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quinta-feira, setembro 15, 2005

bocage - 240 anos

Faz hoje 240 anos, 15 de Setembro de 1765, nasce em Setúbal, na rua de Bartissol, aquele que viria a ser a figura mais controversa da sociedade da época. Irreverente e satírico, todos estavam sujeitos à sua escrita rija e contundente, mesmo as figuras mais gradas do reino onde o clero estava incluído.

Devasso mas sofredor, marginalizado por uma sociedade relativamente à qual se encontrava com décadas de avanço, nunca deixou de escrever o seu sentir com o gosto e a antena de escândalos que desde muito jovem o acompanharam.

Os seus sonetos são sublimes...

“Chorosos versos meus desentoados,
Sem arte, sem beleza, e sem brandura,
Urdidos pela mão da desventura,
Pela baça tristeza envenenados:

Vede a luz, não busqueis, desesperados,
No mundo esquecimento e sepultura:
Se os ditosos vos lerem sem ternura,
Ler-vos-ão com ternura os desgraçados.

Não vos inspire, ó versos, cobardia,
Da sátira mordaz o furor louco,
De maldizente voz a tirania:

Desculpa tendes, se valeis tão pouco,
Que não pode cantar com melodia
Um peito, de gemer cansado, e rouco.”


Nem para ele próprio a sátira foi mais leve...

“Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão n’altura,
Triste de facha, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio, e não pequeno;

Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno;

Devoto incensador de mil deidades,
(Digo de moças mil) num só momento,
E somente no altar amando os frades;

Eis Bocage, em quem luz algum talento:
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou mais pachorrento.”

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