Partilhar
sábado, novembro 19, 2005

a brasileira do chiado – 100 anos

Comemora-se hoje, 19 de Novembro de 2005, o Centésimo Aniversário do café A Brasileira do Chiado, local de culto do cafézinho e de dois dedos de conversa, situado na Rua do Carmo no coração da Baixa lisboeta.

Fundado por Adriano Teles, regressado à época do Brasil onde se transformara no maior exportador de cafés do País Irmão, constituía uma das diversas unidades que constituíam a sua cadeia de cafés, primeiros passos de um negócio de “franchised” já no início do século passado.

Notícia tenho da existência de estabelecimentos similares das cidades do Porto e de Coimbra, mas possivelmente, outros teriam existido.

<

A origem do termo tão lisboeta para significar “café em chávena”, isto é, a BICA, é ainda polémica a forma como foi criado, existindo pelo menos três versões: uma que circula como história do anedotário tradicional, outra como conta o seu actual proprietário, o senhor Jaime Silva, e uma terceira versão como ouvi, de mesa para mesa, a um ancião frequentador de A Brasileira, de outros tempos.

A primeira versão reza assim: “Quando apareceram as máquinas de café, uma beberagem amarga e ainda pouco nos costumes dos portugueses era servida na Brasileira do Chiado. Para que os seus clientes se habituassem ao que viria ser, anos mais tarde, um autêntico culto, culto altamente lucrativo, com margens de ganho superiores a 100%, colocou um cartaz que dizia:

BEBA ISTO COM AÇÚCAR, logo surgiria o termo B.I.C.A.


A versão do actual proprietário, senhor Jaime Silva, reza assim: “Um dia os clientes estavam a queixar-se de que o café não estava com o sabor habitual. Adriano Teles virou-se para o empregado de mesa e diz-lhe para trazer uma “bica”, querendo significar que a chávena de café deveria ser cheia a partir da bica do saco e não da cafeteira para onde era normalmente transvasado o café para ser servido. Assim não houve perca de sabor e de aroma pelo que os clientes passaram a pedir uma “BICA”.

Por fim, a conversa que tive oportunidade de escutar, pois quer queiramos quer não, sempre somos levados, numa ou noutra circunstância a ouvir o que se conversa na mesa ao lado no restaurante onde vamos almoçar, especialmente, se ouvimos uma palavra ou uma frase chave de um tema que nos interessa. Foi o caso. E a frase chave “sabes qual a origem do nome bica dado a uma chávena de café?”. Pois fiquei atento. Então ouvi o desenvolver de uma teoria feito por um homem já idoso, talvez nos seus 70 anos. Foi uma explicação quase técnica que vou procurar reproduzir.

“Noutros tempos o café era preparado nas chamadas cafeteiras onde a água fervente dissolvia o café moído, outras vezes a cevada, para o chamado “café de cevada”. Preparava-se, então, uma beberagem onde o café não dissolvido se formava nas chamadas “borras”, tão amargas e tão incómodas. Mais tarde, para resolver esse problema surgiram os “sacos” porosos que serviam para coar o café, evitando, assim as borras. Ainda hoje quem aprecia o designado “café de saco” recorre a esse tipo de aparato, embora, com desenho e funções bem mais avançadas.”

E continuava o senhor idoso...

“Apareceram, depois, uns cilindros dentro dos quais o café era dissolvido, coado e pressionado. Estávamos no tempo dos antepassados do que hoje conhecemos por “café expresso”. Depois do café devidamente preparado era vertido para as chávenas, ou para os tradicionais copos de vidro grosso, através de uma bica. Daí a BICA.”

Aqui fica a minha modesta contribuição no dia em que se comemora o I Centenário de “A Brasileira do Chiado”. Que venham mais cem...


Referências
Carlos Teixeira, coleccionador de pacotes de açúcar
Sandra Cardoso, do Destak
Helena Neves, da Lusa
Beatriz, do Blogue da Batixa
Il Portogallo visto da un italiano

Comments: Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?