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sexta-feira, julho 15, 2005

estórias da minha terra

Chamavam-lhes “charnequeiros” em lugar de “charnequenses” talvez com o fito de os diminuir nas suas qualidades intelectuais que não, de certeza, de trabalho. Era a forma como as gentes da cidade, mesmo que no passado “vila”, tratavam aqueles que viviam longe de Lisboa e do Rio Tejo lá nos confins da charneca.

Era realmente, gente de poucos estudos. Os homens não haviam passado da , então, designada 3ª classe, à época o “ensino obrigatório” e a maioria das mulheres nem à escola tinham ido. Eram agricultores e lenhadores e, nas épocas, de revezes em terra, desciam até à Fonte da Mina, hoje Fonte da Telha, e integravam as companhas a troco de algum quinhão de pescado para alimento da família.

Não havia estradas, donde se caminhava a pé, quantas vezes dezenas de quilómetros, por atalhos e caminhos, muitos desenhados pelo continuado caminhar. Entre silvados, tojo e outro mato. É dessas caminhadas que surge a estória que hoje aqui registo, contada por alguns idosos aqui do freguesia. Provavelmente, a mesma história se conta com outras gentes e noutras regiões como é hábito popular.

Certa tarde, quando o sol já se aproximava do ocaso, um homem chefe de família caminhava por um estreito carreiro, atalho que o levaria de regresso a casa vindo do trabalho. Um pedaço de espelho caído no caminho reflectiu a sua própria imagem, deixando-o em tal estado que mal chegou a casa comentou com a mulher:

_ Não queres ver que no carreiro que me traz a casa olhei para o chão e vi o meu pai que Deus tem!

No dia seguinte, a mulher tirou-se dos seus cuidados e lá foi fazer o caminho para confirmar a estranha visão que o marido disse haver tido. Quando este regressou a casa, interpelou de pronto o marido:

_ Viste o teu pai no caminho, foi? Tu viste foi a tua amante!

A sogra que tudo ouvia, tirou-se dos seus cuidados e manhã cedo foi também confirmar o que se passava. Quando regressou a casa desabafou com a própria filha:

_ Aquele estafermo do teu marido ainda se tivesse uma amante nova e airosa, mas a amante dele é uma velha desdentada...

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