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quinta-feira, janeiro 22, 2004

elmano sadino

Apontamentos dos quereres e sentires do poeta de Setúbal, Manuel Maria de Barbosa du Bocage, na procura de uma verdade impossível de encontrar, o rumo da sua vida. Transcrição de sonetos e de poesias eróticas, burlescas e satíricas


Enfim, livre!

Mesmo movimentando todas as influências e versejando para as damas que deleitadas iriam pressionar os maridos, a liberdade de Bocage ainda tardou. Tocado pelos senhores do poder, o desembargador Morais Brito despronuncia Bocage de delito contra o Estado, de que se encontrava acusado e incriminado, e entrega-o à Inquisição por erro religioso.

A Inquisição já não era o que antes fora. Desde o Marquês de Pombal que se transformara num tribunal benigno, para manter a sua existência. A Inquisição condena Bocage a receber a boa doutrina o que vai acontecer no mosteiro de S. Bento da Saúde, onde hoje funciona a Assembleia da República.

Manteve-se por pouco tempo neste mosteiro. É convencimento que terá movido novas e mais fortes influências para melhorar a sua situação. A verdade é que o Intendente da Polícia, homem influente na Corte, deu ordem a 22 de Março de 1798 para que Bocage fosse transferido de S. Bento para o Hospício das Necessidades.

Bocage foi entregue à direcção espiritual do Padre Joaquim de Fóios, homem de poesia e do saber, pertencente aos congregados do Oratório, os mais cultos religiosos de Lisboa. O Príncipe Regente foi brindado por Bocage com algumas odes de excepção, tendo-o compensado, por isso, com esmolas que lhe enviava sempre envoltas num sermão de moral.

Bocage era duro de roer. Se por um lado lhe incutiam no espírito religiosidade com que pretendiam modificar sua maneira de ser, ele nunca perdia a oportunidade de estabelecer longas conversações com gente leiga, como é o caso do Conde de S. Lourenço, amigo de Correia Garção, um velho filósofo que transformou tempos de cárcere de Bocage em “horas doiradas”.

Em 1979 mandam Bocage em paz.


Diálogo entre o Poeta e o Tejo

Poeta:
Tejo que tens, estás quedo?
Não banhas hoje esta praia?
De que o teu valor desmaia?

Tejo:
Eu te digo, mas segredo:
Confesso que tenho medo
Do teu ranchinho infernal.

Poeta:
O teu susto é natural,
Parecem três furiasinhas,
Mas contudo são mansinhas,
Não mordem, não fazem mal
-------------------------------
São uns cornos muito bem feitos,
Uns cornos mui delicados
São cornos, que torneados
Se podem trazer aos peitos:
Cornos que sobem direitos,
Pela sua varonia,
E sem mais cronologia
Tem gravados na armadura
Os timbres da fidalguia.


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