quinta-feira, janeiro 08, 2004
elmano sadino
Apontamentos dos quereres e sentires do poeta de Setúbal, Manuel Maria de Barbosa du Bocage, na procura de uma verdade impossível de encontrar, o rumo da sua vida. Transcrição de sonetos e de poesias eróticas, burlescas e satíricas
Bocage no degredo
Com a Revolução Francesa à vista compreende-se que uma coisa eram os espíritos de eleição, como Bocage, e outra os interesses do poder do estado. Pina Manique tinha que defender o regime o os ideais à volta da fé vigente. Bocage, por seu lado, muito embora tenha dedicado alguma da sua inspiração a temas religiosos, como a Ode à Imaculada Conceição, colocava-se, as mais das vezes, do lado do Povo desfavorecido, vociferando contra o clero.
Quando um frade escalabitano protestou contra um barrista que feirava bonecos de barro representando os da sua classe com corpos anafados, amplas panças e cordões cingidos, logo Bocage saiu à liça com um soneto de improviso pondo-se do lado do barrista e contra os frades.
Em Lisboa os seus detractores atribuíram-lhe a autoria da tragédia Vestal d’Anchet que era dada como de um anónimo na representação no Teatro Morgado de Assentis. Com ou sem razão foram-se acumulando suspeitas sobre Bocage.
Pina Manique deu, então, ordem para os seus polícias fazerem uma devassa à vida de Bocage, considerando ser desbragado de costumes e, além do mais, ser avesso às obrigações da religião.
Apanharam Bocage, quando este, a bordo da corveta Aviso, se preparava para zarpar para a Bahia Meteram-no no Limoeiro, uma prisão que era à época uma autêntica enxovia.
Voa a Lília gentil meu pensamento
Nas asas de esperanças sequiosas;
Amor, à frente de ilusões ditosas,
O chama, e lhe acelera o movimento.
Ígneo desejo audaz que em mim sustento
Mancha o puro candor das mãos mimosas,
Os olhos cor dos céus, a tez de rosas,
E o mais, onde a ventura é um momento
Eis que pesada voz terrível grito
Soa em minha alma, o coração me oprime
E austero me recorda a lei e o rito.
Devo abafar-te, amor, paixão sublime?
Ah! Se amar como eu a amo é um delito,
Lília formosa aformoseia o crime.
Bocage no degredo
Com a Revolução Francesa à vista compreende-se que uma coisa eram os espíritos de eleição, como Bocage, e outra os interesses do poder do estado. Pina Manique tinha que defender o regime o os ideais à volta da fé vigente. Bocage, por seu lado, muito embora tenha dedicado alguma da sua inspiração a temas religiosos, como a Ode à Imaculada Conceição, colocava-se, as mais das vezes, do lado do Povo desfavorecido, vociferando contra o clero.
Quando um frade escalabitano protestou contra um barrista que feirava bonecos de barro representando os da sua classe com corpos anafados, amplas panças e cordões cingidos, logo Bocage saiu à liça com um soneto de improviso pondo-se do lado do barrista e contra os frades.
Em Lisboa os seus detractores atribuíram-lhe a autoria da tragédia Vestal d’Anchet que era dada como de um anónimo na representação no Teatro Morgado de Assentis. Com ou sem razão foram-se acumulando suspeitas sobre Bocage.
Pina Manique deu, então, ordem para os seus polícias fazerem uma devassa à vida de Bocage, considerando ser desbragado de costumes e, além do mais, ser avesso às obrigações da religião.
Apanharam Bocage, quando este, a bordo da corveta Aviso, se preparava para zarpar para a Bahia Meteram-no no Limoeiro, uma prisão que era à época uma autêntica enxovia.
Voa a Lília gentil meu pensamento
Nas asas de esperanças sequiosas;
Amor, à frente de ilusões ditosas,
O chama, e lhe acelera o movimento.
Ígneo desejo audaz que em mim sustento
Mancha o puro candor das mãos mimosas,
Os olhos cor dos céus, a tez de rosas,
E o mais, onde a ventura é um momento
Eis que pesada voz terrível grito
Soa em minha alma, o coração me oprime
E austero me recorda a lei e o rito.
Devo abafar-te, amor, paixão sublime?
Ah! Se amar como eu a amo é um delito,
Lília formosa aformoseia o crime.