Partilhar
quarta-feira, julho 27, 2005

vida de gato 2

Sou o Gato Fidalgo, para os humanos o Tati
[continuação do texto publicado em 17/Julho/2005]


Os dias foram passando nesse desesperado desejo de liberdade. Fui-me apercebendo que outros gatos apareceram a ocupar o território que fora meu por herança de minha avó que julgo saber bem mas que está há muito ausente e, muito em especial, de minha mãe prematuramente retirada do mundo dos vivos por acidente ou ataque de um predador.

Se me olhassem com atenção os meus “donos” ter-se-iam apercebido que as remelas que se acumulavam no canto dos meus olhos eram fruto não de uma inflamação nos sacos lacrimais mas antes resultante das lágrimas que rolavam até aos bigodes de tanto querer ir defender o meu espaço.

Cuidam de mim com muito carinho, tratam das minhas maleitas, sei quanto gostam de mim mas não entendem a necessidade que sinto de saltar de quintal em quintal, de dormir na sombra de um arbusto, de vaguear desde o pôr-do-sol até ao raiar da aurora.

Um dia, sem encontrar explicação para isso, o meu “dono” fez-me um carinho mais prolongado e saiu levando consigo um saco de mão com o qual nunca o havia visto antes. Senti que algo fora do comum se estava a passar com o meu “dono”. Tanto mais que nessa noite não o encontrei na cama onde normalmente me ia aninhar num sono tranquilo.

A minha dona regressou a casa algum tempo depois e pareceu-me nervosa. Nessa noite e nas seguintes senti que o meu “dono” atravessava um período difícil da sua vida. Senti que o poderia perder. Confesso que recorri aos meus antepassados egípcios pondo-me à disposição para morrer em lugar do meu “dono”.

Passei dias de grande apreensão não sabendo concretamente o que estava a acontecer. Passado algum tempo que me pareceu uma eternidade o meu “dono” regressou. Aproximei-me dele que me acarinhou como sempre e a quem eu, roçando a minha cabeça em suas pernas, procurei dar-lhe a mensagem que estaria com ele para os bons e os maus momentos.

Curiosamente, deixei de me preocupar com a necessidade que senti de ir cuidar do meu território, mais preocupado com o bem estar do meu “dono”. O meu “dono” que regressara um pouco debilitado melhorava a olhos vistos.

Eu por meu lado comecei a sentir-me muito doente. Fiquei tranquilo pois sabia que a minha doença havia servido para salvar a vida do meu “dono”.

Comments: Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?