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sexta-feira, novembro 18, 2005

recordar...

Há dias, num jantar de amigos, como muitas vezes acontece nesta época natalícia, recordei este texto que foi publicado em 2003, dava a Oficina das Ideias os seus primeiros passos nos caminhos da blogoesfera.


Um Desenho Mágico

O Tiago vive feliz nos seus quase quatro anos de idade, despreocupado e sadio. Ocupa os seus tempos diários entre a ida para a ama, ao cuidado de quem fica enquanto os pais vão para o trabalho, e o convívio familiar, muitas das vezes na companhia da sua irmã mais velha.

Bem cedo surpreendeu seus pais e familiares com a destreza com que pegava num lápis de carvão e fazia riscos numa folha de papel. A cor pouco lhe dizia, era mais o contraste dos riscos negros com a alvura do papel. Com o tempo, passou a cruzar os riscos uns com os outros, a dar alguma forma aos desenhos, simples mas que para o Tiago já teriam algum significado, pois ficava tempos infinitos a olhar para eles.

De todas as tarefas escolares era, sem dúvida, “os riscos e os rabiscos” aquela que mais o encantava e atraía, pois embora aplicado nas outras áreas da aprendizagem, algo o chamava para o desenho. Algo procurava nos desenhos. Ficava horas a fio, na companhia da sua irmã mais velha ou dos colegas, a desenhar.

Passado algum tempo descobriu a cor. Foi uma descoberta importante e esplendorosa quando sentiu que além de modificar o aspecto do papel quando nele traçava riscos de carvão, poderia também dar vida às formas embrionárias e muito simples que desenhava.

O azul forte, cor do mar que ele tanto gostava, especialmente, nos dias de Verão para dar mergulhos atrás de mergulhos, passou a ser a cor da sua preferência. Procurava, de igual forma, encontrar lápis de cor que dessem a tonalidade da pele, difícil hem?, com os quais procurava pintar os rostos de pessoas cada vez mais presentes nos seus desenhos.

De descoberta em descoberta, de risco em risco, de lápis de cor em lápis de cor, o Tiago foi desenhando de forma cada vez mais perceptível para os outros. A ama chegou a comentar para seus pais “Tem muito jeito para pintar... e fá-lo sempre tão concentrado!”.

Era uma concentração algo estranha, pois o Tiago, além de desenhar e pintar as figuras humanas que ia criando, ficava horas e horas apreciando o resultado do seu labor, como na procura de encontrar algo mas que ainda não tinha conseguido vislumbrar.

Um dia começou a nomear as figuras que desenhava: “Esta és tu mamã.... e este és tu Papá!”. Depois o tio, a irmã, a avó, enfim toda a família ia sendo retratada. Os olhos de Tiago brilhavam de contentamento sempre que a sua mãe ou seu pai reconheciam num dos desenhos do Tiago um ente familiar.

Uma outra paixão que o Tiago sempre tinha era pelos bebés recém-nascidos. Quando visitavam algum casal amigo, em visita de parabéns pelo feliz acontecimento, o Tiago exultava de alegria e observava atentamente o bebé, como se pretendesse compreender o mistério do nascimento.

Agora que se vive a magia do Natal, a magia do nascimento do Menino Jesus, uma centelha luminosa parece ter dado novos entendimentos ao Tiago. Um dia, encheu-se de coragem e questionou a mãe que tanto o acarinha e compreende sobre algo em que há muito meditava: “Mamã... foste tu e o papá que fizeram o meu desenho? Foste tu e o pai que me pintaram? Pintaram as minhas orelhas? O meu nariz? A minha boca?”. Perante o espanto de sua mãe ainda acrescentou: “Fizeram o desenho e, depois, eu saí do papel...”. “Foi assim, também, que aconteceu com o Menino Jesus?”.

O Tiago com imaginação e fantasia tinha encontrado a “sua” solução para o mistério da procriação. Para ele, está perfeitamente explicada a forma como os bebés vêem ao Mundo.

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