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segunda-feira, novembro 10, 2003

do fundo do baú das memórias

Relembrar algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos.


Os holofotes

Na época ouvia falar muito em guerra, pois a II Grande Guerra Mundial terminara há poucos anos e as gentes ainda sentiam no corpo e na alma os efeitos de tamanha desgraça que assolara a Europa e, ao fim e ao cabo, todo o Mundo.

Portugal não estivera directamente envolvido no conflito, mas a verdade é que uma aparente e formal neutralidade, Portugal servira de plataforma para as forças beligerantes. Aliás, Lisboa havia sido um dos principais pólos da espionagem, quer alemã, quer inglesa. Muitas situações das batalhas europeias passaram pelas mesas dos cafés, onde se conspirava intensamente.

Os efeitos da guerra eram bem sentidos na casa de todos nós. O racionamento dos bens de consumo mais necessários, o recurso às chamadas “senhas de racionamento” os tempos infindáveis nas filas na expectativa de se conseguir levantar o bens de primeira necessidade.

Vida difícil a de um Povo que não havia participado directamente na guerra mas que sofria a penúria de um país empobrecido pela falta de rasgos de desenvolvimento por parte de um governo, cada vez mais isolado relativamente aos restantes países da Europa e do Mundo.

Na Amadora, onde eu nasci e vivi a minha meninice, havia um aeródromo militar onde estacionava o Grupo de Esquadrilhas de Aviação da República e onde se encontravam instalados potentes holofotes que serviam para fazer a vigilância nocturna dos céus, com o recurso a potentes focos de luz que emitiam.

Recordo-me da emoção, julgo que medo, com que nas noites quentes de Verão quando saía com meus pais fazer uma caminhada pelo jardim ou nas imediações dos Recreios Desportivos, observava nos céus da Amadora as manobras que os tais holofotes efectuavam com pequenas aeronaves em voo de exercício.

Mais do que nunca eu me aconchegava às saias da minha mão enquanto olhava de soslaio para o céu muito escuro rasgado por potentes fachos luminosos.

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