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domingo, maio 15, 2005

tsunami, não! – aguagem, sim!

Nos últimos tempos, por motivos de um dramatismo inaudito, os órgãos da comunicação social de todo o Mundo trataram até à exaustão a temática “tsunami”, quer sob o ponto de vista científico, quer sobre os seus efeitos devastadores sobre os edifícios e, muito em especial, sobre o ser humano.

Mostrei sempre alguma estranheza para o facto de, sendo a língua portuguesa tão rica como todos nós o reconhecemos, não haver uma palavra portuguesa a ser utilizada em vez de “tsunami” que nada nos diz como vocábulo.

Curiosamente, conversando sobre este tema com uma amiga brasileira que muito dedica do seu saber à língua portuguesa, também os jornais, rádios e televisões brasileiras não utilizaram para efeito das referências ao “tsunami” qualquer vocábulo português.

Folheando o I Volume da “Encyclopedia pela Imagem” encontrei um caderno dedicado ao Mar donde respiguei este texto (transcrito com a grafia da época com sublinhados da Oficina):

“As vagas sismicas e as aguagens
As aguagens são originadas por um abalo sismico, produzido n’um ponto do solo submarino. Então sob a acção d’esse abalo brusco, transmitido pelas moléculas liquidas até ás aguas superficiais, uma onda gigantesca desloca-se á superficie do mar, reprodução numa escala colossal desses “criados” que se produzem na agua d’um tanque, ao lançar-se-lhe uma pedra. Esta onda propaga-se á superficie do Oceano com uma velocidade enorme que pode atingir 750 ou 800 kilometros á hora, e a sua crista é precedida d’uma escavação da mesma importância. Quando este espaço vazio chega a uma costa, produz-se ali um abaixamento brusco do nivel do mar; os barcos são depositados, ou melhor, remessados ao fundo; mas vem a crista da enorme vaga, que os apanha de novo, leva-os para terra firme e, inundando-a, destroe as casas e os homens. As vagas assim produzidas teem algumas vezes mais de 20 metros d’altura. Todos os grandes tremores de terra, que ocorreram nas , margens do Oceano, provocaram aguagens. O mais celebre foi o de Krakatoa, nas Ilhas de Sonda (1883(. Deu origem a uma onda gigantesca que atravessou todo o Oceano Pacifico em doze horas, e que foi registada dois dias depois, em França, no mareografo de Rochefort.”


In Encyclopedia pela Imagem – O Mar, Livraria Cherdron, Lello & Irmão, Lda, Editores, Rua das Carmelitas 144, Porto.

A questão que se coloca, como em tantas outras circunstâncias, é a primazia dadas pelos órgãos da comunicação social à emoção e ao sensacionalismo em detrimento da investigação, mesmo da investigação da língua portuguesa.

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