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terça-feira, outubro 28, 2003

do fundo do baú da memória

Vou procurar e passar a escrito algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos. O pouco interesse que possam ter para os leitores dedicados pode bem ser compensado pelo afecto que pretendo colocar nesta partilha.


Cai neve na minha terra

Passaram muitos anos, talvez 52.

Por esta altura do ano, com o Verão de S. Martinho à porta, aconteceu algo com a circulação atmosférica de uma raridade muito grande. Uma massa de ar trazida das zonas polares em conjugação com uma grande instabilidade atmosférica provocou a queda de um imenso nevão.

Não foi na Serra da Estrela. Foi na Amadora, às portas de Lisboa, onde não havia notícia da neve ter alguma vez caído.

Nunca ninguém vira nada assim. O Jardim Delfim Guimarães, único à época existente naquela localidade, estava coberto por um alvo manto. Recordo-me da camada de neve que se acumulou no largo muro, mais parecia uma muralha, que o circundava.

Foi uma brincadeira pegada. Bonecos de neve, neve arremessada às mãos cheias entre a miudagem da rua, os oficiais de barbeiro a virem para a rua confundindo as suas batas brancas com a brancura das terras.

Naquele dia não fui à escola. Andava, então, na primeira classe e a directora, a Dona Carolina Simões, dispensou-nos dos deveres.

Curiosamente, só me recordo de ter caído neve à volta de minha casa e no jardim fronteiro, logo ao atravessar da rua. Julgo que o “meu” mundo estaria à época reduzido a esse espaço.

A descoberta ainda não começara.

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