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sexta-feira, outubro 17, 2003

do fundo do baú da memória

Vou procurar e passar a escrito algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos. O pouco interesse que possam ter para os leitores dedicados pode bem ser compensado pelo afecto que pretendo colocar nesta partilha.

Jogar ao bilas

Mais ou menos nesta época do ano, quando começavam as aulas e o Outono já aí estava, a miudagem parecia tocada por uma varinha que lhes indicava que havia chegado a época do berlinde.

Era ver a rapaziada a abrir as covas, pequenas covas num piso térreo mais ou menos plano, e “jogar ao bilas”. Nessa época jogava-se unicamente pelo prazer do jogo e não ao “ganhas” como hoje se vê amiúde, pois perder o berlinde significava não voltar a jogar nas semanas mais próximas.

Os mais afortunados lá conseguiam um berlinde retirado com “arte e manha” de uma garrafa de pirolito. Um bilas maior que os mais vulgares em vidro branco baço e que era uma maravilha para jogar.

O desafio nascia de um “marralhões” dito imperativamente e que não significava mais do que a vantagem que quem o dizia tinha de ser o último a começar o jogo. Tirava a vantagem posicional pois quem lançasse o berlinde para mais próximo da cova mais distante seria o primeiro a iniciar o jogo, propriamente dito.

E era então o início da destruição das calças com joelheiras ou dos joelhos quando os calções por curtos não os protegiam. Com a lama do terreno de jogo nos joelhos ou nas calças era “missa cantada” garantida no regresso a casa.

Lembro-me que tinha um abafador para surripiar os bilas aos adversários, mas estes tinham sempre um contra-abafador que funcionava como vacina.

Apliquei aqui uma série de palavras: berlinde, bilas, abafador, contra-abafador, marralhóes (e também marralhos) ahh! E mais pilada de que não falei, um vocabulário específico e sazonal utilizado pelo clã ma “época do berlinde”.

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