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terça-feira, janeiro 25, 2005

estórias de outros tempos

Já aqui tenho escrito a importância que tem na nossa vida e na nossa formação integral, o PAI. Este facto só é, realmente, valorizado quando o PAI parte fisicamente, mantenha-se, embora, sempre no nosso pensar e sentir. Vem isto a propósito do hábito que meu PAI tinha de contar estórias. Estórias singelas, como eram os tempos de então. Tempos duros, mas eivados de alguma ingenuidade e singeleza que se tem vindo a perder.


Contava o meu Pai:

Meu Pai foi durante muitos anos desde a sua meninice, pelo menos até aos doze da minha vida, empregado de drogaria. Comércio tradicional, hoje abrangido pelos artigos de limpeza doméstica e de higiene pessoal das grandes superfícies, era muito mais do que isso. Começou como marçano, que ia de porta em porta, recolher os pedidos dos clientes a quem iria fazer as entregas horas depois.

Caixote às costas, chovesse ou fizesse sol lá ia de porta em porta recolhendo no rol os pedidos dos clientes. O livrinho de papel manteiga e o lápis eram os seus instrumentos de trabalho. A entrega, essa era mais dura. Caixote com os artigos derreavam as costas das crianças ainda que já trabalhavam no duro.

Depois, foi empregado de balcão, com um trabalho já mais protegido. Mais tarde ascenderia ao lugar de encarregado, o que representava já um certo estatuto. O trabalho era duro, mas o humor simples, quase ingénuo, estava sempre presente. Claro que, como era da tradição, os marçanos, muitos vindos das lonjuras do País eram os “bobos da festa”.

Certo dia um dos marçanos que já tinha conseguido fazer um pé de meia com o qual tinha comprado umas botas que desejava mandar para a terra, falou para o meu Pai:

_Oh Sô Manel queria mandar estas botas para a terra, lá para o meu pai, mas não sei como fazer...
_Então de longe em longe não falar pelo telefone com o teu pai?
_Falo sim...
_Então e por onde vai a tua voz?
_Vai por aqueles fios que estão lá fora... de poste em poste...
_Então, sobes a um desse postes, penduras lá as botas e dizes que são para o teu pai.

E assim fez o “Negus”, alcunha do marçano, devido a ser bem escuro. Subiu muito a custo ao cimo do poste telefónico, pendurou as botas e lá deu indicação para que seguissem para Trás-os-Montes, terra de seu pai.

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