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domingo, julho 23, 2006

elogio da ginja, elogio da amizade

Em 12 de Dezembro de 2003, pouco mais de cinco meses após a abertura da Oficina das Ideias, recebi um correio electrónico cujo conteúdo muito me sensibilizou:

“Caro Vicktor Reis,
parabéns pela sua Oficina das Ideias. Gostei muito, tanto mais que muitas das coisas sobre as quais escreve eu conheço. Vivi cerca de 25 anos em Almada e conheço perfeitamente muitos desses locais. Parabéns.
O que eu desconhecia era essa ginja de que falou, dos Monges do Convento da Rosa. Como poderei eu experimentar esse néctar? Que mais informações me pode facultar sobre essa ginja?
Aproveito para o convidar a conhecer o meu blogue:
http:\\elogiodaginja.blogspot.com
Sou um acérrimo defensor da ginja e gostava muito de publicar essas informações sobre a Ginja do Convento da Rosa, se para tanto me der autorização.
Escusado será dizer que vou acrescentar o seu blogue na minha lista.
Mais uma vez parabéns.
Um abraço,
Paulo Moreiras”

Em coerência com a razão da minha permanência na blogoesfera a resposta só poderia ser de total aceitação. Acabara de nascer uma sã amizade, sedimentada com inúmeros contactos e comentários efectuados quer na Oficina das Ideias quer no Elogio da Ginja.

Passado mais de um ano e meio, em 4 de Julho de 2005, um novo correio electrónico dava conta da evolução do trabalho do meu amigo Paulo Moreiras:

“Caro Victor Reis,
aqui está o excerto do Elogio da Ginja, onde falo no Victor e na Ginja do Mosteiro do Convento da Rosa. Dê uma vista de olhos ao texto a ver se a informação está correcta. Caso existam alterações, indique.
Mais uma vez obrigado por tudo. Em princípio o livro será apresentado em Outubro.
Um abraço,
Paulo Moreiras"

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"Uma estória muito interessante sobre a ginja chegou-me por mão de Victor Reis, através do seu blogue Oficina das Ideias (www.ideotario.blogspot.com), que nos dá conta de uma ginja fabricada pelos monges do Convento da Rosa, na Charneca da Caparica, que tem a particularidade de ser elaborada com vinho tinto.
De acordo com as informações de Victor Reis, “o Convento da Rosa estava implantado em terrenos de amplos vinhedos. Aliás o vinho da Charneca chegou a ser célebre em Almada e, mesmo em Lisboa. A produção era limitada mas de grande qualidade, inclusive, atendendo ao tipo de terreno arenoso onde as vinhas eram cultivadas. Daí, a que os monges juntassem vinho tinto à confecção do licor de Ginja foi um passo”. Ainda segundo Victor Reis, esta operação “torna a bebida mais suave e com menor teor alcoólico”. A ginja era então preparada com o vinho tinto produzido nos terrenos envolventes da Quinta da Rosa, “de características arenosas e ricos em videiras, a partir de cujos frutos se produzia vinho tinto de excelente qualidade”.
A receita da Ginja dos Monges do Convento da Rosa foi dada a Victor Reis pelo actual dono da Quinta dos Coelhos, na fronteira da Charneca com Vale de Milhaços, que já a herdara dos seus antepassados que serviram na Quinta de Valle Rosal.
Para a preparação desta ginja com vinho tinto, são precisos 1 kg de ginjas; 750 gr de açúcar amarelo; 1 l de aguardente; 1 l de vinho tinto; 1 pau de canela; raspa de casca de limão e 1 cabeça de cravo-da-índia:
«Dissolva o açúcar no vinho tinto. Escolha as ginjas das vermelhas e bem ácidas. Tire-lhes o pé e sem as lavar, apenas as limpe com um pano, deite-as em boa aguardente e no vinho tinto em partes iguais, em frascos de boca larga. Junte um pau de canela, raspas de limão e uma cabeça de cravo-da-índia. Mantenha num lugar fresco, à sombra, um ou dois meses. Vá mexendo uma vez por semana, para evitar que o açúcar se condense no fundo.»”
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No passado sábado, dia 22 de Julho de 2006, realizou-se uma sessão muito bonita no auditório do Museu Municipal de Óbidos a rebentar pelas costuras, onde o escritor Francisco José Viegas fez a apresentação do livro Elogio da Ginja e do seu autor Paulo Moreiras. A terceira edição revista e aumentada deste “tratado afectivo-gastronómico-literário” com belíssimas imagens do fotógrafo Paulo Cunha deu origem a uma animada conversa onde imperou a amizade, o que sempre acontece quando de ginjinha estamos a falar... e a beber!


Comments:
Através de um gosto em torno de uma mesma fruta,o gosto pela história dessa,a pesquisa sobre o surgimento da bebida ,e o despreendimento dos envolvidos só poderia resultar num grande ganho.
Ligia
 
Querida Lígia. Beber uma ginjinha em companhia é criar amizade. Beijinho.
 
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