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domingo, agosto 06, 2006

mar cúmplice do meu sentir

Mar chão, ondulação suave e compassada, “mar de senhoras” no dizer dos pescadores que da praia fazem porto de abrigo e que estão habituados a enfrentar nas suas “artes” as maresias mais agrestes. Azul com tonalidades de verde forte, a espraiar prateada espuma, é uma tentação a que nele mergulhemos sem hesitar.

Quem alguma vez consegue resistir ao apelo do mar, ao melodioso cantarolar das sereias, feitas Tágides com o rio ali tão perto? A própria temperatura da água parecia contribuir para essa tentação, pois permitia uma entrada sem recuos para equilíbrio térmico. Logo depois, o mergulho...

Passados os primeiros prazeres do contacto de ondas de sal na água diluído, o relaxamento natural, a contemplação de um imenso plano de água, levemente ondulado, que se prolonga até á linha do horizonte sem mácula no espelhado azul que somente altera ligeiramente a tonalidade ao convergir com a mesma cor da abóbada celeste.

Será este mar o mesmo que há dez, vinte, trinta, quarenta, cinquenta anos aqui foi cumprindo este encontro de afectos, quanta inspiração e conselhos, quanta ajuda nos momentos mais difíceis da vida? Com certeza que foi acompanhando o evoluir dos tempos e dos sentires das pessoas que sempre o procuraram, mas é o mesmo com a sabedoria do tempo que passa.

Estranha, por certo, que os meninos e as meninas não construam mais castelos de sonho, efémeros quanto a duração de uma maré a encher, mas tão belos fruto de imaginação e de querer dos mais pequenitos, que tanta dificuldade tinham em talhar na areia as ameias dos castelos. Mas que sempre acabavam por conseguir.

Poucos meninos, hoje em dia, dão valor aquelas peças de plástico fabricadas que fez o encantamento de tantas gerações, baldes, pás, ancinhos. Brinquedos fundamentais para a construção de sonhos plantados à beira do mar, num desafio permanente à imaginação e à criatividade.

Regressados aos afazeres escolares passado que fora o tempo de veraneio, essas mesmas construções na areia serviam de tema aos desenhos que relembravam tempos vividos sem o risco da maré os levar docemente. Para o ano seguinte ficara, desde logo, aprazado novo encontro com esse mar que tranquilamente aguardava o regressos dos meninos a que sempre encantava.

Anos mais tarde voltariam para com ele desabafar as suas dores de amores nascentes, uma ou outra desilusão da vida. Um pedido de conselho uma lágrima que ajudava a que se mantivesse salgado e acolhedor a quem nele deseje mergulhar.

Agora, tantos anos passados sobre o nosso primeiro encontro, o mar azul e tão belo, mais do que confidente é cúmplice dos meus sentires de tal forma que logo à minha aproximação reconhece, de imediato, o que a ele me leva.

Hoje sinto-me tranquilo com o seu amplexo amigo.

Comments:
Quanta emoçaõ ao descrever a relação com o mar.
Mar que guarda segredos,fantasias,dores,realizações.
Ligia
 
Querida Lígia. Assim é o mar eterno. Beijinho.
 
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