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sexta-feira, janeiro 09, 2004

tomei o café da manhã servido por uma pianista

Logo bem cedo, ainda a alvorada não se tinha de todo despedido para dar lugar ao dia aberto, dirigi-me à pastelaria, com fabrico próprio e tudo, onde habitualmente tomo o café da manhã. Na zona onde normalmente me sento não havia lugar livre pelo que tomei outro rumo. Hoje não teria a costumada cavaqueira com o senhor Paulo que, entretanto, não deixou de vir até à minha mesa para uma saudação matinal, mas fui atendido por uma empregada que hoje fazia o serviço das mesas do outro lado.

Anotou o pedido, como sempre um café e um claudino, que muitos em Lisboa chamam caparicas, atendendo-me com uma delicadeza pouco comum. Reparei então na letra do seu apontamento. Uma caligrafia perfeita, entre a escrita corrida e o desenho, encantadora. Não resisti a comentar: _Que bonita letra! A um _Ah! quase envergonhado atrevi-me a perguntar: _O que fazia no seu país? (Eu sabia que ela era uma imigrante moldava).

Respondeu-me muito simplesmente: _Na Moldávia era professora de violino e de piano. Tirei a licenciatura na Universidade de St. Petersburgo. Fiquei sem palavras... muito embora aquele café me tivesse sabido a música de Mozart.

Conversámos um pouco mais. Fiquei a saber das dificuldades encontradas para trabalhar em Portugal onde tem a sua situação regularizada. Fiquei a saber das dificuldades em prosseguir a sua carreira, para o que, anualmente, as entidades oficiais portuguesas exigem a apresentação de documentação da Universidade de origem devidamente traduzida para português, com incomportáveis custos envolvidos.

Soube o seu nome: Viktoria.

Só consegui murmurar: _Viktoria nunca deixe de seguir o seu sonho!

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