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segunda-feira, dezembro 05, 2005

tradição e cultura popular

A tradição resulta da memória colectiva de um Povo, autêntico património invisível que se transmite entre gerações e representa o mais elevado expoente da cultura popular. Aqui se deseja dar conta desse repositório


Por terras de Pêro Guarda

A dona Inês tem noventa anos feitos ainda não há uma semana, mas o brilho do olhar e a ligeireza dos seus passos determinados deixam transparecer uma jovialidade interior que nada tem a ver com o tempo que passa. Somente se vislumbra um ar de tristeza quando recorda que o marido já perdeu há muito e que o filho também ficou no seu caminho de vida.

Mas se nos espanta a sua vitalidade física, ficamos simplesmente siderados pelo seu discernimento, pela sua capacidade crítica e facilidade de conversa e, muito em especial, pelo seu saber de tudo o que está relacionado com a terra que muito ama.

Encontramo-la no largo da igreja onde habita numa casa tipicamente alentejana na aldeia de Peroguarda, no coração do Alentejo. As sua palavras são uma fonte de saber e de muito querer à terra que a viu nascer e lhe deu o alento de mulher e mãe.

Sobre a sua terra a Dona Inês que até à morte do filho cantava no coral local, o “Alma Alentejana” brinda-nos com esta elegia:

Aldeia de Peroguarda
És a minha terra natal
És a mais alentejana
Nas terras de Portugal
Por todas és invejada
És minha terra natal
Aldeia de Peroguarda


Assim como São Pedro tem as chaves do Céu, assim se passa com a Dona Inês que possui as chaves das palavras e dais ideias e, igualmente, as chaves da igreja paroquial de Santa Margarida que fez questão que visitássemos.

Uma capela de três altares, cuja construção remonta ao século XVI. O corpo da nave, de planta rectangular , com tecto de meio canhão e coro, está completamente caiado de branco e denuncia reparações sucessivas, admitindo-se que a presente cobertura não recue a período anterior a finais do século XVIII.

No interior desta igreja surgem três altares laterais que datam de 1758 e que na altura eram consagrados a Nossa Senhora do Rosário, Almas Santas e a São Luís. O primeiro apresenta hoje Nossa Senhora do Rosário, escultura estofada, de madeira que parece ser peça do tempo de D. Pedro II.

Na segunda capela cuja padroeira é Nossa senhora do Carmo de roca exibem-se mais duas estatuetas sagradas também elas de madeira policroma: Santo António e São João Baptista, peças do século XVIII.

A terceira capela interliga através de arcada com a do Rosário e que teve a denominação das almas, hoje de Santo Cristo, mostra retábulo de madeira dourada, de frontão triangular e no eixo, envidraçado um Senhor crucificado, bem esculpido em lenho. Na banqueta veneram-se Santa margarida Virgem e mártir, padroeira tradicional, feita em roca e vestes nobres bordadas e de S. Francisco recebendo os estigmas.

Antes de nos despedirmos da Dona Inês esta ainda nos lançou um desafio:

_Venham até Peroguarda no dia 10 deste mês pois vamos ter “o Cante ao Menino” cantares de encantamento nesta época natalícia e que tão bem vai ser desempenhado pelo Coral Alma Alentejana.

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