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segunda-feira, junho 05, 2006

a minha opinião

O pessoal da Oficina está atento à actualidade política e social de Portugal e do Mundo. Aqui partilham o seu pensar através da minha análise modesta mas interessada


Os lobos estão inocentes

O actual governo da República e os serviços e empresas públicas que dele dependem actuam com o máximo despudor em relação aos mais diversos assuntos, pondo em causa pessoas e entidades com o único objectivo de apresentarem razões que a razão desconhece para as decisões que tomam. De braço dado com as gentes governamentais, diversos autarcas de pensamento e acção retrógrados apoiam esta forma de fazer política.

Afinal...

Lobos estão inocentes
Não foi uma alcateia de lobos, mas a “incompetência do Governo” que fez disparar os custos de construção da A24, diz o presidente da Liga para a Protecção da Natureza (LPN), Eugénio Sequeira. Em vez de “incompetência”, o Instituto da Conservação da Natureza (ICN) invoca uma “falha de planeamento” para justificar a construção, não prevista inicialmente, de um viaduto no vale entre as encostas das serras do Alvão e da Falperra. Tal alteração de traçado custará ao Estado entre 100 e 150 milhões de euros.

Sandra Moutinho, porta-voz do ICN, esclarece que “a necessidade de rectificação do traçado da A24 na zona de Vila Pouca de Aguiar decorre de um problema de planeamento rodoviário que não acautelou a realização de um estudo prévio de impacte ambiental”.

Quando, em 2000, o Governo de António Guterres adjudicou as auto-estradas sem custos para o utilizador (SCUT) não garantiu os traçados definitivos através de estudos de impacte ambiental, obrigatórios por Lei. O traçado previsto no contrato de concessão da A24 foi chumbado: impôs-se a construção de um viaduto em Vila Pouca da Aguiar. Nos termos do contrato, os custos associados a alterações de traçado são da responsabilidade do Estado, que neste caso terá de desembolsar entre 100 e 150 milhões de euros. O presidente da Câmara Municipal de Vila Pouca de Aguiar, Domingos Baptista, mostra-se chocado e acusa: “Há mais dinheiro para proteger sete lobos do que para proteger as pessoas.”

Eugénio Sequeira não tem memória de se ter verificado uma tão substancial alteração a um projecto rodoviário por razões ambientais. Em Portugal, a regra tem sido relativizar a conservação da natureza quando em causa está a construção de estradas. “Neste caso decidiram construir o viaduto porque sabiam que, se rasgassem a serra do Alvão, haveria quem apresentasse queixa à União Europeia”, acredita o dirigente ambientalista, lembrando o recente “puxão de orelhas” do Tribunal de Justiça Europeu ao Estado português por causa da construção da A2. Portugal foi acusado de violar a Directiva Habitats ao permitir que a auto-estrada do Sul passasse pela Zona de Protecção Especial de Castro Verde.


(extraído de um artigo publicado no Jornal Correio da Manhã no dia 22 de Maio de 2006)


Não fora esta posição esclarecedora da situação o que ficaria para a opinião pública era a culpabilização de uma alcateia de 7 lobos que vive na zona de Vilarinho de Samardã, em plena serra do Alvão. A versão veiculada pelo Público On-line de 21 de Maio último afirmava:

Alcateia de lobos obriga a gastar mais 100 milhões em auto-estrada
Uma verba que se situará entre 100 milhões e 150 milhões de euros deverá ser paga pelo Estado português à Norscut, consórcio dominado pelo grupo francês Eiffage a quem foi adjudicada a construção e a exploração do IP3/A24 entre Viseu e Chaves. O valor da compensação, que está a ser negociado desde 2004 e vai ser dirimido em Tribunal Arbitral, resulta de "sobrecustos de construção e perda de receitas por atraso de entrada em serviço da obra", segundo a Estradas de Portugal (EP).


Em causa está um substancial desvio do traçado previsto no contrato de concessão para a zona de Vila Pouca de Aguiar, chumbado por razões ambientais, com o consequente atraso da obra e, sobretudo, a construção de um gigantesco e dispendioso viaduto sobre o vale entre as encostas das serras do Alvão e da Falperra. O viaduto, que, segundo a Norscut, é a "obra de arte mais imponente do traçado da A24 desde Viseu a Chaves", tem 1350 metros de extensão e 32 pilares de sustentação que chegam a ter a altura de um prédio de 30 andares.


(citado de Público On-line, de 21 de Maio de 2006)


Ao que o autarca social-democrata Domingos Dias, presidente da Câmara Municipal tentou colocar “achas na fogueira” declarando:

“A alteração do traçado da via e os sobrecustos associados continuam a alimentar polémica. Os chefes autárquicos regionais, e antes de todos o presidente da Câmara de Vila Pouca de Aguiar, o social-democrata Domingos Dias, preferiam a A24 a passar pela encosta nascente da serra do Alvão, uma solução que, nesta altura, está irremediavelmente ultrapassada (a inauguração do troço de Vila Pouca de Aguiar tem conclusão prevista para finais de Junho de 2007). Mesmo assim, o autarca não desiste de soltar a língua e de acusar o Estado central de, em delírio ambientalista, ter avalizado uma solução que desviou o traçado da serra do Alvão para a da Falperra, através do referido viaduto sobre o vale de Vila Pouca. Desvio feito "por causa de uma alcateia de sete lobos" que circula na zona de Vilarinho de Samardã, o que significa que a defesa de cada animal, segundo as contas do líder camarário, "fica por mais de três milhões de contos".

Um exagero, pensa Domingos Dias, que roça o insulto a uma região carenciada e a um concelho cujo orçamento camarário o deixa "aflito para comprar um simples autocarro de transporte escolar"

(citado de Público On-line, de 21 de Maio de 2006)


Assim se faz política neste País. Enquanto existirem lobos.... serão os lobos os bodes expiatórios da incompetência instalada na governação. Não sei porquê lembrei-me da obra ímpar de Aquilino Ribeiro “Quando os Lobos Uivam”.


Agradecemos a divulgação efectuada sobre o assunto pelo Grupo Lobo

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