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domingo, outubro 12, 2003

do fundo do baú da memória

Vou procurar e passar a escrito algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos. O pouco interesse que possam ter para os leitores dedicados pode bem ser compensado pelo afecto que pretendo colocar nesta partilha.

Os meus avós

Meu avô paterno, foi mestre sapateiro, mestre Humberto, oriundo de Campolide, penso que com antepassados da etnia cigana, sentava à mesa na refeição do almoço mais de trinta pessoas, entre a prol familiar e os artesãos e aprendizes. Era austero, com pendor republicano, patriarca e amigo do seu amigo.

Minha avó paterna, a Ti Joana, peixeira de profissão viera viver para as terras da Venteira vinda da zona de Viana do Castelo e perdera-se de amores pelo mestre sapateiro. Em casa o menu principal era sempre baseado no peixe fresco que ficava por vender no mercado da Amadora.

Meu avô materno, Manuel, trabalhador rural e pedreiro quando os trabalhos do campo eram escassos para alimentar a família, morreu cedo vítima da "pneumónica" ou de uma tuberculose traiçoeira. Minha mãe contava-me que muitos muitos anos depois de ter perdido o pai ainda lhe parecia ouvir o seu tossir quando subia a calçada na direcção de casa.

Minha avó materna, Isménia, veio para a capital muito cedo acompanhada de uma filha, bela e rosada moçoila que mais tarde seria minha mãe. Veio servir, como então se dizia, para fazer frente à vida quando enviuvou. Mais tarde melhorou a vida arranjando um lugar de porteira quando a Amadora começou acrescer em altura, lá pelos anos 40 do século passado.

Antepassados pobres, sofridos mas lutadores, ao que sempre ouvi dizer sérios e dignos, que constituíram famílias grandes, nem sempre tão unidas como seria desejável, como eles sempre idealizaram pudesse acontecer.

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