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terça-feira, julho 08, 2003

viena dos meus encantamentos

Não era a primeira vez que chegava à maravilhosa capital da Áustria, contudo, o sentimento de deslumbramento sempre estava presente nessas ocasiões. Formalidades de desembarque, cumpridas com a rapidez que a situação de parceiros da Comunidade Europeia passou a proporcionar-nos, o transporte até ao centro da cidade percorrendo modernas vias e a nostalgia de deixarmos pelo caminho cortadas para locais de beleza ímpar que sempre fazem parte do nosso imaginário de viajantes e, num ápice, aí estamos envolvidos pela musicalidade que permanentemente paira nos ares de Viena.

A partir desse momento terminam as pressas, dos apressados viajantes, os nossos sentidos são completamente absorvidos pelo ambiente ímpar que se vive na cidade da música e do encantamento. Percorrer a Rigstrass é um acto de paixão e, simultaneamente, de contemplação e sempre com um fundo musical que parece permanentemente nos acompanha.
Esta encantadora rua, com 60 metros de largura e 4 quilómetros de extensão foi mandada construir por Francisco José I no local onde existia a muralha primitiva da cidade.

Beethoven, Johann Strauss, Schubert, Mozart fazem-nos companhia enquanto percorremos pausadamente o Stadpark de luxuriosa vegetação onde os autóctones e os forasteiros se juntam numa contemplação inolvidável. Mas também a estátua de Goeth e de Maria Teresa, o monumento a Sissi no Parque Público, e tantos outros locais, estátuas e edifícios do nosso imaginário.

Paramos por instantes na confluência do Rio Viena com um dos canais do Danúbio. Aqui nasceu a eterna cidade de Viena.

A magia do tempo é nesta cidade mais sensível do que em qualquer outra. O tempo flui sem que de tal nos apercebamos e logo somos despertos para a necessidade de admirar outros lugares e novas monumentalidades.

A Catedral de Santo Estevão, como muitas vezes é denominada a Stephansdom, de telhados policromos, cuja construção é riquíssima em arte medieval e renascentista, apela à nossa visita. Uma visita sempre repetida e que de cada vez nos proporciona novas visões e esplendorosas alegorias.

Quando percorremos a Rua Schuler, na direcção da Catedral e mesmo à beira deste monumental edifício, somos surpreendidos por uma enorme fila de charrets que aguardam os turistas que pretendam dar uma volta pela zona antiga da cidade em tão característico meio de transporte, puxado por elegantes cavalos. Os cocheiros, muitos do sexo feminino, estão vestidos a rigor eles de bigodes farfalhudos, elas de longos cabelos loiros.

Visitar a Catedral é sempre um repetido deslumbramento. Não podemos deixar de fazer uma referência, no meio de tamanha monumentalidade, à modesta estatuária em baixo relevo, o auto-retrato do Mestre Pilgram, com compasso e esquadro, autor do púlpito da Catedral que resistiu aos bombardeamentos da guerra, singela escultura que parece acompanhar com os olhos todos os movimentos dos visitantes. Está colocada sob a mísula do órgão primitivo.

No caminho da saída da Catedral cruzamo-nos, ainda, com a imagem de Nossa Senhora das Criadas, assim designada, por que a ela recorreu uma criada acusada injustamente de roubo, tendo-lhe sido reconhecida a inocência.

Na saída uma nova e surpreendente visão. No moderno Hans Hause, construído em 1990, espelha-se em toda a sua frontaria a imagem total da Catedral em mais um assombramento ao visitante já completamente maravilhado por tanta grandiosidade.

Esta é uma pálida imagem de Viena do nosso encantamento. O Danúbio, o Danúbio azul, o Palácio de Schonbrunn, Belvedere, a Ópera, os concertos de Mozart, o Prater, a Torre do Danúbio, o Prédio de Hunderwasse, as largas dezenas de igrejas e os verdejantes jardins e tantos outros locais que nos prendem e encantam.

Para os mais farristas, uma visita a Grinzing a um dos tradicionais heurige dos arredores de Viena, é uma ida a não perder. Que o diga o Agostinho...

Agostinho era um músico de Grinzing que além fazer música apanhava tremendas bebedeiras nos heurige onde tocava. Conta-se que no tempo da peste negra, época em que as pessoas já não conseguiam enterrar os seus mortos, pondo-os às portas para serem recolhidos por uma carroça que os levava para uma vala comum, o Agostinho com uma bebedeira de “caixão à cova” caiu à saída de um heurige e ali ficou até alta madrugada. Quando a carroça passou, considerou-o mais um morto da peste negra e lá o levou para o destino final. O Agostinho ainda esbracejou e esperneou mas já os coveiros se haviam afastado às pressas não fosse caso de serem contagiados por tão terrível doença. O Agostinho lá ficou junto dos cadáveres até ter forças para sair pelos seus próprios meios.

Consta que nunca foi tocado pela peste negra. Daí que alguém mais esclarecido deduza que quem bebe, e bebe bem, vinho de Grinzing, não apanha doença nem mesmo que seja a peste negra.



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