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quarta-feira, abril 12, 2006

minha terra é meu sentir

Caparica mais do que uma terra é um Povo. Gente que construiu vida entre o mar e a floresta em diversificado labor. Da sua vivência aqui se regista testemunho


Quinta de Monserrate

Charneca de Caparica não é região de grande monumentalidade edificada. Terra de camponeses e lenhadores que em certas épocas do ano eram igualmente pescadores, a população dividia a sua actividade produtiva entre os vastos campos da “charneca” e as águas do mar da Fonte da Telha.

Gentes modestas e de poucos haveres, trabalhavam sol-a-sol nas quintas da região a soldo dos donos das quintas, absenteístas grande parte do ano, utilizando-as unicamente em tempo de veraneio. Excepções existiam, especialmente em quintas que tinham amplas áreas de plantio de vinhedos e se dedicavam à produção de vinho.

O património construído com algum interesse histórico resumia-se, então, às capelas existentes nas quintas, algumas delas abertas à devoção da população vizinha. Destacava-se a Capela de Nossa Senhora de Monserrate, situada no pátio da Quinta de Monserrate, no acesso Norte à povoação de Charneca de Caparica. Além da Padroeira, venerava-se aqui com especial devoção, a imagem de São Luís, Rei de França.

Na primeira metade do século XIX, pertencia esta Quinta de Monserrate a Francisco António Ferreira, conhecido por "Sola", por herança de seus avós; depois foi pertença do General Manuel António de Araújo Veiga, a quem chamavam "o Capitão Rico", tendo passado por herança para o seu neto o empresário teatral Vasco Morgado.

Vicissitudes de diversa ordem conduziram a que nos tempos actuais (2006) se encontre totalmente degradada, quer a Quinta de Monserrate, quer a capela de Nossa Senhora de Monserrate.

Há notícia de que no início dos anos 40 do século passado, nas cálidas noites de Verão, realizavam-se no pátio da Quinta de Monserrate animados bailes que em tempo de santos populares, com destaque de São João, no querer das gentes de Almada, se prolongavam até o raiar do sol.

Também na Quinta de Monserrate por benesse dos seus proprietários se realizavam as Festas Populares da Charneca de Caparica. A Comissão de Festas organizava anualmente as Festas Tradicionais que começaram por se realizar na Quinta de Monserrate, então da propriedade do empresário teatral Vasco Morgado.

Era este senhor muito ligado às artes cénicas, especialmente ao teatro musical e de revista, estando a seu cargo a exploração do saudoso Teatro Monumental, em Lisboa. Esse facto, e por ele ser a maioria das vezes o mordomo das Festas da Charneca, trazia até esta aldeia rural da margem sul do Tejo muitos forasteiros.

Nessa época, e estamos a falar entre os anos 40 e 70 do século passado, organizavam-se também os círios de peregrinação anual ao santuário da Nossa Senhora do Cabo, no Cabo Espichel, que seguia um percurso ainda hoje referenciado por um marco quilométrico existente na Charneca de Caparica, junto ao Mário Casimiro, mas cujo traçado por muito deteriorado é praticamente desconhecido das gentes que hoje aqui vivem.

Conta-se, recordam os mais velhos da terra, que o círio vindo de Alcabideche com destino ao Cabo Espichel se encontrava com o da Charneca nas imediações da Quinta de Monserrate seguindo o restante percurso em conjunto.

Da tradição popular encontrámos esta quadra dispersa em documentação avulso:
O Velho de Alcabideche
E a Velha da Caparica
Foram à Rocha do Cabo
Acharam prenda tão rica

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