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segunda-feira, fevereiro 09, 2004

do fundo do baú das memórias

Relembrar algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos


Os pregões na minha terra natal

A rua onde nasci e onde vivi até aos 12 anos na vila de Amadora, hoje uma das maiores e mais populosas cidades de Portugal, era na época uma rua muito movimentada. Era a única avenida da vila, com dois sentidos de trânsito separados por uma placa central, ficava situada bem junto ao jardim, o único jardim então existente e ficava no caminho para a estação de caminhos de ferro, o transporte privilegiado de quem trabalhava em Lisboa.

Era pois um local de passagem e de passeio onde o observador atento poderia sentir o pulsar da povoação, nos seus usos e costumes e onde, com o decorrer dos anos, se foi reflectindo o desenvolvimento local.

Da janela, situada ao nível do solo, vivendo a minha família no que então se designava por cave, tudo observava e muito mantive no fundo da minha memória. Por ali vi passar tropas em manobras quando se deslocavam dos quartéis de Queluz, Mafra e Serra da Carregueira em direcção a Lisboa. Na época do Carnaval eram inúmeras as “cegadas” que constituídas por grupos de mascarado, mascarados trapalhões, vinham dos diversos bairros e quintas na direcção do centro da vila, junto à estação dos caminhos de ferro.

Mas o que mais guardo na minha memória são os vendedores ambulantes que passavam gritando os seus pregões. A mulher da fava rica, transportando os panelões fumegantes, “_ Olh’á Fava Riiiiiica!”; o homem das castanhas assadas no forno e transportadas em sacas de serapilheira, “_ Queeeentes e Booooas!”; a Ti Maria dos gelados, “_ Esquimó fresquiiiiinho!”; o galego amolador de facas e tesouras, empurrando o seu zangarelho e tocando gaita de beiços a quem nós miúdos gritávamos “_ Vai dar água ao burro!”; ou então o chinês vendedor de gravatas a quem a um gesto nosso de dois dedos a esfregar as narinas nos respondia com um chorrilho de impropérios... em chinês.

Era, realmente, uma animação naquela rua, avenida?, que eu observava da janela de minha casa ou enquanto jogava ao bilas na placa central da rua.

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