Partilhar
quarta-feira, janeiro 26, 2005

sentir o povo que vive

O fotógrafo e a escritora percorrem a calçada, vivem o Povo. Ele, escreve ideias e sentimentos com cada clique da sua máquina fotográfica. Ela, obtém as mais belas imagens com um simples pestanejar dos cílios e a leveza da pena na escrita.


Por está época do ano, tal como acontece em muitas outras cidades brasileiras, começa a grande transformação. O Povo já naturalmente alegre e optimista, parece entrar numa transe de boa disposição que contagia os forasteiros que ficam logo com “o samba no pé”. Também o Fotógrafo tem esse sentimento quando calçada recifense acima se encontra com a Escritora.

Contudo, o Recife é diferente. A multiculturalidade das suas gentes, o encontro permanente de povos e de raças, de saberes e de culturas, dá-lhe um “toque” único que se reflecte no “ferver” das gentes. O autêntico Frevo que vai invadir a zona antiga da cidade e dela se expandir para as restantes zonas, para o Mundo.

O Fotógrafo, que hoje veste a rigor, qual Príncipe de um reino de sonho, mal entra na calçada, depois de um cafézinho retemperador tomado no boteco da esquina, propõe à Escritora um jogo no mínimo estranho:

_Querida Amiga, agora que o Carnaval está aí, vou tirar a minha máscara de todo o ano. Continua a tua caminhada, que já nos encontramos.

Dito isto some-se no primeiro cruzamento.

A Escritora continua a sua caminhada, agora só, mas cheia de curiosidade. Logo na esquina seguinte surge-lhe um jovem, algo ingénuo, com ar de novato nestas andanças do Carnaval que se dirige à Escritora apresentando-lhe um papel escrito que ela lê:
_ ...me encantei com a docilidade que escreves a cerca de todos os temas, infelizmente não há muitos assim, e particularmente pela forma carinhosa que se refere ao Brasil, pátria minha.
_Quem és tu?
_Um simples operário, com vontade de sonhar...

Tal como subitamente tinha aparecido assim se esfumou na multidão que já a essa hora se dirigia aos seus trabalhos.

Pouco depois a Escritora foi abordada por um homem, cabelo farto, mais para o lado do branco, algo desgrenhado. Poeta, artista... que sei eu!
Dirigiu-se nestes termos à Escritora:
_Sinto que faz parte dos meus sonhos recorrente. Sonho voar, leveza total, na direcção das terras do longe. Penso que sempre o seu rosto e sua silhueta me acompanham...
_Nesse estranho enlevo eu me encontro quando escrevo “Entre o Sono e o Sonho”, faríamos uma parceria frutuosa...

Aquele idoso, algo louco, que abordou a Escritora perdeu-se na multidão que já entoava cantares de Carnaval. A Escritora ficou pensativa. Seriam más caras que a abordavam ou gente real? Por onde andaria o Fotógrafo, que hoje mais parecia um Príncipe?

Dos verdejantes canteiros de flores que tão bem ficavam na decoração da calçada, saltou um sapo que se postou a seus pés. Estupefacta a Escritora procurou apanhá-lo. Com algum esforço conseguiu o seu intento. Como lera nos contos da sua meninice aproximou seus lábios e beijou-o.

Do Príncipe, melhor do Fotógrafo, nem sinal. O ar ficou perfumado com o odor dos jasmineiros.

Comments: Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?