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domingo, janeiro 22, 2006

sentir o povo que vive

O fotógrafo e a escritora reencontram-se na calçada que percorrem tranquilamente. Ele escreve sentires com cada clique de sua câmera fotográfica. Ela, cria as mais belas imagens com um singelo movimento dos cílios


Manuel Maria regressa ao Brasil

A neblina matinal, tão densa como nunca fora vista na Veneza Brasileira, ocultava os transeuntes que se não deixavam ver a mais de um metro de distância. Os automóveis e outros veículos praticamente não circulavam e as pessoas saiam a medo das suas casas. Nunca antes o nevoeiro fora tão intenso nas margens do Rio Capibaribe.

Duas pessoas, eram não mais do que dois fantasmagóricos vultos, dirigiam-se em passos firmes na direcção da calçada. Traziam consigo uma missão bem definida. O Fotógrafo fora receber este seu companheiro de caminhada à zona portuária. O forasteiro parecia trajar farda de Guarda Marinha dos finais do século XVIII e talvez tenha desembarcado da nau Nossa Senhora da Vida.

O Fotógrafo no meio desse intenso nevoeiro tinha a preocupação de encontrar a Escritora. A força do muito querer fez com que tal de pronto se verificasse. Mesmo a meio da calçada o encontro teve lugar para contentamento de todos. O objectivo de tão longa viagem no espaço e no tempo por parte do forasteiro ia atingir os seus fins.

_Querida Escritora, quero apresentar-lhe pessoalmente o meu amigo Manuel Maria...
_Que surpresa... Não o poderia fazer aqui e agora...
_Parti em 1 de Abril de 1786 de Lisboa com destino a Goa... mas aqui no Brasil fizemos escala...


Manuel Maria por ternos amores se encantou no Brasil. Deixou por lá fama de fura-vidas espertalhão. Contudo Manuel Maria foi muito mais do que isso. Foi poeta “transgressor, que se atrevia a tocar em temas tabu”. Esgrimia palavras nos sonetos como nenhum outro poeta, mas lidava bem com todos os géneros de poesia. É igualmente um importante tradutor do francês e do latim.

_Querida Escritora, o meu amigo Manuel Maria, du Bocage quer uma vez por todas limpar a má imagem que por estas terras deixou quando da sua passagem por cá nos finais do Século XVIII. Temos que considerar que tinha então pouco mais de vinte anos.

O nevoeiro que estranhamente se abatera sobre a parte ribeirinha da cidade do recife dissipava-se lentamente. O Fotógrafo sorriu levemente para a Escritora e seguiram seu caminhar calçada acima.

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