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quinta-feira, julho 31, 2003

um relógio muito especial

É sempre agradável retornar ao British Bar e, tranquilamente, apreciar um digestivo com bastante gelo. A simpatia dos donos e de todo o pessoal e o cosmopolitismo da frequência completam o agradável ambiente.

A mesa situada no canto esquerdo logo na entrada é sem qualquer dúvida a mesa mais bem colocada para o observador de gentes e de factos. Aliás, diz a tradição, que aqui se sentavam diariamente os responsáveis em Lisboa das espionagens inglesa e alemã, inimigos no terreno durante a II Grande Guerra e que aqui procuravam ser um mais arguto do que o outro. O “bluff” seria a jogada principal.

Foi, igualmente, nesta mesa que o saudoso escritor José Cardoso Pires idealizou algumas das suas mais belas crónicas sobre a cidade de Lisboa, onde passa a filosofia dos bares e dos barmen. Foi no British Bar que deu uma memorável entrevista televisiva pouco antes de morrer.

O quase silêncio do meio-dia é seguido do forte bru-a-a já muito animado lá pelas 13 horas. Ainda bem para quem mantém a funcionar esta autêntica catedral do convívio na zona do Cais do Sodré. Somente o senhor Guilherme, engraxador, filósofo que desde há muito se habituou a ver o Mundo numa perspectiva diferente, se mantém impávido a esta movimentação, concentrado nos fulgores que vai conseguindo tirar dos sapatos que no início da sua tarefa estavam bem baços.



O British Bar exibe uma riquíssima estante de madeira, digna de uma biblioteca monumental, onde os clientes podem passar os olhos por rótulos de autênticas preciosidades, que há dezenas de anos aguardam por alguém com capacidade para os apreciar.

Mas para a grande discussão do tempo que passa, o British Bar oferece-nos na parede de fundo, oposta à entrada, um magnífico relógio inglês dos finais do século XIX, com o mostrador enquadrado por belíssimo trabalho de madeira, com as horas esmaltadas sobre medalhões de alabastro.

Mas o relógio que mais fama deu ao British Bar é muito mais singelo na sua aparência, mas extraordinário porque põe em causa a frase feita “no sentido dos ponteiros do relógio”. Relógio que já foi estrela de um filme suíço e que esteve patente no pavilhão deste país na Expo-98, pode dar origem a este diálogo:

Cliente – Este relógio está a andar ao contrário...
Silva – Não amigo... quem está a andar ao contrário é o Mundo...




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