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quarta-feira, junho 28, 2006

tempus

Desde há muito tempo, talvez desde a época em que teve consciência do profundo sofrimento que a doença impõe às famílias, que se preparava para alguma situação grave que o pudesse um dia afectar. Sofrera com a perda de familiares e amigos. Perdera pai e mãe, com quem tinha grande cumplicidade e até então saudáveis, no curto lapso de um mês. Conhecera estórias de sofrimento físico, de estoicismo mas igualmente de desespero.

Perante tanto sofrimento, muitas vezes no senso comum considerado “imerecido”, sempre pensou “estas situações não acontecem somente aos outros”. Não eram, contudo, pensamentos obsessivos, pois continuava a viver intensamente cada momento de felicidade, continuava todos os dias a aprendizagem de vida de que tanto gostava, da vida e da aprendizagem.

Tinha tido a felicidade de, após terminada a fase de estudante, ter encontrado o “emprego da sua vida”, ao encontro das suas preferências profissionais, dos seus conhecimentos e saberes que durante mais de 35 anos desenvolveu e consolidou. Sempre recorda que foi essa a sua única fonte de rendimento e que nunca prejudicou os seus colegas para o seu pessoal progresso.

Constituiu o seu agregado familiar, mulher e filhos, com as preocupações e alegrias próprias da normalidade dos acontecimentos familiares. Nunca se limitou a deixar passarem os dias na sucessão normal do tempo que passa, antes procurou uma permanente intervenção cívica pautada, fundamentalmente, pela solidariedade.

Não era, evidentemente, um ser perfeito, porque a perfeição não existe e não era um ente diferente de todos os outros que com ele se cruzavam. Mas, nunca se limitou a sobreviver, nem deixou interferir no seu pensar no seu sentir e no seu actuar questiúnculas privadas e profissionais. Sempre esteve bem consigo próprio.

Um dia verificou-se mesmo a situação para a qual sempre se preparara e que jazia nas profundidades do seu subconsciente. Uma doença grave, das tais que “não acontecem somente aos outros” esperava-o ao virar de uma esquina dissimulada e traiçoeira.

A luta parecia extremamente desigual. Mas, na realidade, não era.

Tinha do seu lado a força dos afectos, do amor, da amizade.... E venceu!

Comments:
Maravilhoso o relato onde flui tanta sensibilidade!
OS disabores,tristezas não amarguraram o seu interior e coração.
Dignidade e visaõ de vida.
Parabéns
ligia
 
Querida Lígia. Na adversidade crescemos e amadurecemos. Devemos sempre mantes a nossa simplicidade e afectividade. Um beijo.
 
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