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quarta-feira, maio 19, 2004

sentir o povo que vive

O fotógrafo e a escritora percorrem a calçada, vivem o Povo. Ele, escreve ideias e sentimentos com cada clique da sua máquina fotográfica. Ela, obtém as mais belas imagens com um simples pestanejar dos cílios e a leveza da pena na escrita.

Hoje a Escritora delicia-nos com este texto:


Fazer um brinde à esperança

Caminharam ainda por um bom tempo em silêncio... certamente ainda a pensarem nas palavras um do outro.
Mas um grito vindo de mais longe rompeu o silêncio.
_ Ei... esperem!! Esperem!!
Viramo-nos. Correndo, vinha um jovem, quase ainda uma criança, o reconheci logo que meus olhos definiram os contornos daquele rosto já um pouco sofrido. Era uma das tantas, que um dia esteve comigo em uma Oficina de Arte, das tantas que desenvolvemos em comunidades menos afortunadas. Havia, naquele momento, um sorrido naqueles olhos... isso também logo pude perceber.
Antes que ele chegasse perto de nós olhei para o meu amigo fotógrafo e sorri... retribuiu-me o sorriso ao mesmo tempo que me fez ver um olhar de ternura.. eu o fotografei com o piscar dos meus olhos.
_ Até que enfim cheguei... vi quando passaram por perto da minha casa, queria muito dar um abraço na senhora e dizer que hoje estou vivendo aqui neste lugar.. consegui ajudar meus pais a comprarem uma casinha aqui com o trabalho que faço hoje depois que tive a oportunidade de aprender em nossa oficina. Faço trabalhos bonitos, muitas pessoas gostam e compram minhas peças.
Percebi a felicidade e a dignidade em seus olhos... a minha felicidade era ainda maior que a dele... fiquei visivelmente emocionada.
Dei nele um longo abraço e apresentei-lhe meu amigo.
Abraçaram-se também.
Seguimos ainda alguns minutos juntos a conversar. Meu amigo lhe fazia algumas perguntas ao que ele respondia com enorme empolgação. Falei pouco. Estava pensativa... feliz e pensativa.
_ Vou ficando por aqui disse ele. Nos despedimos.
Olhei para o meu amigo e não pude conter minhas lágrimas... chorei.
Ele me abraçou, sabia o que eu estava sentindo.
_ Mesmo que só uma entre tantas crianças consiga o que este conseguiu, ainda assim vale a pena acreditar em mudanças, vale a pena ter esperança. Ele, possivelmente levará a outras pessoas o seu exemplo como estímulo. É uma corrente. Agora já um leve sorriso estava em meus lábios.
Continuei...
_ Um dia, uma criança como esta que vimos, acreditou que seria possível mudar sua vida, o país, talvez mudar o mundo, e hoje ele conseguiu mais fortemente iniciar esta mudança, mesmo que apareçam outros que o tendem desestimular de várias maneiras, denegrindo, humilhando.
Meu amigo, tinha ainda um olhar de ternura ao me ouvir falar. Sabia que falava de alguém que dividíamos a nossa admiração... a quem ele tão sabiamente chamava de “Cavaleiro da Esperança”
_O Cavaleiro da Esperança. Disse ele.
Não precisava dizer mais nada. Demo-nos as mãos, descemos mais próximo ao mar, tão grande, atlântico sem fim... sentamo-nos em uma mesa com uma visão extraordinária.
Disse-me:
_ Podemos fazer um brinde à esperança?
_Devemos, devemos.


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