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sábado, janeiro 29, 2005

sentir o povo que vive

O fotógrafo e a escritora percorrem a calçada, vivem o Povo. Ele, escreve ideias e sentimentos com cada clique da sua máquina fotográfica. Ela, obtém as mais belas imagens com um simples pestanejar dos cílios e a leveza da pena na escrita.


No “caminhar pela calçada recifense”, a minha querida amiga Lualil, do Traduzir-se..., leva-nos ao coração do frevo, à agitação de um Carnaval que na rua se vive intensamente. Colombina e Pierrô são clássicos da animação carnavalesca. Mas Lualil dá-lhes aqui uma dimensão tamanha de querer e de sentir como antes nunca vi ser escrito.

Depois é aquela fronteira ténue entre o sonho e a realidade que nos faz meditar qual desses aspectos traduz a verdadeira vivência. Magnífico escrito este que a Oficina acolhe num afectuoso abraço.


A Colombina e o Pierrô
por LuaLil

Andavam os dois pela Rua do Bom Jesus, repleta de história da cidade do Recife, o Fotógrafo registrava todos os momentos que apesar de revelar a Escritora um espectáculo conhecido, seus olhos brilhavam como nunca, parecia o coração bater mais forte. Abraçada ao Fotógrafo. Mostrava-lhe tudo tal criança em parque de diversão.

Passavam por eles blocos, maracatus evoluindo com seu rei e sua rainha, caboclinhos em passos marcados pelo arco e flecha, as mais variadas fantasias, rostos cobertos por máscaras e rostos e olhos abertos para todos... Corpos suados e muita música e alegria no ar.

Sentiu vontade de seguir o povo na rua como gostava de fazer e gritou ao Fotografo que fotografasse. No meio da multidão via os olhos dele a acompanharem com seu sorriso. Ele resolveu segui-la e aos poucos se ia aproximando dela. Até gritar-lhe:
_ Olha-me e sorri!!

Ela virou. Olhava em sua direcção. Quando o avistou, sentiu uma tontura e ainda com um sorriso no rosto caiu no chão. Fez-se no momento um silencio apavorante. O Fotógrafo tomou-lhe nos braços e a tirou do meio da multidão...A festa continuou... A música voltou a tocar e o bloco seguiu seu caminho.

Vestida de Colombina, dançava alegremente. Ao que se lhe aproximou o primeiro Pierrô.
_ Já não nos conhecemos? Disse ele.
_Foi no carnaval que passou? Riu. Lembrando a música.
_No carnaval passado era apenas eu um simples operário e buscava incansavelmente realizar meus sonhos...
_Já os realizaste então?
_Alguns deles... Beijou-a no rosto, abraçou-lhe como se matasse a saudade e sumiu.

Passava já agora pela rua animada, os caboclos de lança. Eles fascinavam os olhos da Colombina que se pôs a dançar com eles. Rodava e rodava até cair misteriosamente nos braços de um segundo Pierrô. Olharam-se como se enfim tivessem se encontrado. Ela não o conhecia, mas, sentia como se isso não fosse verdade.
_Já não nos conhecemos? Disse ela.
_Sim... Acompanhas-me há muito! Estás em meus sonhos, nos meus voos. Sorriu e a beijou. A Colombina imaginou coisas de amor. E antes que voltasse a suspirar, seu Pierrô já se tinha ido. Sentiu-se triste e só.

Seguiu calçada acima, sabia que o Fotógrafo devia estar em algum lugar... Procurou por ele. Sentia sua falta. Mas, de repente um grupo de ciganas a puxou para sua roda! Elas dançavam, rodavam e riam gargalhadas fortes, expressivas. A Colombina, que antes parecia assustada, aos poucos, estava a sorrir e dançar junto as ciganas na roda. Por trás da cigana de lenço vermelho, olhos castanhos claros, viu aparecer um Pierrô. Ele a olhou e foi em sua direcção. Ela parou de dançar. Estava imóvel. Ele a puxou para fora da roda, para mais distante da agitação. Disse-lhe:

_ Então já agora estamos juntos outra vez... Temos nos encontrado em vários momentos, em vários locais e tempos. E tu, és sempre a mesma em qualquer fantasia que usares, pois teus olhos, estes eu os reconheceria em qualquer parte do mundo.

Ela sentiu uma vontade enorme de abraçar-lhe. Beijar-lhe o rosto, sentir o seu cheiro. Mas estava tonta... Tonta.

_Querida... Querida! O Fotografo tocava-lhe suavemente o rosto.

A Escritora abriu os olhos e com um sorriso imenso nos olhos. Abraçou-o fortemente.


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