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segunda-feira, janeiro 26, 2004

do fundo do baú das memórias

Relembrar algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos


Pensar “a Pá”

Meu pai sempre tinha o costume de sair sozinho logo após o almoço de Domingo. Almoço tomado em família: meu pai e minha mãe, minha avó Esménia e eu, sempre terminava com a saída de meu pai para “dar uma volta”. Eu reparava que minha mãe ficava mais triste nessas ocasiões.

Fui apanhando as conversas que minha mãe tinha com minha avó ou com minha tia, quando esta nos visitava, muito embora não falasse muito no assunto. Minha mãe era mais de ficar calada, de sofrer “para dentro”.

Mas das conversas e com o meu fraco entendimento do assunto, apercebia-me dos temores e das preocupações de minha mãe. “_ Será que o meu marido tem uma amante?” Ou então entrava por caminhos mais sobrenaturais. “_ Diz-se que o meu marido vai para a serra dos moinhos falar com a mãe que já faleceu há muitos anos...”

Nos domingos de Inverno, quando escurecia mais cedo, muitas vezes com a chuva a fustigar as vidraças da janela que dava para o nível da rua, pois a nossa casa era a cave de um prédio, colava a cabeça na referida vidraça na expectativa de ver chegar o meu pai.

Na minha cabeça girava já um turbilhão de preocupações com a ausência do meu pai e a tristeza de minha mãe. Ficava então pensativo, ausente. Quando me perguntavam “_ Em que pensas, Victor?”, respondia invariavelmente “_ a Pá!”.

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