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sábado, janeiro 17, 2004

sentir o povo que vive

O fotógrafo e a escritora percorrem a calçada, vivem o Povo. Ele, escreve ideias e sentimentos com cada clique da sua máquina fotográfica. Ela, obtem as mais belas imagens com um simples pestanejar dos cílios e a leveza da pena na escrita.


Caminhando calçada acima

Lado a lado, caminharam calçada acima, bem para o interior do bairro degradado e pobre, situado mesmo ali à beira de uma grande e bela cidade. Seguiam silenciosos, absortos nos seus pensamentos. Naquele momento as palavras não eram necessárias, pois sem elas se estavam na mesma comunicando, permuta de mensagens quase diria codificadas, num cruzamento profundo dos pensares. A cumplicidade estava no auge dos sentires.

Ele, cabelo e barba fartos e brancos, fotógrafo com a sensibilidade na ponta dos dedos e no olhar atento, habituara-se com o passar dos anos, a escrever ideias e sentimentos com uma máquina fotográfica.

Ela, jovem, cabelo curto a desenhar a asa de uma exótica ave, escritora, e tantas outras coisas numa vida plena de solidariedade, obtinha as mais belas imagens com um simples pestanejar dos cílios bem desenhados no seu olhar doce e profundo.

Caminharam, caminharam tranquilamente naquele bairro que tantos apontavam como violento e marginal, mas que nem por isso deixava de ser constituído por pessoas. Caminhavam com a tranquilidade de quem vai no rumo certo, de quem acompanha um sonho premonitório.

Pararam um pouco. Se olharam nos olhos. Era importante agora dizer algo, tanta coisa que lhes atravessara o pensamento enquanto silenciosos caminhavam lado a lado.

_ Você já viu quanta mudança desde que pela última vez caminhámos esta calçada?

_ A comunidade está mesmo a mudar. Já não vês tantos meninos na rua como dantes...

_ Encontraram seu caminho... as calçadas estão mais bonitas, a higiene é maior. Vê aquela parede com uma tão bonita pintura mural... e que bela mensagem contém...

_ Hum! Que lágrima atrevida a brotar de teus olhos...

Continuaram a subida da calçada, sem qualquer receio. O Povo quando é mais feliz é menos violento. Na realidade, a salubridade parecia ter decidido instalar-se por ali.

Pararam. A escritora começou por sorrir, riso aberto logo depois. Forte gargalhar a ecoar na calçada.

_ Você está a ver que creche bonita? Novinha, ainda em acabamentos. Que alegria!

_ Sim! Hoje está a ser um dia surpreendente.

_ Imagina este espaço cheio de crianças... imagina a felicidade das mães por terem um lugar decente onde deixarem seus filhos...

_ Me sinto feliz também... Pela obra e pela felicidade que tu estás sentindo.

_ Já viu? Esta cidade maravilhosa, com o oceano azul aqui tão perto a confundir-se com o céu... Mas quanta carência ainda tem, com gente pobre sem condições de vida.

_ Mas este Povo está a recuperar a dignidade e a cidadania. A Esperança, aquela do Cavaleiro, é mais forte do que nunca.

Estavam extasiados com tamanha mudança. O Mundo tem que conhecer a força e a vontade de um Povo com Esperança.

_ Sabes, muita gente tenta ignorar estes passos gigantescos no caminhar da Felicidade. Ou porque não estão a ser directamente beneficiados, ainda não chegou a sua prioridade; ou porque não procuram informação adequada.

_ Minha querida, vamos à acção: fotografe tudo com o seu olhar tão belo...

_ E tu escreve, escreve com sua máquina fotográfica; o Mundo deve saber o que este Brasil de encantamento está realizando.

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