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quinta-feira, novembro 13, 2003

elmano sadino

Apontamentos dos quereres e sentires do poeta de Setúbal, Manuel Maria de Barbosa du Bocage, na procura de uma verdade impossível de encontrar, o rumo da sua vida. Transcrição de sonetos e de poesias eróticas, burlescas e satíricas.


Vida dissoluta

A vida de Bocage nas terras do longe, nas Índias em decadência, tornou-se numa sucessão de orgias como contraponto a uma existência de tédio por que passava uma guarnição de Portugal em tão remotas paragens.

Andou de regaço em regaço das belas goesas enquanto ia captando as simpatias do Governador que lhe garantiu uma promoção a tenente de infantaria, tendo sido enviado para Damão. Tal promoção e tal movimento na sua colocação não seria alheio o desejo do Governador de “o ver pelas costas”.

Uma mulher muito bela e não menos leviana e arisca atravessou-se no seu caminho, o que não seria difícil para quem sempre procurava esses cruzamentos. Ana de Montaiguy, filha de um francês e de uma mestiça, ardente e sensual, de traição em traição, caiu nos braços de Bocage.

A inspiração de Bocage atingiu o auge, desfazendo-se em sonetos e madrigais.

Coisa de pouca dura, pois a quente Ana logo o trocou por um negro famoso pela sua envergadura. Bocage perdeu-se na sua indignação e vergonha.

Não lamentes, Alcino, o teu estado,
Corno tem sido muita gente boa;
Corníssimos fidalgos tem Lisboa,
Milhões de vezes cornos tem reinado.

Siqueu foi corno, e corno de um soldado:
Marco António por corno perdeu a c’roa;
Anfitrião com toda a sua proa
Na Fábula não passa por honrado;

Um rei Fernando foi cabrão famoso
(Segundo a antiga letra da gazeta)
E entre mil cornos expirou vaidoso;

Tudo no mundo é sujeito à greta:
Não fiques mais, Alcino, duvidoso
Que isto de ser corno é tudo peta.


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