembro 14, 2009

elegante rosa

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a história do "tonino antonieta"

a banda do cidadão em acção
Vivências reais, contadas ao estilo de contos curtos, onde é posta a evidência a utilidade pública de um meio de comunicação rádio, muito em voga nas décadas de 80 e 90 do século passado. Chegaram a ser constituídas redes internacionais de emergência rádio com muitas acções humanitárias realizadas. Os governos dos diversos países do Mundo nunca viram com "bons olhos" este sistema, pois era um sistema de comunicações para todos, sem quaisquer tipos de fronteiras


D. José Pérez G., cura pároco duma aldeia da província de Palência é um grande amante das radiocomunicações. Amante de tal ordem que possui um transceptor da Banda do Cidadão.

Uma noite, faz algum tempo, há hora em que a frequência está cheia de "chamadas gerais", monsenhor José fez a sua por diversas vezes. Não obteve qualquer resposta. O Mundo, pelos vistos, parecia dormir calmamente à sombra da pomba da Paz.

Quando monsenhor José se preparava para descansar em paz com Deus, o seu equipamento de CB captou uma chamada de socorro.

A chamada de socorro SOS. Era um SOS angustiado da embarcação italiana "Tonino Antonieta" da praça de Génova: "Estamos à deriva na direcção da ilha de Ponza!".

O SOS era emitido em italiano, mas também em espanhol e em francês. O caso de "Tonino Antonieta" poderia ser uma tragédia como tantas e tantas embarcações desaparecidas misteriosamente no mar. Velhas tragédias de barcos que se não fora a preciosa ajuda de um rádio tinham empreendido a sua última viagem.

Monsenhor José escutou o apelo primeiro com surpresa, pois nunca havia sido posto perante problema semelhante. Depois reagiu e respondeu à chamada pedindo o indicativo e a confirmação do apelo. Tudo confirmado pediram lhe que retransmitisse a mensagem para as estações italianas.

Muito embora a chamada de socorro não tivesse clarificado a situação geográfica em que a embarcação se encontrava, nosso homem passou a retransmitir a mesma. Responderam lhe diversas estações italianas, prontificando se a comunicar o apelo às autoridades marítimas.

Pouco depois as comunicações com o "Tonino Antonieta" foram cortadas, na altura em que chegava a confirmação de que as autoridades militares italianas tinham dado ordem de saída a um rebocador da Capitania de Gaeta e de um horizonte da estação de socorro da Vagan di Valle. Também recebeu o aviso o vapor Sorrento, que fazia a travessia de Génova para Nápoles, informando que desviaria a rota para observar tudo o que fosse possível.

Depois de tudo isto, silêncio! Eram três horas da madrugada.

Alguns dias depois, Monsenhor José recebia os periódicos italianos "Il Tempo" e "Laboro", os quais davam conta da chamada de socorro recebida pelo cebeísta de Palência.

Explicavam igualmente como as autoridades marítimas italianas haviam mandado explorar durante três dias a latitude onde, aproximadamente, se poderia encontrar a embarcação italiana "Tonino Antonieta", com resultados negativos. Não obstante, enviavam os mais profundos agradecimentos, em nome da Itália, a Don José Perez G. que de tal maneira havia sabido cumprir o seu dever utilizando o seu pequeno emissor/receptor da Banda do Cidadão.

Todavia, hoje continua a ser um mistério o que se passou com a embarcação "Tonino Antonieta".

Foi um "barco fantasma" e a bordo ouviu se a ária "O Inferno", da Divina Comédia de Dante Alighieri? Iria o "Tonino" sem tripulação e governado pelo holandês errante com a sua alma no purgatório? Existiu realmente uma tragédia que hoje se encontra sepultada no fundo do oceano? Que algo de extraordinário aconteceu naquela noite o deixam adivinhar as notícias veladas da imprensa italiana.

Em todo o caso, o mistério do "Tonino Antonieta" ficará para sempre nas águas genovesas e nas ondas recolhidas por aquele pequeno transceptor duma aldeia de Palência.



[este texto faz parte de um projecto da Oficina das Ideias intitulado A CB EM ACÇÃO]

sexta-feira, novembro 13, 2009

tempo solar

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sexta-feira 13 a dualidade duma crendice

É mais frequente do que à primeira vista pode parecer, merecendo mesmo assim uma atenção particular, mesmo pelos que não são supersticiosos. Só em 2009 houve três “sexta-feira, 13”. Nos meses de Fevereiro e Março e agora no mês de Novembro. Contudo, para o ano de 2010 tal somente se verificará no mês de Agosto.


Sexta-feira, 13 é na tradição da civilização ocidental considerado um dia aziago, um dia onde diversas desgraças se podem juntar numa cumplicidade atroz e recaírem sobre o ser humano criando-lhe muitos problemas.

Para os cristãos, especialmente para os mais supersticiosos, é símbolo de desgraça, já que 13 eram os convivas da última ceia de Cristo, tendo este morrido numa sexta-feira. A crença na má sorte do número 13 parece ter tido, assim, a sua origem na Sagrada Escritura.

Nesta crendice, ou superstição, ou lenda, ou memória popular, como em tantas outras circunstâncias semelhantes, há uma notória apropriação por parte da Igreja dos sentimentos do Povo, de tempos muito anteriores à sua existência.

Uma lenda escandinava diz ter existido uma deusa do amor e da beleza chamada Friga, que deu origem a friadagr, sexta-feira. Quando as tribos nórdicas e alemãs se converteram ao cristianismo, a lenda transformou Friga numa bruxa exilada no alto de uma montanha. Para se vingar, ela passou a reunir-se todas as sextas-feiras com outras onze bruxas e mais o demónio - totalizando treze - para rogar pragas sobre os humanos. Da Escandinava a superstição espalhou-se pela Europa.

Também a mitologia nórdica se refere a este tema. No valha, a morada dos deuses, houve um banquete para o qual foram convidados doze divindades. Loki o espírito do mal e da discórdia, apareceu sem ser chamado e armou uma briga tamanha em que morreu o favorito dos deuses. Daí veio a crendice de que convidar 13 pessoas para um jantar é desgraça pela certa.

Há pessoas que pensam que participar num jantar com 13 pessoas traz má sorte porque uma delas morrerá no período de um ano. A sexta-feira 13 é considerada como um dia de azar, e toma-se muito cuidado quanto às actividades planeadas para este dia. Pessoas mais sensíveis a estas questões evitam viajar nestes dias e recusam utilizar alojamentos ou lugares em teatros e cinemas que tenham o número 13. Aliás, por essa mesma razão, a numeração dos camarotes de teatro omite, por vezes, o 13, em alguns hotéis não há o quarto com esse número que é substituído pelo 12ª e nas provas de automobilismo o 13 é banido.

Estes testemunhos e superstições são tão arbitrários e subjectivos que o mesmo número – 13 – e a mesma coincidência – sexta-feira, 13 - em vastas regiões do planeta - até em países cristãos - são estimados como símbolos de boa sorte.

O argumento dos optimistas tem por base o facto de que o 13 é um número afim ao 4 (1 + 3 = 4), sendo este, símbolo de prosperidade e de sorte.

Na Índia o 13 é um número religioso muito apreciado, de tal forma que os pagodes hindus apresentam normalmente 13 estátuas de Buda. Na China, não raro os dísticos místicos dos templos são encabeçados pelo número 13. Também os mexicanos primitivos consideravam o número 13 como algo santo, adorando por exemplo as 13 cabras sagradas.

A propósito da “sexta-feira, 13” é muito interessante a opinião do Doutor Moisés Espirito Santo, aliás, englobando a grande maioria das superstições, que opina terem origem no que poderíamos designar por “cartas fora do baralho”, isto é, situações incoerentes e estranhas que originam os mitos e superstições. No caso do 13 trata-se de um número que vem depois dos números da felicidade. A seguir à felicidade e fora dela, o azar.

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quinta-feira, novembro 12, 2009

amor perfeito

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o pagamento duma promessa

Recordam-se com certeza de aqui ter escrito…

Dizem os mais antigos, que foram acumulando com o tempo sabedoria… e também brejeirice que as mulheres que viajarem Rio Douro acima, partindo do lugar onde hoje está construída a Barragem de Miranda do Douro, e não vislumbrarem no escarpado da margem esquerda o número 2 que se não casarão. O casamento somente surgirá depois de tal visão.

O referido número 2 diz-se ser “obra” na Natureza que o desenhou no amarelo da rocha resultante dos líquenes que aí crescem naturalmente.

Mas acrescenta a lenda…

Se for um homem que não consiga ver o número 2 pode ter a certeza de que a mulher o anda a trair…

Não esqueçam, contudo, de que esta estória não é mais do que uma lenda.”


Algumas das nossas dedicadas leitoras ficaram algo preocupadas pois não haviam conseguido vislumbrar o celebrizado 2. Prometi, então, que clarificaria tal visão. E aqui está o cumprimento da promessa


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quarta-feira, novembro 11, 2009

quentes e boas

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no dia de s. martinho vai à adega e prova o vinho

No falar e no sentir do nosso Povo é neste dia, 11 de Novembro de cada ano, que as famílias se juntam para saudar a chegada do tempo frio, da invernia, da época de recolhimento. As vindimas já lá vão e o vinho mais temporão já poderá ser provado, são muitas as adegas que esperam este dia para fazerem a “abertura do vinho novo”. Contudo, muito caminho deverá ainda ser percorrido para que o maravilhoso néctar das uvas pisadas possa ser degustado na sua total plenitude.

Nos meios rurais terminaram os trabalhos agrícolas, sendo tempo de aproveitar das colheitas, dos frutos e do vinho, sendo época de exuberância familiar e comunitária, época de folgar, com uma ajuda a propósito do delicioso néctar. Nos folguedos de Outono, junta-se o religioso ao pagão que da tradição tem muito peso. O vinho vai correr solto gargantas abaixo.

Se já fez frio, nas terras mais serranas, então a água-pé, elaborada com o destino do S. Martinho festejar, já poderá ser devidamente apreciada. Caso contrário, há sempre o recurso à jeropiga e ao abafadinho. As vitualhas da tradição são as sardinhas, que já não pingam no pão, e quantas vezes não são das de conserva de salmoura em barrica, e as castanhas, assadas, cozidas com erva doce e as “quentes e boas”, assadas no forno sem qualquer corte.

A lenda de S. Martinho tem mais a ver com as condições climatéricas da época, o chamado Verão de S. Martinho, do que com as comezainas que lhe estão associadas. Conta a lenda...

Num dia tempestuoso regressava Martinho, valoroso soldado romano, à sua terra natal, montado a cavalo e agasalhado com uma pesada capa usada pelo exército de Roma. Na curva de um caminho deparou-se com um mendigo quase nu, tremendo de frio, enregelado, que lhe estendia a mão suplicante. Martinho sem hesitar parou o cavalo, e não tendo qualquer outro recurso disponível, rasgou a sua própria capa de militar, cedendo parte ao mendigo para que se cobrisse e protegesse. Subitamente, a tempestade desfez-se, o céu ficou límpido e um sol de Verão inundou a terra de luz e calor, e para que para sempre se recorde esta atitude do soldado Martinho, todos os anos, nessa mesma época, cessa por alguns dias o tempo frio e o céu e a terra sorriem com a benção dum sol quente e miraculoso. O soldado foi mais tarde canonizado como S. Martinho.

O costume do Magusto, que tradicionalmente começava no Dia de Todos-os-Santos, é simultaneamente uma comemoração pagã da chegada do Outono e um ritual de origem religiosa: o dia do Santo Bispo de Tours, S. Martinho.

A água pé é o resultado da água lançada sobre o mosto retirado do mosto vínico para o objectivo concreto de produzir esta bebida que pode ser consumida em plena fermentação. Por isso, reza o ditado popular: "No dia de S. Martinho vai à adega e prova o vinho”.

Quanto às celebradas castanhas, assadas com sal grosso, de preferência da salga do toucinho, cozidas com erva doce, “quentes e boas” assadas no forno sem qualquer corte, secas tornando-se “piladas” e utilizadas depois de bem demolhadas, acompanhando em puré outros preparos, ou servindo uma sopa aveludada e cremosa, o consumo de castanhas estende-se de finais de Setembro até ao início da Primavera.

Alguns ditos populares alusivos às castanhas e ao S. Martinho:

Dia de S. Martinho, lume, castanhas e vinho
Pelo S. Martinho, prova o teu vinho, ao cabo de um ano já não te faz dano
Pelo S. Martinho mata o teu porco e bebe o teu vinho
Pelo S. Martinho semeia favas e linho
No dia de S. Martinho fura o teu pipinho
O Verão de S. Martinho é bom mas é curtinho
A castanha tem uma manha, vai com quem a apanha.
Ao assar as castanhas, as que estouram são as mentiras dos presentes.
Cada mocho no seu souto.
Castanha que está no caminho é do vizinho.
Castanhas do Natal, sabem bem e portem-se mal.
Do castanha ao cerejo, mal me vejo.
Em Maio comem-se as castanhas ao borralho.
No dia de S. Martinho, há fogueiras, castanhas e vinho.
Na família da castanha o pai é pingão, a mãe é raivosa e a filha é amorosa.



Festejar o S. Martinho na boa companhia do Baco e do Agostinho (o de Viena de Áustria pois claro) resulta sempre numa degustação ímpar. Aqui ficam algumas quadras de "pé quebrado", inéditas e populares, que o pessoal da Oficina das Ideias deseja convosco partilhar:

S. Martinho não se cansa
De alegrar o Zé Povinho
Quando Baco entra na dança
E prova um copo de vinho

É dia de S. Martinho
Almada vai festejar
Abre a adega e prova o vinho
Que aroma! Que paladar!

Com tantos anos vividos
S. Martinho ao acordar
Desperta os cinco sentidos
E vem o vinho provar

No dia de S. Martinho
A tradição em Almada
Na adega prova o vinho
E castanha bem assada

No dia de S. Martinho
P’ra celebrar com amigos
Da adega vem o vinho
Castanhas, nozes e figos.




E agora... o Natal está à porta. Como diz o nosso Povo: "dos Santos até ao Natal, é um saltinho de pardal!"

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terça-feira, novembro 10, 2009

sem refúgio

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um raio de luz na vida do pintor

No caminhar da vida e do sentir
Ao velho pintor vai faltando inspiração
O traço antes firme, é agora indecisão
As cores dão lugar ao cinzento do devir.

A paleta de cores há muito ressequida
Esboroa-se como o tempo passa sem cessar
A sua eterna capacidade de muito amar
No ocaso da vida o pintor sente perdida.

No meio da borrasca de tamanha tempestade
Um raio de luz forte em tons doirados
Ilumina o rosto do pintor qual esplendor

A mão de novo firme desenha a amizade
A inspiração volta aos caminhos já andados
O traço colorido é de novo um hino ao amor.

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segunda-feira, novembro 09, 2009

toscas vestes

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água dos casais da charneca

minha terra é meu sentir
Caparica mais do que uma terra é um Povo. Gente que construiu vida entre o mar e a floresta em diversificado labor. Da sua vivência aqui se regista testemunho




Nos indicadores geográficos da Península de Setúbal [http://www.setubalpeninsuladigital.pt] das oito fontes de águas minero-medicinais referenciadas, quatro situam-se no Concelho se Almada: Fonte do Paraíso (Caparica); Fonte dos Casais da Charneca (Charneca de Caparica); Fonte da Pipa (Cacilhas); e Fonte da Telha (Caparica).

A “Corografia” (1706) refere a existência de três fontes de água minero-medicinais todas situadas num profundo e verdejante vale, o Vale da Rosa, onde corre um ribeiro que actualmente (2009) serve de fronteira natural entre as freguesias de Monte de Caparica e de Charneca de Caparica, o que pressupõe, desde logo, a existência no local de importante sistema aquífero que em tempos serviu para captação das águas para abastecimento público da Charneca de Caparica.

As fontes referidas são as Fonte da Telha, cujas águas são indicadas para o aparelho digestivo e rins (Contreiras, 1951), Fonte de Nª Sª da Rosa, com água considerada milagrosa na cura da lepra e a Fonte dos Casais da Charneca, cuja água chegou a ser explorada comercialmente com a designação de Água de S. Vicente e vendida em garrafões de cinco litros (em 1945, 1.018 garrafões e em 1946, 3.032 garrafões).

As referências às águas minero-medicinais da Charneca de Caparica são muito antigas podendo ler-se menções à Fonte de Nª Sª da Rosa na “Corografia” (1706) e no “Aquilégio” (1726) como pertencente à cerca do convento do mesmo nome, da Ordem dos Religiosos de S. Paulo, que não estando determinada a data da sua construção, sabe-se ser já habitado por eremitas no ano de 1413. Refere-se a “Corografia” nestes termos “Na cerca tem uma fonte com o nome de Nª Senhora da Rosa, cuja água é milagrosa e tem a virtude de curar a lepra”. A gente mais antiga ainda hoje lhe chama a “Fonte Santa”.

Quanto à água da Fonte Casais da Charneca, depois de ser utilizada de um poço aberto para fins agrícolas, foram nelas reconhecidas capacidades curativa, tendo sido analisada (Rego, 1922) por um funcionário do Instituto Central de Higiene, tendo-a considerado cloretada sulfatada sendo, posteriormente, de novo analisada (Carvalho, 1945) e considerada “a água dos Casais da Charneca é fria, hipossalina, cloretada sódica e bicarbonetada cálcica. De reacção alcalina, levemente sulfatada e fracamente radioactiva”. Acrescentando, ainda, “a água dos Casais da Charneca é muito pura atestando a excelência da captagem”. A comercialização da água da Fonte dos Casais da Charneca terá terminado no fim da década de 1960, por falecimento do seu último proprietário, Armando da Costa Lima.

Quanto à Fonte da Telha, que de topónimo semelhante nada tem a ver com a aldeia piscatória localizada a sul do concelho de Almada, é por certo uma outra emergência do mesmo aquífero, na escavação de um declive de terreno, tendo assim sido denominada por correr a água por uma telha ali colocada. É água muito procurada pelos populares pelos seus efeitos digestivos. Um utilizador desta água afirma “Esta água tem muita argila, eu dou-me bem com ela, como é água de nascente dá muito boa disposição. Agora já há uns tempos que cá não vinha. Mas por exemplo às vezes tinha assim uma azia de estômago e bebia e passava logo.”

À conversa com o Sr. José Mateus da Silva (7/11/2009), de 70 anos, ribatejano a viver há cerca de 40 anos na Charneca de Caparica, recorda-se perfeitamente da existência de quatro poços, o primeiro no território da freguesia da Charneca de Caparica e mais três na freguesia de Caparica, no caminho pedonal para Vila Nova.



[contributos para a história da Charneca de Caparica - minha terra de sentires]

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domingo, novembro 08, 2009

o segredo das ondas




costa do Morgavel, Sudoeste Alentejano

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as rosas de outono têm um aroma diferente

espaço de poetar
não sou poeta inspirado nem sequer sei construir rimas de espantar. Juntando algumas palavras, dando-lhe sentido e afecto, procuro nelas encontrar o encantamento das coisas simples e das vivências de um ancião



Abeirei-me da roseira
“Príncipe Negro”
Vermelha
Senti o seu aroma
Tão intenso
Tão diferente
Agora que é Outono
De calendário marcado
Mas o Sol tão fagueiro
Extrai orientais
Odores
Realiza o estabelecido
Une sentires
Amores
Centro do mundo
Encontro
De quem bem se quer
Valle Rosal
Jardim
De mil flores

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sábado, novembro 07, 2009

um poema, uma flor




azulejaria portuguesa do século XVII

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dançar em charneca de caparica

Lemos, faz tempo, no livro Trajes, Danças e Cantares da Caparica, da autoria de António Correia, editado em Costa de Caparica no ano de 1972, acerca das danças praticadas em Charneca de Caparica:

Vimos há tempos um rancho folclórico de determinada região dançar o nosso “Tacão e Bico” que, decerto, alguns, embora poucos, velhos ainda se recordam, de o ter dançado ou dele ter ouvido falar. Essa dança é deveras engraçada. Os cavalheiros e as damas, ao compasso da música, batem ao mesmo tempo, no chão, com o salto e depois com a biqueira do sapato ou bota. Essa dança, tão difícil de dançar e tão trivial na nossa terra, deu um salto ao Ribatejo, e hoje é desconhecida na Caparica. O mesmo sucede com a “Polca” e, em especial, a que se dançava na Charneca de Caparica: “Polca Janota”. Para a dançarem, era preciso saber e muito treino, pois esta polca pelo esforço que era necessário fazer, requeria boa constituição física.

Quando vim nos primeiros tempos para Charneca de Caparica, a férias ou para passar o fim-de-semana, já se não dançava em Charneca de Caparica, terra que no passado fora terra de dançar.

Na verdade, o seu Povo dividia a actividade entre a faina do mar, dirigindo-se para isso para a Fonte da Telha, em cujas companhas se integravam, ou nas tarefas do campo e da mata, especialmente, como lenhadores e carvoeiros. As actividades de trabalho que praticavam eram propícias à dança.

Em 1975, a Dona Emília, minhota radicada na Morgadinha, no termo de Charneca de Caparica criou um grupo de “danças e cantares” que recuperou para a Charneca de Caparica a tradição de dançar, facto de grande importância para a cultura da região.

Na região de Charneca de Caparica dançava-se o “Tacão e Bico” em tempos passados, hoje somente recordado por escritos, pois os mais velhos já se não lembram de o dançar e, tão pouco, de dele terem ouvido falar.

Era uma dança muito engraçada, viva e ousada, em que os cavalheiros e as damas, ao compasso da música, batem ao mesmo tempo no chão, ora o salto ora a biqueira do sapato ou da bota.

Originária da zona interior da Caparica, foi levada para terras do Ribatejo, onde hoje é dançada, enquanto por aqui está quase esquecida.

O mesmo sucede com a “Polca”, especialmente, a “Polca Janota” outrora dançada pelos bailadores e bailadeiras de Charneca de Caparica.

Para a dançarem, os bailadores deveriam possuir destreza e preparação física bem desenvolvidas pois era uma dança muito exigente, pela sua vivacidade e expressão corporal.



[contributos para a história da Charneca de Caparica - minha terra de sentires]

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sexta-feira, novembro 06, 2009

confidente mar

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just perfect

A minha Querida Amiga Mariazita, do blogue A Casa da Mariquinhas teve o afecto de me oferecer o selo “VIP Just Perfect” que muito lhe agradeço.



De acordo com as normas deste “méme” deverei atribuir este mesmo selo a 12 blogues da minha preferência. Como em tudo na vida, há que fazer opções sem que tal represente qualquer desprimor para os blogues que não vou premiar.

Aqui fica a indicação dos blogues escolhidos pelo pessoal da Oficina das Ideias

As Minhas Romãs, de Paula
Bailar das Letras, da Cathy
Beijinhos Embrulhados, da Maria Teresa
Carpe Diem, da Sara
Flor de Lis, da .Lis
Instantes da Vida, da Amigona
MarETerra, da Gaivota
Perfume de Jacarandá, da Lilá(s)
Sexta-Feira, da Elvira Carvalho
Traduzir-se…, da Lualil
Trivialidades e Croquetes, da MagyMay
Uma Nova Cubata, da Fatyly

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quinta-feira, novembro 05, 2009

uma flor para... a lígia




A Lígia é uma querida amiga da Oficina das Ideias, que nas terras do Brasil luta por uma vida melhor

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brasas vermelhas

Brasas vermelhas crepitam em pequenas labaredas
Que fazem brilhar os olhos de luxúria e de paixão
Nas malhas do sentir meu corpo enleias e enredas
Em prazeres infinitos em eterno querer e devoção

Queimo cascas de tangerina em minhas rudes mãos
Com fogo que transmite teu profundo e doce olhar
Em passos de sensualidade, música e ritos pagãos
Caminho veredas caminhos tortuosos sem hesitar

O vinho tinto limpa a boca e amacia meus lábios
Sedentos de beijos mil, carícias, erotismo sentido
Meu corpo recebe a vibração de movimentos sábios
Agora encontrado caminhar logo depois perdido

Que um sopro breve o crepitar das brasas (re)avive
Sejam farol que conduzam caminhos de felicidade
Muito querer aos escolhos encontrados sobrevive
Traçando o desejado sentir e querer da Liberdade

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quarta-feira, novembro 04, 2009

medronhos da aldeia

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sonhar é ir mais além

“¿Qué es la vida? Un frenesí,
¿Qué es la vida? Una ilusión,
una sombra, una ficción,
y el mayor bien es pequeño:
que toda la vida es sueño,
y los sueños, sueños son.”

[Calderón de la Barca]



Sonhar é voar é ir mais além
Do que o pensamento nos admite.
É sentir o muito querer por alguém,
Por mais que a razão nos limite
O coração sempre quer e o permite

Em seu sonho tão linda e indefesa
Despojada de roupa e muito bela.
Sobre o leito espraia sua beleza,
Que o olhar se deslumbra e enovela
Em memórias que anima e desvela.

Seu rosto sereno faz-me pensar
Que vive um sonho belo e muito terno.
Lindos olhos boca de encantar,
A tranquilidade de um sentir eterno
Que ilumina de Verão dias de Inverno.

Seus seios de mulher que doçura
Por vermelha cambraia estão cobertos.
A imaginação voa longe e em loucura,
Por espaços amplos e abertos
Nossos sentidos são então despertos.

Seu ventre é suave e sensual
Arredondado e macio no sentir.
Está coroado por um brilhante divinal,
Que ilumina o caminho a seguir
No espaço e no tempo sinal do devir.

O âmago do seu ser seu tesoiro
Recatadamente velado ao meu olhar.
Emoldurado por delicioso tosão de oiro,
É um sonho sonhado de louvar
O muito querer porque não? o adorar.

Seus lindos olhos de mel eu beijei
Numa doce carícia sem ter fim.
Na exuberância do sentir eu fiquei,
Consigo eternamente junto a mim
A mente a dizer não o coração sim.

Por seus olhos de mel me perdi
Deixei-me envolver pela loira cabeleira.
Aconcheguei-a a meu peito e senti
O calor de seu corpo duma maneira
Como se para mim fosse a vez primeira

Sonhei-a no Arco-Íris celestial
Por terras e mares maravilhosos.
Adorei sua imagem única sem igual,
Seu olhar e sorriso maliciosos
De seu corpo contornos deliciosos.

Queremos muito que o sonho não acabe
Mas tudo que começa tem um fim.
Diz o Povo que é aquele que mais sabe
Mas porque o pouco é imenso para mim
O sonho me ensinou um eterno sim.

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terça-feira, novembro 03, 2009

cabo espichel




Cabo Espichel (Promontório Barbárico) visto do Grande Areal

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o mágico alvorecer o de hoje

Já passava das 7 horas quando o sol surgiu na linha do horizonte, assim reza o Borda d’Água e eu pude confirmar, ligeiramente ofuscado no seu esplendor pela neblina trazida dos lados do oceano por uma muito suave brisa marítima.

A noite fora um pouco húmida fazendo que um odor telúrico, intenso, invadisse os nossos pulmões, algo que há semanas não acontecia fruto das elevadas temperaturas e dos ares desérticos que por cá têm andado.

A intensidade deste odor da terra não impedia, contudo, na tranquilidade do alvorecer, que outros cheiros compusessem um perfume ímpar. É o cheiro do mar trazido pela brisa matinal. São os cheiros das flores de Valle do Rosal onde predominam as rosas. Enfim, é o odor deste alvorecer mágico.

Mas a magia também tocou as avezitas que ensaiam, manhã cedo, os seus voos e os seus cantares melodiosos. As aves pequenas, porque as gaivotas voando lá bem no alto há muito que migram da orla costeira para o interior na procura dos alimentos.

Os melros, os despertadores da Natureza, ainda noite já ensaiavam as comunicações de longa distância com os seus iguais. Os seus piares despertam toda a Natureza para a intensidade do dia que agora nasce.

Toda esta agitação provocada pelo Sol que dava os seus primeiros passos em Valle do Rosal não bulia minimamente com a calma e tranquilidade que se respirava nesta manhã de magia.

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segunda-feira, novembro 02, 2009

lua de novembro




Lua Plena de Novembro às 19:14 horas (100%)

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viagem ao douro internacional - final

No Douro/Duero, de regresso para um “Final Feliz”


A Rocha Redonda que se encontra integrada no Santuário Rupestre de S. Mamede ficou para trás quando o navio “Escua” rodou 180 graus e tomou rumo ao Sul. O rio espelha docemente as duas margens como dizendo que dos dois países vizinhos é pertença, melhor, é pertença das gentes transfronteiriças.



A vegetação luxuriante enche os nossos olhares de cor, lembrando-nos a cada momento a importância da sua preservação e a catedral da Natureza em que navegamos.



O nosso dedicado guia solicita o silêncio absoluto. O piloto do navio “Escua” reduz ao mínimo o funcionamento dos motores que ficam silenciosos. “Escutem… escutem os sons da Natureza!”. No silêncio quase absoluto é, então, possível começar a ouvir os sons de algumas das aves que aí habitam. A perdiz… o grifo… o corvo marinho… o pato real…



Os belos efeitos cromáticos resultantes dos reflexos na tranquilidade das águas do rio Douro acompanham-nos permanentemente, variando como um caleidoscópio



Depois, surge-nos imponente, no alto da penedia, a Sé Catedral de Miranda do Douro



Esta maravilhosa viagem aproxima-se do seu final. Na margem direita do rio Douro, em terras de Portugal, espera-nos o cais da Estação Biológica Internacional



No rodar da embarcação, podemos ainda observar a árvore que designámos “Árvore de Fronteira”, magnífica de beleza e simbolismo



Já em terra foi-nos servido um “Porto de Honra” e apresentado um magnífico exemplar de Bufo Real, que faz parte das acções de preservação em ambiente natural de animais e aves em vias de extinção



E para um final feliz uma imaculada rosa branca que em si encerra todo o encantamento desta viagem ao Douro Internacional.

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domingo, novembro 01, 2009

batente e aldraba

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o “pão por deus”

As nossas crianças, os meus netos, os miúdos da cidade nunca conheceram a magia do "pão por Deus" que fazia andar bandos de crianças no dia 1 de Novembro, dia de Todos os Santos, de porta em porta, de vizinho em vizinho, pedindo figos, nozes e outras guloseimas.

_Ó Vizinha, dê o “Pão por Deus”!

O consumo desenfreado e a globalização económica geram o esquecimento das coisas simples e da nossa tradição. Mas valerá sempre a pena, apesar de tudo, pedir o “pão por Deus” numa cabeça de abóbora ou num chapéu de bruxa.

Mas na tradição portuguesa o “pão por Deus” era guardado num saquinho de pano que tempos antes a nossa mão ou a nossa avó preparavam com todo o cuidado com uma sobra de chita de algum trabalho de costura.

Ainda hoje nas aldeias mais recônditas, de manhã bem cedinho, no dia de Todos os Santos, as crianças saem à rua em pequenos grupos para pedir o "Pão por Deus". Caminham assim por toda a povoação e ao fim da manhã voltam a casa com os sacos de pano cheios de romãs, maçãs, bolachas, rebuçados, castanhas, nozes e, por vezes, até dinheiro.

Esta prática era realizada por miúdos de famílias mais modestas e procuravam sempre visitar os mais ricos da terra para poderem trazer algumas guloseimas que noutras épocas do ano nunca conseguiam obter. Recordo-me que havia o costume de confeccionar para oferecer nesta época uns bolos em formato de ferradura e com um agradável sabor a erva-doce.

Estas andanças de porta em porta eram sempre acompanhadas com cantilenas que continuam na memória colectiva

"Pão por Deus,
Fiel de Deus,
Bolinho no saco,
Andai com Deus."

Ou então, como me recordou a minha boa amiga Sonyah:

"Bolinhos e bolinhós
Para mim e para vós
Para dar aos finados
Qu'estão mortos, enterrados
À porta daquela cruz


Truz! Truz! Truz!
A senhora que está lá dentro
Assentada num banquinho
Faz favor de s'alevantar
P´ra vir dar um tostãozinho."

(quando os donos da casa dão alguma coisa, vem a resposta...)
"Esta casa cheira a broa
Aqui mora gente boa.
Esta casa cheira a vinho
Aqui mora algum santinho."

(quando os donos da casa não dão nada, é a ira da miudagem...)
"Esta casa cheira a alho
Aqui mora um espantalho
Esta casa cheira a unto
Aqui mora algum defunto."


A propósito do "Pão por Deus" recebi um interessante comentário, que é experiência de vida vivida, da minha querida amiga Milu, do blogue Miluzinha - Blog, que tomo a liberdade de aqui transcrever trazendo-o para a ribalta da Oficina das Ideias:

"Em criança comecei a ir ao pão por deus logo no meu primeiro ano de escola. Eu adorava esse dia, pelas coisas que me davam e pelo convívio com outros miúdos da minha idade. Pedir pão por deus em grupo era muito divertido, mas tudo tem o seu segredo: Quando nos dirigíamos a uma casa fraccionávamos o grupo, porque quanto menos formos, mais nos dão, ou seja, há a tendência das pessoas para diminuir a oferta a cada criança perante um grupo grande.


Algumas vezes aconteceu-me bater à porta de uma pessoa que me atendeu um pouco desiludida, por ter tido a preocupação de preparar o pão por deus para dar à criançada e, afinal, ainda ninguém lá tinha ido! Claro que nestas circunstâncias quem ganhava era eu! Quando assim era, ficava tão contente que até os meus sapatos ganhavam molas.


Passávamos a informação uns aos outros de quais eram as casas que davam e quanto davam, enfim, era um dia em cheio para a miudagem. Quando o meu filho era pequenino fui eu que o incitei a ir bater à porta dos vizinhos, comigo sempre a vigiá-lo, tinha de ser. No fundo pretendi que ele experimentasse a mesma alegria e satisfação que eu mesma senti, quando também eu pedi pão por deus.


Deleitava-me toda a ver-lhe os olhitos brilhantes, ainda de chupeta, com a baba a escorrer pelo queixo, devido à forma como segurava a chupeta e a olhar para dentro da saca onde abundavam os rebuçados e chupas de todas as cores e sabores. Tempos! Tempos que já lá vão!"

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