Partilhar
quinta-feira, dezembro 11, 2003

uma noite de encantamento

Há dias assim. Há dias em que todos os acontecimentos parecem convergir para aumentar a nossa sensibilidade, o nosso sentir profundo relativamente a acontecimentos que noutras circunstâncias nos passariam despercebidos.

Amante do teatro de revista desde muito jovem, quando pela mão de Paulo da Fonseca frequentava os bastidores, por não ter ainda idade para assistir ao espectáculo, retorno, de vez em quando, ao Parque Mayer para rever um género de teatro que nunca deixou de fazer parte do meu imaginário da crítica social.

Aconteceu recentemente, pela amizade que tenho ao Helder Costa, ir ao Teatro Maria Vitória assistir à revista “Vai para fora... ou vai dentro”. Calhou-me no acaso da escolha dos bilhetes sentar-me no lugar que o empresário dedicou à actriz e fadista Aida Baptista.

Com o decorrer dos quadros, com o desenvolvimento das rábulas, senti que com a salvaguarda da não existência de censura, tínhamos voltado aos tempos anteriores à Revolução de Abril. O mesmo Zé Povinho sofredor, humilhado, cilindrado pelos impostos. Os mesmos governantes prepotentes, oportunistas e traficantes de favores.

O meu primeiro deslumbramento: os temas revisteiros de 2003 não andarem muito longe daqueles que eram utilizados antes do 25 de Abril.

Integrando um elenco riquíssimo em carisma revisteiro Odete Santos, deputada comunista na Assembleia da República, com trabalhos teatrais de grande folgo no campo do teatro clássico e que aceitou integrar pela primeira vez um elenco de teatro de revista.

Já muitas vezes a ouvi referir o seu grande amor pela arte teatral, amor bem patente no quadro das Irmãs em que contracena com o novel e promissor actor Ricardo Castro. Um dueto impagável de crítica social à boa maneira da revista portuguesa.

O meu segundo deslumbramento: a excelente capacidade interpretativa e a dignidade de actuação de Odete Santos “estreante” no teatro de revista à portuguesa.

Cerca da meia note, um pouco mais, à saída do teatro, percorri a baixa lisboeta, sem as iluminações próprias e habituais da quadra natalícia, que haviam sido desligadas, penso, cerca das 24 horas. Cidade triste e soturna, já só sobravam sombras a essa hora.

A partir da ponte sobre o Tejo e na direcção do Sul foi o encantamento da luz. Profusamente iluminados o monumento ao Cristo-Rei, a Igreja do Pragal, o Centro-Sul e a Avenida Bento Gonçalves; O Fórum Almada e os depósitos de água do Laranjeiro, Monte de Caparica, Feijó, Lazarim e Charneca.

O meu terceiro deslumbramento: A fascinante sinfonia de cor e luz da margem sul do Tejo em contraste com a cidade ensombrada e desoladora que era Lisboa alguns minutos antes.

Comments: Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?