Partilhar
segunda-feira, outubro 06, 2003

um outro olhar

Uma nova parceria

A idéia não é nova e é bem simples. Nasceu em Portugal, mais especificamente na Oficina das Idéias. É mais uma parceria entre Brasil e Portugal. A partir de hoje, todas as segundas-feiras, Vicktor e Deméter vão apresentar um texto escrito a quatro mãos sobre temas variados. Não existe uma regra específica, um acordo de escrita, serão apenas os nossos olhares lançados sobre um mesmo tema e que pode ter continuidade ou não. O texto será publicado simultaneamente nos dois blogues. Bom, não temos muito a explicar, queremos lançar a semente e ver como germina.



Cai a primeira chuva de Outono em Vale do Rosal. Chuva miudinha, persistente, a chamada “chuva de molha tolos”. O céu toda a manhã encoberto mas com muito de azul à mistura, torna-se cinzento, uniformemente cinzento, dando a sensação que nunca mais deixará de ser assim.

Do solo emana um forte odor a terra, odor que invade os pulmões e, curiosamente, chega ao coração, ou será ao cérebro?, onde vai despertar uma série de sentimentos de bem-estar e de força, força telúrica e criadora.

As aves mais jovens, muitas delas nunca viveram antes esta época do ano, ensaiam voos mais baixos na procura dos insectos que se encontram mais junto ao solo. Apresentam sinais de alguma desorientação, mas muito em breve se adaptarão às novas condições climatéricas e voltarão a dominar o espaço como antes.

Os dias também já são mais curtos. O Sol tem um pouco mais de preguiça em se levantar no horizonte nascente, mas os melros não alteram o seu relógio biológico. Noite escura já lançam os seus piares estridentes, comunicando com os seus semelhantes a hora da alvorada.

Do outro lado do Oceano, um olhar perdido, procura encontrar na primavera que inicia, indícios de fertilidade. A natureza parece estar em festa. O canto das cigarras se mistura ao ruído dos carros na rua. Não é uma disputa, mas elas conseguem cantar mais alto anunciando que é tempo de flores, de borboletas, de revoadas de periquitos.

Nesta época as chuvas não são constantes e, por mais incrível que possa parecer, na primavera faz mais calor que no verão. Também esta estação afasta os pássaros que buscam alimento no meio urbano durante o inverno. Alguns voltam para as matas próximas. Outros, aguardam a independência dos seus filhotes. Fizeram ninhos na cidade.

No ar o cheiro de flores toma conta do ambiente. A cidade se veste inteira de flamboyants e bougainvilles de coloridos vivos. Os canteiros das avenidas readquirem seu verde intenso e se enfeitam de sempre-vivas, margaridas, azaléias, campânulas, petúnias e flores típicas do cerrado. Um brinde aos olhos do caminhante desatento. Não é possível ignorar tanta beleza.

As manhãs são sempre barulhentas. Gorgeios de pássaros e cigarras começam muito cedo e, do outro lado da rua, um papagaio imita todos os sons que ouve. Enfim uma verdadeira alvorada festiva celebrando a vida, o renascimento, o Sol se levanta mais cedo para participar da alegria e sente uma dificuldade enorme de ir embora. O por do sol é uma explosão de cores colhidas durante o dia. Em cada praça, em meio a edifícios, há sempre um artista com pincéis ou câmeras querendo eternizar aquele momento.

Mas aquele olhar perdido...



Comments: Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?