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domingo, abril 04, 2004

caminhando se faz caminho

Alguns apontamentos sobre pequenos percursos em que os sentidos são despertos para o Património Natural e Construído através das cores e dos odores, das estórias e das tradições, dos saberes e dos sentires. Venham connosco fazer este caminho...


do areal da Fonte da Telha ao mar Atlântico... as artes da Caparica

No areal amplo e doirado onde no ar se respira tranquilidade, uma colónia de gaivotas espera, como desde os tempos imemoriais, a chegada dos barcos das artes na promessa de banquete de peixe fresco. O corvídeo macho está alerta no topo duma palhota improvisada, enquanto as fêmeas, as duas fêmeas que constituem a família, desenham obras de arte na areia com a marca de suas patas, em convívio com as gaivotas.



De súbito, vindo das lonjuras do mar, aproxima-se um barco de pesca, pesca das artes, cuja companha acabou de fazer a lançada das redes, a poucas milhas da costa. Hoje os barcos já não são as tradicionais meias-luas, originados nos barcos de Ílhavo desde a época em que os pescadores da região centro migraram para a Costa em tempo de invernia, primeiro de forma sazonal, depois fixando-se em terra acolhedora.



Após o barco ter ultrapassado com alguma dificuldade a rebentação que se mostrava forte nessa manhã, recebe a preciosa ajuda do tractor que o reboca para a zona seca da areia. Noutros tempos o barco era puxado para terra firme à custa da força braçal dos elementos da companha que ficavam em terra, tantas vezes ajudados por populares que esperavam como retribuição uma tequinha de peixe fresco.



Já em terra firme podemos verificar que o barco tem o nome de SuziJoão, inscrito na Capitania da Trafaria, daí o TR no registo. Com muita frequência são atribuídos aos barcos nomes de pessoas, filhos, netos, esposa, namorada do patrão da companha. Outras vezes recorrem a nomes mitológicos, de preferência de deuses ligados ao mar. Perde-se a tradição quando se substitui na proa o olho estilizado por outros símbolos, como é o caso.



Os covos de barro utilizados para a pesca de polvos são abandonados na praia quando, fruto de corais que se lhes agarraram, perdem a utilidade para o fim a que se destinam. Dão contudo um colorido e tipicismo muito próprio, contrastando a sua cor com o doirado do longo areal. São marca muito forte de que aqui vive comunidade piscatória.



Bandeiras e bandeirolas, de cores variadas, na maioria das vezes de tons vivos, colocadas na ponta das canas servem para assinalar no mar, quando colocadas em flutuadores, o posicionamento das redes importante para as restantes embarcações que navegam na zona. As bandeiras são sinal de luto o que é frequente na comunidade piscatória tendo em conta a dureza desta vida.



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