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domingo, janeiro 02, 2005

oh mar eterno

Que fique bem claro o meu lamento profundo pela perca de milhares de vidas e pelo sofrimento de povos tão desprotegidos e ignorados pelas civilizações ditas ocidentais. O ser humano que ponha a mão na consciência e avalie a sua verdadeira responsabilidade no acontecido nas terras do longe.


Ontem fui ao encontro do Mar, como desde há muito acontece no primeiro dia de cada ano. O mar azul e profundo que banha a orla marítima da Caparica é meu confidente e, igualmente, conselheiro. Nesta cumplicidade antiga banho meu corpo e meu sentir na expectativa de sempre melhorar a minha passagem por este Mundo e a minha forma de me relacionar com os meus entes queridos e amigos.

O meu olhar percorre para lá da linha do horizonte, até ao infinito, este mar imenso, azul e cristalino que une continentes e gentes, que faz a ponte do sonho e da esperança.

Conversámos longamente...

Não resisti, em determinado ponto da conversa, a questionar:
_Agora tão belo, tranquilo, azul de verde esperança, como foi possível participares em tão tremenda devastação em terras do tão longe?
_Eu sou energia, sou fonte de bem estar, existo para servir o ser humano, para lhe dar vida, mas repara à tua volta, aqui bem perto, nas doiradas areias da Caparica...


Toda a longa orla marítima, com mais de vinte quilómetros de extensão, entre a Trafaria e a Fonte da Telha e a lagoa de Albufeira, era constituída por um areal de mais de uma centena de metros até ao mar. Culminava com altas dunas primárias que faziam o encanto da garotada quando por elas rebolava algumas dezenas de metros. As dunas primárias são factor preponderante da protecção da orla marítima.

O egoísmo do ser humano levou a que fossem retirados milhares de toneladas de areia das praias e dos fundos do mar para serem depositadas nas praias de elite social da margem Norte do Rio Tejo, Estoris, Cascais...

As duas primárias foram ocupadas com parques de campismo, com a consequente pressão poluidora e com construções em altura, especulativa do seu posicionamento junto ao areal mas de elevado custo social.

A pressão demográfica sobre esta zona é incomportável. É uma zona utilizada anualmente por mais de 10 milhões de forasteiros, veraneantes, domingueiros, turistas que aqui abandonam toneladas de lixo, muitas das quais não degradáveis.


Continuei a insistir com o mar:
_Meu mar eterno, tens razão nas tuas observações, mas... tamanha tragédia?
_Meu amigo, pensa nestes factores que da responsabilidade humana me agridem sistematicamente:


Milhares de explosões nucleares realizadas experimentalmente no fundo dos oceanos;
A poluição tremenda das águas do mar provocada por petroleiros e outras embarcações;
O desequilíbrio total do sistema ecológico provocado pela emanação de poluentes para a atmosfera;
O não respeito, por parte dos senhores do Mundo, das decisões de Quioto, dos protocolos de Porto Alegre;
A ganância, a ânsia do poder, o egoísmo.


_Mar azul, mas reages assim por vingança?
_Não meu amigo, os deuses não são vingativos, o mar também o não é. Sou simplesmente energia.


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