quinta-feira, novembro 20, 2003
elmano sadino
Apontamentos dos quereres e sentires do poeta de Setúbal, Manuel Maria de Barbosa du Bocage, na procura de uma verdade impossível de encontrar, o rumo da sua vida. Transcrição de sonetos e de poesias eróticas, burlescas e satíricas
Por terras do Extremo Oriente
Na sua estadia pelas terras do oriente, Manuel Maria, não se limitou a espalhar a sua excentricidade pelas terras da Índia. Viveu tempos de glória e de desgostos em Goa e em Damão, onde amou com violentas paixões e onde “chorou” uma verdadeira “dor de corno” quando soube que a condessa de Montaiguy o trocara pelos braços, e não só, de um preto atlético.
A China misteriosa atraiu Bocage para alívio dos seus desgostos. Sem o apostolado de S. Francisco Xavier mas com a força da sua poesia. Triste e sem ilusões de vida lá rumou até Macau. Quando chega a Macau não passa de um mendigo, também mendigo de amores, desertor da Marinha e sem comer para matar a fome.
A distância da capital do reino, os usos e costumes tão diversos da Europa, a completa desorganização da estrutura colonial permitiam situações como a que aconteceu a Bocage. Desertor das índias foi recebido e acolhido na colónia do Extremo Orient6e.
O desembargador Lázaro Ferreira em boa hora lhe estendeu a mão dando-lhe finalmente alguma paz que a carreira militar nunca lhe concedera.
Tendo conseguido juntar algum dinheiro resolve regressar a Lisboa. Fê-lo na companhia de outros aventureiros que faziam a rota do Oriente, por gosto ou desfastio, tendo muito conversado com William Beckford que comentou sobre Bocage ser alguém singular e de grande excentricidade, mas que quando recita a sua verdadeira poesia o faz com profundidade e saber.
Aquela, que na esfera luminosa
Procedendo a manhã, qual astro brilha,
Mãe dos Amores, da espuma filha,
Que o mar na concha azul passeia airosa;
Apenas viu sorrir Nise formosa,
A quem dos corações o deus se humilha,
Do cinto desatado a áurea presilha,
No regaço lho pôs, leda, e mimosa.
Não te é (lhe diz) bem sei, não te é preciso;
Para atrair vontades à ternura
Basta-me um gesto, basta-me um sorriso;
Mas deves, possuí-lo, ó Ninfa pura,
Como trofeu, que dê ao Mundo aviso
De que Vénus te cede em formosura.
Bibliografia:
Poesias Eróticas Burlescas e Satíricas, M. M. Barbosa do Bocage, Editora Escriba, 1969
Sonetos, Bocage, Clássica Editora, 1961
Por terras do Extremo Oriente
Na sua estadia pelas terras do oriente, Manuel Maria, não se limitou a espalhar a sua excentricidade pelas terras da Índia. Viveu tempos de glória e de desgostos em Goa e em Damão, onde amou com violentas paixões e onde “chorou” uma verdadeira “dor de corno” quando soube que a condessa de Montaiguy o trocara pelos braços, e não só, de um preto atlético.
A China misteriosa atraiu Bocage para alívio dos seus desgostos. Sem o apostolado de S. Francisco Xavier mas com a força da sua poesia. Triste e sem ilusões de vida lá rumou até Macau. Quando chega a Macau não passa de um mendigo, também mendigo de amores, desertor da Marinha e sem comer para matar a fome.
A distância da capital do reino, os usos e costumes tão diversos da Europa, a completa desorganização da estrutura colonial permitiam situações como a que aconteceu a Bocage. Desertor das índias foi recebido e acolhido na colónia do Extremo Orient6e.
O desembargador Lázaro Ferreira em boa hora lhe estendeu a mão dando-lhe finalmente alguma paz que a carreira militar nunca lhe concedera.
Tendo conseguido juntar algum dinheiro resolve regressar a Lisboa. Fê-lo na companhia de outros aventureiros que faziam a rota do Oriente, por gosto ou desfastio, tendo muito conversado com William Beckford que comentou sobre Bocage ser alguém singular e de grande excentricidade, mas que quando recita a sua verdadeira poesia o faz com profundidade e saber.
Aquela, que na esfera luminosa
Procedendo a manhã, qual astro brilha,
Mãe dos Amores, da espuma filha,
Que o mar na concha azul passeia airosa;
Apenas viu sorrir Nise formosa,
A quem dos corações o deus se humilha,
Do cinto desatado a áurea presilha,
No regaço lho pôs, leda, e mimosa.
Não te é (lhe diz) bem sei, não te é preciso;
Para atrair vontades à ternura
Basta-me um gesto, basta-me um sorriso;
Mas deves, possuí-lo, ó Ninfa pura,
Como trofeu, que dê ao Mundo aviso
De que Vénus te cede em formosura.
Bibliografia:
Poesias Eróticas Burlescas e Satíricas, M. M. Barbosa do Bocage, Editora Escriba, 1969
Sonetos, Bocage, Clássica Editora, 1961