Partilhar
segunda-feira, novembro 03, 2003

do fundo do baú da memória

Vou procurar e passar a escrito algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos. O pouco interesse que possam ter para os leitores dedicados pode bem ser compensado pelo afecto que pretendo colocar nesta partilha.


Palmada Paternal

Amadora, a minha terra natal, ficava paredes meias com uma zona à época muito industrializada, onde se concentravam unidades importantes da metalo-mecânica. Anos mais tarde, aquando da Revolução dos Cravos essa zona fez parte integrante da Cintura Industrial de Lisboa, e hoje em dia, com os fortes ventos da globalização económica é uma das maiores fontes a contribuírem para o aumento do desemprego em Portugal.

No início dos anos 50 do passado século encontrava-se em plena construção uma barragem no rio Zêzere, a primeira de grande porte que iria constituir uma rede de produção de electricidade com o recurso a energias renováveis, neste caso um curso de água. O fornecimento das enormes tubagens metálicas que iriam constituir o curso guiado da água para produção de electricidade foram fabricadas numa dessas fábricas.

Tratava-se da Sorefame, dedicada à indústria metalo-mecânica com recurso a mão-de-obra e matérias primas totalmente portuguesas, que se situava na Venda Nova, freguesia da Amadora, mesmo ali às portas de Lisboa, nas chamadas Portas de Benfica.

O transporte das enormes condutas metálicas obrigaram à construção de camiões adequados para efectuarem o transporte rodoviário. A parte do transporte que utilizava os meios ferroviários tinha ponto de apoio a estação de caminhos de ferro que se situava a não mais de cem metros da casa onde eu vivia. Nas gares construídas para o efeito estacionavam durante algum tempo as enormes condutas o que sempre atraia a curiosidade dos mais novos, entre os quais eu me encontrava com os meus seis anos de idade.

E lá ia eu com o resto da miudagem da rua para perto de tamanhas estruturas, para nós e para os adultos também coisa nunca dantes visto.

De uma “conspiração” entre o senhor Cancela, chefe da estação e, por sinal, namorado da minha madrinha Elisa, e o meu pai Manel, com estabelecimento de drogaria ali bem perto resultou a ida do meu pai ao encontro da minha curiosidade.

Ciente do perigo que eu corria, ralhou comigo e na minha correria a caminho de casa deu-me uma palmada no rabo que fez com que eu andasse a coxear uns oito dias. Meu pai apanhou tamanho susto que jurou nunca mais me bater. E cumpriu... A partir daí quem fazia as honras dos castigos familiares foi a minha mãe. Benditas palmadas que ela me deu...

Comments: Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?