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quinta-feira, janeiro 29, 2004

elmano sadino

Apontamentos dos quereres e sentires do poeta de Setúbal, Manuel Maria de Barbosa du Bocage, na procura de uma verdade impossível de encontrar, o rumo da sua vida. Transcrição de sonetos e de poesias eróticas, burlescas e satíricas


Esta Liberdade não a desejava Bocage

José Seabra da Silva e outros amigos influentes tinham convencido o Intendente de que Bocage não seria fonte de perigo, pelo que nem sequer a acusação de mação que uma senhora caridosa lhe fez teve qualquer influência .

Seabra convidou-o a trabalhar na Real Biblioteca, mas Bocage não aceitou pois não conseguia ver-se durante um dia de trabalho fechado entre quatro paredes, mexendo e remexendo em livros antigos e bolorentos, inalando a poeira das estantes.

Contudo, o dinheiro fazia-lhe falta para seu próprio sustento e para o ponche que ia beber a Taberna das Parras e, ainda, mas o sustento de sua irmã Maria Francisca, que já não contava com a ajuda da Marquesa de Alorna, desde que esta fora para Inglaterra.

Foi, então, viver ali para os lados da Calçada do Combro, em Lisboa, onde aperfeiçoava as suas versões e adaptações de Ovídio ao mesmo tempo que procurava ganhar algum dinheiro com traduções de obras muito procuradas na época, especialmente narrativas e poemas sobre as belezas naturais que estavam, então, muito na moda.

O negócio tornou-se tão próspero que o director da Casa Literária do Arco do Cego, da cidade de Lisboa, resolveu assalariar Bocage, dando-lhe, assim, um pouco de desafogo financeiro, mas obrigando-o a viver rodeado de dicionários, de anotações de revisão, de frases fabricadas o que muito o contrariava. Mas havia que garantir alguns meios de subsistência.


Soneto XL (erótico)

Pela rua da Rosa eu caminhava
Eram sete da noite, e a porra tesa;
Eis puta, que indicava assaz pobreza,
Co’um lencinho à janela me acenava;

Quais conselhos? A porra fumegava;
“Hei de seguir a lei da natureza!”
Assim dizia e enfeitou-se a empresa;
Prepúcio para traz a porta entrava;

Sem que saúde a moça prazenteira
Se arrima com furor não visto à crica,
E a bela a mole-mole o cu peneira:

Ninguém me gabe o rebolar d’Anica;
Esta puta em foder excede à Freira,
Excede o pensamento, assombra a pica!


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