segunda-feira, janeiro 19, 2004
do fundo do baú das memórias
Relembrar algumas das memórias que se encontram bem lá no fundo do baú onde guardamos recordações de situações vividas há muito ou que nos foram contadas pelos mais velhos
Passarinhos, passarinhos
Do lado de minha mãe eram sete irmãos. Mais concretamente, duas irmãs e cinco irmãos. Como sempre acontece em todas as famílias numerosas, de entre os irmãos de minha mãe, um tio tinha a minha preferência.
Era o irmão mais novo, logo a seguir à minha mãe, chamava-se Ventura, e desde sempre o conheci como caseiro da quinta de um dos homens mais abastados da região Oeste, uma quinta situada em Enxara do Bispo. Eu ficava encantado de passar alguns dias das minhas férias na liberdade e no contacto com a Natureza que a estadia nessa quinta me proporcionava.
Alguns anos mais tarde, fruto de algum desaguisado com o patrão, o meu tio deixou a quinta onde havia trabalhado longos anos, onde casara e fora pai, tendo ido viver para um casal que tomou de renda, o Casal do Mariola. Nesse casal , bem mais perto na terra natal de minha mãe, alguns anos passei minhas férias de Verão.
Em Lisboa, acompanhando o meu pai quando ele ia às compras à baixa lisboeta, sempre me deliciava com o cheirinho a passarinhos fritos, petisco tradicional das velhas tascas alfacinhas. Era um “repasto de reis” quando o meu pai me comprava um passarinho frito dentro de uma carcaça de pão.
O meu tio, sabendo desse meu gosto gastronómico, numa das minhas idas ao casal propôs-me fazer uma caçada de passarinhos que minha tia confeccionaria o petisco. Tamanho entusiasmo e expectativa com que fiquei, mal dormi a noite que antecedeu a madrugada marcada para a caçada.
Manhã muito cedo lá fui com o meu tio lançar uma rede na boca de um poço onde centenas de passarinhos pernoitavam. Depois, foi enxotá-los, que na sua aflição de fuga se emaranharam na rede e aí estava uma caçada grande e frutuosa. Os passarinhos bem tentavam fugir mas estavam condenados a serem mortos, depenados e fritos em saborosa banha de porco.
Perante aquele espectáculo de vida e para espanto do meu tio só tive uma reacção: _ Tio não quero os passarinhos. Ponha-os em liberdade que eu gosto muito de os ver voar.
Nunca mais comi passarinhos fritos na minha vida. E as únicas caçadas que faço é com a utilização da minha máquina fotográfica, com que procuro escrever algo sobre passarinhos.
Passarinhos, passarinhos
Do lado de minha mãe eram sete irmãos. Mais concretamente, duas irmãs e cinco irmãos. Como sempre acontece em todas as famílias numerosas, de entre os irmãos de minha mãe, um tio tinha a minha preferência.
Era o irmão mais novo, logo a seguir à minha mãe, chamava-se Ventura, e desde sempre o conheci como caseiro da quinta de um dos homens mais abastados da região Oeste, uma quinta situada em Enxara do Bispo. Eu ficava encantado de passar alguns dias das minhas férias na liberdade e no contacto com a Natureza que a estadia nessa quinta me proporcionava.
Alguns anos mais tarde, fruto de algum desaguisado com o patrão, o meu tio deixou a quinta onde havia trabalhado longos anos, onde casara e fora pai, tendo ido viver para um casal que tomou de renda, o Casal do Mariola. Nesse casal , bem mais perto na terra natal de minha mãe, alguns anos passei minhas férias de Verão.
Em Lisboa, acompanhando o meu pai quando ele ia às compras à baixa lisboeta, sempre me deliciava com o cheirinho a passarinhos fritos, petisco tradicional das velhas tascas alfacinhas. Era um “repasto de reis” quando o meu pai me comprava um passarinho frito dentro de uma carcaça de pão.
O meu tio, sabendo desse meu gosto gastronómico, numa das minhas idas ao casal propôs-me fazer uma caçada de passarinhos que minha tia confeccionaria o petisco. Tamanho entusiasmo e expectativa com que fiquei, mal dormi a noite que antecedeu a madrugada marcada para a caçada.
Manhã muito cedo lá fui com o meu tio lançar uma rede na boca de um poço onde centenas de passarinhos pernoitavam. Depois, foi enxotá-los, que na sua aflição de fuga se emaranharam na rede e aí estava uma caçada grande e frutuosa. Os passarinhos bem tentavam fugir mas estavam condenados a serem mortos, depenados e fritos em saborosa banha de porco.
Perante aquele espectáculo de vida e para espanto do meu tio só tive uma reacção: _ Tio não quero os passarinhos. Ponha-os em liberdade que eu gosto muito de os ver voar.
Nunca mais comi passarinhos fritos na minha vida. E as únicas caçadas que faço é com a utilização da minha máquina fotográfica, com que procuro escrever algo sobre passarinhos.