Partilhar
sexta-feira, outubro 06, 2006

tradição e cultura popular

A tradição resulta da memória colectiva de um Povo, autêntico património invisível que se transmite entre gerações e representa o mais elevado expoente da cultura popular. Aqui se deseja dar conta desse repositório


Contrabandistas de Afectos

Em tempos idos, os lobos e os contrabandistas atravessavam o rio Guadiana de um só pulo.

Percorriam veredas e carreiros, quantas vezes com a ajuda de um jerico, para “passarem” de um lado da fronteira para o outro os géneros alimentícios e outros bens que faziam falta no destino.

Mas ajudaram, do mesmo modo, homens solidários que pretendiam ajudar as populações em defesa da sua Liberdade, contra ditadores que pretendiam impor grilhetas ao Povo em luta pela sobrevivência. Outros homens que pretendiam fugir à ditadura, a guerras sem sentido, na procura de melhores condições de vida.

Ainda hoje se confundem as origens das gentes de ambos os lados da raia, por exemplo na região de Alcoutim, no Baixo Alentejo raiano, onde se desenvolveram e consolidaram intensos laços de amizade e de solidariedade, por conta do contrabando, que se intensificou a partir da década de 30, dos trabalhos agrícolas nos campos da raia e das constantes debandadas para o lado português, ao longo dos três duros anos da Guerra Civil Espanhola, entre 1936 e 1939.

Nas rotas dos contrabandistas, trocavam-se cumplicidades e afectos, para Espanha seguiam o café e o açúcar. De Espanha vinham os perfumes e os tecidos. Mas, mais do que tudo, a afectividade que levava a muitos “casamentos” trans-fronteiriços.

O anedotário popular registou uma curiosa estória, já ouvida noutros contextos sociais e laborais: “Todos os dias, o velho Joaquim (ou seria o velho Paco?) atravessava de bote o rio Guadiana em direcção a San Lucar, aldeia em frente a Alcoutim. E todos os dias, o velho Joaquim trazia a sua inseparável bicicleta pasteleira consigo. Todos os dias também o velho Joaquim era revistado pela Guarda Fiscal (do lado de cá) e pelos “guardiñas” (do lado de lá), para todos os dias nada de ilegal ser encontrado. O velho Joaquim (ou seria o velho Paco?) contrabandeava bicicletas!”

Retivemos esta quadra que acompanha a estátua que homenageia os contrabandistas e que se encontra implantada em Alcoutim à beira do rio Guadiana:

“Viva a malta, trema a terra
Daqui ninguém arredou.
Quem há-de tremer na guerra
Sendo homem como eu sou.”




Agradecimentos:
Diário do Alentejo
El Periodico Extremadura
Mértola

Comments:
E assim se faz a memória de um povo, a memória das gentes, que mais do que um pais, têm uma Terra!

Adorei o texto!
 
Querida Maçã de Junho. E eu sempre adoro o afecto de tuas palavras que me incentivam a continuar. Bjinho.
 
Enviar um comentário



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?