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segunda-feira, fevereiro 21, 2005

rescaldo do voto nulo

O dia anunciava-se ser longo, talvez monótono. Encerrado durante mais de doze horas numa sala, que o resto do ano funciona como sala de aulas, estava preparado para receber cerca de novecentos cidadãos portugueses que haviam sido convocados para votar. Votar para deputados da Assembleia da República, não para um governo ou para um primeiro-ministro.

Em milhares de outras assembleias de voto iria acontecer o mesmo.

Durante todo o dia, homens e mulheres, anciãos e jovens, pessoas vestidas com fatos domingueiros, outros com fatos de trabalho por lá foram passando, respeitando um ritual que legalmente está estabelecido: Identificação, descarga nos cadernos eleitorais, preenchimento do voto, introdução não urna. _Bom dia, muito obrigado!

As horas foram passando, sem haver grandes filas de espera as pessoas foram distribuindo a sua presença para votar de acordo com as suas disponibilidades, mas garantindo alguma animação ao local. Na generalidade apresentavam-se a votar com boa disposição, sentido de dever cumprido num belo dia de sol.

Para lá dos biombos que servem para isolar e dar tranquilidade a quem vota, ficou guardado o segredo do sentido e da forma de votar. Pelo desenho desses biombos tínhamos uma visão curiosa das pessoas, somente a visão da parte inferior do corpo, da cintura para baixo.

E como são diferentes as pessoas vistas na sua figura integral relativamente à visão que nós tínhamos nesses fugazes momentos do acto de votar.

E se o mistério do sentido de voto se veio a clarificar aquando do escrutínio, não ligando o votante ao voto mas sabendo dos resultados globais, já o mesmo não acontece quanto à forma de votar.

A grande maioria dos votos encontravam-se preenchidos de forma correcta indicando a força política escolhida. A grande maioria com um cuidado algo exagerado, a cruz cuidadosamente colocada dentro da quadrícula. Uns tantos demonstravam perfeitamente a vontade de dizer não! À totalidade das candidaturas, votos em branco.

Finalmente, a vontade expressa de anular o voto. Na falta do eleitor já falecido que optava por votar percorrendo o integralmente boletim com uma espiral que sempre reconhecíamos por ser audível a sua forma de votar, os nulos foram realizados ou com uma cruz marcada em cada uma das quadrículas, ou com uma cruz enorme abrangendo todo o boletim.

Num dos boletins marcados de cruz inteira ainda acrescentaram: CHULOS!

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