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sábado, junho 19, 2004

sentir o povo que vive

O fotógrafo e a escritora percorrem a calçada, vivem o Povo. Ele, escreve ideias e sentimentos com cada clique da sua máquina fotográfica. Ela, obtém as mais belas imagens com um simples pestanejar dos cílios e a leveza da pena na escrita.


O mundo a preto e branco

O Fotógrafo segue calçada acima ausente do movimento que o rodeia, pois os seus pensamentos vagueiam entre uma noite mal dormida e um sonho que tantas vezes dele se aproxima, absorvendo-lhe queres e sentires pela amizade e por um mundo justo e solidário.

Os seus passos são pesados, já não têm aquela leveza de meses atrás, são o espelho do seu actual estado de espírito. Além do mais, o Fotógrafo percorre a calçada sem um objectivo muito claro, pois sabe que tal como tem acontecido nos últimos dias hoje não se encontrará com a Escritora.

A vida tem destas coisas e o tempo que passa também. Solicitações muitas têm levado a que estes encontros em que juntando-se uma imagem a um texto se cria afectividade têm sido menos frequentes.

O Fotógrafo recorda “Lado a lado, caminharam calçada acima, bem para o interior do bairro degradado e pobre, situado mesmo ali à beira de uma grande e bela cidade. Seguiam silenciosos, absortos nos seus pensamentos. Naquele momento as palavras não eram necessárias, pois sem elas se estavam na mesma comunicando, permuta de mensagens quase diria codificadas, num cruzamento profundo dos pensares. A cumplicidade estava no auge dos sentires.”.

Uma lágrima furtiva, teimosa, rola no seu rosto, sabor salgado de uma ausência sentida. Apercebeu-se, então, que a câmara fotográfica desde o início do dia pendurada no seu ombro ainda não entrara hoje em funções.

Retirou-a da protecção, aproximou o visor dos seus olhos e viu o mundo, como tantas vezes antes já acontecera, através de um pequeno rectângulo e começou a disparar. Fotografou a preto e branco pois faltava-lhe a paleta de cores sempre presente nos olhos e no sorriso da Escritora.

O Mundo, na verdade, tem igualmente essa forte componente, essa dualidade de ausência total de luz e da presença em simultâneo da totalidade das cores da Natureza.

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